terça-feira, janeiro 31

Notícia de última hora

Gripe das aves afecta 50 mil águias.
Nova estripe do vírus SCP3-1.
Sintomas:

tudo sem pio.

A solidariedade do Universo


Escrevo a tua história bem sei num terraço de moléculas
Sobre o teu corpo resistindo mal a grandes temperaturas
A efémera bioquímica da vida
Os hieróglifos da antiga ciência
A solidariedade das suas pedras
A espantosa inter-conexão de tudo quanto existe
O universo compõe-se de algum modo
De sóis extintos e de supernovas do teu sagrado sexo
Oh essa espiral fecunda do Universo
Que vibra

O teu corpo procura verdade
A verdade da Grande Matéria entre aminoácidos
E o meio ambiente uma verdade atómica
Como se a evolução fosse guiada por Alguém
E procurasse um pequeno caminho na Terra
Escrevo a tua história bem sei
Entre minúsculos átomos de carbono e versos
Vozes da matéria alguns sóis
O ferro do teu sangue continua regressando
Ao coração do mundo
As distâncias dos objectos vão aumentando
Daqui a biliões de anos onde estarão estes versos?
Insisto que existe uma infinidade de mundos
E a gravidade não é senão a curvatura do universo
Este mundo é uma estrela a Terra
(nem toda a luz vemos)
caminhamos para a grande névoa

(Alexandra Kfraft in “Concerto para o Fim do Futuro”)

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Corpo de aroma


Se foste corola ou barco,
mas quando?
minha irmã,
minha leve amante, minha árvore,
que o mundo levantava
na inocência absoluta
do instante.
Alta estavas no amplo e recolhida
como uma lâmpada,
alta estavas na varanda branca.
Se acaso ainda podes ser aroma
dos meus olhos,
corpo no corpo,
retiro e substância, linha alta
da delícia,
nada te pedirei na minha ânsia
de puro espaço,
de azul imediato,
de luz para o olvido e o deserto.

(António Ramos Rosa)

segunda-feira, janeiro 30

Declaração de amor

"Apetece-me escrever-te para prolongar o tempo em que estive contigo, esticá-lo e fazê-lo tempo eterno, que se refaz em cada segundo, em cada momento em que estou contigo.

Sentir a tua pele que me cheira a ti, sentir o teu sorriso e a tua expressão, o som da tua voz.

Fundir-me em ti. Viver em ti.

Apetece-me o fugaz lampejar do desejo do tamanho sem igual de todos os fugazes lampejos do desejo - fundidos num só, o meu desejo por ti.

Quando estou contigo sinto saudades do momento em que irei estar contigo, e quando estou contigo outra vez sinto saudades das vezes que já estive e daquelas que estarei, contigo.

Que mãos são as tuas, que me tocam esta noite?

De que música, de que universo, de que símbolos?

Onde pára o meu desejo, onde mora? Sem ti?

Este é que é o amor? “

domingo, janeiro 29

Solenidades.

“São rosas senhor, são rosas” ia murmurando o nosso primeiro-ministro na enorme procissão da Senhora dos Aflitos, enquanto o povo que assistia gritava a plenos pulmões: “agora temos uma barbie masculina na presidência da república. Milagre, milagre”.

Debaixo do palio protegido pelos acólitos vestidos a rigor seguia Sócrates de cueca longa e florida. Enormes rosas vermelhas no fundo branco da roupa exígua que tapava as “parte” do primeiro-ministro contrastavam com a solenidade do dourado e do violeta que davam alguma dignidade ao cortejo.

A segurar um dos enormes paus, Cavaco fingia que sorria mercê da cola aplicado no rosto sem expressão e uma enorme vela empurrava-o dando a sensação de que ainda estava vivo.
Soares, após o tremendo desaire tornou-se um deslocado e vive agora entre uma pequena comunidade de índios amazónicos que se entretêm nas horas vagas a comer carne humana.

Alegre pondera o abandono do seu eterno partido. Um atestado médico obviamente forjado atesta que o “senhor deputado necessita desesperadamente de repouso”, o que não obsta a que este vá promovendo encontros entre os seus apoiantes, que nalguns casos sonham com o poder e com a criação de um novo partido.

Louçã anda alegremente entre os “Okupas” a copiar-lhes a arte de representar para dar cor e alegria a manifestações de rua. Prometido para as próximas eleições está a estreia de uma ópera-rock que ao que tudo indicia se chamará “Belém nunca mais”.

O que fez Jerónimo? Inteligentemente largou a função de secretário-geral do partido e voltou para a velha fábrica onde é agora delegado sindical.

A procissão segue pela rua íngreme e estreita da velha povoação de pescadores, cuja comissão de honra pensa “tratar-se de uma mais-valia para a terra, podendo mesmo potenciar o turismo e o desenvolvimento”, adiantou-nos uma fonte próxima dos mordomos, que sublinhou a “importância de algumas das figuras que percorrem as artérias, nomeadamente o novo presidente-barbie.”

Tentámos a todo o custo obter palavras destas figuras, mas recusaram-se alegando todos tratar-se “de uma procissão de índole religioso-profana, onde é bem possível alguns de nós sermos canonizados”.

Sem argumentos para estas afirmações juntámo-nos às solenidades cantando “Um dia quero ser santo” e “viva o milagre das rosas”. No final da procissão assistiu-se ao lançamento de um livro “Como operar o milagre das Rosas num cavaco”, da autoria de Sócrates.

O beijo

A lojinha do Abdul

Um engravatado entra na lojinha do Abdul, no Martim Moniz em Lisboa, e
olha com desprezo para o balcão escuro e para as roupas penduradas em
ganchos.

Ao deparar-se com esta situação, o Abdul irrita-se com o desprezo do tipo,
e resmunga:

- Está a olhar para a loja do Abdul com cara de parvo porquê?
Com esta lojinha, Abdul tem apartamento em Cascais,
tem apartamento em Algarve,
tem casa no Chiado, tem quinta no campo,
tem filho a estudar medicina nos Estados Unidos,
tem filha estudando moda em Paris, tudo só com lojinha!

O tipo vira-se e diz:

- O senhor sabe quem eu sou? Eu sou fiscal das Finanças!

- Muito prazer! Eu o Abdul, o maior mentiroso do Martim Moniz.

(recebida por e-mail)

P.S. - Já basta de tristezas

A transitoriedade da vida

Tinha planos para hoje, coisas há longo tempo esperadas e que tencionava fazer. Já repararam como a palavra "coisa" é abrangente, englobando tudo, desde o mais belo ao mais prosaico ?

“O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os
homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.”

(Fernando Pessoa)

Sábado de manhã levantei-me e vim ao PC. Tinha-o, por esquecimento (pormenores), deixado ligado toda a noite. Aliás as noites são cada vez mais curtas. Tempo passado a dormir é tempo perdido. Já não se recupera e o crédito de vida fica mais reduzido. A minha alma (?) em alvoroço foi ver o correio e lá estava o e-mail que, apesar de esperado, é sempre uma terna surpresa. E é o “belo”.

Mas uma “prosaica” e estúpida “cousa”, num repente tudo mudou. Podia ter ficado paralítico, “pormenores”, como o PC ligado toda a noite.
Se eu acreditasse em Deus diria que:

“O homem põe e Deus dispõe”.

O interesse dos amigos deu-me forças para lutar e a certeza de que o Homem não é uma “ilha”. As novas tecnologias juntaram os fios quebrados …

sábado, janeiro 28

O silêncio da palavra


A mão silenciosa percorre o dorso cálido
que é um adormecer contínuo nos limites.
Nada mais que terra e solidão solar.
Nada treme e tudo está suspenso no vazio.
Nada se diz. É o silêncio da palavra

(ARRosa)

Muito conhecido, mas é o meu preferido. Sempre o foi e agora cada vez mais …

sexta-feira, janeiro 27

Salzburgo



Associamo-nos à comemoração dos 250 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart, publicando a foto da casa onde nasceu este génio.

( foto do Peter )

Joelho


Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.

( Maria Teresa Horta )

Volta tudo à "estaca zero"

Quem quiser comentar, que comente. Ficamos agradecidos pelo facto.
Volta tudo à "estaca zero", como costuma dizer-se.
Não há cá nem "letras de autenticação", nem "aprovações".

É tudo uma grande chatice e o que nós queremos é que vocês se sintam bem aqui.

Munique


Rathaus - Torre do relógio

( foto do Peter )

quinta-feira, janeiro 26

Sol e Lua


Estava sentado ao balcão do bar, comendo, em pedaços pequeninos, uma tosta mista e beberricando uma imperial. Queimava tempo: já fizera 4 telefonemas e enviara 2 sms sem obter resposta.
O tipo do balcão olhava para ele: "este chato nunca mais se despacha e há aí gente à espera".

Por fim, depois duma eternidade, chegou um sms: "Não podia vir".

Já o esperava. Eram Sol e Lua. Aqui há tempo, numa praia brasileira, juntou-se uma autêntica multidão para assistir ao encontro dos dois astros. Aqui não seria o caso, nem eram astros, nem os encontros assim tão escassos. Mas, para os que se amam, todo o tempo é pouco.

Encontrei-o na paragem de autocarros:
- Então?
- Não veio.
- Deixa lá, falas com ela logo à noite.
- Não é o mesmo.

Comecei a pensar como seria com um guarda-nocturno e uma enfermeira.
- Sei lá, há sempre tempo e lugar.
- Tempo para sexo, ou tempo para amar?
- Não é o mesmo?
- Não. “Acho que no meio de tudo há o desejo, puro. Depois esse desejo corporiza-se numa pessoa, mistura-se com outros ingredientes. E apareces tu como és, e tu transformas-te em qualquer coisa, num amor desejo, num desejo amor e em tanta cumplicidade que passa por....desejo, pele, ardor, sexo, palavras, ser, noite, dia, presente, querer desejar, ter, ser... “

- És um poeta.
- Quem, eu? Nem penses! Na verdade é um pensamento duma poetiza. Às vezes estas citações resultam … dão-me um ar erudito.

Lá veio o autocarro, apinhadíssimo como de costume e fomos abrindo caminho ao empurrão e à cotovelada. Acabei por levar uma de um tipo que me pareceu ser o Luisão. Mas não era de certeza. Ele não anda de autocarro.

- Vamos ali beber um café, ou tens que fazer?
- Bora.

Falámos do tempo da Faculdade. Ele é muito mais novo que eu, mas ainda não se deu conta. Ou serei eu que não dei?

- Julgas que escolhestes essa miúda?
- Foi o acaso.
- “Acaso”, qual acaso? Foste tu que decidiste ir para essa Fac, não foi o acaso e, convence-te, foi ela que te escolheu para o trabalho de grupo. Planeou tudo, já te trazia debaixo de olho.
- Mas porquê eu?
- Olha, pelo que te disse acima. Nós homens normalmente só olhamos para o “envólucro” exterior, mas elas vêem muito mais além …

Usurpação de identidade

No post “Autenticidade” dizia que estavam a ser enviados indevidamente comentários por pessoas que se faziam passar por outras o que, como é óbvio, era extremamente desagradável para estas últimas.
Por este motivo via-me obrigado a voltar a instalar o sistema de autenticidade através de letras o qual, apesar de incómodo, permitiria uma triagem.

Vem agora a Margarida esclarecer que este “word verification” apenas serve para impedir o spam (aquela publicidade chata que aparece em todo o lado...), e que se o que quero é impedir que umas pessoas se façam passar por outras (atitude pouco digna e a meu ver incompreensível), o que devo fazer é impedir o comentário de qualquer pessoa que não esteja bem identificada.
Depois, qualquer leitor que deseje deixar o seu comentário, apenas terá que colocar o seu username e a password, tal qual como faz para aceder ao seu blog. É que só dessa forma poderão ser evitados os ditos mal entendidos.

Tal como diz “letrasaoacaso”: ”Na verdade devíamos ponderar ser menos democráticos e aprovar ou não os comentários. Estou certo de que as pessoas de bem entenderiam isso.”

Também estou certo que sim, renovo os meus pedidos de desculpa e espero que resulte, para protecção de todos nós.

quarta-feira, janeiro 25

Em contrabaixo.

Tantas vezes o negro sinuoso da estrada que leva a nenhures é percorrido e outras tantas o que a ladeia é ignorado!

Os traços brancos que separam os dois sentidos colam-se uns aos outros por acção da vertigem, transformando-se em actos contínuos sem rupturas como se a interrupção de vírgulas fosse a impossibilidade da morte anunciada.

No fio do branco
: o caos.

Todos os traços – ininterruptos ou não – conduzem ao fim inexorável.

[Talvez a vida seja apenas isso: o tempo que demora a percorrer esse longo traço contínuo, ininterrupto pintado a branco – porque a morte é branca? – na superfície negra de uma estrada – de todas as estradas – desembocassem na indizível morte anunciada]

Em ambos os lados do negro, milhões de multicores e vidas finitas que teimamos em ignorar.
[A morte é o inicio de tudo]

Feito teia invisível
Do absorver salivares
: o vácuo.

Olhar as estrelas sabendo que cada uma delas tem todos os nomes em todas as línguas [porque todas as noites os amantes as baptizam de novo]

[As estrelas são projecções luminosas de todos os amantes]

Aqui sempre presente
: tudo e nada
Em melodias de notas
Alinhadas de encontro à pauta.

O saber-me na contracurva como se fosse apenas um pequeno ponto de um gráfico anestesiado e extasiado.
A percepção de que se contornada acontece o milagre da recta quase infinita e equidistante do principio e do fim.

Agora caos
: amanhã corpo.

F.M.

“Oceano Pacífico” ou “Cinco minutos de jazz” embalam o longo percurso.

Caleidoscópio:

As [tuas] multifaces de olhos enormes e belos onde há encontro e perdição.

O branco baço:

Onde me revigora uma imagem difusa e letras criptadas que sei serem minhas.

Desespero:

A ausência do mais leve sinal de vida. A voz foi.
Agora apenas o preenchimento do eco.

Ilusão:

De que braços rodearão em amplexo sem fim.

Certeza:

A in (certeza) de que os dedos se tocarão.

Esperança:

De assistir ao teu concerto [pintado em tela azul] e te achar a mais bela das belas.

Este ímpeto arrítmico de comunicar-me-te adivinhando-te formas atrás de um violoncelo ou de um contrabaixo hirsuto.

A roupa de etiqueta, Porque sim, Porque é um momento especial, tens de entender, e eu entendo que a solenidade do negro te realça formas e acende desejos.

Rebaptizei estrelas. Todas elas. Não é contudo possível evitar que todos os amantes as rebaptizem de novo.
A., B.?

[Apesar disso todas têm o teu nome]

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue, volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.

( Manuel Bandeira, Teresópolis, 1912 )

Autenticidade

Verifiquei que estão a ser enviados indevidamente comentários por pessoas que se fazem passar por outras o que, como é óbvio, é extremamente desagradável para estas últimas.
Sem me querer alongar noutras considerações, sou obrigado a voltar a instalar o sistema de autenticidade através de letras o qual, apesar de incómodo, permitirá uma triagem (penso eu).

As minhas desculpas pelo incómodo causado.

ass) Peter

terça-feira, janeiro 24

Amantes...


Dois amantes felizes fazem um só pão,
uma só gota de lua sobre a erva,
deixam andando duas sombras que se juntam,
deixam um único sol vazio numa cama.
De todas as verdades escolheram o dia:
não se ataram com fios, mas com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A alegria é uma torre transparente.
O ar, o vinho, vão com os dois amantes,
a noite dá-lhes as suas pétalas felizes,
têm direito aos cravos que apareçam.
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.

(Pablo Neruda)

O tempo e o relógio...


Que realidade!
Certa vez, o tempo e o relógio encontraram-se (embora estejam todo tempo juntos).
O tempo, revoltado há muito, disse ao relógio tudo aquilo que vinha guardando.
Que ele, tempo, tinha saudades de quando não existiam relógios e todo mundo tinha tempo. Mas, quando o homem, ingrato, fabricou o relógio que começou a marcar o tempo, ninguém mais conseguiu ter tempo. O homem ficou reduzido a horas, minutos e segundos.
"Antes, naqueles bons tempos" - disse o tempo - "todo o homem tinha tempo de gozar a natureza. Viviam com o sol de dia, dormiam com a lua à noite".
"Quando a lua caprichosa não queria aparecer, era um bando de estrelas que piscavam brincalhonas, dando tempo para o sol nascer".
"Mas agora, nestes tempos, ninguém mais tem tempo de ver se a lua vem sorrindo para a direita ou para a esquerda, se está de cara cheia ou de mau humor, sem querer aparecer".
O tempo prosseguiu com um sorriso de tristeza.
"Antigamente - que tempos! - os homens nasciam no tempo certo em que tinham de nascer. Não havia incubadora para os fora de tempo nem cesariana para os que passam do tempo. A natureza sabia, em tempo, quando era tempo. Hoje, o homem já obedece a você, mesmo antes de nascer. Os médicos estão apressados e sem tempo para perder".
O relógio só ouvia e, apressado, prosseguia no seu tic-tac sem tempo de retrucar, com medo de se atrasar.
Noutros tempos" - disse o tempo - "o homem crescia sem pressa, com tempo de amadurecer. Comia sem ter horário, dormia quando tinha sono. Fazia amor ao relento, como flores que se beijam, como aves que se aninham. Envelhecia aos pouquinhos, como um calmo entardecer. Depois, dormia o sono profundo e, no outro despertar, abraçava-me com carinho, no infinito...no infinito...".
O tempo enxugou uma lágrima, talvez de orvalho. A voz que estava embargada, tomou uma conotação de revolta: "Hoje, vai logo para a escola e traz para casa um horário. Quando aprende a ler as horas ganha do pai um relógio e, assim, ensinam-lhe bem cedo a maneira mais correcta de nunca ter tempo na vida". O tempo não se preocupava mais com o tic-tac do relógio que nada retrucava para não se atrasar. Continuou a sofismar com voz mais branda.
"Come apressado, sem tempo. Dorme ainda sem sono, pois, de manhã bem cedinho, você começa a gritar arrancando-o da cama, quando ainda queria dormir". "Amor? Nem sei se ainda faz... há gente que nem tem tempo. Quando faz é no zás-trás. Quando vê, já envelheceu, sem ver o tempo passar".
"Na hora do sono profundo, enterram-no apressados, para a vida continuar. E no outro despertar, chega tão abobalhado que não consegue me achar".
Ao relógio, sem poder nunca parar, só restava se calar.
Além do sentimento de culpa que passou a carregar, a partir desse tempo, quando bate as doze badaladas no silêncio da meia-noite, o canto é tão melancólico que até parece chorar.

(Autor desconhecido, pintura de Salvador Dali)

O texto circula por aí pela NET. Enviaram-mo e eu mostro-o a vocês porque gostei dele.
Possivelmente já o conhecem, mas leiam-no outra vez. Vale a pena.

segunda-feira, janeiro 23

In – volúpias

In – volúpias
[Usamos figuras para ilustrar imagens, quando afinal a mesma é pintada a pinceladas de letras em tons de azul]
Chegam-nos ecos de intolerâncias e todavia continuamos a acreditar que somos nós os detentores da verdade. Que tremendo erro. Basta que o assumamos e tudo fica bem melhor num instante. É a fugacidade a suplantar a inércia colectiva em que estamos mergulhados.
Caras afogueadas de políticos emproados, todos diferentes e todos iguais. A vermelhidão de rostos convulsos e indignos e pescoços apertados em aberrantes gravatas que com um ligeiro apertar os livraria de si mesmos.
[As métricas indisciplinadas da prosa, a tecer a imagem de um quotidiano também ele anárquico}
Quando se submetem à sua verdadeira condição de funcionários bem remunerados por todos nós? – Melhor: à revelia de nós, que os não podemos impedir de se auto-aumentarem. – Insanamente vamos ficando em silêncio omisso e cúmplice, deixando-os passearem-se nos nossos automóveis de luxo, fartos almoços, viagens de “trabalho” a tudo quanto é lugar.Somos culpados pela omissão.
Somos TODOS culpados.
[As imagens fictícias são transmitidas não por quem ama a escrita, mas por quem dela se serve. Esses são os que não sabem escrever. Rascunham folhas, colocam-lhes carimbos, timbres, selos brancos e arrumam-nos em enormes pilhas a que pomposamente chamam arquivos.]
Impedem as humanidades de serem felizes para usufruírem de coisas materiais. Desejo que haja um Deus castigador. Bem o merecem.
«Sim, eu sei que estou de novo a divagar. Puxa-me então pelos pés e traz-me de volta ao inferno que só não o é, porque tu existes.»
Leio o que me escreves, leio os teus lábios sensuais e bem desenhados, mergulhando língua na boca e salivares que escorrem e misturam a tal ponto que não sabemos qual é a boca de quem. Fundimo-nos.
[Estou contigo a ouvir o vinil]
Sei-te aí. Sentes-me e sinto-te.
Voamos por sob a copa das árvores olhando os raios de Sol que conseguem atravessar a densa floresta de mão na mão, cabelos esvoaçando por força da deslocação do ar. De inertes passámos a vivos.
[Prosa atípica, arrítmica, sem métricas condicionantes mas poética. Porque a poesia é passar além do vidro fosco.]
Volta-se-me a vontade, sei-te e sinto-te.
[Contigo a ouvir o vinil]

Estou farto de coisas sérias

Espanha


Assentou o pó das Presidenciais, numa campanha de lugares-comuns e de insultos soezes, em que não foram sequer aflorados assuntos extremamente importantes, esses sim que irão exigir intervenção presidencial, como é o caso das Forças Armadas, do Irão nuclear, ou da situação em Espanha.

O nosso vizinho corre o risco de mergulhar num processo de balcanização. A curto prazo iremos ter aqui ao lado um processo idêntico ao que se verificou com a não muito antiga Jugoslávia, com inevitáveis repercussões que poderão ser muito graves para o nosso País.
Há poucos dias, um general com funções importantes no Exercito Espanhol, já veio declarar publicamente que: "As Forças Armadas, são o garante da Constituição e que a irão defender, se necessário pela força das armas".
Claro que foi imediatamente afastado das suas funções e punido disciplinarmente, porque o Rei ainda goza de grande prestígio e autoridade. Até quando?

Neste momento a Catalunha vai obter um Estatuto de "nação", com uma língua própria (inventada há pouco mais de 100 anos ...). Daí até à independência completa, será um pequeno passo.

E a Galiza, tão perto de nós e com afinidades culturais e linguísticas maiores do que as que tem em relação a Leão e Castela? Não estará mais perto do Porto do que de Madrid? Poderá tal facto, a concretizar-se, levar à divisão Norte/Sul em Portugal, tão levianamente tratada pelos nossos políticos e fomentada a partir de (ir)responsáveis do País futebolístico/político?

E a Andaluzia, não poderá vir a "engolir" o Alentejo?

Ou julgam que seremos nós a engoli-los a eles? Que nos iremos defender com quê? Nunca teremos a mínima possibilidade de o fazer. Aliás e no que respeita à economia, é a Espanha que já dita cartas. O nosso sistema bancário sobrevive com os empréstimos contraídos junto da Banca espanhola. Os grandes grupos espanhóis já estão solidamente implantados em Portugal. "El Corte Inglês" é o preferido dos Lisboetas de relativo poder económico, em detrimento do Colombo por exemplo, e as nossas leitoras sabem bem onde vão comprar os "trapinhos" a começar pela Zara ...

Julgam que a futura "balcanização" de Espanha se irá fazer sem profundas convulsões e pacificamente?

domingo, janeiro 22

Presidenciais 2006

E o 2º lugar é para MANUEL ALEGRE!


Sobre o sono e o pesadelo.

No entrelaçar da mão o toque electrizante da entrega feita sibilares intensos de pequenas partículas de poeiras cósmicas.
[O toque necessário para a percepção e despertar de sentidos]
Fulminado olho aterrado um invulgar fulano de bigode que teima em se fazer passar por Aristóteles. Digo-lhe que não posso saber se o dito usaria ou não esse adorno capilar já que a máquina fotográfica ainda não havia sido inventada e Aristóteles era avesso a que o pintassem. Tentaram-no sem êxito e conta-se mesmo que um pintor terá ficado parecido com Luís Vaz adornado por uma paleta que lhe cobria o tremendo buraco onde antes havia estado um olho.
Sempre o toque. A percepção do sentir-te mão na mão. Não. Adivinho-nos mão na mão. Extra-sensoriais despoletados apenas pelo desejo projectado cobrindo a distância que não existe.
Definitivamente o homem é incómodo. Continua numa tremenda lenga - lenga afiançando-me tratar-se do próprio. Retira então a pala negra que lhe cobre a cavidade ocular e dela sai um tremendo verme esverdeado que ia tecendo o que pareciam ser pensamentos do grande filósofo.Falou mesmo numa voz esganiçada em “teorética, que por sua vez, ele havia dividido em física, matemática e filosofia primeira (metafísica e teologia); que a filosofia prática se dividiria em ética e política; a poética em estética e técnica. Acrescentou ser o criador da lógica, como ciência especial, sobre a base socrático-platônica; e que a denominada por ele como analítica representa a metodologia científica”. [Trato os problemas lógicos e gnosiológicos no conjunto daqueles escritos que tomaram mais tarde o nome de Órganon.] disse-me em jeito de balanço final o verme escorrendo um nojento líquido ao mesmo tempo que ia cuspindo filosofia. Começo a acreditar tratar-se do próprio pese embora a questão do bigode.
[O ouvir a tua voz sem recorrer a nenhum esforço memorial é o saber-te agora e sempre dentro de mim]
Últimas:Cabeças sobrevoam a cidade.
Chegou-nos agora a informação de que cabeças separadas dos corpos sobrevoam a cidade aparentemente numa tentativa de observarem o que se por cá passa. As informações ainda escassas serão confirmadas pelo repórter que enviámos para a rua. Ao que tudo indica todas usam um longo cachimbo, longos cabelos e pasme-se, bigode!!! – A ser verdade este pormenor capilar estaremos em presença da escola Aristotélica. –
Silêncio. Apenas o olhar malicioso do verme esverdeado saído da reentrância ocular de Aristóteles (?) me vai contemplando.
[O saber-te de voz e mãos basta-me por ora]

Notas médicas

Para se distraírem enquanto esperam o resultado das eleições, “roubei” do post "Notas Médicas", do blog "Impressões e intimidades" (está nos links) da Rosário, as que achei mais engraçadas:

1. The patient refused autopsy.
8. The patient has been depressed since she began seeing me in 1993.
17. Rectal examination revealed a normal size thyroid.
18. She stated that she had been constipated for most of her life,until she got a divorce.
20. Examination of genitalia reveals that he is circus sized.
23. Patient has two teenage children, but no other abnormalities.

e ainda dizem que o Serviço de Saúde em Portugal é mau ...

Big Brother?


Não, não é o Big Brother que agora nos espia em todo o lado: se vamos ao médico, na recepção lá aparece o aviso de que “estamos a ser filmados”, também nos transportes colectivos, nas bombas de gasolina, nas lojas, nos supermercados …
Acabou-se a “privacidade”. Tudo é público.

De igual modo as conversas telefónicas, em qualquer lado e por qualquer meio. Os satélites dos EUA têm possibilidade e utilizam-na, de as escutar em qualquer “canto” do Mundo. É do domínio público, assim como já há vários anos que a PJ, embora com meios menos sofisticados e menos abundantes, o pratica. Essa prática não é de agora. A indignação de agora, não é pelo Peter, pelo Zé, pelo cidadão comum, ser escutado. A indignação é por essa prática se ter estendido aos “intocáveis”.

Parece um "olho", não é?

Não, não é o “olho do Big Brother”.

A mais de 600 milhões de anos-luz da Terra, uma estrela semelhante ao Sol está a morrer na constelação Aquarius. O resultado foi a nebulosa Helix Nebula (NGC 7293) com cerca de 2,5 anos-luz de diâmetro. É uma Nebulosa Planetária, típica do final desta evolução estrelar e pela qual o Sol também passará dentro de 5 biliões de anos (não se preocupem, pois já cá não estará ninguém para contar). Preocupem-se é com a possibilidade de estarem a beijar alguém, num desses locais, pois o marido poderá estar a ver-vos no monitor …

sábado, janeiro 21

Em reflexão profunda


nas vésperas das eleições presidenciais. Espero que o meu dono vote bem, mas vote!

Era uma vez um menino

Era uma vez um menino que passou ao lado da vida. A mãe teve-o , depois veio uma menina que morreu prematuramente com meningite e, mais tardiamente, um irmão nado-morto.
Por isso a mãe se agarrava desesperadamente a ele, com beijinhos e abraços e ele a repelia. Era um rapaz e o que queria era jogar à bola e brincar com os outros meninos, lutar com eles como todos os meninos fazem, andar solto correndo pelos campos, subindo às árvores em busca de ninhos.
E repelia a mãe, sentia-se sufocar. O amor é como uma planta, deve desabrochar livremente.
Então a mãe dizia-lhe:
- Não tens coração. No seu lugar está uma pedra.

Por contingências da vida, teve de seguir uma profissão que por vezes o colocou cara a cara com a morte e isso endureceu-o ainda mais. A família passou a serem os companheiros com quem compartilhava o dia a dia, já que o pai também nunca foi o camarada e cúmplice que gostaria que tivesse sido. Por isso o livro que mais o marcou e que de tantas vezes o ler, já quase o sabia de cor, tenha sido "Os cus de judas".
No entanto era uma pessoa sensível, amante do belo e que se emocionava facilmente. Parece uma contradição, mas não é. Talvez lhe viessem à memória as palavras da mãe. Talvez alguma vez se tivesse sentido "usado" por uma mulher que se servira dele para atingir certa finalidade. Usou-o e deitou-o fora.

Acomodou-se, tornou-se um "homem cinzento" misturado na multidão do quotidiano, sem vida e sem história.

Quando a vida lhe voltou a bater à porta era tarde demais e ele fechou a porta na cara à VIDA.

sexta-feira, janeiro 20

Livro de reclamações

Como todos sabem, o Governo determinou que é obrigatório haver um "Livro de reclamações" em todo o lado:

sex-shops, bancos, cabeleireiros, cafés, lojas de artigos fotográficos ....

Ora foi um moço meu amigo, dono de uma destas últimas, quem me chamou a atenção:

os livros, muito bonitos e luzidios, são impressos na INCM o que, como é óbvio, constitui uma receita não despiciente, para o Estado.

Simplesmente, o título do livro é:

Livro d9 Reclamações
Complaints Book

Não, não é um "9", é um "e" ao contrário!

Será caso para os comerciantes serem os primeiros a estrearem o livro. LOL

P.S. - Os blogs também serão obrigados a comprar o livro? Se forem, rapidamente se tornará num "best seller".

Ensaio sobre os chatos

Porque este nobre sentimento tem de suplantar todas as questões colaterais, volto a escrever com a liberdade de um homem livre.
O “Conversas” é também a minha casa. O Fernando e a Ana duas pessoas por quem nutro uma tremenda amizade que é recíproca, nada nem nenhum comentário me afastarão deste espaço.

Imagino que todas estas pequenas quezílias se devem à prolongada campanha eleitoral. Não me admira: os tipos são uns chatos.

Nos “chatos” é que está o verdadeiro busílis da questão. Serão aqueles pequenos bichinhos que todos conhecemos de nome? Se sim, como se chama o que usa óculos? Como será a fêmea de um destes pequenos animaizinhos? Usará vestido? Será gorda e o macho preocupar-se-á com o tamanho dos seios? Não terão sido amputados? Se sim, usa uns de silicone?

Baralhado entre questões de principio, semânticas aberrantes e chatos, toco violentamente um bombo e atiro-me de cabeça para o “conversas”.

À amizade.

Tchim, tchim.

Contributors

No nosso blog, os "contributors", tal como está escrito, são:

- Peter
- LetrasaoAcaso
- bluegift

e assim continuará a ser.

O LetrasaoAcaso diz "que se vai embora", e vai, tal como os fumadores vão deixar de fumar, sempre que acabam um cigarro, também o Zé, vai deixar o blog sempre que acabar de escrever um artigo.
Assim foi e assim será, pois ele faz parte indispensável do blog, "por quem nutre um carinho muito especial" (segundo as suas palavras, tantas vezes ditas) e considera-nos, a mim e à "bluegift", como "dois irmãos", também segundo as suas próprias palavras.
Para mim o blog continua como estava:
- LetrasaoAcaso, continua nos contributors; não foi, nem será apagado no "template".
- LetrasaoAcaso, continuará com plenos poderes para escrever o que quiser e quando quiser.

Um escritor tem deveres para com os seus leitores e já aqui foi dito nos comentários, que não se deve confundir a produção literária, com a vida real, embora aquela, por vezes, se inspire nesta.

O Zé sabe muito bem e eu também o sei, que existem pessoas que querem a destruição do "conversasdexaxa", que, contra ventos e marés, já vai em 4ª edição, depois de, nas 3 edições anteriores, ter esgotado o "crédito" concedido pelo anterior servidor: o SAPO. Julgo não sermos tão importantes para que se preocupem connosco, mas o que é facto é que se preocupam, ou talvez seja pretensiosismo da nossa parte ...

Será?

O que é facto é que a publicação do meu post: "Sexo, mentiras e Net" foi o abrir da caixa de Pandora.
Não tenho satisfações a dar a ninguém sobre o que escrevo, como não tem o "LetrasaoAcaso", nem tem a "bluegift". Cada um é responsável pelo que escreve.
Mas vou abrir uma excepção:
- Existem pessoas que nos lêem, que sabem muito bem os motivos por que escrevi o "post" e esses motivos NADA TÊM A VER, com o "LetrasaoAcaso".

Recalcamentos pessoais, pretenderam ver no referido "post" uma alusão ao Zé, à sua vida pessoal, que eu só conheço do "diz-se, diz-se" e daí não ter intervido nos comentários ao referido post, que não foram comentários, mas sim ataques pessoais ao Zé.

Desculpem este "post" estar tão mal escrito (também nunca fui brilhante) mas tive um dia muito complicado, com o que também não têm nada a ver. Eu é que tenho obrigação de não vos "servir gato por lebre".

ZÉ, DEIXA LÁ DE ESTARES A "PRENDER O BURRO" E COLOCA AÍ UM POST A ZURZIR ESTA CANALHADA TODA QUE ANDA AÍ PELOS JORNAIS!

É o mínimo que esperamos de ti!

quinta-feira, janeiro 19

Despedida triste

O Zé, (letrasaoacaso) deixou-nos. Teve a amabilidade de me escrever um e-mail, onde explicava as suas razões, que são perfeitamente válidas.
Sem ele o blog ficou mais pobre.

Em sua homenagem, deixo aqui um post, publicado quando do aparecimento do “conversasdexaxa2”. É o mínimo que poderia fazer, na despedida (triste) de um amigo.


De como nasceu o “Conversas de xaxa 2”

Era uma vez.
Quase todas as histórias de fantasia começam assim.
Não esta.
Esta é um misto de fantasia e realidade. Não “Era”. Ela É.

Reza a história que em certo bosque encantado, vivia Peter. Não o Peter Pan. Este Peter, o Único.
Voava também. Mas, nas asas da imaginação. E, perdido de quando em quando, num mundo somente seu, acabava por se distrair demais. Chegava a esquecer de onde estava. Trocava o nome das flores do seu jardim. Dos animais que lhe faziam companhia. Até das almas, suas amigas, que lhe sorriam nas noites e madrugadas.
Naquele seu bosque, Peter sentia-se só. Muito só.
Corria de árvore em árvore. Conversava com as pequenas aves cujos ninhos ele ajudava a cuidar.
Mas, amigos-pessoas como ele, não tinha.
Cada vez que contemplava o seu reflexo nas águas do rio, apercebia-se de como era diferente de todos os outros seres que conhecia. Mas, igual a ele não existia mais ninguém.
E ficava triste a observar o rio.
Um certo dia, em que o Sol brilhava mais alto, depois da chuva que havia regado os campos, Peter vê surgir por detrás do arco-íris, um ser delicado que voava na sua direcção.
Quando mais perto, verificou tratar-se de uma jovem. As suas asas translúcidas mexiam amiúde, mantendo-a a esvoaçar em redor de Peter.
Tentaram comunicar. Não sabiam como. No reino de onde se havia perdido a jovem, a comunicação era por olhares trocados. Peter, por sua vez, apenas conhecia a linguagem dos animais.
Desconheciam qualquer outra forma de comunicar. Não sabiam como articular as letras, utilizando sons.
Peter, chamou-lhe Flyingbabe, na sua imaginação.
A jovem, chamava-se realmente Flyingbabe.
Peter, levou-a a conhecer o seu bosque. Mostrou-lhe o rio. As flores. Os animais seus amigos. Apresentou-a como sendo a sua mais recente amiga. E quase igual a ele. Sim. Porque ela podia voar. Tinha asas. Ele só através da imaginação.
Os dias sucediam-se e Flyingbabe permanecia com Peter naquele bosque.
Foram aprendendo a língua de cada um. Entendiam-se de alguma forma e eram belos amigos.
Fly, chamemos-lhe assim, sabia que teria de regressar um dia ao lugar onde habitava.
Um reino algures, no centro de uma nuvem rosa. Para Norte.
Mas não conseguia dali sair. Era um mundo tão belo. Este.
Num dia de Primavera, em que chovia copiosamente. Sim. A Primavera era apenas de calendário. Na realidade, as chuvas sucediam-se. Dia após dia.
Mas, como ía narrando.
Em determinado dia, Peter e Fly olhavam as águas que escorriam pela janela envidraçada da casa erguida junto ao sabugueiro. Ouviam o som da chuva que caía nas folhas. Que formava sulcos nos caminhos.
De repente, envolvido naquele som, um outro. Era uma melodia que alguém ou algo entoava. Som retirado de um qualquer instrumento. Desconhecido para eles.
Até que viram aparecer, entre meio das árvores do bosque, um vulto. Parecia não se importar com a chuva que caía. Mais fraca agora.
De ar sério, carregava consigo uma viola que dedilhava enquanto a sua voz grave entoava.
A chuva havia parado de cair.
Peter e Fly saíram ao seu encontro. Perplexos olhavam o mexer de seus lábios e ouviam sons. Não eram acompanhados de música. Mas havia melodia na sua voz.
Eles nada entendiam do que o estranho tentava dizer. Por gestos, convidaram-no a ficar com eles. Em meio de sorrisos, saltos e gestos, o estranho lá foi entendendo que eles não sabiam comunicar pela palavra.
Sorriu.
Logo começou a tentar ensinar-lhes a palavra. As letras. O diálogo com palavras.
Peter e Fly, de olhar atento e admiração pelo que o estrangeiro lhes tentava ensinar, foram seguindo os sons, imitando. E começaram a soletrar algumas palavras.
A primeira que aprenderam foi Letras. E, por isso, começaram a chamar o estranho de Letras. Ele sorria e aceitava tal nome.
O tempo passou e este trio vivia feliz no bosque. Que já não era do Peter somente.
Mas também da Fly e do Letras.
Davam longos passeios pelo bosque e aventuravam-se a lugares antes desconhecidos de Peter ou de qualquer um deles.
Foi num desses passeios, em que se distanciaram mais que o habitual, que tiveram de pernoitar na gruta do alto de um pequeno monte.
Ao lado da gruta, existia uma bela cascata. A água corria e, sabiam eles, ía dar ao rio que corria perto da sua casa.
Anoiteceu e prepararam-se para dormir. A noite caiu. O céu encheu-se de estrelas. A lua enviou-lhes um beijo e disse-lhes sorrindo que velaria pelo seu sono.
Amanheceu.
Peter, ao abrir os olhos, levantou-se de imediato e saiu da pequena gruta. Olhou em redor, apercebendo-se do quanto a Natureza era bela.
Atónito, deparou-se com uma flor belíssima junto à cascata. Uma flor de cor branca.
Nunca havia visto igual.
Logo surgiram Fly e Letras. Este, explicou que se trava da Flor de Lótus. Aproximaram-se. E quando lhe iam tocar, ela transformou-se numa formosa jovem que sorria.
Não sabia como tinha ido ali parar. Apenas sabia que se chamava Lótus. Vestida com um belo manto branco, acompanhou-os todo o dia de viagem de regresso, até ao início do bosque, enquanto iam conversando. Aí chegados, a jovem Lótus hesitou. Teria de voltar para trás em busca de um caminho do qual desconhecia a direcção. Peter, Fly e Letras estenderam as suas mãos para Lótus. Sorriram num convite mudo.
Lótus estendeu as suas. E acompanhou-os bosque dentro.
Esta história poderia terminar aqui. Mas, não.
Uma surpresa estava para chegar.
Estavam eles num belo repasto na beira do rio, quando subitamente uma sombra escureceu o bosque. Tão rápida quanto surgiu, ela desapareceu.
Não conseguindo identificar do que se tratava, olhavam com ar estranho em redor, como se esperassem algo. Sem que soubessem o quê. Sentia algo de estranho no ar. E uma ansiedade.
Ouviram um som agudo e um silêncio fulcral logo de seguida. As folhas das árvores não se mexiam. Os sons do bosque haviam desaparecido. Nem os animais se ouviam.
Levantaram-se os quatro e correram cada um numa direcção diferente. Procuravam de onde teria vindo o tal som agudo.
Reuniram-se de novo, após buscas infrutíferas. Até que se lembraram daquela clareira para lá do campo das azáleas. E para lá se dirigiram. No meio do campo viam uma mancha verde que não era do próprio campo. Era algo que se mexia. Enorme. Vislumbraram ainda a cor amarela no centro daquele reflexo de verde.
Aproximaram-se. Não sem algum receio.
Verificaram que era um tecido.
Letras, o mais viajado, explicou-lhes que se tratava do tecido de um balão. E que as cores eram as da bandeira de um reino chamado Brasil, do outro lado daquele mar imenso que ficava no fim do rio.
Mas, debaixo daquele tecido algo não parava de mexer. O que seria que esbracejava tanto assim, em fúria?
Ouviu-se um rasgão de exaltação naquele tecido e debaixo surgiu uma jovem irada. Tentava desenrolar-se do tecido do balão. E, apenas com a ajuda dos quatro amigos, ela o conseguiu.
Exausta, com fome e combalida da queda, lá contou como o vento a havia arrastado até ali. Não sabia onde estava. Apenas que tinha atravessado um imenso mar. Depois, deixara-se dormir. E, quando acordara já não conseguira controlar o balão vindo a cair naquele bosque.
Peter, Fly, Letras e Lótus levaram-na até casa. Cuidaram dela. O seu nome não o vou dizer aqui. Até porque não tem tanta importância para a história. Apenas que ficou conhecida como a Embaixatriz de terra distante – Embaixatriz do Brasil.
Não permaneceu por muito tempo.
Apenas algumas semanas até se recompor, consertar o balão e preparar-se para a viagem de regresso.
Prometeram que se comunicariam sempre. Ela do lado de lá do Oceano. Eles do lado de cá.
E assim os anos foram passando.
A Embaixatriz lá vai enviando boas novas do reino do lado de lá do mar, cheio de sol e cor. A Fly encontrou o caminho de regresso ao seu reino. E, divide o seu tempo entre ambos os lugares. O Letras, continua a dedilhar a sua viola. E vai inventando novas letras, novas palavras. Transforma-as em textos que dá a ler aos restantes amigos. A Lótus é quem organiza a casa. Já não podem passar sem ela. Peter, esse continua o mesmo distraído de sempre.
Soube que construíram uma nova casa há dias. Foi inaugurada há pouco tempo. Hoje ou ontem. Já se tornava pequena para receber os amigos. E eles começaram a ter cada vez mais visitas de pessoas. Conhecidos. Amigos, E desconhecidos que logo se tornavam amigos.
Chamaram-lhe a casa do “Conversas de Xaxa” – a segunda.

Enviado pela Catarina (cronista oficial do blog)

A sério: obrigado Catarina. Está espectacular


Adeus Zé, até um dia. Tudo de melhor para ti e um muito obrigado pela colaboração que nos destes, onde se incluem dos mais belos textos aqui publicados.

Um abraço amigo e

ATÉ SEMPRE!

Fernando (Peter)

quarta-feira, janeiro 18

Sem retorno

Sem retorno porque os dias se aproximam do fim.

Dou por encerrada a minha colaboração no “conversas”.

Informarei o “Peter” e a “Blue” de forma mais adequada.

Para os/as que tiveram a paciência de me ler, o meu obrigado.

Até sempre

Gente?


Uma profunda raiva, ódio e sensação de impotência, é o que sinto.
Em Dezembro, uma criança de 11 anos foi atropelada por um condutor de 27, cuja identidade não foi revelada, em nome do “sacrossanto” segredo de justiça, o qual negou qualquer responsabilidade.
Não sei se a tem, ou não tem, nem vou entrar em pormenores. Só sei que a criança está numa cadeira de rodas, não mexe o braço esquerdo, nem fala. A Companhia de seguros lavou daí as mãos e o condutor, quando a polícia lhe perguntou “se a pancada tinha sido violenta”, respondeu:

“então não vê o que esse filho da mãe me fez ao carro?”

Caso verídico.

(imagem do Google)

Telefónica portuguesa promove campanha para novos assinantes

A Portugal Telecom está a promover uma interessante campanha para novos assinantes.
Entre os brindes mais cobiçados encontra-se uma lista de escutas de altas personalidades do estado e da vida pública portuguesa.
De realçar ainda a oferta generosa de escutas ao novo assinante que assim pode em tempo real saber o que vai ingerir Sócrates ao pequeno-almoço, a escapadela de Cavaco, ou mesmo as cambalhotas da Cinha Jardim.
Em relação a esta última a grande questão é saber quando se dará o acontecimento dado o estado de debilidade da pele. (O 24 Horas afirma que perdeu o nariz e que no seu lugar costuma usar um pedaço de borracha)

Sócrates mostrou-se satisfeito com as novas promoções da PT. “É uma ideia feliz. Assim saberei sempre onde se encontra o meu mais que tudo”, não sabendo nós o que isto quer dizer.

Já Cinha Jardim, resolveu processar a telefónica: “Era o que mais faltava”, afirma com ar de varina do mercado do Bulhão, “ser espiolhada por toda a gente. Ainda sou capaz de manter uma relação, embora reconheça que precise de cola aqui e ali.”

Porém, estas parecem ser personagens menores no grande Big Brother em que Portugal se vai converter.
Ficamos com curiosidade acerca das manobras do procurador-geral, mas nada nem ninguém pode suplantar as expectativas em relação a Isabel Angelino. Este vosso cronista já pediu à Portugal Telecom uma escuta privilegiada acerca das voltas desta assombrosa senhora.

Com quem dormirá ela? Será que dorme? Se não dorme o que faz no tempo passado na cama? Esta será de água? E se for, será enorme e redonda? Utilizará a mesa da cozinha?
Por todas estas questões ainda sem resposta, o InApto tentará trazer até aos seus leitores a verdade dos factos.
Sabermos que o nosso paginador se encontra escondido algures num quarto de um conhecido hotel lisboeta.

O InApto foi obrigado a interromper o trabalho porque uma mensagem urgente do nosso repórter no local garante que Isabel Angelino entrou em acção.

Sexo, mentiras e Net

"Words, words, and more words" (citando Shakspeare) e assim correm os blogs. Textos deliciosos, belos, que fazem sonhar. Textos em prosa, ou em verso, principalmente estes últimos, que são uma oportunidade para muitos darem à estampa a sua produção poética.
Palavras que levam a conhecimentos, que cimentam amizades, que originam contactos físicos. Palavras enganadoras, que não raro fingem sentimentos em que se acredita, porque são a fuga ao real.

Com o fim do velho ano e o começo do novo, entrámos no mês de Janeiro que vem de Janus, mítico deus Romano das portas e entradas. Janus tinha duas faces que olhavam em direcções opostas, do mesmo modo que Janeiro olha para o velho ano que jaz atrás, e para o novo que se perfila adiante. Por isso, por analogia, certas pessoas são acusadas de ter duas caras, como Janus.

Muitas vezes a sua atitude, ou melhor, a sua dupla atitude, resulta duma sensação de insegurança, de falta de confiança em si próprios, que os leva ao isolamento, depois duma tentativa fracassada de partilhar o novo real, que não têm coragem de enfrentar.

Amsterdão - Rijksmuseum


"Ronda nocturna" ( Rembrandt )

( Foto de Peter )

terça-feira, janeiro 17

Suspensão

Suspensão
Em suspensão o pensar-te.
Milhões de gotículas estilhaçam-se em pequenas partículas de encontro ao vidro protector do automóvel.
O efeito aquando do cruzamento com incandescências é de uma beleza surpreendente. A luz propagada em ilumina os biliões de pequenas gotas de água desfeitas de encontro a um carro. Não se esgotam nesse acidente de percurso. Ao invés, tomam nova vida, assimilando luz, velocidade e efeitos de rara beleza.
Faúlhas que partem em direcção de um universo de que são parte.
As luminescências estilhaçadas traçam o vácuo de luz devolvendo-lhe vida, razões e a ideia de que algures nessa imensidão de riscos descontínuos tracejados a amarelo eléctrico onde é possível adivinhar o corpo diáfano do desejo.
Para além da luz, - tu és luz – a imagem ainda que projectada holograficamente a certeza de estares.
[O percorreres o negro do asfalto olhando o horizonte cansando olhos, adivinhado sonhos, antecipando desejos] em noites chuvosas e sentires todos esses pequenos estilhaços inanimados e que contudo ganham vida de encontro à morte, faz-te mais próxima. Sintonizados nas partículas aquíferas que serão suores, fluidos e entregas.
[É noite. Ausência de Lua, impera o silêncio que dói]

Espero os vossos comentários.





segunda-feira, janeiro 16

Deambulações a dois!

(...) Leio os teus comentários e assusto-me.Sim, assusto-me, leste bem. - É certo que o TEU é o que mais desejo – mas assusta-me.Porque se as minhas palavras rasgam (estou a parafrasear-te) a limpidez com que olhas para dentro de mim, deixa-me aterrado.[Não percebeste?]
-Explica-te. (...)Boa noite. "Dedicatória com dedicatória se paga"
-Dedicatória, com dedicatória se paga.Traduzindo:
Acredito piamente que NUNCA NINGUÉM me leu tão bem quanto tu.Desnudas-me por inteiro. «Que se passa?»[Sim e Não]Explica então.-Vai ao …-Ok.
-Desculpe!
-Tira as malditas cadeiras e deixa-me ver-te.-Olá Zé-Não te assustas não.[As tuas palavras rasgam sim. E não o digo por ser bonito ou saber bem. Não faço fretes e não gosto de manteigas.] "Quero saber dos teus."-Tu rasgas-me."Esventras-me.Conheces-me melhor do que qualquer outra pessoa.
Atrais-me inexoravelmente, como uma borboleta é atraída para a luz. E ao mesmo tempo sinto que estou nu. Não de roupa, porque essa seria a menor das “nudezas”. Não, tu rasgas-me, esventras-me, adivinhas-me, lês-me." Mais uma vez exageras; "Nunca ninguém (...) " Exagero da tua parte sabes que sim. (E usas um nunca!?)Tenho a certeza do que escrevi.De TUDO o que escrevi.(Tira as malditas cadeiras dali)«Pronto»-Obrigado.Visão bem melhor.-Não dependes dos meus comentários. -Mas são os teus que me interessam.-Porra! Sabes quantos desejam "escrever"? E escrever como tu é então meta muito complicada. Sabes disso.-Não era o boneco! Era (a)(...)Bonito comentário.-E não sejas presunçosa. Não sabes sempre.Não o sou. Mas sei.[Odeio essas tuas certezas.]
Que o não são.-Como queiras.Assusto-te e assustas-me.
Acredito piamente que NUNCA NINGUÉM me leu tão bem quanto tu.Desnudas-me por inteiro. Não me assustas. Assusta-te talvez quando apareceste, mas não foi bem susto. Surpresa.
-Não queres admitir. É contigo.
Eu assumo: assustas-me.Mas ao mesmo tempo desejo que isso aconteça.
Que contradição.-Zé, eu não estou a "esconder" nada. Pelo contrário. [Não é esconder. É não quereres ver o óbvio.
Preferes isso.Se não vês, não podes esconder coisa nenhuma.Simples e eficaz.
Assim não mentes.]
Olha, desculpa lá mas eu não estou a deixar escapar o óbvio.Não estou.-Olha que sim.Estás.
«Isto assim não está bom.
Não está não.»
-Sinto-me uma radiografia. Olhas para dentro como nunca ninguém conseguiu fazer.No entanto e apesar deste medo inexplicável, porque continuo a depender dos teus comentários?! Deus! Até eu me baralho, eu que me julgava tão seguro, tão impenetrável! Mas tu lês além das palavras.És um ser muito especial. Adoro conversar contigo. Defendes-te com unhas e dentes.E bem.
Não me surpreendo.
Traduzo? -Claro. [Espreito-te]
"Quero-te""Entendes?"Acho que sim, mas é melhor não.Hora chataSim, é.(E continuo a olhar-te)
Sôfrego de ti.-Mas que te interessa isso?!"Não percebo porque agora dizes essas coisas. Não percebo."[Nem eu. Já te disse: a questão da afinidade intelectual, é importante na aproximação das pessoas.MUITO IMPORTANTEPorque tens sempre de contra-argumentar?! - Sabes que isso é mesmo um eufemismo.ÉS INTELIGENTE.PONTO.E não passes o tempo a resmungar.]-Eu refilo imenso.-Já dei conta.-Refilona!-Verdade.-Se leres atentamente o texto – sei que o fizeste – vais-te reconhecer na figura feminina
-Diz que não é verdade. A sério, diz que não estás a confundir coisas.-Não, não estou a confundir as coisas.
[Eu li-o atentamente.]
-Está sempre subjacente o sentimento.
Exploro novas áreas criativas.O diálogo cruzado numa mesma frase, por exemplo.Mas um diálogo subtil.Quase nem se dá por ele.Mas porque te estou a dizer isto, se tu já o sabes?Se estivermos atentos "dá-se".Tu estás.Bolas. És teimosa que nem mula.Escreves muito bem.Não me contradigas.Tu estás para "além-de-louco". O que é uma sorte, mas também te tolda a visão.Não tolda nada.-Zé!Não tens o direito de me fazer isto.Tens que ser honesto. -
-Um texto erótico passou-me pela cabeça (eu sei que não era isso, percebi mas passou-me)-Tu és a figura feminina.(riso)-Despiste-te ontem. Oferecias-me amor e desviavas-me da minha mania de querer postular na Bíblia.(riso)-Pois, aproveitas-te de mim. E depois ainda te queixas.Não me queixo.-Ora bem, encontrei um dos motivos dos grandes escritores serem homens! (Espera vou anotar isto).[Engoli uma pastilha elástica]
Beijo-te com raiva, numa tentativa de te esventrar também. Beijo-te com doçura, porque quero que continues a entrar dentro de mim.Contradições de um Zé que depende de ti. [Não entendo porque me queres possuir agora. Tem mesmo de ser agora?]
Verdade.
[Agora mesmo?]
Despi-te. Melhor. Fui-te despindo lentamente. [Céus, como és bela!]

A instrução dos amantes

Por vezes, quando leio um livro, transcrevo curtos textos, uma pequena frase e até uma simples palavra, ou limito-me a sublinhá-los, ou a escrever alguma anotação, ou comentário.
Porque me agradaram, me dizem algo, e eu guardo-as como guardo as imagens da NGM, que vou buscar à NET.
Surgirá o dia em que as publico, ou até poderá nunca surgir.
Acham que é “plágio”, que não sou original? Isso é convosco: ler, ou não ler, faz parte dos “Direitos inalienáveis do Leitor”, como escreve Daniel Pennac no seu livro: “Como um romance”.
Transcrevo abaixo este texto de Inês Pedrosa. Porquê?
Porque me apetece e chegou a ocasião de o fazer:

“Estava farta de ser humana, de se cansar a provar quem era e de se cansar ainda mais a procurar alguém que a amasse assim, por nada. Escondia-se nos números, ria-se dos poemas perdidos nos diários de menina. Sabia agora que a indeterminação atinge a raiz de todos os cálculos e já não esperava nada daquele congresso de informática. Podia começar a envelhecer comodamente. Do amor guardava os destroços costumeiros: hábitos ou hálitos decompostos pelas marés, lumes que se gastam como velas de circunstância. And suddenly.Depois, só um poema de Sophia aberto sobre a mesa de cabeceira dela.
"Terror de te amar/ num sítio tão frágil como o Mundo.
Mal de te amar neste lugar de imperfeição/ Onde tudo nos mente e nos separa."Ela diz que quer esquecer, mas traz cada fragmento dele colado ao corpo como uma bóia de salvação. A memória mente ao corpo. Impartilhável, imortal, o cinema do segredo. Um filme encravado, ao arrepio dos dias, debaixo da pele.

(…)
Nunca mais houve ninguém. Aquele amor apagou o mundo. Quando, muitas lágrimas depois, ressuscitámos, estávamos sozinhos. O luto do grande amor torna-nos apenas numa pessoa. E ser uma pessoa é muito pouco para quem já foi nada. Para quem já deu tudo. Jurámos que nunca mais. Assim não. Nem pensar - "Não te posso dar nada", dizem os amantes uns aos outros depois de terem dado tudo. O nada é aquilo que nos lembra aos outros, quando morremos de uma das múltiplas mortes que podemos ter para os outros. Agora contamos a história tintim por tintim. Mas sobra sempre um tumtum.” .

(Inês Pedrosa, “A instrução dos amantes”, 1992)

domingo, janeiro 15

Choque tecnológico ou a devassa da vida privada?

Mais do que outra fuga de informação classificada, a lista de nomes publicada há dias constitui um verdadeiro terramoto político e a bomba H lançada sobre os pilares, em que pensávamos nós, deveria assentar a democracia.


Indubitavelmente estamos perante o “triunfo dos porcos”.



Claro que nos podemos questionar se os porcos são os que tiveram um acidente no Porto. Porque não usavam capacete de protecção? Os que fugiram não excederam a velocidade permitida? E se sim, como será possível administrar-lhes a coima respectiva se não conduziam nenhum veículo? Souto Moura estaria entre eles? Terá deixado cair os óculos na fuga ou perdeu uma enorme lista de nomes e números de telefone?

Jorge Sampaio terá ficado surpreendido com a velocidade do Procurador-geral? Ou adorou ver os seus registos nas páginas amarelas? Sócrates emprestou as muletas a algum dos porcos numa atitude claramente socialista? As imagens não são claras, mas pareceu-nos ver um porco de muletas deslocando-se a uma velocidade estonteante. Tinha bigode? Quando parou terá falado para as câmaras de televisão, ou é material confidencial? Se é, quando estará disponível a todos nós? Qual será o jornal escolhido para passar estas informações preciosas? O Torrejano será contemplado? Se sim, para quando a publicação das conversas em áudio? Não será tempo de arranjar mais ferramentas para a página on-line de modo a podermos todos ouvir?

A todo este alarido segue-se sempre o inevitável anúncio de um inquérito que nunca dá em nada e que precisa de outra comissão para saber como decorrem os trabalhos na primeira e assim sucessivamente. Asseguramos desta maneira o estado policial em que todos tentam controlar todos. Perfeito.

Estará a Assembleia da República preparada para ouvir os dislates de um tipo anémico e com ar tresloucado? Se sim, poderemos daí aferir, que também os deputados da nação há muito precisam de tratamento psiquiátrico? Se a resposta for afirmativa, é lícito exigir que a câmara seja transformada num novo manicómio? E se premissa for verdadeira, quem serão os médicos escolhidos? Pertencerão ao partido que detém a maioria? – esta possibilidade aterra-me, já que não teremos a certeza se o tratamento será eficaz –

O Procurador-geral terá embarcado para outro planeta e nunca mais ninguém o verá, ou esta possibilidade não passa de uma projecção da minha vontade e de grande parte do povo português?

A prometida medida governamental do choque tecnológico inclui um aparelho de escuta para cada português, assegurando desta forma que as escutas serão democráticas?
Como encarar a possibilidade de ouvirmos o vizinho do andar de baixo dizer obscenidades à amante enquanto a esposa está fora? Devemos denunciá-lo ou faremos apenas um registo que mais tarde poderá ser útil, exigindo-lhe o Mercedes para poder engatar a esposa?
E o inquilino do 3º direito que tem rosbife para o jantar poderá ter a certeza de que o deglutirá sozinho, ou todos os tipos que gostam desta ementa – regada com um Bairrada Vintage – aparecerão para o jantar, exceptuando o cunhado que reside em Almeirim e que detesta rosbife, a irmã e o cunhado?
O que descobrirão os outros de nós próprios? Poderemos voltar a esconder a nossa fuga aos impostos, a nossa escapadela – sobretudo se esta se verificar com a vizinha do lado - ou mesmo o nosso desejo secreto de querer sermos procurador-geral?



Definitivamente entrámos na época da devassa da vida privada.



apcorreia@vozdasbeiras.com

Uma não-escrita

Isto é uma “não-escrita” porque não vou escrever sobre coisa nenhuma. Há tanto para escrever, mas eu não me consigo decidir. Tudo está condicionado, porque sim. Porque não é original, porque não, porque estão fartos de política, porque futebol nem pensar. Detestam, nem querem ouvir falar. Vou falar do “porcão” na Via de Cintura Interna do Porto, à saída para a A3? Devia ter sido giro a apanha à mão, dos 200 porcos. Será que os apanharam todos?
Ou vou falar do nevão em Vila Real? Nem tem comparação. A neve é imaculadamente branca e pura. Os seus cristais são uma maravilha da Natureza. Não há dois iguais. Parece impossível, mas é mesmo assim. A Natureza é assim, não há dois seres iguais, rigorosamente iguais. Nem mesmo os gémeos verdadeiros o são. Sei isso de experiência vivida.
Mas não tenho nada que vos estar aqui a falar da minha vida, o que é que isso vos importa?

“quero-te e és o meu amor.

Será que sou o teu?”

Não sei quem escreveu isto? Eu não fui. Nunca iria expor sentimentos na praça pública. Mas é bonito, nós gostamos que nos digam palavras bonitas e sobretudo sentidas.

A sonda “Stardust” regressou à Terra depois de percorrer milhões de quilómetros no Espaço. Trouxe uma colher de chá de poeira estrelar. Dizem que irá ocupar os cientistas no seu estudo durante largo tempo. Mas o que é que isso vos interessa?
Dizem que permitirá conhecer as origens do nosso Universo. Tretas, já não vou nisso.
Mas se já não vou nisso, vou no quê?

Lá está ele com a mania que sabe do assunto. O que é que nos interessa a queda da sonda?

“Não imaginas como é importante saber, nunca mais tive esta sensação que tenho contigo, este desejo que arde e esta ternura toda e esta ansiedade que escondo ou tento esconder, muitas vezes até de ti procuro esconder em parte, talvez seja para não ser demasiado ansiosa, para tentar não ser.”

Outra vez. O texto com interferências. Devo ter colhido estas palavras de amor em algum comentário. Possivelmente é considerado plágio. Será que ainda vou ser processado, ou penhorado?
Sou um “teso”. O que é que podem levar?

Já vos disse que os comentários são a melhor coisa deste blog?

Pois é, afinal é para isso que escrevo, como agora o estou a fazer:
para obter “feed back”.

Praga - Cidade histórica


Ao lado dos edifícios da Câmara Municipal, a belíssima casa renascentista chamada "do Minuto" (U Minuty) ostenta uma extraordinária fachada decorada com esgrafitos figurativos e floreais.

(Foto de Peter)

sábado, janeiro 14

Aula

Numa aula de teologia em assuntos do matrimónio, o aluno pergunta ao professor:

- Se morre uma esposa o marido passa a ser viúvo; se morre o marido a esposa passa a ser viúva; e num casamento de homossexuais, como se chama a pessoa a quem morreu o companheiro?

Resposta do professor:

- Bicha solitária!

(recebida por e-mail)

P.S. - Não tenho preconceitos, nem tenho afinidades. Cada um come do que gosta ...

Não sei

Na 4ª F assisti na FCUL a um Colóquio sobre "A exploração do Espaço: Sonda NEW HORIZONS visita Plutão". Cheguei atrasado, felizmente. Não porque o Colóquio não se me perspectivasse bom, como foi. Começou às 15h e fomos corridos pelos funcionários da Fac às 20h, quando o Prof AMBaptista ainda ia lançado, no fulgor dos seus oitenta e tal anos. Falou de improviso, sem qualquer papel, projectando ocasionalmente uns transparentes para os quais quase nem olhava. Quem olhava para ele, embevecido e de boca aberta era eu. Aliás já tinha tido o prazer de o ter como Prof, quando fiz a Cadeira de Física Geral.

Intitulou a sua palestra de: "O Homem, a Ciência e o Universo", temas que me são caros e que eu já tenho abordado aqui muito superficialmente, de acordo com as minhas muito limitadas possibilidades.

Falou sobre o Big Bang, teoria inicialmente escarnecida, pois prevalecia então a Teoria do Universo Estacionário, defendida por um grupo de cientistas liderados por Fred Hoyle, que aliás lhe deu aquele nome depreciativo. Einstein também pensava que o Universo fosse estacionário, o que o levou a eliminar das suas equações a "constante cosmológica", facto que ele posteriormente viria a considerar ter sido o seu maior erro e o levou a reintroduzi-la novamente.

Há cerca de 3 ou 4 anos, o Hubble foi apontado para uma zona do espaço, onde não se via nada, onde não existia qualquer sinal. Mas havia. Havia galáxias a nascerem, era o Universo com 10% da sua idade e era o golpe mortal na Teoria Estacionária.

Perguntaram uma vez a St Agostinho " o que é que Deus estava a fazer antes de criar o Universo", ao que o Santo respondeu:

- "Estava a criar o Inferno para os que fizessem perguntas como essa".

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sexta-feira, janeiro 13

Não saia de casa à 6ª Feira,13


As razões são várias. Jesus Cristo foi crucificado numa sexta-feira. Foi também neste dia da semana que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso e que se iniciou o dilúvio de Noé. Por outro lado as cerimónias satânicas tinham sempre doze bruxas mais um demónio. Logo somar 13 com sexta-feira dá um péssimo resultado.

Inexistência

A inexistência do Tempo tal como o imaginamos contado por sucessão de dias e noites, primaveras tantas vezes cinza, ponteiros de relógios em círculos inexoráveis rodando invariavelmente no sentido dex-trorsum recordam-nos afinal a nossa própria não vida, também nós rodando em trajectos circulares, rodopiando em todos os sentidos perdidos quais baratas tontas.
A intangibilidade do Espaço/Tempo o caminhar no vácuo e para o vácuo remetem-nos à infininesabilidade corpórea de pequenas peças dispensáveis por um universo tão compreensivo que se permite tratar-nos tal qual somos. Lixo.
O arrogarmo-nos donos de sabedorias é o constatar da tremenda ignorância em que nos movemos.
[O percurso inclinado da Pirâmide é algo lento; tanto mais lento quanto o sabermos que atingindo o vértice far-se-á Luz. O que fica além da Luz? - Mais Luz. – Só pode ser essa a resposta.]
Tempo – Templo o clarão que rebentará diante dos incrédulos deixando-os ainda mais cegos porque jamais quiseram ver e aceitar o óbvio.
Elevar-me graças à anulabilidade da força da gravidade num acto tão simples como ignorar esta última permitindo-me o pairar acima da minha própria cabeça que deixo deitada num travesseiro de algodão para dela tenha uma outra visão.
A água que escorre lentamente do fontanário de tão pura e cristalina só é assimilada pelo ruído quase imperceptível da queda onde se desfaz em milhões de estilhaços e gotículas tornando-se na mansidão do espaço preenchido por outras águas vertidas anteriormente e que agora repousam na base. Bebê-la é sorver a vida.
Conduzir:O automóvel tendo sempre uma visão em perspectiva onde tudo parece convergir num ponto distante e a vertigem do espaço percorrido em breves segundos constatando ao mesmo tempo a ausência de árvores devoradas em lancinantes incêndios provocados pela incúria e pela maldade, continua a deixar impressa na mente a ideia de ausência.
As montanhas:Que diviso ao longe mais não são que os teus dois seios erectos e possantes a pedirem o toque da mão e o selar do beijo em mamilos acastanhados e duros.
A caixa:Da qual agora resolvi sair por ser passível de mudança de onda só ao simples tocar de um botão era afinal uma máquina tenebrosa concebida com o único intuito de aprisionar a mente.Essa a razão da aparente fuga. Lucidez. Foi um acto de lucidez.
O frio:Que permite sentir o outro corpo quente e para o qual somos impulsionados compulsivamente, oferecendo este a plena sensação de quietude.
A inexistência do Tempo tal como o imaginamos contado por sucessão de dias e noites, primaveras tantas vezes cinza, ponteiros de relógios em círculos inexoráveis rodando invariavelmente no sentido dex-trorsum…

quinta-feira, janeiro 12

Presidenciais

Soares pondera se ocupar a cadeira de Belém declarar guerra aos banqueiros. Não uma guerra convencional, mas uma guerra total.
Enormes frascos de Ketchup estão a ser preparados pela candidatura com a finalidade de demolir o inimigo.
Porém como podemos ter a certeza de que os poços de vinagre não secam? E se secarem onde vamos arranjar vinagre para os temperos normais das nossas cozinhas? Será aceitável passarmos a ter outro tipo de alimentação por causa das manias de grandeza de um candidato?
O ketchup não poderá ser usado contra este se perder as eleições? Se sim, como pintá-lo de outra cor?

Louçã por seu turno prefere o uso e abuso da palavra a tal ponto que já tem um humificador na boca para combater a seca. Declara-se “inconformado com a apatia da EU que se recusa a financiar os aparelhos de combate à seca”, dizendo ainda “esperar uma mudança de atitude, já que quero plantar alfaces no meu lábio superior”.
Se fosse um jardim, ainda se deveria ponderar a possibilidade de apelarmos à solidariedade Europeia. Agora alfaces? Se acabar por levar a ideia por diante, teremos a certeza de que usará a “verpia f1?” que tem excelentes qualidade se plantada em estufa? Se for esta a qualidade escolhida, como colocar uma estufa no lábio superior de Louçã? Como se efectuaria a rega? Recorrendo a um sistema de aspersão, ou opta-se pelo gota-a-gota? E se em ambos os casos os pequenos orifícios ficarem obstruídos pela terra? Será que se deve pensar no uso de serradura com a finalidade única de aniquilar as ervas daninhas? O uso de plástico negro que impede a fotossíntese será plausível?
A ideia até aprece não ser má, mas de difícil execução.

E Cavaco? Podemos ter a certeza de que a sua eleição o conduzirá às bombas de combustíveis do pai em Boliqueime? Se sim, estes passarão a ser mais baratos ou ao invés aumentarão para acabar de financiar a nova vivenda? Respeitará as normas comunitárias e a gasolina terá menos octanas? Como podemos ter a certeza de que após aquela figura infeliz de boca cheia de bolo, não deitará na nova piscina fuel óleo em lugar de água? Esta possibilidade agita já os defensores da natureza que pensam promover uma manifestação em terras algarvias, caso o candidato acabe por ser eleito.

Alegre irá escrever um novo livro de poemas? Se sim, podemos esperar que com ele no palácio de Belém, todas as comunicações ao país serão em verso? Se forem, contribuirá a poesia para uma melhor compreensão das conversas ininteligíveis que são comuns a todos os candidatos?

Jerónimo pensará em transformar Belém e a zona envolvente num kolkose? Quem tomará conta das vacas? E quem as ordenhará? A mistura com ovelhas será uma boa opção? E quem será o cavalo?
Usar os outros candidatos como animais de tracção estará previsto na Constituição? Quem chicoteará os infelizes? O povo trabalhador que também terá de trabalhar no kolkose?
Se sim como serão repartidas as mais valias?
Ante todas estas dúvidas os candidatos decidiram juntar forças, dançar uma dança Cossaca e beberem que nem carroceiros.

Buda - Bastião dos Pescadores

De acordo com a tradição, recebeu o seu nome do grémio de pescadores que defendia aqui o castelo. A cidade de Buda, do lado esquerdo do Danúbio, forma com a cidade de Peste, do lado direito, a capital da Hungria: Budapeste.

(Foto de Peter)

quarta-feira, janeiro 11

Difuso

O lusco-fusco da noite começa a deitar o seu manto cinza/negro sobre uma cidade adormecida onde pessoas e veículos se comportam como seres alienados, andando sem rumo, contornando obstáculos um pouco ao acaso, percorrendo semicírculos que se perpetuam na sucessão de dias e noites.

A iluminação artificial faz-se sentir em longos e esguios pórticos encimados por fosforescências trazidas até lá por rastos invisíveis de energia que se adivinha sem se ver. Milagres de uma ciência desprovida de afectos, fria, como são as noites em terras de Viriato.

Sobre mim abate-se de forma demolidora o crepúsculo que ameaça soterrar-me e engolir-me nessa voragem difusa de um dia que já não o é e de uma noite de que apenas tenho os contornos.

Desaparecer no breu é incontornável. Ser engolido no abismo negro das palavras tingidas a negro/cinza, agora imersas nas venturas e desventuras de letras juntas laboriosamente, tentando divisar um nascer de luz inopinada a estas horas tardias.

Erguem-se quais gigantes fantasmagóricos velhos esqueletos ripados de folhagens estranhas, talvez árvores, talvez ilusões de óptica, talvez apenas miragens.

A alma – se existe – está mergulhada em profundas águas onde a claridade não entra e onde todos os males se afogam, no sufoco de pulmões inundados, olhos vítreos e sonhos que nunca o serão.

Enrolo-me no casulo da vida feita noite, enfrento as trevas agora perturbadoras e deixo que todo o meu eu seja arrastado para o abismo. Lá bem no fundo, as rochas ameaçadoras espreitam a vida que se escoa nos dédalos insondáveis do tempo.

Inusitadamente caio no meu próprio esquecimento, perdido nas palavras que não formei, absorto nas letras que tento a custo entrelaçar de forma a constituir a lógica ilógica dos caracteres, ausentes de ideias, de vida e de morte.

Teimosamente encaminho-me para o canto da sala onde a luz de um candeeiro ofusca olhos, mente, alma e se transformou em verdadeiro delírio mental. Da mesa que o suporta a ilusão de se manter a pairar sobre um chão escuro, ponteado por um tapete de gosto duvidoso. Tal com a luz que ofusca, também a mente embotada se confunde com luminescências quase azuladas que se esbatem de encontro a livros, aniquilando qualquer acto de pensar.

Talvez a massa encefálica se tenha perdido algures entre a luz ofuscante, os livros que parecem ganhar vida com o movimento de todos os personagens que se confundem em amálgamas de pensares, sentires e ilógicas perturbações. Madame de Bovary será agora amante de César que conduz legiões de soldados esfomeados e perturbados pelas planícies eternas de Roma?

Enrolo-me no casulo da vida feita noite, enfrento as trevas agora perturbadoras e deixo que todo o meu eu seja arrastado para o abismo.

terça-feira, janeiro 10

Bolas de sabão


O adulto-menino estava à janela da vida, fazendo bolas de sabão. As bolas iam-se sucedendo e subiam no céu muito azul.
Era um dia calmo, onde não bulia aragem e as bolas subiam, subiam, acabando por rebentar.

Porém uma delas, sem dúvida a mais bonita e que reflectia todas as cores do arco - íris, não subiu tanto, manteve-se rés à terra dos homens e acabou por chocar contra um monstro inominável, tão terrível como extenso é o seu nome.

Chocou com o QUOTIDIANO e desfez-se numa miríade de cores.

O adulto-menino continua a fazer bolas de sabão, mas nunca mais nenhuma foi tão bonita como aquela.

segunda-feira, janeiro 9

"Buracos" no Big Bang

Evidentemente que qualquer teoria não é definitiva, tem “buracos” que os cientistas, se ela dá resposta a outras questões, ignoram. São “buracos” que, a seu tempo, acabarão por se resolver, até surgirem outros “buracos” .... É o caso do BB, que permite explicar o afastamento das galáxias, a existência da radiação fóssil, ou a composição química das estrelas. Mas existem muitos problemas por resolver, como por exemplo este:

· Como é possível que regiões outrora independentes, tenham hoje a mesma temperatura e a mesma velocidade de expansão, dentro duma precisão superior a uma parte em mil, se não houve tempo suficiente para que se dessem trocas de calor e de energia entre elas?

Para tentar dar-lhe resposta surgiu, em 1979/81, a Teoria Inflacionária, segundo a qual o universo teve, no instante inicial, um breve período de inflação, ou expansão, extraordinariamente rápida e durante o qual toda a matéria e energia foi criada a partir do nada (ex nihilo). Os seus autores: Alan H. Guth e Paul Steinhardt publicaram, em 1984, um artigo sobre a sua “Inflationary Theory” no Scientific American.
O intervalo de tempo em causa é muito pequeno – uma rápida expansão desde os 10^-35 segundos, até aos 10^-33 segundos. Se tal aconteceu, a totalidade do universo actualmente visível resulta da expansão de uma região suficientemente pequena para ter sido atravessada por sinais luminosos no processo de expansão. Neste caso podemos compreender quer a isotropia quer a homogeneidade do universo visível.

Muito recentemente um jovem físico português, João Magueijo tentou resolver o problema através duma hipótese revolucionária: a sua “teoria da velocidade da luz variável (VSL)”, segundo a qual a velocidade da luz, durante brevíssimos instantes, teria sido maior que a constante “c” (300 mil kms/s) estabelecida por Einstein e que teria levado este a “dar voltas no caixão” ...

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COLÓQUIO
A EXPLORAÇÃO DO ESPAÇO: SONDA "NEW HORIZONS" VISITA PLUTÃO

11 de Janeiro de 2006 (4.ª feira)
15H00

Edifício C6, sala 6.1.36 da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ao Campo Grande


Oradores: Alexandre Correia (Univ. Aveiro), Ana Isabel Simões (DF-FCUL),
António Manuel Baptista (Academia Militar), Francisco Miguel Gonçalves
(The Planetary Society), João Lin Yun (OAL e DF-FCUL), Maarten Roos (OAL),
Nuno Peixinho (OAL-FCUL), David Luz (CAAUL), Rui Agostinho (OAL e DF-FCUL)
e Rui Barbosa (editor do Boletim Em Órbita)

"Ir ousadamente onde nenhum Homem jamais foi...", a inspiração da ficção
motiva a realidade, ou será o contrário? Em Janeiro de 2006, a sonda "New
Horizons" irá dar mais um sinal do despertar da Humanidade para a
exploração dos confins do nosso "bairro cósmico"! Uma viagem de nove anos
até ao único planeta que, até agora, ainda não foi visitado por nenhum
objecto terrestre - Plutão e a sua lua Caronte. Mas "novos horizontes"
serão revelados, pois a sonda (tal como a Humanidade) não vai ficar por
aí...

Para marcar o lançamento da sonda espacial "New Horizons",
o Observatório Astronómico de Lisboa, o Departamento de Física da Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa, e a secção portuguesa da "The Planetary
Society" organizam um colóquio aberto ao público em geral e especialmente
dirigido a estudantes e jornalistas de ciência.

PROGRAMA

- Abertura
- Visões históricas do Sistema Solar
- O "novo" Sistema Solar
- Aspectos da dinâmica do sistema solar
- Planetas gigantes do sistema solar
- A sonda Huyghens e Titã
- Objectos trans-neptunianos. Plutão.
- A sonda "New Horizons?
- Meios de propulsão. Viagens interplanetárias e interestelares.
- O Homem, a Ciência e o Universo
- Debate
- Encerramento

Organização:
Observatório Astronómico de Lisboa
Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Seccção Portuguesa da The Planetary Society

Noites de Goa


O que tem de diferente, relativamente à totalidade dos livros de divulgação científica, a obra de João Magueijo: “Mais rápido que a luz” é ser “a biografia de uma especulação científica”, que é também um Diário do autor. Um livro profundamente humano e em que o seu autor, “alentejano de gema”, não se parece nada com o retrato que habitualmente fazemos de um cientista. Não é caras leitoras?

Atente-se no final do livro:

“Somos nós – os que amamos o desconhecido para lá de todas as modas políticas ou imposições partidárias – que usufruímos do último e glorioso riso. Gostamos mais do nosso trabalho do que é possível exprimir em palavras. No universo ninguém se diverte mais do que nós.”

Ou no final dos “agradecimentos” da praxe:

“O autor gostaria de agradecer aos candidatos a inquisidores dos dias de hoje por já não brincarem com fogo.”

Para justificar o que venho dizendo, destaco ainda um pequeno texto do capítulo em epígrafe, o qual mereceu a minha preferência:

“ ... enquanto montanhas de papel ... se acumulavam sobre as nossas secretárias, caindo às vezes misteriosamente no caixote do lixo, continuávamos a interrogar-nos sobre a VSL, (variable speed of light, ou “very silly” (disparate), segundo os seus críticos) sentindo-nos frequentemente algo perdidos.

Em Abril a necessidade de espairecer tornou-se de tal forma esmagadora que resolvi pôr tudo de parte por algum tempo e desaparecer de Londres com Kim (a namorada). Escolhemos ir a Goa ... As raves (movidas a “ecstasy”) na praia duravam até ao nascer do Sol ... Os “hippies “ (que viviam nus nas árvores) tocavam flautas a cães furiosos que corriam pelos bares e restaurantes a ladrar e a morder-se uns aos outros ...
Embora este ambiente não parecesse particularmente conducente ao exercício de actividades intelectuais, devo dizer que o meu cérebro funcionou lá melhor do que nunca. Ao descontrair-me ocorreram-me de súbito algumas das grandes ideias da VSL. Claro que só tomei breves apontamentos: as noites de Goa não se prestam a cálculos complicados. Mas lentamente iam-se materializando umas quantas ideias interessantes.
...
Quando, a meio da noite, ia à casa de banho de Deus – a única que existe na maior parte dos bares de Goa – olhava acidentalmente para o céu entre as palmeiras. Com pouca ou nenhuma luz eléctrica a polui-los, os céus de Goa eram povoados pela infinidade das estrelas. Concordo que contemplar o universo enquanto se mija não será das coisas mais poéticas, mas sentir o peso do universo diante dos meus olhos produzia sempre em mim um choque forte. Num sistema sonoro, lá muito ao longe, ouvia-se:

“Quando se sonha não há regras, tudo pode acontecer, as pessoas podem voar”

domingo, janeiro 8

O Jarrão

O PR (Presidente da República) tem poderes bem definidos. Em circunstância alguma pode perverter o sistema, pelo menos à luz da actual Constituição. Questiono-me por isso do porquê de tantos candidatos.

Na verdade o que o que é proposto aos portugueses é que façam uma escolha entre vários jarrões independentemente das cores que usem e das origens dos mesmos.

Podemos sempre questionar se um jarrão da dinastia Ming terá o mesmo efeito de um fabricado em Sacavém, ou nas Caldas.
O azul ficará bem a uma peça de porcelana tão intimista? E se ficar deverá usar óculos? Se não usar deve ter um rosto plastificado? E que dizer do corpo do jarrão? Em cima deve estreitar, ou ao invés, deve alargar?

Se for de fabrico nacional será que tem o mesmo valor? E se tiver, adoptará por uma marca certificada?
Cavaco é indubitavelmente um jarrão de barro barato revestido a plástico de qualidade duvidosa. Definitivamente os portugueses parecem preferir imitações de mau gosto.

Se for um Vista Alegre, será certo de que tem queda para o poema?! Se tiver é certo que passa à segunda volta? No caso de conseguir podermos ter a certeza de que o fará com métrica? No meio disto onde ficam as sondagens? Será previsível uma queixa à CNE? (Comissão Nacional de Eleições).

Porém se o jarrão provém de estratégias Trotskistas? Será um dado adquirido que teremos uma sociedade fraterna? O que fazer com os revolucionários? Deportamo-los para a Serra da Estrela? Não será então de bom senso levar o caminho-de-ferro até lá? E se sim, fará parte do projecto arrojado TGV, ou ficar-nos-emos pela velha máquina a carvão? Se a opção for a última que garantias temos de que consegue subir?

E se nos decidirmos pelo uso de camisas de marca? Será certo de que estas nunca terão aromas indevidos? Será previsível que uma Hugo Boss não possa ter cheiro a sovaco e a coisa velha?

Por outro lado será que ganhando o mais cristalizado de todos, o palácio de Belém passará a ser em Beja?
Como atravessar o Tejo com aquele enorme mastodonte? A ajuda proletária chegará para tal? Estarão os operários dispostos a carregar tal fardo por pouco dinheiro?

Estas e outras questões são pertinentes porque é imprescindível escolher um jarrão, embora não saiba bem qual a utilidade deste!

É imperioso que seja azul. Azul com flores, capaz de se expressar nem que seja sob a forma de arte DECO.
Porém onde colocar o jarrão? Numa mesa de pé de galo? Ou poderá ser numa vulgar mesa de jantar, talvez mesmo uma que estique? Oponho-me frontalmente a uma mesa de sala de estar. Odeio os sofás aberrantes que normalmente são colocados ao lado!

Que flores usar no jarrão? Será lícito querer tulipas? Se optarem por cravos não pode isto ser entendido como uma marca revolucionária? E se forem rosas, será certo que a Rainha Santa fará um milagre? Transformar rosas em pão não poderá indiciar um ilícito criminal? Quem comeria tal pão, pese embora o aumento deste?

Assumir responsabilidades

Em qualquer país do mundo ocidental em que nos integramos são exigidas responsabilidades e assim tem que ser, senão era uma completa "rebaldaria". O Povo soberano delega no Partido vencedor o poder de zelar e defender os seus interesses, de gerir a "res publica", o que ele deverá fazer de acordo com o princípio que vem de Montesquieu, da "separação de poderes".
Na Grã-Bretanha é assim. Estou a lembrar-me da série "Yes Minister", os Governos passam, mas a máquina burocrática permanece. São eles que dão continuidade ao funcionamento do Pais. No fundo, são eles que manobram o Poder por detrás dos bastidores. Quando o Governo cai tudo continua a funcionar, não há trocas de lugares na Administração Pública, nem nos gestores das grandes empresas estatais.
Em Itália não é assim, em França, em menor escala, também não é, e então em Portugal é o máximo do despudor: o Partido que vai para o Poder coloca imediatamente nos lugares-chave, os homens da sua confiança, o que até certo ponto se compreende, porque os detentores de cargos públicos não estão lá para servir o País, mas sim os interesses do Partido a que pertencem.
Daí as enormes quantias que, em detrimento das necessidades básicas da população, são dispendidas em enormes indemnizações, ou chorudas reformas antecipadas.
Nos EUA todos nos lembramos do "escândalo Watergate", que levou à demissão de R. Nixon, o Presidente em exercício. Neste momento a popularidade de Bush, está de rastos e os inquéritos que actualmente decorrem naquele país e que envolvem figuras gradas, próximas do Presidente, podem tornar Bush num 2º Nixon.

Se se verifica uma grave anomalia num determinado Serviço Público, a primeira atitude a tomar pelo respectivo Director deveria ser, TEM DE SER, a apresentação do seu pedido de demissão. Ele está naquele lugar para assumir a responsabilidade pelo funcionamento do Serviço.
O Governo poderá não a aceitar. Em minha opinião deve sempre aceitá-la, mandando de seguida proceder, através das vias adequadas, a inquéritos que apurem responsabilidades, no sentido de identificar as causas e os intervenientes. Mas o 1º responsável é sempre o Director de Serviço.

No Exercito existe uma norma, que vem desde a reorganização do mesmo pelo francês Conde de Lippe, no sec XVIII, mas que sobreviveu até aos dias de hoje, apesar das profundas alterações introduzidas pós - 25 de Abril, e que diz:

"O comandante é sempre responsável por tudo o que se faz, ou se deixa de fazer"

Seria bom que isso também se verificasse na vida civil.

sábado, janeiro 7

Morrer lentamente

Ticiano - "Mulher ao espelho" ( o espelho está a ser-lhe mostrado por alguém, de quem só se vê a mão à esquerda)


Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,

justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

(Pablo Neruda )

O que mais me impressionou neste poema, que me enviaram no primeiro dia
do ano,foi esta vontade de viver. O dizer SIM à vida.
Não morrerei lentamente Pablo. Podes estar certo que não esquecerei o teu ensinamento.

sexta-feira, janeiro 6

Da utilidade do comentário

O estar no blog resulta da minha necessidade de comunicar. Posso fazê-lo de diversas maneiras e faço-o. Mantenho um gráfico do número dos visitantes diários. Claro que esse número supera o dos comentários. Não me vou pôr aqui a dissecar os motivos, que são do foro íntimo de cada um.
Sinto-me lisonjeado quando visitam o n/blog, mas também me sinto devedor, em especial para quem comenta. Acho que quem comenta tem direito, repito: direito, a uma resposta. Admito que estou em falta, pois por vezes não o faço. Lamento que isso aconteça, mas acontece, nem sempre é possível.

O comentário possibilita a discussão do texto, a troca de impressões e isso é saudável, sob todos os aspectos. Cada um sabe aquilo que vale, tem a noção das suas possibilidades, não necessita que lho estejam a recordar continuamente. Necessita sim é que o contradigam, que lhe contestem as suas afirmações, que o interroguem.

Mas o comentário também me serve de orientação. Já tem acontecido apagar artigos que não são merecedores de qualquer comentário e como "o cliente" é que tem sempre razão, pura e simplesmente apago o artigo.

Bal du Moulin de la Galette, Montmarte


Gosto de tirar fotografias a quadros famosos, quando posso, sem flash. Se calhar ficava-me mais barato e a foto seria de melhor qualidade, se comprasse um vulgar bilhete postal ilustrado.
Mas eu gosto de "fazer o boneco".
Aí temos uma tela, pintada em 1876 por Pierre-Auguste Renoir e que se encontra em exposição no Musée d'Orsay, em Paris.

(Foto de Peter)

quinta-feira, janeiro 5

Eléctrica Portuguesa sucumbe

Decidido a acabar com a energia eléctrica que considera “um luxo desnecessário” Pina Moura aproveitou a sua passagem pelo governo para garantir o futuro.

Claro que poderemos sempre questionarmo-nos sobre a importância ou falta dela da energia eléctrica.
Se usarmos corrente alterna, esta servirá para alguma coisa? E se a escolha recair sobre a corrente continua será que uma ave de mau agoiro não poderá pousar num fio de alta tensão e provocar um curto-circuito? Se provocar poderemos ter a certeza de que todos os deputados da nação serão incinerados? Se não forem e sobreviver algum quem nos garante que os tipos não optam pelo carvão?

Estas questões são pertinentes já que Portugal tem usado mal a energia nuclear. Teremos a bomba atómica? E se temos como ir à caça com ela? Será seguro discutir com o vizinho do segundo direito e atirar-lhe com uma intercontinental? Não seria mais sensato gaseá-lo?

Se esta sobreviver poderemos dizer o mesmo do seu gato Napoleão? – Este gato irrita-me particularmente porque se recusa a desejar-me um bom dia! –

Alheios a tudo isto continuam os candidatos a Belém, mais interessados em conseguir o tacho. Um vai à caça sem armas nucleares é certo, mas disparou em tantas direcções que acabou por acertar nos pés. Outro inaugura a sua nova mansão em Boli (Queime) – embora não seja certo de que se queime efectivamente – outro ainda promete transformar Belém numa coutada do partido e Garcia Pereira sonha com um estado Maoista, tendo mesmo requisitado os restos mortais de Mao.

Claro que os arqui-inimigos espanhóis já nos cortaram a rede eléctrica alegando falta de pagamento esquecendo-se alegremente da dívida de guerra resultante de Aljubarrota!

O povo português segue impávido todo este cenário de quase catástrofe dançando ao som de Lou Reed.