quinta-feira, janeiro 26

Sol e Lua


Estava sentado ao balcão do bar, comendo, em pedaços pequeninos, uma tosta mista e beberricando uma imperial. Queimava tempo: já fizera 4 telefonemas e enviara 2 sms sem obter resposta.
O tipo do balcão olhava para ele: "este chato nunca mais se despacha e há aí gente à espera".

Por fim, depois duma eternidade, chegou um sms: "Não podia vir".

Já o esperava. Eram Sol e Lua. Aqui há tempo, numa praia brasileira, juntou-se uma autêntica multidão para assistir ao encontro dos dois astros. Aqui não seria o caso, nem eram astros, nem os encontros assim tão escassos. Mas, para os que se amam, todo o tempo é pouco.

Encontrei-o na paragem de autocarros:
- Então?
- Não veio.
- Deixa lá, falas com ela logo à noite.
- Não é o mesmo.

Comecei a pensar como seria com um guarda-nocturno e uma enfermeira.
- Sei lá, há sempre tempo e lugar.
- Tempo para sexo, ou tempo para amar?
- Não é o mesmo?
- Não. “Acho que no meio de tudo há o desejo, puro. Depois esse desejo corporiza-se numa pessoa, mistura-se com outros ingredientes. E apareces tu como és, e tu transformas-te em qualquer coisa, num amor desejo, num desejo amor e em tanta cumplicidade que passa por....desejo, pele, ardor, sexo, palavras, ser, noite, dia, presente, querer desejar, ter, ser... “

- És um poeta.
- Quem, eu? Nem penses! Na verdade é um pensamento duma poetiza. Às vezes estas citações resultam … dão-me um ar erudito.

Lá veio o autocarro, apinhadíssimo como de costume e fomos abrindo caminho ao empurrão e à cotovelada. Acabei por levar uma de um tipo que me pareceu ser o Luisão. Mas não era de certeza. Ele não anda de autocarro.

- Vamos ali beber um café, ou tens que fazer?
- Bora.

Falámos do tempo da Faculdade. Ele é muito mais novo que eu, mas ainda não se deu conta. Ou serei eu que não dei?

- Julgas que escolhestes essa miúda?
- Foi o acaso.
- “Acaso”, qual acaso? Foste tu que decidiste ir para essa Fac, não foi o acaso e, convence-te, foi ela que te escolheu para o trabalho de grupo. Planeou tudo, já te trazia debaixo de olho.
- Mas porquê eu?
- Olha, pelo que te disse acima. Nós homens normalmente só olhamos para o “envólucro” exterior, mas elas vêem muito mais além …

7 Comentários:

Às 26 janeiro, 2006 14:37 , Blogger Peter disse...

"tatiana valentina", limitei-me a dizer a verdade, como é meu hábito.
Gostei de te ver por aqui.
Vou espreitar o teu blog.

 
Às 26 janeiro, 2006 16:01 , Blogger Peter disse...

"Yatashi", nunca percebi quem era a Lúcia, quem era a Rose e quem era a "Yatashi". Esta sempre foi bemvinda e bem tratada por mim.
Não percebo o que queres dizer com "A rose despediu-se do mundo". Assim como não percebo quem é que foi para o estrangeiro.

O blog continua aberto a todos os comentários não anónimos.

 
Às 26 janeiro, 2006 17:24 , Blogger Peter disse...

"ironias", ainda bem que gostaste do post, assim como a "tatiana".
Às vezes os "comments" são simples caixas de correio ...

 
Às 26 janeiro, 2006 18:26 , Blogger joaninha disse...

...muito bem observado!!!
Gostei! Mas as coisas não são assim tão como gotas de orvalho numa manhã de primavera... Há o que não tem explicação e essa parte tem muita força, mesmo quando não tem feed back... Um beijão.

 
Às 26 janeiro, 2006 23:00 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Perter

Sem dúvida que as mulheres conseguem ver - um pouco mais além - dão mais importância - ao além - que ao que se vê!!!

Adorei o texto :)

Beijinhos

 
Às 26 janeiro, 2006 23:02 , Blogger Peter disse...

"lazuli", passei há pouco pelo teu blog. Tens lá um poema lindo, com uma música de fundo maravilhosa e uma foto belíssima que julgo ser da Madeira.

Beijinho*

 
Às 26 janeiro, 2006 23:14 , Blogger Peter disse...

Joaninha, concordo qd dizes:

"Há o que não tem explicação"

mas esse aspecto surge na afirmação da poetiza:

"esse desejo corporiza-se numa pessoa, mistura-se com outros ingredientes"

 

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