segunda-feira, fevereiro 27

O "substibruto", perdão, substituto

Na 5ªF recebi um Email a convidarem-me para substituir o AJJ nos desfiles carnavelescos.
Caí das nuvens, como é natural.
- Porquê eu?
Responderam-me que tinham feito um estudo entre os bloguistas e que eu era o que tinha o perfil mais adequado:
- Estatura, falta de cabelo e principalmente barriga, além duma voz tonitruante e de um vocabulário a condizer.

Acertámos as condições, quanto iria receber, despesas todas por conta deles e eu apenas teria de comprar as camisinhas.

Tudo bem pela minha parte, não me importava de mascarar de palhaço, com o que já contava, nem de usar uns grandes bigodes, mas recusava-me terminantemente a ir vestido de "mamuda".

Que não, que ficasse descansado, até porque conheciam bem o meu perfil de "macho latino", teria era de saber tocar bombo.

Respondi que por aí não havia problemas, pois na minha juventude fora cadete dos Bombeiros Voluntários da minha terrinha.

Como temos de estar sempre bem com Deus e com o Diabo (vejam como, à cautela, os escrevo com letra maiúscula) aceitei e por isso não se admirem de me ver amanhã na TV num dos desfiles carnavalescos.

domingo, fevereiro 26

Cordeiros Pascais

Sabemos que durante a Semana Santa, a Igreja celebra os mistérios da reconciliação, realizados por Jesus nos últimos dias da sua vida, começando pela sua entrada messiânica em Jerusalém.

O tempo da Quaresma prolonga-se até a Quinta-feira da Semana Santa. A Missa Vespertina da Ceia do Senhor é a grande introdução ao santo Tríduo Pascoal e atinge o seu ponto alto no Domingo da ressurreição.

Esta história do domínio Bíblico em que os católicos acreditam piamente só pode ser comparável à ascensão de Sócrates e do seu partido ao poder.

No domingo de ramos entrecruzam-se duas tradições litúrgicas que deram origem a esta celebração: a alegre, grandiosa e festiva liturgia da Igreja – mãe da cidade santa, que se converte em mímesis, imitação do que Jesus fez em Jerusalém, e a austera memória – anamnese – da paixão que marcava a liturgia de Roma.

As reuniões do secretariado nacional do PS assemelham-se em tudo a este período a que nem sequer falta a figura de Judas Iscariotes ou as iras de alguns dos apóstolos aquando da prisão do seu chefe.
Cumprem-se assim as profecias.
Alegre e as outras vozes discordantes são remetidos a um silêncio obrigatório enquanto Pilatos – leia-se Sócrates e acólitos – lava as mãos impuras deixando o “trabalho sujo” para o séquito que incapaz de sobreviver politicamente sozinho tece a teia da subserviência e da desonra. A troco destas, as benesses de um lugar aqui ou ali, bem remunerado já se vê.

Lucas não falava de oliveiras nem de palmas, mas de pessoas que iam atapetando o caminho com as suas roupas, como se faria a um Rei, tal como o povo português vai servindo de tapete vermelho na passadeira da fama efémera do ainda primeiro-ministro.

Numa espécie de anúncio do amor de um Deus que desce connosco até ao abismo do que não tem sentido, do pecado e da morte, do absurdo grito de Jesus e do seu abandono e a sua confiança extrema algo abalada traduzida nas palavras, “Pai porque permites que isto me aconteça?” como se ele mesmo duvidasse da existência do Pai ou da sua capacidade para operar o milagre da salvação.

Na duplicidade de critérios ininteligíveis, Sócrates promete mais solidariedade para um interior já desertificado e ao mesmo tempo anuncia pela boca de um dos seus ministros o encerramento de milhares de escolas que irão tornar as zonas desfavorecidas do país em verdadeiros desertos, onde nem as lembranças perdurarão engolidas pela voragem da natureza.




O Evangelho de João apresenta Jesus sabendo que o Pai pôs tudo nas suas mãos, que tinha proveniência Divina e num acto de extrema hipocrisia lava os pés do seus discípulos, gesto inquietante se pensarmos na forma sorridente como Sócrates nos vai extraindo tudo em nome de nada.
Paulo completa a representação recordando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que naquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente num pão e num vinho que convertem em alimento o seu Corpo e o seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar a sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia, a mesma que o governo socialista tenta a todo o custo fazer entender aos cidadãos que o elegeram em nome da prosperidade e da fé no futuro. Apesar da traição óbvia e do desapontamento de um povo açaimado pelos próprios medos, o governo e o partido que o sustenta, teima em fazer passar a mensagem eucarística de que no final dos tempos voltará para devolver a abundância, o país sem desemprego, a fé em dias melhores.
Também Sócrates e o séquito se consideram messiânicos no sentido em que julgam poder fazer perdurar para além do tempo a mensagem fatal com que enganaram toda a gente.

No final podemos concluir que o Sebastianismo foi recuperado pela classe politica actualmente a exercer o poder e que esta forma de pensar tão portuguesa tem origem bíblica pelo que não é de admirar que amanhã um qualquer salvador da Pátria ressuscite – vide exemplo de Cavaco Silva – e se multiplique em pão e vinho e que os dias de abundância prometidos sejam remetidos para o final apocalíptico dos tempos.

Nós todos somos o cordeiro pascal a sacrificar à gula, à incompetência e à demência de uma clique de loucos que nos gosta de espoliar sobretudo da nossa dignidade.

Não é tempo de reflectirmos em exemplos da história e promovermos o assassinato como arma legítima para acabar com estes “Santos dos últimos dias”?


P.S. o meu agradecimento à minha querida amiga Maria do "Lua de Lobos " http://luadoslobos.blogspot.com/ pela referência ao texto.

sexta-feira, fevereiro 24

Ausência

[Tudo começa e acaba na ausência]
No povoar do ilimitado do Céu as nuvens traçando estranhos cenários.Na solidão de mais um dia a constatação de que nada vale a pena.O fim será o anunciar de outras dimensões que adivinho melhores.
No afundar de todo o imaginário, a despedida.
[Tudo começa e acaba na ausência]

A enxaqueca

Então ... Julgam que têm problemas, né ???
Vejam só o que é ter problemas ... !!!

Deus disse:
- Adão, desce até aquele vale.
Adão perguntou:
- O que é um vale, Senhor?

E Deus explicou-lhe ...
Depois Deus disse-lhe:
- Adão, atravessa o rio.
Adão perguntou:
- O que é um rio, Senhor?

E Deus explicou-lhe ...
Mais tarde Deus disse:
- Adão, sobe aquela montanha.
Adão perguntou:
- O que é uma montanha, Senhor?

E Deus explicou-lhe ...
Mais tarde Deus disse:
- No outro lado da montanha, encontrarás uma caverna.
Adão perguntou:
- O que é uma caverna, Senhor?

E Deus explicou-lhe ...
E então Deus disse:
- Na caverna encontrarás uma mulher.
Adão perguntou:
- O que é uma mulher, Senhor?

E Deus explicou-lhe e disse ...
- Quero que tu te reproduzas.
Adão perguntou:
- E como faço isso Senhor?

E mais uma vez Deus explicou-lhe ...
E lá foi Adão.

Desceu o vale, atravessou o rio, subiu a montanha, entrou na caverna, encontrou a mulher, ... e após cinco minutos ele estava de volta.

Deus já um pouco irritado, perguntou:
- O que foi agora???
E o Adão perguntou:
- O que é uma enxaqueca???

(recebida por Email)


BOM CARNAVAL!

quinta-feira, fevereiro 23

O papel do estacionamento

Carteira, óculos de sol, batom com tampa, chaves da casa da mamãe, medalha de Santa Terezinha. Onde está o papel do estacionamento?

Maldita calçada cheia de buracos, isso aqui não é a Avenida mais rica, da cidade mais rica, do país mais rico da América do Sul. Essa gente precisa do quê, dum empréstimo para comentar a calçada? Livro de crónicas do Veríssimo, maço de cigarros vazio, maço de cigarros cheio. Eu não vou chorar. Não vou chorar por você, Paulo, não no meio da calçada da Avenida Paulista, não agora, não nessa vida, não por você. Eu não posso me dar ao luxo de chorar por você. Adesivo que eu comprei de um surdo-mudo no farol, batom sem tampa e o barulho das moedas no fundo da bolsa. Que droga, onde foi parar aquele papelzinho amarelo do estacionamento?

E por que eu estou tão nervosa? Não foi para isso que eu vim? E eu não percebi direitinho o que estava acontecendo? A distância, a falta de tempo, as viagens com a família, as intermináveis reuniões. Ainda ouço a voz odiosa da secretária: “Dr. Paulo não pode atendê-la. Sim, ele ainda está em reunião. É, eu sei que ele está em reunião há dez horas, mas ele é um homem importante, fazer o quê? Sim, eu anoto, vou colocar na pilha junto com seus outros recados”. O Dr. Paulo teve tantas reuniões nas últimas semanas que deve ter resolvido todos os problemas do mundo. Burra, burra, burra. No que você pensou que estava se metendo? Achou que ia ser engraçado? Achou que todo esse tempo tendo casos com homens casados você nunca iria se apaixonar por nenhum deles? E agora que você se apaixonou e está aí, debaixo desse sol inexplicável para um começo de Agosto, fazendo esse papel patético no meio da calçada da Avenida Paulista, espera que alguém tenha pena de você? Ninguém, meu amor, ninguém tem pena da, na linguagem da sua avó, outra. Sua mãe deve ter alguns termos mais claros. A mulher dele, se soubesse de você, teria alguns im-pu-bli-cá-veis. E com razão, devo acrescentar, toda, toda razão. Folheto de propaganda política com o telefone de alguém anotado num canto a lápis de olho, bloquinho de post-it, chicletes, livro de contos do Nelson de Oliveira, celular, bateria do celular, recarregador de celular para carro e a conta do celular que venceu dia 25 e você se esqueceu de pagar. Eu tenho que ter posto o papel do estacionamento por aqui.

Sublima os vendedores ambulantes de bilhete de loteria e a cara de riso dos boys encarando você, e tenta lembrar de tudo o que você fez. Parei o carro na porta do estacionamento, peguei o maldito papelzinho amarelo e fui com ele na mão até o restaurante. Entrei, o Paulo já estava lá. Ele se levantou para me beijar, puxou a cadeira para mim. Sentei, tirei os óculos escuros, abri a bolsa e joguei aqui dentro os óculos e o papel. Joguei as coisas dentro da bolsa e fiz o quê? Olhei para o Paulo, que falava sem parar sobre as filhas, sobre um concurso cretino de jardinagem que a mulher dele havia vencido no final de semana, e dos planos deles para a reforma da casa de Caraguá. Os planos deles. Planos. Sejamos francas, sua tonta, você achava mesmo que ele iria se separar dela? Nunca. Nem em um milhão de anos. Nem que Cristo viesse à Terra. Nem que chovesse canivete. Você, o oráculo das moças que têm casos. Você, sua arrogante, com suas regras prontas. “Nunca telefone”, “Não ouça histórias sobre filhos”, “Não se envolva em problemas domésticos”, “Não deixe que ele fale mal da esposa”. Você, que sabia tanto, que entendia tanto, tão sábia, tão segura, tão superior. Você, que dizia conhecer truques que nem haviam sido inventados ainda. Você não tem competência nem para encontrar uma porra de um comprovante de estacionamento, e fica aí, ditando regras, tendo certezas. E agora, hum? Vai fazer o quê com seu sonhozinho de criar os filhos dele numa montanha, com a música do Waltons de fundo? Vai fazer o quê, agora que você finalmente acordou, ou melhor, foi acordada - um pouco de perspectiva histórica, por favor - para o facto de que ele não é o Richard Gere, que você não é a Julia Roberts e que vocês não estão em Los Angeles? Porque, meu amor, claro que foi nisso que você pensou, claro que foi nisso que você quis acreditar, e eu não sei? E eu não te conheço? Outro maço de cigarros, você está fumando demais. O isqueiro que você ganhou dele. Lembra? Da última viagem que ele fez com a família para Aruba. Talão de cheques solto, carteira, bolsinha de moedas vazia, claro, estão todas no fundo da bolsa, pó compacto, chupeta. Chupeta? Você teve um filho sem eu saber? De quem será isso? Montes de canetas com tampa e sem tampa. Trata de encontrar esse papel cretino e resista à tentação de colocar a culpa no Paulo.

Você só ia ficar mais patética se virasse uma daquelas mulheres frágeis, medrosas, cegas e iludidas, que terminam as histórias balbuciando um estúpido mas ele disse. A culpa é sua, só sua. Você tem 30 anos, CPF e plano de saúde. É você que tem que se responsabilizar por sua vida e suas escolhas. E o Paulo, você sabe, foi uma escolha sua. Todos os outros também o foram, mas com o Paulo você resolveu pagar para ver. E, Cristo, como viu. Sua agenda cheias de papeizinhos misteriosos! Deve estar aqui. Não, não, esse não é, não também. Não está na agenda. Não está na bolsinha de maquiagem? Meu Deus, que sol! Para que uma bolsinha de maquiagem se você tem tanta maquiagem solta na bolsa? Graças a Deus você não chorou na frente dele. Não chorou quando ele disse que ele e a mulher conversaram muito e estavam dispostos a se permitirem uma segunda chance. Não chorou quando ele disse que gostaria muito de continuar a vê-la, desde que você entendesse, sem qualquer compromisso O grande sacana. Mas o melhor de tudo foi que nem biquinho você fez quando ele disse que você havia sido muito importante na vida dele e que você era muito nova e muito simpática e com certeza encontraria um homem que a merecesse e valorizasse. Eles sabem o quanto dói e fazem de propósito, ou é sem querer que eles nos arrasam com uma frase dessas? Você sorriu, balançou a cabeça com gravidade e desejou boa sorte nessa tentativa, deixando claro que não, não ficariam mágoas, afinal, eram ambos adultos e sabiam que o final seria assim. E quando você abriu sua carteira e deixou dinheiro suficiente para pagar uns dez martínis? Essa foi digna do Oscar. Você se levantou com classe, se despediu com classe, caminhou até a porta de vidro com classe e, por isso, essa cena assombrosa no guichê do estacionamento, apavorando executivos, ciganos e garotos e garotas que passam para pegar o Metro, está quase perdoada.

Ah! Claro, você colocou o papelzinho no bolso do casaco! Isso, entregue o papel para a moça. Tudo bem, pode, mas uma lágrima só, agora pode. Sem ruídos. OK, duas lágrimas, tudo bem. Pronto, seu carro chegou. Vai embora para casa, que você tem uma porção de coisas para resolver hoje. Boa garota. Engata a primeira, sem ela engatada não adianta apertar o acelerador. Isso. E enquanto você segue o fluxo do trânsito Paulista afora, até entrar na Rebouças, pensa que o manobrista deve ter adorado o isqueiro folheado a ouro com uma palmeira em alto-relevo.

( Autora: Fal Vitiello Azevedo )

NOTA:

Este artigo foi-nos enviado do Brasil pela n/amiga e leitora: Gisele.
Os nossos agradecimentos.

quarta-feira, fevereiro 22

In – Certezas

Vesti-me hoje de certezas e incertezas.
O pavor do fim, quando todo um mundo novo se abre é terrível.
Vagueio nos espaços siderais do meu cérebro, projectando-me no cosmos infinito. Projectando-me e projectando sonhos e medos.
Perdido no vácuo, eis como me sinto.
Fico com a certeza de um dia tórrido que entorpece, danifica, corrói.
Com a incerteza da compreensão. E da incompreensão.
Vesti-me de azul/verde. De ti.
Veste a alva túnica de mim.
A sinuosidade do caminho perturba-me. Dependesse de mim e seria uma linha recta entre dois pontos.
Será.O amor só pode ser recto.
Vou despir as incertezas e abraçar todas as certezas.

Entrevista a António Lobo Antunes


Excerto de uma entrevista de António Lobo Antunes à revista Visão, onde, às tantas, se evoca a guerra do Ultramar, em Angola, em que o Autor tomou parte. Não é em vão que o mesmo é justamente considerado (pelo menos por mim) o maior escritor português vivo.

[...]

V: Ainda sonha com a guerra?

ALA: (...) Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.

V: Parava a guerra?

ALA: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?

V: Não vou pôr isso na entrevista...

ALA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?

[…]

P.S. – Eu sou do Sportimg …

terça-feira, fevereiro 21

CIÚME


"Se o ciúme nasce do intenso amor, quem não sente ciúmes pela amada não é amante, ou ama de coração ligeiro, de modo que se sabe de amantes os quais, temendo que o seu amor se atenue, o alimentam procurando a todo o custo razões de ciúme.
Portanto o ciumento (que porém quer ou queria a amada casta e fiel) não quer nem pode pensá-la senão como digna de ciúme, e portanto culpada de traição, atiçando assim no sofrimento presente o prazer do amor ausente. Até porque pensar em nós que possuímos a amada longe - bem sabendo que não é verdade - não nos pode tornar tão vivo o pensamento dela, do seu calor, dos seus rubores, do seu perfume, como o pensar que desses mesmos dons esteja afinal a gozar um Outro: enquanto da nossa ausência estamos seguros, da presença daquele inimigo estamos, se não certos, pelo menos não necessariamente inseguros. O contacto amoroso, que o ciumento imagina, é o único modo em que pode representar-se com verosimilhança um conúbio de outrem que, se não indubitável, é pelo menos possível, enquanto o seu próprio é impossível.
Assim o ciumento não é capaz, nem tem vontade, de imaginar o oposto do que teme, aliás só pode obter o prazer ampliando a sua própria dor, e sofrer pelo ampliado prazer de que se sabe excluído. Os prazeres do amor são males que se fazem desejar, onde coincidem a doçura e o martírio, e o amor é involuntária insânia, paraíso infernal e inferno celeste - em resumo, concórdia de ambicionados contrários, riso doloroso e friável diamante."

(Umberto Ec,”A ilha do Dia Antes” – foto do Google')

A boneca-papagaio

É só escrever a palavra ou frase, clicar say it e a boneca repete-a.

http://www.oddcast.com/home/demos/tts/tts_example.html?oddcast

Funciona mesmo.

(Enviado pela "bluegift")

segunda-feira, fevereiro 20

Vamos acabar com o SPAM!

Quando reenviarem mensagens, retirem os nomes e os endereços de e-mail das pessoas por onde esses e-mails já passaram.
Há programas a rodar na Internet para 'apanhar' tudo o que estiver antes e depois de um '@'.Isso é vendido a Spammers, que muitas vezes espalham vírus.
Quando mandarem uma mensagem para mais do que uma pessoa, não enviem com o 'Para' nem com o 'Cc', enviem com o 'Cco' (carbon copy ocult) ou 'Bcc' (blind carbon copy), que não vai aparecer o endereço electrónico de nenhum destinatário para quem enviaram a mensagem.
Quando todos fizermos isto, livraremos a Internet de 80% dos vírus e lixo electrónico que causam lentidão na rede.

Eu já aboli o "Para" e passei a utilizar o "Bcc" nos e-mails que envio, agora vocês façam como quiserem.

Pontos convergentes

A imobilidade da cadeira estava a revelar-se extremamente perturbadora. É certo que não é razoável esperar que uma cadeira se mova. Porém, aquela em particular tinha uma rigidez peculiar, quase hirta.

A estática dos objectos que rodeiam as pessoas pode transformar-se numa fonte de questões pertinentes.
Porque não damos conta de que rodam ao sabor dos movimentos da terra?

Esta estranheza conduz-nos a questões quase metafísicas. Terá a cadeira do meu incómodo vida própria?

O beco afunilado sem saída à vista perturba os instintos sensitivos. Tudo parece terminar ali, num estranho cone negro onde não parece haver vida e onde nem uma leve folha de árvore se consegue mover. Não existe movimento. Só o negro de pontos convergentes – milhares de pontos convergentes – que escapam à noção de espaço, à noção de realidade tal como a entendemos. Inegavelmente é a confirmação da existência do Nada.

A luz não se escapuliu. Simplesmente desapareceu tragada pelo negro difuso e impenetrável do cone. A vida parece que termina ali.

Igualmente o sofá não se move, embora não se possa afirmar que este não tenha vida própria. Sentem-se as dilatações moleculares e as contracções das mesmas partículas invisíveis a olho nu, mas pressente-se a vida. Sem se mover acaba por se assemelhar a uma planta carnívora que espera durante anos se necessário, a sua presa.

A mesa enorme e rectilínea tem vibrações provocadas artificialmente pelo movimento desusado dos dedos a baterem teclas, ou pelo retinir do telefone, ou ainda pelo som provocado por sons agudos e graves de uma música favorita.

Esta inanição de objectos inanimados torna-se cada vez mais perturbadora. É a negação óbvia da vida, a inexistência que nos espera espelhada em meras coisas de um quotidiano simétrico, imberbe, intraduzível – o absurdo não se explica – inaudito…

Nem as explicações científicas são conducentes ao entendimento.
Sempre o maldito cone sem luz, onde todos os pontos convergem e se tornam no absurdo do nada. Agora a inexistência da luz.

Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)


Nascido em Limoges-França e filho de gente humilde (pai alfaiate), Renoir mudou-se para Paris com a família, onde se sentiu atraído pelo Museu do Louvre, estudando aí a pintura de alguns mestres. Aos 21 anos conheceu Claude Monet e Alfred Sisley, com os quais partilhou o gosto pela pintura paisagística. A sua pintura no entanto não era apreciada nem pelo público nem pela crítica. Este grupo impressionista no qual Renoir estava incluído, viu o seu trabalho interrompido pela guerra Franco-Prussiana (1870), que os dispersou.

De volta a França, juntou-se a Monet e começou aqui uma certa unidade entre os impressionistas, embora Renoir continuasse a pintar motivos tradicionais, retratos e cenas de divertimento, tal como Le Moulin de la Galette (1876). Nos seus retratos e pinturas da sociedade, Renoir especializou-se no colocar de um toque suave de brilho e de cor nas superfícies, o primeiro objectivo do impressionismo e também sublinhou o seu gosto pela sensualidade, em "Torso de Mulher ao Sol" (1876).

Durante uma visita a Algéria e à Itália (1881-82), Renoir intensificou o seu desagrado para com as restrições do impressionismo puro e passou a representar as figuras mais próximas e a ocuparem a quase totalidade da tela. No início dos anos 90, Renoir concentrou-se exclusivamente na figura feminina.

Em 1905 instalou-se definitivamente em Cagnes-sur-Mer, perto de Nice. O clima solarengo reflecte-se na intensidade das cores dos seus últimos trabalhos.

Renoir é considerado o poeta da alegria de viver.

("Le déjeuner des canotiers", 1880/1, óleo sobre tela, "The Philips Collection", Washington)

NOTA

Elementos colhidos em livros de pintura, como é óbvio.

A melhor maneira de fugir aos engarrafamentos


SuitSat-1: A Spacesuit Floats Free Credit: ISS Expedition 12 Crew, NASA

domingo, fevereiro 19

Tácticas de guerra ou o desviar das atenções?

Há algo de surrealista e de perturbador na invasão da redacção do jornal 24 horas. E digo-o tanto mais à vontade porquanto não gosto das manchetes escandalosas e sem interesse com que normalmente este jornal chama a atenção de quem ainda vai lendo jornais.

Porém, não posso deixar passar em claro a intromissão gratuita, desnecessária e imbecil do que recentemente aconteceu naquele jornal. É óbvio que alguém quer esconder coisas. É óbvio ainda que o chamado caso “Casa Pia” está longe de ter atingido todas as personalidades “impolutas” que pululam na vida pública portuguesa. É ainda óbvio o estado de baralhação do ainda Procurador-geral que num golpe de mágica quer desviar as atenções do inquérito que lhe foi solicitado, sobre as constantes fugas de informação.

Se já é grave que seja uma comissão não-independente a proceder às averiguações, é ainda mais grave, que para que estas se arrastem no tempo, de maneira a que Souto Moura possa acabar a sua comissão de serviço e, possa usufruir de todas as mordomias inerentes à choruda reforma que dali levará.

Quem deu o quê a quem? Quem entregou material classificado a um jornal? As hipóteses não me parecem ser muitas. Ou estas provieram da PT, ou da Procuradoria-geral da República.
Em qualquer dos casos a situação reveste-se de gravidade, agravada porém se o material classificado veio do órgão controlado por Souto Moura.

Esta importante figura da hierarquia do Estado tem-se comportado da pior forma possível. Fez tudo o que não devia ter feito. Constantes fugas de informação, declarações dúbias, inquéritos mal conduzidos, aparições e declarações em público de gosto duvidoso, tudo isto ante a passividade do poder político. Souto Moura deveria ter sido substituído há muito. Porque é que tal não aconteceu? Quem tem a perder com a saída do actual Procurador-geral? Porque se protege a incompetência, porque se faz arrastar no tempo e no espaço uma figura patética, ridícula, incapaz e sem dignidade? – Se a tivesse [a dignidade] não seria o próprio a demitir-se?

A liberdade de imprensa está consagrada na lei. O não cumprimento desta acarreta aos jornalistas prevaricadores punições criminais. Todos o sabem. Quem violou a lei? Os jornalistas que noticiaram mais este desmando, protegendo as suas fontes como é seu dever, ou as entidades que fizeram chegar às mãos dos jornalistas tanta informação?
Terá sido esta passada de forma inocente? – Não acredito.
Enquanto se discute o acessório, o julgamento do caso “Casa Pia” vai-se desenrolando; um destes dias acordamos para o que já adivinhamos: todos cá fora! (Excepção feita a Carlos Silvino, claro) – Lembro que foi criada uma lei à medida para Paulo Pedroso e para todos os outros “inocentes” arguidos que prevê a indemnização de todos os que tendo estado detidos e nada se ter provado sejam ressarcidos pecuniariamente desse acto arbitrário da justiça. O princípio parece-me bom, o que não me parece assim tão claro, são as motivações do timing em que tal foi acontecer –.

Deixar que o acessório seja notícia para encobrir o essencial é obviamente uma perversão do sistema judicial, agora também ele a ser julgado pela opinião pública. Afinal onde estão os poderes consignados na Lei? Ou esta está acima dela própria? Que contradição!

Deve ou não poder político tomar uma posição clara acerca da prestação de Souto Moura? Deve ou não demiti-lo, independentemente de faltar pouco tempo para que a sua comissão de serviço termine? Será pedir muito se o pressionarem a entregar o resultado do inquérito em tempo útil, ou ao invés, devem deixar que se arraste a indignidade, que a confiança continue a ser minada pela incompetência e/ou pelo desejo louco de ser vedeta a todo o custo?

No meu humilde entender, Souto Moura já teve os seus quinze minutos de fama!

Dilema


Ser, ou não ser Dinamarquês

Será que existe mesmo “energia escura” (dark energy)?


Na observação de enxames (“clusters”) de galáxias distantes, o observatório espacial de raios-X, XMM-Newton forneceu novos dados acerca da natureza do Universo, ao descobrir diferenças estranhas entre os actuais aglomerados e os existentes no Universo há cerca de sete mil milhões de anos. Os enxames de galáxias são prodigiosos emissores de raios-X porque contêm uma enorme quantidade de gás a temperaturas muito elevadas. Este gás rodeia as galáxias tal como o vapor de água rodeia as pessoas presentes numa sauna.
Observações anteriores tinham levado muitos astrónomos a acreditar que vivemos num Universo de “baixa densidade” no qual uma substância misteriosa, conhecida como "Dark Energy” ou “energia escura", que parece não ser o mesmo que “Dark matter” (é algo de muito complexo que eu não tenho a mínima capacidade de compreender, quanto mais de tentar explicar) está presente em 70% do conteúdo do Cosmos. Sendo assim, cedo na história do Universo, os enxames de galáxias deveriam ter deixado de crescer, e consequentemente parecerem indistinguíveis dos de hoje, o que não sucede.

Em face do observado, os astrónomos do projecto Omega do XMM-Newton, preparam-se para mostrar que os “enxames de galáxias” presentes no Universo longínquo não eram como os actuais. Este resultado indica que o Universo tem de ser um ambiente de “grande densidade”, em clara contradição com o modelo aceite actualmente, que defende um Universo com mais de 70% de “energia escura, como se disse acima e “matéria de densidade muito baixa”. Esta conclusão é bastante controversa na medida em que para estes resultados poderem ser considerados, o Universo terá de possuir uma grande quantidade de matéria, deixando pouco "espaço" para a tal “dark energy”.

O XMM-Newton forneceu aos astrónomos uma nova visão do Universo e um novo mistério a ser desvendado. Em relação à possibilidade de os resultados agora obtidos estarem errados, outros observatórios de raios-X se encarregarão de os confirmar e se chegarem aos mesmos resultados,

PODEREMOS TER DE REPENSAR A NOSSA COMPREENSÃO DO UNIVERSO

Isto se alguma vez o conseguirmos compreender…

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sábado, fevereiro 18

Inteligência

"Nada de divino ou de bem-aventurado, portanto, cabe aos homens, excepto esta única coisa digna de ser levada a sério: o que há em nós de inteligência e de sabedoria. Na verdade, dentre as coisas que são nossas, esta parece ser a única imortal, a única divina... E porque somos capazes de participar dessa capacidade, a vida, embora miserável e difícil por natureza, foi, entretanto, disposta minuciosamente para que o homem, comparado com outros seres, pareça um deus. “Pois a inteligência é em nós o deus”, e ainda: “A vida mortal tem uma parte divina”. Assim sendo, portanto, é preciso filosofar, ou ir embora daqui de baixo dando adeus à vida, visto que todo o resto parece um amontoado de futilidades e frivolidades..."

(Aristóteles, Carta ao rei cipriota Themison, XII)

sexta-feira, fevereiro 17

KLIMT

Círculo

Aqui há tempos li algures numa entrevista a uma personalidade feminina de que já não me lembro o nome, que o livro preferido dela era “O livro do riso e do esquecimento”, de Milan Kundera.

“Não é por acaso que os planetas se movem em círculo, e que a pedra que salta se afasta inexoravelmente, levada pela força centrífuga. Semelhante ao meteorito arrancado a um planeta, saí do círculo, e, ainda hoje, não paro de cair. Há pessoas que conseguem morrer em órbita e outras que se esmagam no fim da queda. E outras (às quais pertenço) conservam sempre em si como que uma tímida nostalgia da dança em roda perdida, porque somos todos habitantes de um universo em que todas as coisas giram em círculo.”

Curioso. Para mim e deste autor, também é o preferido. Talvez porque aborde a “magia do círculo” numa perspectiva cosmológica e política:
“um dia disse qualquer coisa que não devia ter dito, fui expulso do partido e tive de sair da roda.
Foi então que compreendi o significado mágico do círculo.
Quando nos afastamos da fila, ainda nos é possível voltar. A fila é uma formação aberta. Mas o círculo fecha-se e quando se sai é sem regresso”.

Foi no tempo da “Primavera de Praga”, quando os checos riam e dançavam festejando a sua rebelião contra o comunismo soviético. Éluard, o filho querido de Praga, cantava:

“O amor trabalha é infatigável”

E alguém a quem eu emprestara o livro escreveu por baixo a lápis, na sua letra pequena e elegante de poetisa, algo que eu nunca mais apaguei:

“Quem não ama, pára, envelhece e morre”.

Talvez venha daí a minha preferência pela obra … ou porque a uma situação de denso significado político se sucedem por vezes cenas de um estranho erotismo:

Jan quase invejava Ewige, que ia e vinha na sua nudez e que era até “muito mais natural nua do que vestida, como se ao abandonar a roupa abandonasse ao mesmo tempo a sua condição de mulher, para passar a “ser humano” apenas, sem sexualização. Como se o sexo estivesse na roupa e a nudez fosse um traço de neutralidade sexual.”

quinta-feira, fevereiro 16

A morte

Estranho o acto de se contemplar a si mesmo deitado no solo. A sensação era a de ser uma massa inerte e despojada de vida.
Apesar das sombras que contornam o corpo e que se movem na exacta velocidade do rodar do Sol e da Terra.
Como seria de esperar não existia simetria entre o corpo e as sombras; estas estavam mais descaídas na obliquidade da paragem forçada do corpo que apenas se move em função dos movimentos circulares das voltas da Terra sobre si mesma e das enormes parabólicas em torno do Sol. Tudo ao ritmo lento da Natureza.

[Natureza morta] pensou de si para si; o nada que se via a si mesmo deitado de encontro ao solo.

A projecção [dele próprio, corpo morto]. Sorriu.

Sabia vagamente que flutuava embora não entendesse porquê., da mesma forma que [lhe] era ininteligível o facto de estar a ver-se de costas [as imagens reflexas que havia obtido no espelho – apenas de frente – devolveram-lhe sempre uma imagem em negativo de que alguém de quem não desgostava. [Corpo esguio]

Odiava a posição em que se encontrava – por ser uma exposição? – caído de bruços com a perna esquerda esticada e o pé ligeiramente de lado, enquanto que a direita se tinha recolhido a uma espécie de posição fetal – O pequeno corrimento rubro que saía pela nuca dava-lhe a sensação de que poderia estar morto, o que parecia obviamente uma impossibilidade já que se conseguia olhar a si mesmo e sentir o movimento das pessoas a circularem na rua – alheias ao corpo caído – o ruído dos automóveis e até algumas graçolas de mau gosto.

Preocupava-se sobretudo com as sombras, enormes contornos escuros que se moviam com uma lentidão arreliadora.

A invisível campânula vítrea abafava os sons sem deixar entender aos transeuntes a voz que em pânico gritava palavras sem nexo.

Voltou a sorrir quando entendeu que era um indigente, um sem-abrigo, alguém que simplesmente tinha sido despojado de toda a dignidade. A morte sobreviera e apenas os contornos de uma sociedade estranha e sem humanidade permaneciam na memória que o acompanharia na longa viagem a outras dimensões.

Tudo agora eram sombras e inevitabilidades.

A volubilidade da luz

Rebuscando nos meus arquivos:

”Perguntas-me se vi o céu, se reparei no céu, que está lindo esta manhã. Que pode ter o céu? penso. E a pergunta ecoa nos segundos seguintes. Poderia ser um poema se o permitisse. Mas não me apetece, calo o eco.

Não reparei no céu, reparei na luz intensa da manhã entre as árvores e senti vontade de fotografar, mas o tempo não é meu e a maioria das manhãs, com ou sem sol, não me pertence. Penso nisso enquanto desço a rua do trabalho. E penso nisso enquanto espero pelo elevador.

São iguais os gestos que começam o dia de trabalho.
Fora, ficou hoje o sol. Enquanto espero o elevador sinto-me triste. A tristeza tem crescido os últimos dias, sempre, enquanto espero o elevador.

Ainda que apenas me limitasse a registar, com a máquina fotográfica, os movimentos embalados das pessoas nas ruas ou a luz intensa entre as árvores, seria outra vida, mais verdadeira, porventura, do que a luta viciada em que as coisas em que acredito são usadas contra as coisas em que acreditei. Seria uma contemplação inútil mas uma contemplação assumida e uma inutilidade assumida. Enquanto espero o elevador penso nisso e quando abro a porta desisto. O tempo não me pertence, anuo, aceito, carrego no botão do meu andar - todos os dias.

As coisas em que acreditei. O pretérito perfeito foi intencional e ditado pela coerência.
Quando a coerência é escassa torna-se mais valiosa. Os dias passam-se iguais e a desistência torna-se insuportável sempre que abro a porta do elevador, como se esse gesto a agigantasse. Mas suporto-a. Pior ontem que hoje mas suporto-a.

Esta manhã, senti vagamente os teus bons dias e pouco depois ouvi mais claramente o bater da porta - incomodou-me ter acordado mais tarde. Antes do elevador e antes de reparar na luz intensa entre as árvores, sentada à beira da cama a calçar-me, pensei em como gostaria que me dissesses bom dia outra vez. Perguntaste-me pelo céu, o que é igual.

Talvez pudesse fotografar casamentos e baptizados. Ou talvez os meros registos fotográficos das pessoas nas ruas sejam um dia algo mais que inútil contemplação. O tempo muda as fotografias, oferece-lhes um tempo berço, uma pausa de invisibilidade variável, o contraste daí resultante. E, como cada vez há menos árvores, mesmo as fotografias que só mostram a luz intensa entre as árvores, poderão um dia, talvez, fazer nascer em alguém a raiva de plantar árvores ou a raiva pelas árvores que foram abatidas, sendo isso uma perda, por menos poético que se seja e por menos sensibilidade à luz e à serenidade que se experimente.

Tu não, mas eu sim. Gosto das pessoas nas fotografias, gosto da silhueta humana, frágil, e verosímil nessa fragilidade, como que, por fim, no contexto certo do espaço que é demais e afasta, do sol que ofusca e escurece. E numa perspectiva mais técnica e mais escolar, gosto em geral da escala que a silhueta humana oferece a uma imagem.
Pela silhueta humana se mede tudo - o tamanho das casas, a largueza das ruas, a intensidade da luz pela forma como cai nos ombros, o vazio do mundo, a proporção, tão pequena, de gente.
A silhueta negra de uma pessoa. Quanto mais pequena, mais negra e mais se destaca a cabeça. E mais simples é: um ponto redondo e um traço ligeiramente curvado. À volta, o resto, o espaço enorme, mesmo nas cidades, o espaço que apaga os gestos e emudece a vontade. Ao longe, vê, é simples. Mais longe, nem sinal de nós.

Que poderia ter o céu que mudasse tudo isto, que nos permitisse regressar, ao menos nas árvores, que poderia ter o céu além da luz que te assalta e abre os olhos, precários, numa gratidão irracional pelo amanhecer indiferente do caos?”

quarta-feira, fevereiro 15

Andaime fatal

Dois brancos e um negro estão num andaime, a lavar os vidros de um grande edifício.

De repente, o negro dá um gemido, vira-se para o branco do lado e diz:

- Ai, ai, ai! Preciso cagar, vou cagar aqui mesmo!
- Tás maluco, pá! Vais sujar toda a gente lá em baixo!
- Mas não aguento mais, meu! Não vai dar tempo para descer!!!

Então, bate na janela e pede à senhora que te deixe usar a casa de banho, aconselha o branco.
E é o que ele faz. Assim que a velha permite a entrada, ele voa p'rá sanita.
Está lá o negro, tranquilo e aliviado, quando ouve uma gritaria sem fim.
Quando sai, vê que o andaime se tinha partido e os dois brancos se tinham espatifado no chão.

No dia seguinte, no velório, estão lá os amigos, as viúvas inconsoláveis e o negro acompanhado da esposa, quando chega o dono da empresa onde trabalhavam.
Imediatamente todos se calam. O empresário começa o seu discurso, dirigindo-se às viúvas:

- Sei que foi uma perda irreparável, mas vou, pelo menos, tentar aliviar tanto sofrimento. Como sei que as senhoras vivem em casas alugadas, darei uma casa a cada uma. Também sei que as senhoras dependem dos autocarros, por isso, darei um carro a cada uma. Quanto aos estudos dos vossos filhos, não se preocupem mais, pois tudo será por conta da empresa até que terminem a Faculdade. E, para finalizar, as senhoras receberão todos os meses 1000 Euros, para compras no mercado.

E a mulher do negro, já meio arroxeada, não se conteve mais e diz ao ouvido do marido:
- E tu a cagar, né???

Telemóveis


Num acto sexual lembra-te de 3 coisas:

1.º, faz como a Optimus, "segue o que sentes";

2.º quando estiveres quase no fim pergunta-lhe como a Vodafone: "how are you"?

3º. e quando acabares despede-te como a TMN: "até já"..

terça-feira, fevereiro 14

Amor adiado

O gostar de olhar o mundo através dos teus olhos tornando-o azul, de um azul intenso matizado aqui e ali por tonalidades várias ao sabor de espectros de cores apenas conhecidos por ambos.

O levar-te o imenso oceano salpicado de espumas brancas que se desfazem de encontro a rochas e areia molhadas. Impressos são todos os passos.

A praia deserta em noite enluarada, o sussurrar de águas tranquilas que beijam pés descalços, a fogueira tímida, o passeio que inventamos como se cada curva de areia não fosse apenas sobressalto mas continuidade.

Podemos adivinhar em cada elevação corpos, figuras que se entregam na espiral da noite que não se quer dia já que na primeira reside a magia das erupções afectuosas.

Sem dor, apenas ao som de uma viola tocada de mansinho e uma lua envergonhada que se encontra com o eterno amante no refúgio da neblina.

O jantar – etéreo – composto de naturezas, a conversa amena, o beijo trocado, os corpos de encontro ao frio da areia, agora leito e amores.

Ao longe o velho farol girando sem parar, agonizando em tempestades que mais não são que gritos de solidão. Também ele solidão.

A roupa que se despe, as estrelas quais pequenos pingentes de gelo, caindo de encontro a todas as areias e espumas sem fim.

Sempre, sempre, o amor ainda que ilícito. Talvez o único verdadeiro amor. Adiado.

Dia de São Valentim


A imagem é de 1910 e foi escolhida por mim, por ser actual.

A música no "videozinho": Bob Sinclair; "love generation", foi colocada pela "bluegift".

Ficamos aguardando que o terceiro companheiro de blog, o "letrasaoacaso", escreva o texto adequado, já que é um tema sobre o qual escreve (só?) com mestria.

MISTÉRIO CHINÊS...


Uma das explicações para este evento PARANORMAL, é o facto de grande parte deles serem ilegais, logo quando algum morre a família assume a sua identidade...daí não haver registo de óbitos ou raramente existirem....O SEF já relatou esta situação onde várias pessoas foram apanhadas com identidades de outras que supostamente já teriam 150 anos...Isto uma das varias explicações, mas não ponho de parte a outra duvida dos restaurantes chineses...

Numa conversa de sábado á noite foi colocada a seguinte questão:

SEGUNDO DADOS DOS CEMITÉRIOS DAS CIDADES PORTUGUESAS NÃO EXISTEM REGISTOS DE FUNERAIS EFECTUADOS DE CIDADÃOS CHINESES DESDE A SUA CHEGADA A PORTUGAL.

Ora segundo números recentes a comunidade chinesa só no grande Porto ronda os 9 mil indivíduos de ambos os sexos e idades variadas. Pelo restante País a coisa oscila pelos 15 mil...

Não deixa de ser estranho que até á data NÃO TENHA MORRIDO NENHUM CHINÊS EM PORTUGAL

Será que durante todo este tempo que estão em PORTUGAL nenhum sofreu um acidente, tipo, * ATROPELAMENTO * QUEDA MORTAL * AFOGAMENTO * BARROTE (TIJOLO) NA CABEÇA * ESFAQUEADO * BALEADO

ou então: * AVC * TROMBOSE * ATAQUE CARDÍACO * CANCRO * LEUCEMIA * CIRROSE * DERRAME CEREBRAL

ou outra doença qualquer...

Esta questão tem os seus contornos de mistério:

PARA ONDE IRÃO OS CHINESES QUE MORREM EM PORTUGAL?
ONDE ESTÃO COLOCADOS OS SEUS CADÁVERES?

Esta questão terá muito mais importância para todos os frequentadores de restaurantes Chineses. Quem nunca, num desses espaços, comeu CHOP - SUEI DE VACA ou outro prato de carne. Pensem de onde virá tanta carne de boa qualidade sabendo nós que os CHINESES são uma comunidade fechada e que raras vezes os vimos ás compras nos CONTINENTES, JUMBOS, INTERMARCHÉS das nossas localidades.

Quem souber esclarecer este MISTÉRIO que se chegue á frente, ou em caso de dúvida que faça este mail correr pela NET para ver se chegamos a alguma pista.

Aguardo os vossos comentários....

Dá que pensar... cães que desaparecem e chineses que não morrem !

(enviado pela "bluegift")

segunda-feira, fevereiro 13

AZUL

Azul
Num ápice o silêncio foi quebrado por estilhaços de vidas e espíritos vagabundos.A convergência alucinante de cada pedaço espartilhado perspectivando sucessões de vozes sem sons gritando em uníssono o vácuo.
O azul celeste tinge as multicores de uma natureza conspurcada por míseros humanos. O grito de revolta far-se-á ouvir num amanhã não-longínquo fazendo do futuro, agora.
As pétalas das rosas juncam o solo dando-lhe tonalidades rubras/brancas, um branco sujo e morto, no sucumbir das diatribes do Homo erectus que se julga sapiem.
Do caule escorre a seiva/sanguinolenta putrefacta do pecado do Homem.
[O vazio como prova evidente do preenchimento]
Tombam as milenares árvores vergadas não ao peso dos anos, mas ao peso das atrocidades a que são diariamente sujeitas.Tombam os homens bons. Tomba a clarividência, tomba a verticalidade.
O ser apenas dejecto de nós mesmos é uma constatação do domínio do desagradável. Porém verdade absoluta.Mesquinhez que se sobrepõem ao são convívio. No passar por cima de sentimentos alheios, a terrível voragem quase obscena do triunfo. Que triunfo?! – O de ser mais servil do que seria imaginável? – A subserviência como “arma” para se atingir estatuto? – Que estatuto?Pobres de espírito que misturam a Luz com vis metais! Pobres de espírito que misturam a Verdade na tremenda mentira que se comprazem em manter!
Nas pétalas de rosas caídas no solo infértil, no limiar do azul, voarei.Voarei contigo.

O profeta do terceiro milénio


Passa hoje o centenário do nascimento de Agostinho da Silva. Para o recordar, transcrevo um pequeno texto da sua última obra, publicada já depois da sua morte, ocorrida em 03 de Abril de1994:

" A Revolução de 25 de Abril e, sobretudo, a afirmação popular que se lhe segue no Primeiro de Maio é, embora já coartado por políticas importadas, contra a essência nacional, de povos tão diferentes de sua própria gente, o aviso de que um terceiro Portugal anseia pela vida e poderá ser a desabrochada flor do que nos outros dois esteve como raízes, caules e ramos no vegetativo aparelho das plantações da História, o paradisíaco fruto, um dia, de todo um indispensável pretérito; e a este fruto, embora prontos a assumir, aprovando-o ou reprovando-o - e por aí se definindo nossa individual personalidade -, tudo o que a vida traga, como comunhão marcante do perfeito entendimento entre todos os homens."

( "Textos Vários - Dispersos", Âncora Editora, OUT 2003, pp. 247/8)

Casamento



Minha esposa e eu temos o segredo para fazer um casamento durar: Duas
vezes por semana vamos a um óptimo restaurante, comer uma comida gostosa
uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras, e eu às
quintas.

Nós também dormimos em camas separadas. A dela é em Fortaleza e a minha
em São Paulo.

Eu levo minha esposa a todos os lugares, mas não tem jeito, ela sempre
acha o caminho de volta.

Perguntei a ela onde gostaria de ir no nosso aniversário de casamento.
- Em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!" disse ela.
Então eu sugeri a cozinha.

Nós sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras.

Ela tem um misturador eléctrico uma torradeira eléctrica e uma máquina
eléctrica de fazer pão. Então ela disse:
- Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar para sentar. Daí,
comprei para ela uma cadeira eléctrica.

Lembrem-se … O casamento é a causa nº1 para o divórcio.
Estatisticamente, 100% dos divórcios começam com o casamento.

Eu me casei com a "Sra. Certa". Só não sabia que o primeiro nome dela era
"Sempre".

Há 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.

Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha. Ela perguntou:
-“O que tem na TV?” E eu disse: "poeira”.

No começo, Deus criou o mundo e descansou. A seguir Ele criou o homem e descansou. Depois criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo, tiveram mais descanso!


(Luís Fernando Veríssimo)

domingo, fevereiro 12

A indignidade da submissão

Ao contrário das instituições políticas e económicas, os movimentos sociais têm um poder evasivo, mas poderoso. Desde a Revolução Francesa, aos movimentos democráticos e de trabalhadores do século XIX, aos movimentos da actualidade, os movimentos sociais exercem uma breve mas poderosa influência na cultura popular, na sociedade e na política.

Assim, não podemos deixar de relacionar a acção colectiva com as redes sociais, com o discurso ideológico e com a luta política dos indivíduos.

Na base dos movimentos estão as redes sociais e os símbolos culturais, através dos quais se estruturam as redes sociais. Os indivíduos têm que se identificar com os objectivos proclamados no movimento. Isto é, para se formar um movimento social têm que existir um desafio colectivo, objectivos comuns, laços de solidariedade e é necessário existir manutenção da acção colectiva.

O desafio surge quando existe uma acção directa contra as elites, as autoridades e outros grupos com diferentes códigos culturais. O mais habitual é que esta ruptura seja pública, mas também pode ser adoptada como uma forma de resistência pessoal, coordenada com a reafirmação colectiva de novos valores.

Nem todos os conflitos surgem de interesses de classe. Mas na base dos movimentos terá que haver interesses e valores comuns, dissimulados entre si, para que se encontrem objectivos comuns.

No final do século XVIII, ocorreu uma mudança radical na acção colectiva, devido ao apoio da difusão cada vez mais crescente da informação, através da imprensa e o conhecimento desenvolvido pelas redes e associações em territórios cada vez mais extensos, protagonizado por diversos actores e diferentes tipos de questões. Por exemplo, a petição, a greve, a manifestação, a barricada e o protesto urbano converteram-se em respostas aprendidas, que se poderiam aplicar a uma variedade de situações, ocasionando convenções que ajudaram os movimentos a aglutinar e a incluir grupos muito maiores e mais díspares.

A Europa tem-se afirmado ao longo dos tempos como o baluarte da democracia. Ela é a mãe da democracia, com tudo o que esse conceito implica.

É pois, com muita intranquilidade que assisto às movimentações provocadas pelos cartoons que satirizam o profeta Maomé.

Se por um lado consigo entender os movimentos islâmicos, por outro não consigo conceber um mundo onde a liberdade de expressão seria suprimida em função de ícones, religiões e fanatismos.
Admitindo o direito à indignação, não entendo – porque se trata de uma verdadeira aberração – a forma como esta se tem manifestado. A violência não pode ser a resposta a coisa nenhuma.

Abdicarmos do sagrado direito à livre expressão será contribuir para o fim da civilização ocidental tal como a conhecemos.

Hitler no período que antecedeu a guerra deu sinais claros do que poderia acontecer. A Europa – ou a maior parte dos governos europeus – ignoraram olimpicamente todos os sinais que eram por demais evidentes.
O resultado desse laxismo é hoje conhecido como um dos períodos mais vergonhosos da História.

Permitir que actos selváticos sejam perpetuados em nome de qualquer Deus e de pretensas ofensas é em última análise abdicarmos do direito de nos continuarmos a afirmar como uma sociedade tolerante, onde imperam valores intrinsecamente importantes e inabdicáveis.

Muitos tentam que estas manifestações sejam vistas como um confronto de culturas. Não acho que esta premissa seja verdadeira. Trata-se simplesmente duma luta entre valores sagrados de liberdade, de diálogo, de uma sociedade em certos aspectos bastante avançada no que concerne aos direitos básicos para nos realizarmos enquanto seres humanos e uma outra visão do mundo obscurantista que tenta impor pelo terror a castração de tudo aquilo em que acreditamos.

Ceder é o primeiro passo para a perversão de todos os nossos valores.

sábado, fevereiro 11

Teoria do CAOS


Segundo os meus (des)conhecimentos de matemática , a “Teoria do Caos” procura a “ordem na desordem e a desordem na ordem”. Ou mais simplesmente ainda, ou mais “humanamente", que: "a ordem que vemos inicia-se na desordem".

O Caos caracteriza-se pela imprevisibilidade. Dentro de um quadro determinista, é possível caracterizar o sistema através de variáveis matemáticas, mas não é possível prever o comportamento do sistema a (longo) prazo, devido à sua sensibilidade às condições iniciais de realização, porque não é possível precisá-las com exactidão. Toda essa errância comportamental é feita em torno de uma ordem isto é, de atractores estranhos, geometricamente fractais. (ver imagem) A ordem que julgamos presenciar no macrocosmos da nossa percepção é de facto desordem no microcosmos que o gera. Isto acontece porque desconhecemos todas as influências sobre um dado concreto e sobre a sua evolução no tempo, como escrevi atrás. A mínima influência no microcosmos interfere num sistema considerado estável no nosso macrocosmos.Mas uma pequena alteração provoca grandes mudanças, pequenas diferenças evoluem para grandes diferenças. Esta parte foi observada por Lorenz que as traduziu no conhecido “Efeito Borboleta” (o bater de asas de uma borboleta na China pode vir originar, a longo prazo, um furacão nas Caraíbas). Por outro lado, Mandelbrot vem demonstrar com os fractais que “a irregularidade é regular”. Se uma visão do Todo fosse possível, poderíamos interrogar-nos se o que chamamos Teoria do Caos não seria antes uma Teoria da Ordem? Se as irregularidades que de um modo ténue constatamos não serão regulares e determinadas? E se nessa abstracta visão do Todo, desde o ínfimo ao infinito, os acontecimentos não estarão determinados desde o primeiro instante?

Com as minhas naturais limitações, penso que não poderemos colocar o problema em termos de “ordem/desordem”.
Todo o ser vivo é um organismo multicelular complexo que, em termos da 2ª Lei da Termodinâmica, funciona como um sistema aberto, isto é, quando se respira expelimos ar. Este ar, fundamentalmente constituído por átomos de oxigénio (mas não só), dá possibilidade a que os mesmos se associem com átomos de outros elementos, levando ao aparecimento de outras “entidades”, portanto mais “desordem”.
Se o Universo for “fechado” a expansão»desordem»entropia pára, porque cessou a possibilidade de criação de matéria nova. Tudo passa a ser organizado e por isso “fechado”.

No que respeita ao “holismo” e ao “princípio antrópico”, aceites por muitos cientistas, há quem os aceite e quem não os aceite. Quanto a este último, talvez estejamos perante o aparecimento da “consciência” e da “inteligência”, que interpreta o próprio real a que pertence. Eu tenho dúvidas, e tantas mais quando tal entra já no campo da Filosofia, no qual sou um autêntico “zero à esquerda”.

Citando Hubert Reeves*:

“- Como foi possível a extrema (quase infinita ... ) precisão do valor das “constantes cosmológicas”?
- Será que nos elementos constituintes da “papa inicial” do Universo primevo, não existiriam já os elementos constituintes que levariam ao aparecimento da vida aqui, ou noutro lugar?”


(*) Cientista canadiano, doutorado em “astrofísica nuclear”, o seu livro “Patience dans l’Azur”, traduzido em muitas línguas e em Português com o título: “Um Pouco Mais de Azul”, esteve na origem do grande interesse actualmente existente, particularmente por parte de um público jovem, pelos temas científicos e a problemática da ciência.

(Na gravura: um “fractal", a Espiral de Mandelbrot)

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sexta-feira, fevereiro 10

Caos: a regeneração.

As sequências são perversões. O caos é regenerador.
Subverter é a arte do caos.
Serei um decadente?! – Não o sei. – Procuro a resposta.
Aparentemente sou um caótico decadente. Pois que seja!
INTROSPECÇÕES:
Voar por sobre um mar de águas turvas, plenas de potência, espumas brancas e sal. Eis a viagem ideal.
DIVAGAÇÃO:
Algures entre mim e ti está o ponto certo do encontro. Basta que o achemos.
POR MIM:
Monocórdico, atabalhoado, mergulhado num atoleiro de sentimentos. Preciso de me esclarecer.
POR TI:
Pensas em mim a cada segundo. Sou o ar que te alimenta. Bebes-me. Sorves-me. Alimentas-te de mim.
POR AMBOS:
O desejo que os sonhos se cumpram. Todos.
NOTAS DE RODAPÉ:
Absorvo-me em tons de azul. E verde. Ou azul/verde. Dissolvo-me no teu colo, em beijos e braços de ternuras.A fusão de corpos, é o resultado da fusão de almas. Sinto-te sem estares. E sei que estás. Sem estares. Esta certeza é consolidada pela ausência que é a presença mais sentida.[Beija-me] pedes-me com olhar suplicante. Como se precisasses de o fazer. Beijar-te é tudo o que quero.[Beija-me] voltas a pedir-me, quando os meus lábios já te esmagam os teus numa apoteose de salivas, línguas e desejos. [Beija-me]
INCERTEZAS:
Amanhã acordarei?
Deambulo. O cérebro quase liquefeito, mistura de tantas peles e cores, diz-me que ainda o tormento não acabou.
Olho-te. Olhas-me.Verde/azul. Talvez cobalto às vezes. Tem tantas tonalidades!
A NOITE:
Pedaço de espaço que antecede o dia. Intemporalidade onde prendo os sonhos.Negritude onde nos encontramos. E silêncio. Sobretudo, silêncio.
A paz que chega por momentos.
O SONHO:
Acordar-me-se-me-te.

Outro género de Big Bang


No sítio errado e no momento errado.

P.S. - Para quem não tiver "pachorra" de ler o "post" abaixo ...

Às voltas com o Big Bang



(A imagem côr de rosa, zonas mais quentes e azul, mais frias,foi obtida a partir das observações do satélite COBE e são essas diferenças de temperatura que, permitindo a acumulação de matéria, levou à formação das galáxias.)


Foi-me sugerido que escrevesse algo sobre este assunto. Não sei bem o quê, para começar ( ou acabar? ) e então lembrei-me de uma conferência proferida pelo Prof Jorge Dias de Deus, na FCG no âmbito do Ciclo “Potências de dez”. Será baseado numa troca de impressões com a “bluegift”, na altura publicada no fórum Astronomia, do SAPO.

Há vários aspectos a salientar, como ela referiu:

“ O Jorge Dias de Deus já tem mais cuidado com a linguagem que utiliza quando se refere ao Big Bang como a teoria dominante, esboçando um gesto não muito convicto... sobretudo quando colocou a foto que ilustrava a razão porque ela parece estar a ser tão bem aceite: "e Deus criou o Mundo" ( fiat lux )...
”o facto de ele referir múltiplas vezes a tendência para o Homem interpretar tudo como sendo o centro do universo.”
” a atitude já não é tão peremptória na defesa da teoria do BB.”

A conferência permitiu chegar a conclusões como:
- A teoria do BB apenas explica cerca de 5% daquilo que se passa no Universo. Quanto ao resto não se sabe praticamente nada! “Qual gramática perfeita, que expressa palavras sem sentido”, tal como ele disse.
- Não existe realmente explicação para o facto de o universo estar em aceleração após a “explosão”, quando devia era estar em desaceleração: desvio para o encarnado, mas porque não para o azul (desaceleração)?
- Devia haver perda de energia, e pelo contrário há ganho. Foi esta a dúvida real, um pouco mal defendida, pelo 1º interveniente quando se referiu ao diferencial energético das partículas, tendo o Dias de Deus referido e muito bem que o universo está equilibrado, a valência é zero, protão e neutrão, (+) e (-), equilibram-se. Só que para validar a BB teria que haver produção de energia. Ora, de onde vem ela, uma vez que se verifica que as valências se equilibram sempre, não produzindo, portanto, energia? Mas a contradição: aceleração, sem produção de energia, contraria a existência de arrefecimento que irá originar a formação e ordenação das estruturas astrais.
Há muitas contradições nesta teoria, realmente. Creio que ele próprio está a ficar cheio de dúvidas apesar de ter que a "defender".
Quando ele mostrou a imagem da formação do universo há 300.000 anos, com as manchas de temperatura que sugerem heterogeneidade na distribuição da mesma, ficou no ar a pergunta: então mas não é uniforme o afastamento (segundo a constante de Hubble)? Mas com essas diferenças como é que a temperatura pode ser uniforme? Mais uma vez são as leis da física a serem "abaladas".
Aliás ele referiu justamente isso, ou seja, que “havia desajustamento com a Física apesar de a matemática (gramática) ser perfeita”.
E o regresso da constante cosmológica de Einstein? A tal que era aplicada à teoria do universo estático?! agora grosseiramente "encaixada" no BB, ao constatarem o equilíbrio gravitacional do universo?!
Toda uma possibilidade de universo num simples grão de areia... em risco de explosão. O que é afinal o tempo? O que somos nós afinal? O centro de tudo? “O JDD quando se referiu à diferença mínima da matéria sobre a anti-matéria, o que justifica estarmos aqui, falou “timidamente” em “Criador” ...

E ele mesmo “olha para o umbigo” quando referiu a possibilidade/necessidade de sairmos do sistema solar ( como? ). Porque não admite, pura e simplesmente o desaparecimento do “homem”, tal como se deu o dos dinossauros que andaram por cá, se calhar, muito mais tempo que o “homem” andará? Será este o “produto final”? Porque não os lacraus, que têm capacidade de resistir aos mais altos níveis de radiação? E os “vírus”, sim os “vírus”, organismos tecnicamente perfeitos e extremamente simples, mas com um tremendo poder de adaptação e transformação?

Claro que o BB não é um “must”. O próprio Reeves o admite quando se lhe refere:

“O mundo acessível aos nossos telescópios talvez seja apenas uma ínfima fracção do universo inteiro. O modelo do Big Bang extrapola a propriedade da homogeneidade para o conjunto do universo.”

Eu não diria que “A teoria do BB apenas “explica” cerca de 5% daquilo que se passa no Universo ...”, mas sim que o que nós “observamos” do Universo é apenas 5%. A “matéria negra” representa 25% e os restantes 70% será “força negra” que, possivelmente, impede a desaceleração e justifica a aceleração da expansão ...

5%! Apenas em 5% do Todo, que é o Universo, é onde andamos a “esgravatar” ...

A teoria “big bang – big crunch – big bang ...”, tão cara a certas filosofias orientais, está ultrapassada, o JDD referiu este facto ( o Reeves também ...).

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quinta-feira, fevereiro 9

IRS com imaginação

Um casal de jovens chega ao consultório de um médico terapeuta sexual.
O médico pergunta:
- O que posso fazer por vocês?
O rapaz responde:
- Poderia ver-nos a fazer sexo!
O médico olha espantado, mas concorda. Quando terminam, o médico diz:
- Não há nada de mal na maneira como fazem sexo.
E cobra 70 € pela consulta, o que se repete por várias semanas.

O casal marca um horário, faz sexo sem nenhum problema, paga ao médico e
deixa o consultório. Finalmente o médico resolve perguntar:
- Afinal, o que estão a tentar descobrir?

E o rapaz responde:
- Nada, o problema é que ela é casada, e não posso ir a casa dela. Eu também
sou casado, e ela não pode ir a minha casa. No Hotel Tivoli, um quarto
custa 120 €, no Hotel Holliday Inn custa 100 € e aqui fazemos
sexo por 70 €, temos acompanhamento médico, é passado um atestado, sou
reembolsado em 42 € pela Medis e ainda consigo uma restituição do
IRS de 19,25 €.

P.S. – Para não falarmos só de assuntos sérios …

Por que me falas nesse idioma?

Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida
inteira essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.

(Cecília Meireles)

quarta-feira, fevereiro 8

Não sei

Às vezes sinto-me constrangido sem saber o que fazer. Deparo com textos de uma tamanha beleza que me dá vontade de os transcrever, pois por mero acaso tive o privilégio de os ler e gostaria de os publicar, de os dar a conhecer a todos os que partilham este espaço comigo.

Interrogo-me se tenho o direito de dispor assim de algo que não é meu, que é do domínio publico, mas dos quais não irei tirar nenhum proveito, apenas o prazer de divulgar algo que me encantou e que, por circunstâncias diversas, mero acaso, acabará os seus dias na estante de uma qualquer livraria. O poder das editoras também "fazem", e de que maneira, os escritores.

Por vezes recebemos mails que nos enchem de alegria mas que também, pela sua estrema beleza, ultrapassam o mero âmbito pessoal. Vem a propósito um livro recentemente saído:

"D'este viver aqui neste papel descripto", cartas da guerra, de António Lobo Antunes, organizado em colaboração com a mulher, Joana Lobo Antunes.

Até que ponto algo de íntimo que existe entre duas pessoas, ultrapassa pela sua beleza o seu âmbito restrito, a comunhão de sentimentos, para ser dado a conhecer ao grande público, mesmo que previamente, como é natural, tal seja feito com o consentimento mútuo?

No que respeita, ao livro, não tenho a mínima dúvida que “ainda bem que o fizeram”, pois é algo de muito belo e António Lobo Antunes, só por circunstâncias, digamos “estranhas”, não recebeu ainda o Premio Nobel.

E quanto aos mails?

terça-feira, fevereiro 7

Carta aberta

Os cantos Sagrados Gregorianos servem-me de fundo, a mais esta aventura pela literatura; pois de literatura se trata.
Serei talvez senhor de técnicas da linguagem escrita: desde a concisão, passando pela obliquidade patética, à limpidez sombria do isolado intratável. Mas sou também, o poeta que escreve prosa, como se de poesia se tratasse. E tu és poesia! Com métrica, rima, perfeita!
Faças o que fizeres, és minha pela inteligência, pela cultura, pelo estilo; és minha por todos os dons de espírito e a minha herança, cola-se-te à tua pele.
Às vezes fico dividido, entre o “compromisso humilhante” e o “caos não menos humilhante”. Mas sem que me dê conta, o caos é ordem, e a ordem caos. Nestes aparentes paradoxos, que mais não são que complementaridades, vou criando frases e ideias, juntando letras, num gigantesco desafio à imaginação, que até hoje nunca me traiu!
Recuso uma Sociedade doente, em que a antinomia do puro individualismo, se transforma em carrasco de um todo que deveria obedecer tão só, aos primados de solidariedade e amor!
Quão diferente seria então este Mundo decadente!
Sei agora que atingi a idade da inocência. Como a Humanidade labora num erro tremendo, atribuindo-a a crianças. Não é verdade! A idade da inocência atinge-se com as maturidades dos erros, das aprendizagens de dias que se seguem uns aos outros, sempre diferentes, na sua igualdade!
Perante uma civilização que cumpre a inexorabilidade de um destino feito por homens, que erguem a unilateralidade, como bandeira, contraponho uma nova, erguendo das ruínas a literatura como um efectivo e agónico sinal de independência, entrega e amor!
Faço aos poucos o meu “museu imaginário”, feito das minhas contradições e génios.E de letras juntadas uma a uma, sempre com a paixão quase ecuménica da excelência, incoerente e coerente, nas simbióticas contradições de um denominador arreliadoramente comum!
Este meu lado dúplice, repleto de metafísicas retóricas, em puros amplexos de sãs loucuras, que são toda a minha vida, faz-me sentir na verdade Humano na plenitude.
Todavia, é nestas intrincadíssimas e labirínticas memórias que me movo, tentando ver além do óbvio, rasgar de uma vez o asfixiante horizonte que a tudo parece querer por um fim. Mas há memórias e gentes, para lá desse horizonte mesquinho, que mais não é que um fetiche inventado por um qualquer Deus semi-louco, que pensava poder controlar a mente humana. É nesta grandeza de olhar para além de, que reside também a nossa grandeza!
Continuo a ouvir os monges, afinal sem solidões mortíferas, mesmo que a opção tenha sido a de um voto de silêncio, quebrado apenas por cânticos de glória ao Divino, que eles só podem imaginar, mas não podem provar. Porém, acreditam, ou fingem que acreditam, nessa Divindade, que os esquece, entregando-se afinal de contas ao aprender à sua custa que o Homem, se pode regenerar pela entrega e pelo amor, realizando dessa forma a sua GRANDEZA!
É desta forma que toca o sublime que me entrego a ti: agora com a sabedoria da inocência, com o pudor da idade, com a castidade de um monge, limpo, puro, grande, porque sei amar!
E esta panaceia de sentires, vem-me de ti, que me fazes juntar letras, quando o coração já delas nada pode fazer. Então, põe-as nos meus dedos, para tas mandar, repletas de carinhos, fazendo-me homem, e não mais uma peça de algo que definitivamente está moribundo!
Agora sei a finalidade da vida. E sei que não há morte, nem falhas de memórias. Existem sonos prolongados noutras dimensões, e homens que estigmatizados como loucos, mais não são, que as pessoas certas numa Sociedade errada, juncada de sangue e vergonhas!
Vivo o sortilégio cumprido de sonhos cumpridos. Vivo eternamente nas palavras que vou escrevinhando, sempre em actos de amor, que nem eu julgava poder existirem.É esta certeza, que me dá a força e o direito de te dizer que te amarei, muito para lá da eternidade!
Agora, junto-me aos silêncios dos monges, toco as tuas pálpebras que teimam em se querer juntar, dominadas por um teimoso sono, com os meus lábios castos, fazendo com que ambos sintamos um doce arrepio na coluna vertebral, e partamos numa viagem inconfessável a outras dimensões, a que chamamos amor.

segunda-feira, fevereiro 6

Anãs brancas

Responder à pergunta feita por “lazuli” no seu comentário:

“A expressão "esqueletos encolhidos" deve significar que ela retém o total da sua massa original, não é?”

“obriga-me” a responder com um “post”, o que aliás faço com o maior prazer, porque gosto de falar sobre estes assuntos, dentro dos meus limitadíssimos conhecimentos e nem sempre encontro audiência.

Tomemos o caso do Sol:

- possui uma enorme massa, qualquer coisa como 2 seguido de 33 zeros, em gramas. Mas, apesar desta massa fantástica e da correspondente enormíssima gravidade, que o levaria a despedaçar-se, tal não acontece porque gera energia no seu interior, aquecido a mais de 10 milhões de graus centígrados. É nessa "fornalha" que os núcleos de hidrogénio (protões) se entrechocam, desencadeando milhões de reacções nucleares/segundo.
Cerca de 0,7% dessa massa de hidrogénio, converte-se em "irradiação", que faz com que o Sol brilhe e não se desmorone, pois ao abrir caminho para a superfície, através das camadas superiores, a "irradiação" opõe-se à "gravidade" que pretende desmoronar o Sol.

Assim foi desde há 4,6 mil milhões de anos e assim será durante outros 4,5 mil milhões de anos. O Sol é então um "senhor de meia idade"

E o que acontecerá nessa altura?

O "carburante" (hidrogénio) esgotou-se, consequentemente as reacções nucleares suspenderam-se e deixou de haver irradiação para se opor à gravidade, o que poderia levar o Sol a desmoronar-se sobre si próprio e a tornar-se num "buraco negro".
Mas tal não vai acontecer porque para tanto seria necessário que o seu raio actual (700.000 quilómetros) se desmoronasse para um raio de menos de 3 kms. Ora a Física ensina-nos que o desmoronamento do Sol se irá suspender quando o seu raio atingir os 6.000 kms (aproximadamente o raio terrestre), porque segundo o "Princípio de exclusão" de Wolgang Pauli os electrões, ou neutrões, resistem a deixar-se comprimir e é esta resistência que impede o desmoronamento, instaurando um novo equilíbrio, agora entre a força da gravidade e a força dos electrões que não "suportam" estar empilhados uns sobre os outros (são como nós nos transportes públicos ).

Então o Sol irá transformar-se numa "anã branca", "anã" por causa da sua reduzida dimensão em comparação com a de uma estrela "normal" e "branca" porque é essa a cor da luz emitida pela energia convertida em irradiação, gerada pelo movimento de desmoronamento.

A matéria está de tal maneira comprimida na "anã branca", que 1 cm3 desse "cadáver estelar” pesará 1 ton. Continuará a irradiar e a arrefecer durante uns milhares de milhões de anos, antes de se extinguir e se tornar uma "anã preta".

E qual é o papel de nós humanos no meio desta grandiosidade?
Continuamos a pôr-nos nos “bicos dos pés” para parecermos maiores e a proclamar que tudo foi feito para nós termos o seu “usufruto” (direito de usar, fruir e administrar, neste caso, também destruir …), de acordo com o “Princípio antropomórfico".

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Uma história celeste de vida para além da morte


Com o auxílio do telescópio espacial Spitzer, foi possível observar o que se pensa ser poeira de cometas em torno da anã branca G29-38, que morreu há aproximadamente 500 milhões de anos.
Esta descoberta sugere que a estrela, que provavelmente terá absorvido os seus planetas interiores, tem ainda em sua órbita um anel de cometas e possivelmente planetas exteriores. Esta é a primeira evidência observada de que os cometas podem sobreviver à morte das suas estrelas.

Há décadas que os astrónomos sabem que as estrelas nascem, atravessam um período longo de "meia-idade" e no fim deste, desvanecem ou explodem. Os cientistas estão a usar o Spitzer como uma ajuda preciosa para compreenderem como os sistemas planetários evoluem em conjunto com as suas estrelas anfitriãs.
Acreditam que as anãs brancas são os “esqueletos encolhidos" de estrelas que foram outrora semelhantes ao Sol. À medida que as estrelas foram envelhecendo, após milhares de milhões de anos, tornaram-se mais brilhantes e eventualmente aumentaram de tamanho, tornando-se gigantes vermelhas. Após milhões de anos, as camadas exteriores das gigantes vermelhas foram-se dispersando para o espaço, deixando para trás uma anã branca.

Provavelmente, as poeiras observadas em torno da G29-38 foram criadas recentemente aquando de uma possível entrada de um destes cometas na região interior do sistema, o qual se teria desfeito e transformado em poeira. Mas poderão existir outras explicações como a de que uma segunda vaga de planetas teria sido formada muito depois da morte da estrela, deixando para trás uma zona de construção poeirenta. A gravura é uma ilustração artística do que poderia ter ocorrido.

No nosso sistema solar, os cometas residem nas fronteiras exteriores e frias, em regiões conhecidas como a Cintura de Kuiper e a Nuvem de Oort. Estes objectos iniciam as suas jornadas periódicas até à vizinhança quente do Sol, apenas quando algo, um outro cometa ou um planeta exterior, causa distúrbios nas suas órbitas.

(adaptado do ASTRONOVAS – OAL - Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa)

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domingo, fevereiro 5

Do Mito ao Logos

Da análise do pensamento dos filósofos de Mileto, podemos concluir que os mesmos abriram uma ruptura com o pensamento mítico, ao criarem uma nova maneira de pensar que privilegia o uso individual da Razão (Logos), secundarizando a Tradição. É por este motivo que esta nova maneira de pensar se designa por Racional.

Todas as correntes porém tiveram e têm alguns denominadores comuns:

Compreender a Natureza
A sua primeira preocupação foi a de explicar a natureza (Physis, Física), por isso são também denominados de "fisícos".
Descobrir o Elemento Primordial (Arkê, arqué).
Toda a natureza tem origem num mesmo elemento material? Qual? Como se passou de algo que era Uno e indistinto para aquilo que conhecemos como Múltiplo e distinto? Estas terão sido algumas das questões que certamente terão colocado e procurado uma resposta e que os levou a procurarem o elemento primordial da realidade (arqué).
Redução à realidade à sua dimensão material
Ao centrarem-se apenas na natureza e na procura do seu elemento primordial (físico) operaram uma redução na forma de encarar a realidade. Esta passou a ser vista apenas numa perspectiva material, sendo as suas transformações explicáveis apenas com base em elementos físicos. É por esta razão que estes filósofos se designam também por "materialistas", dado que também afastaram das suas explicações a intervenção de seres sobrenaturais na natureza.
Explicação do funcionamento do cosmos
Ao contrário do pensamento mítico que concebia a natureza governada por seres sobrenaturais que nela actuavam de forma arbitrária e imprevisível. Estes filósofos concebem-na como um Todo governado pelo princípio da necessidade: as coisas acontecem porque têm que acontecer, segundo leis que lhes são próprias e imanentes. Sem esta ideia não seria possível constituir-se a Ciência.

Anaximandro legou-nos uma visão surpreendente do cosmos: este não é mais de que um grande mecanismo, que funciona de forma regular e portanto previsível. É com este pressuposto que se fundarão as várias ciências da natureza.
Num plano mais geral, estas investigações filosóficas tornaram evidente que o conhecimento que obtemos pela razão, nem sempre coincide com o que nos é dado pelos sentidos.

Se através dos sentidos descobrimos um mundo caracterizado pela pluralidade, singularidade, mudança contínua e contingência das coisas, através da razão conseguimos descobrir a unidade, imutabilidade, universalidade e necessidade dessas mesmas coisas.

Estas duas percepções da realidade – a dos sentidos e a da Razão – constituem um dos temas fundamentais da filosofia.

Esta já longa introdução impunha-se. Desde logo porque os nossos políticos parecem continuar divididos entre várias correntes filosóficas. Ou porque não as entendem, ou porque toda a matéria estudada lhes é de difícil assimilação. Divididos entre a paixão e a razão, parecem pairar numa espécie de limbo que os paralisa. O país está de rastos e de rastos continuará, por manifesta falta de capacidade de olharem para o todo. Diria que lhes foram implantadas umas palas laterais – comuns às bestas de carga – que não lhes permitem ter a percepção de um mundo em mudança e que exige medidas concretas. O grande problema é eles entenderem quais.
Perdidos na labiríntica burocracia – uma nova forma de filosofia? – e na contemplação dos seus próprios problemas, alheados por completo de como é viver com salários miseráveis, esbanjam o nosso dinheiro arbitrariamente sem saberem bem onde.
Ao baralharem conceitos filosóficos perderam o “norte” às necessidades de um país que continua por cumprir.
O nosso próprio retrato é uma imagem desfigurada no reflexo de um espalho baço e infeliz traçado a negro por quem tem em última análise o dever de manter a moral “em cima”.

Porém, se olharmos à nossa volta e para os mais variados sectores, deparamo-nos com um cenário triste e irrealista das nossas necessidades. As televisões – a quem caberia uma missão de formação – intoxicam-nos com novelas e programas de gosto duvidoso.
Os empresários, regra geral, são péssimos empresários, sem capacidade de olhar além do lucro. A função social da empresa é simplesmente ignorada. Não entendem o processo tão claro, de que se houvessem preocupações sociais, teriam os trabalhadores motivados para a batalha da produção, as famílias desses mesmos funcionários estariam mais alegres e dispostas ao consumo, da mesma forma que os sindicatos se perderam em dogmas cristalizados e incapazes de entenderem o mundo novo, feito de novas tecnologias e de outras verdades.

Perdidos entre a razão e a paixão apenas poderemos esperar o caos. Não o caos filosófico – que até pode ser muito interessante – mas tão-somente o resultado de anos e anos de depressões colectivas e de infelicidade.
Será que esta veio para ficar ou teremos ainda um resto de força para inverter este cenário tenebroso?
Penso que a resposta está em cada um de nós e na nossa real vontade de alterar procedimentos, termos participação activa e efectiva no desenrolar das nossas vidas.

"A sesta" (1890) - Van Gogh



Paris - Musée d'Orsay

Para quem gosta do artista. Eu gosto e sei que há mais pessoas que gostam e já manifestaram o seu interesse.

(foto de Peter)

sábado, fevereiro 4

Eu Te Amo




Esta é uma das canções que perduram no tempo. Dois “monstros sagrados” da MPB, que continuam actuais e a deliciar-nos. Infelizmente um deles, Tom Jobim, já faleceu mas continua inesquecível na sua “Garota de Ipanema”, que tem sempre lugar no álbum de CDs que trago no carro.

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir


( Tom Jobim/Chico Buarque )

sexta-feira, fevereiro 3

O NADA

O deter-me na vírgula temendo que esta seja sempre e só um ponto a que não quero chamar final, mas sabendo [a terrível certeza] que para além dela apenas está o esquecimento. Todas as palavras após esse interlúdio – colocado para respirar? – têm o valor numérico de algarismos à esquerda da mesma. Ainda e quando colocadas depois deste pequeno sinal, são a constatação da desvalorização e da inutilidade.

[Espreitar-te entre as réguas finas e azuis de um estore e obter imagens entrecortadas como se o corpo se tivesse separado em vários] entre grades brancas e espaços exíguos, agora dedos alongados e enregelados pelo frio intenso e cortante.

Pequenos insectos esbarram de encontro ao vidro invisível mercê da luz que este espelha. São os baços de vidas curtas, sem sentido, oblíquas e enviesadas.

Agora o voo rasante junto ao chão tentando saber através deste que os passos importantes de uma vida se registaram ali e ficaram impressos na invisibilidade.

[A descrença na existência] não são mais do que lucubrações alucinogéneas de algo que gostaria real mas que simplesmente não existe.

Vaguear nesta incomensurável nitidez de solidão fazendo de cada momento o vazio e [a sempre desesperante vontade de que tudo termine] a intersecção de pontos convergentes que se afastam fatalmente porque um dos dois sucumbiu.

Ainda sem o beijo, sem planos [porque o futuro não existe] sem vontades e sem finalidades a desejar o vórtice de um terminus de algo que jamais existiu.

Talvez a apaziguação do sonho no esventrar de estilhaços de corpos, mentes e almas adjacentes e o esbarrar de encontro ao muro intransponível da inutilidade.

Ontem como hoje, o nada.
Amanhã não existe.

Passado e futuro



Tenho visto por aí que o "passado", não interessa. Passou, passou, só os mais idosos buscam reminiscências de momentos vividos.

"Olhe que não! Olhe que não!"

Todos estamos mergulhados no "passado", pois neste preciso momento, já não há "passado", este era quando escrevi o "P". Estou é a caminho do "futuro" que se abre constantemente à minha frente, até um dia, que espero venha o mais tarde possível.

Se olho à noite para o firmamento estou a ver aquilo que "já era", não existe mais. São tudo imagens do "passado" que chegam até mim.

Curioso, fixo o que de mau me aconteceu ao longo da vida. Porquê? Não sei. Busco uma explicação? Não vale a pena, quero é esquecer, mas não consigo.

Vou lembrando com prazer tudo o que de bom me aconteceu, numa vida bem preenchida, bem vivida, em todos os locais por onde andei (e foram muitos), nos momentos inesquecíveis que vivi e, principalmente, naqueles que ainda viverei. São estes últimos que me impulsionam e me dão este apego à vida, esta “fome” de viver.

quinta-feira, fevereiro 2

hoy sei un altro giorno


Quem nos procura, fá-lo por amizade e para se distrair um pouco. Nós temos por "obrigação" satisfazê-los e não vir com os nossos "problemazinhos" a muitos de vòs, que já estâo de "saco cheio".
Foi o que eu não fiz ontem e, por isso, peço desculpa.
Evidentemente que nessas ocasiões o cérebro está bloqueado, não surge "inspiração", apenas sai "expiração".
Mas "the show must go on" e é o que vou tentar fazer, aliás de acordo com o título do "post", publicando um pequeno "sketch", possivelmente já muito "batido" e visto, de correr aqui pela Net.

Mas foi o que se poude arranjar ...

quarta-feira, fevereiro 1

Confirmado pelo ministério da saúde: beijo na boca pode matar

O Ministro Correia de Campos fez saber através de uma nota de imprensa que “o beijo na boca pode matar”. Segundo o mesmo documento a que o InApto teve acesso, “tal deve-se a que muitas das nossas estrelas femininas podem estar infectadas com a gripe das aves”.

Claro que estas afirmações causam alguma surpresa. Como pode Isabel Angelino, Fátima Lopes, Catarina Furtado – que presumida! – ou Clara de Sousa estarem infectadas com o temível vírus? A ser verdade, como explicar que toda a população possa vir a sofrer com isso? – É certo que me tenho esforçado mas ainda não consegui beijar nenhuma delas –

Por sua vez, aproveitando a oportunidade soberana, a Igreja pronunciou-se através de D. José Policarpo numa conferência de imprensa convocada para o efeito no santuário de Fátima, afirmando que “Não só o beijo na boca é pecaminoso, como pode provocar uma terrível epidemia. Ressalvo porém que é igualmente contra a saúde pública ter pensamentos pecaminosos, usar o preservativo, a pílula e mesmo falar à janela com a noiva. Tudo se deve passar entre as paredes silenciosas de um Templo com um pároco sempre presente”.

Enquanto expelia o fumo de um enorme charro, o Cardeal Patriarca olhava descaradamente para uma jovem repórter da TSF que tinha um decote um tudo-nada ousado.

A mesma sorte não tinha Correia de Campos que apenas conseguia divisar o seu assessor, um tipo hirsuto, de enorme barba por cortar e com ar de poucos amigos.

No seguimento do conhecimento destas duas posições, duas gigantescas manifestações foram convocadas pelo auto-denominado grupo “Mete-lhe a língua na boca”, com a finalidade de protestarem contra estas posições “reaccionárias e dignas de impotentes”, segundo um porta-voz do grupo.

A ter algum fundo de verdade as declarações bombásticas de Correia de Campos como explicar que o vírus tenha sido contraído pelas nossas belíssimas estrelas de televisão? Terão beijado um gavião migratório no seu percurso em busca de Sol ou ao invés terão sido elas que se deslocaram para paraísos solares e beijaram à força as ditas espécimes? Se o fizeram não será um péssimo indicador para os homens portugueses?

Na sequência de tudo isto, a SIC – Canal televisivo – foi invadida por uma multidão masculina que deseja mostrar que não teme a gripe das aves.
Este vosso humilde repórter está entre a multidão e há muito que abandonou o microfone…

Paris


Estou triste, não me apetece escrever, por isso resolvi apenas publicar esta foto. Por vezes tenho a sensação que se ergue à minha frente um muro intransponível: o muro do tempo. Tenho saltado por cima.
O corpo cede, acaba por ceder, mas a mente, os sentimentos, não. Renovam-se. São outra entidade que paira por cima dele e que perduram para além da degradação do mesmo.
Por isso a morte é sempre a morte cerebral, mesmo que o corpo, indefinidamente, continue ligado às máquinas em estado vegetativo.

Foto triste, onde morreu a “Deusa do Amor”:

“Pont de l'alma”, um lugar onde o mistério do ocorrido persiste ( e persistirá ... ).

(foto de Peter)