terça-feira, fevereiro 7

Carta aberta

Os cantos Sagrados Gregorianos servem-me de fundo, a mais esta aventura pela literatura; pois de literatura se trata.
Serei talvez senhor de técnicas da linguagem escrita: desde a concisão, passando pela obliquidade patética, à limpidez sombria do isolado intratável. Mas sou também, o poeta que escreve prosa, como se de poesia se tratasse. E tu és poesia! Com métrica, rima, perfeita!
Faças o que fizeres, és minha pela inteligência, pela cultura, pelo estilo; és minha por todos os dons de espírito e a minha herança, cola-se-te à tua pele.
Às vezes fico dividido, entre o “compromisso humilhante” e o “caos não menos humilhante”. Mas sem que me dê conta, o caos é ordem, e a ordem caos. Nestes aparentes paradoxos, que mais não são que complementaridades, vou criando frases e ideias, juntando letras, num gigantesco desafio à imaginação, que até hoje nunca me traiu!
Recuso uma Sociedade doente, em que a antinomia do puro individualismo, se transforma em carrasco de um todo que deveria obedecer tão só, aos primados de solidariedade e amor!
Quão diferente seria então este Mundo decadente!
Sei agora que atingi a idade da inocência. Como a Humanidade labora num erro tremendo, atribuindo-a a crianças. Não é verdade! A idade da inocência atinge-se com as maturidades dos erros, das aprendizagens de dias que se seguem uns aos outros, sempre diferentes, na sua igualdade!
Perante uma civilização que cumpre a inexorabilidade de um destino feito por homens, que erguem a unilateralidade, como bandeira, contraponho uma nova, erguendo das ruínas a literatura como um efectivo e agónico sinal de independência, entrega e amor!
Faço aos poucos o meu “museu imaginário”, feito das minhas contradições e génios.E de letras juntadas uma a uma, sempre com a paixão quase ecuménica da excelência, incoerente e coerente, nas simbióticas contradições de um denominador arreliadoramente comum!
Este meu lado dúplice, repleto de metafísicas retóricas, em puros amplexos de sãs loucuras, que são toda a minha vida, faz-me sentir na verdade Humano na plenitude.
Todavia, é nestas intrincadíssimas e labirínticas memórias que me movo, tentando ver além do óbvio, rasgar de uma vez o asfixiante horizonte que a tudo parece querer por um fim. Mas há memórias e gentes, para lá desse horizonte mesquinho, que mais não é que um fetiche inventado por um qualquer Deus semi-louco, que pensava poder controlar a mente humana. É nesta grandeza de olhar para além de, que reside também a nossa grandeza!
Continuo a ouvir os monges, afinal sem solidões mortíferas, mesmo que a opção tenha sido a de um voto de silêncio, quebrado apenas por cânticos de glória ao Divino, que eles só podem imaginar, mas não podem provar. Porém, acreditam, ou fingem que acreditam, nessa Divindade, que os esquece, entregando-se afinal de contas ao aprender à sua custa que o Homem, se pode regenerar pela entrega e pelo amor, realizando dessa forma a sua GRANDEZA!
É desta forma que toca o sublime que me entrego a ti: agora com a sabedoria da inocência, com o pudor da idade, com a castidade de um monge, limpo, puro, grande, porque sei amar!
E esta panaceia de sentires, vem-me de ti, que me fazes juntar letras, quando o coração já delas nada pode fazer. Então, põe-as nos meus dedos, para tas mandar, repletas de carinhos, fazendo-me homem, e não mais uma peça de algo que definitivamente está moribundo!
Agora sei a finalidade da vida. E sei que não há morte, nem falhas de memórias. Existem sonos prolongados noutras dimensões, e homens que estigmatizados como loucos, mais não são, que as pessoas certas numa Sociedade errada, juncada de sangue e vergonhas!
Vivo o sortilégio cumprido de sonhos cumpridos. Vivo eternamente nas palavras que vou escrevinhando, sempre em actos de amor, que nem eu julgava poder existirem.É esta certeza, que me dá a força e o direito de te dizer que te amarei, muito para lá da eternidade!
Agora, junto-me aos silêncios dos monges, toco as tuas pálpebras que teimam em se querer juntar, dominadas por um teimoso sono, com os meus lábios castos, fazendo com que ambos sintamos um doce arrepio na coluna vertebral, e partamos numa viagem inconfessável a outras dimensões, a que chamamos amor.

8 Comentários:

Às 07 fevereiro, 2006 19:22 , Anonymous Anónimo disse...

"Recuso uma Sociedade doente, em que a antinomia do puro individualismo, se transforma em carrasco de um todo que deveria obedecer tão só, aos primados de solidariedade e amor!
Quão diferente seria então este Mundo decadente!"

Assino por baixo:)

E a inoncência... todos a têm, mas não a sabem utilizar.. não sei, digo eu:)

Bom texto. Gostei imenso deste.


Lúcia

 
Às 07 fevereiro, 2006 19:31 , Blogger BlueShell disse...

Um amor assim, puro, casto, inocente....merece um hino, mesmo!
BS

 
Às 07 fevereiro, 2006 19:38 , Anonymous Anónimo disse...

(Rod Stewart)

I was told by a good friend
you were untouchable, out of my reach.
But the first time ever I saw you,
I spilled my cherry lime over your dress.
You said, "Don't you worry, it's not my best one."
First encounter, hardly the best.

But I would not change a thing
if I could do it all over again.
All I'm tryin' to say in my awkward way is,
"I still love you."

Didn't I try to impress you,
but my old Chevy van kept breakin' down.
And my one room over the drugstore,
we watched the neon lights go out over town.

And some nights we'd go out dancin',
come home singin' by the Erie Canal.
two hearts gently poundin'
as that mornin' train came janglin' through.

But I would not change a thing
if I could do it all over again.
All I'm tryin' to say in my awkward way is,
"I still love you."

Well darlin', didn't I promise
I'd never go so far away again?
But here I am writin' this letter;
goodbye to you, my love, see you again.

But I would not change a thing
if I could do it all over again.
All I'm tryin' to say in my awkward way is,
"I still love you."

 
Às 07 fevereiro, 2006 22:07 , Blogger Su disse...

amei ler todas essa letras que criaram palavras e frases carregadas de sentir, de vida
jocas maradas

 
Às 07 fevereiro, 2006 22:13 , Anonymous Anónimo disse...

na pureza dos cantos gregorianos, a assumpção da «idade da inocência»! Não ouso escrever mais do que: meu abraço, meu amigo.

 
Às 07 fevereiro, 2006 22:34 , Blogger Silvia Chueire disse...

Vim agradecer-te as palavras, a atenção. Obrigada.

Abraços,

Silvia Chueire

 
Às 07 fevereiro, 2006 23:30 , Blogger augustoM disse...

É bem verdade que atingimos a idade da inocência quando temos a noção do mal que nos rodeia. Mas não creio que o caminho do monje que se retira para fugir da tentação esteja certo e não passe de um acto de cobardia perante a sua impossibilidade de fazer frente a ele mesmo.
Gostei muito do texto, mais um tema que merecia um comentário mais desenvolvido, mas à noite não funciono, levanto-me muito cedo.
Um abraço. Augusto

 
Às 08 fevereiro, 2006 03:29 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...



Como falar da tua "Carta aberta"!

A mente
delimita o espaço
a inclinação da tua voz
em cada letra...
como falar da tua carta... não sei!
"numa viagem inconfessável a outras dimensões, a que chamamos amor".

Beijinhos

 

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