terça-feira, maio 31

Uma opção clara

A cinco dias da votação do próximo domingo, ainda existe um número considerável de indecisos. Mas, na minha perspectiva, a questão central destas eleições é clara: queremos ou não manter Sócrates à frente do Governo?
Os que confiam em quem tanto iludiu o povo português votarão no PS. Pode parecer estranho que um primeiro-ministro que em seis anos levou Portugal à desgraça económica e ao descrédito internacional ainda tenha apoiantes. Mas há quem goste de ser iludido e quem tenha medo da mudança, sobretudo por recear que diminuam ainda mais os apoios do Estado. Só que nos próximos três anos a austeridade está já traçada no memorando da troika, que Sócrates assinou, dizendo que era um bom acordo mas que ignora deliberadamente para ganhar votos.
Pelo contrário, quem olhar para a gravíssima crise do país não terá dúvidas em votar no único partido que pode impedir Sócrates de continuar como primeiro-ministro, o PSD, independentemente dos méritos e defeitos do partido e do seu líder e apenas porque a prioridade é afastar Sócrates do poder.
(Francisco Sarsfield Cabral - Jornalista )

O P.S. é um grande Partido, a quem o País muito deve. Não me revejo em Sócrates como representante do P.S. Quando este político aparece na TV mudo imediatamente de canal, o pior é que, não sei porquê (ou talvez saiba) ele está, por vezes. simultaneamente nos 4. Eu não sou indeciso e sei muito bem em quem não vou votar.

quarta-feira, maio 25

O grande mistério do TGV




Porque será que Sócrates mantém esta insistência obsessiva no TGV? Quando quase toda a gente, desde o analfabeto ao catedrático, reconhece a impossibilidade financeira de o construir, e depois de se provar tecnicamente que será uma rede deficitária, porque continua Sócrates a insistir?

Sobre a matéria, vejamos o que dizia então o Presidente da Multinacional Alemã Siemens, Sr. Heinrich von Pierer. Considerava o TGV em Portugal como um "projecto fantástico", afirmando "querer ser nosso parceiro nesse projecto". Estas declarações foram produzidas em Munique, para um grupo de jornalistas portugueses (Novembro de 2003).

Entretanto, a coisa ficou por ali. Contudo, iam-se agravando as condições económicas do país. Sócrates não consegue reduzir uma grama na adiposidade do Estado, e vê as despesas aumentarem. As suas deslocações, juntamente com Teixeira dos Santos, a Bruxelas, são quase semanais. O facto é que, segundo ele, traz sempre boas notícias e, permanentemente interrogado sobre o TGV, mantém-se irredutível: é para ir para a frente.
Lembro que, estranhamente, e por motivos ainda muito mal explicados, o Dr.Campos e Cunha (primeiro ministro das Finanças a ser escolhido por Sócrates), afasta-se logo após ter proferido declarações onde reconhecia a indisponibilidade financeira da execução de uma obra como o TGV e o Aeroporto. Contudo, a velha história das garantias de que grande parte do financiamento vinha da UE, mantiveram Sócrates com argumentos para prosseguir. Campos e Cunha é que não ficou mais. Ele sabia porquê.

Entretanto, e contra tudo e contra todos, a construção do TGV é adjudicado em Dezembro de 2009, ao consórcio Elos (que engloba a Brisa, Soares das Costa, ACS espanhola, Grupo Lena, Bento Pedroso, Edifer, Zagrope, Babock e Brow Lda, BCP e CGD). Com as condições de agravamento da nossa economia, e com os sucessivos falhanços na baixa do défice, em 2010 a UE começa a mostrar-nos sérios "cartões amarelos" e, preocupada com o destino que as coisas levam, e, de certo modo, traumatizada com os casos da Irlanda e da Grécia, e com o "espantalho" de que os problemas alastrem a Espanha e a Itália (onde a dívida pública já tinha ultrapassado em muito os 100% do PIB - actualmente está nos 120%), obriga Portugal a tomar sérias medidas, que haviam de se traduzir no PEC1. Este PEC1 data de Março de 2010. Demonstrada a insuficiência dele, em Maio do mesmo ano avança-se com o PEC2, e quatro meses mais tarde, com o PEC3.

Sócrates continua a deslocar-se a Bruxelas assiduamente. As visitas e reuniões da praxe, mas as reuniões com Ângela Merkle são obrigatórias. Estranha-se que entre ambos exista como que uma cumplicidade, ou algo que leva o nosso Primeiro-ministro a conversar, preferencialmente, com ela. E há algo que continua um mistério: apesar das sérias restrições que os PECs impõem, dos aumentos de impostos, da redução dos benefícios sociais, do aumento do IVA, IRS, e até da suspensão da 3ª travessia do Tejo e do Aeroporto de Lisboa, o TGV continua intocável! É que, mesmo adjudicado, a obra poderia ser suspensa (como foi a 3ª travessia do Tejo depois de ser adjudicada). Mas não! Mantinha-se o TGV.

Assim, o PEC1 tem o aval da UE, 2 meses depois de adjudicarmos o TGV, e os dois PECs seguintes, também obtêm a aprovação europeia. A seguir à aprovação do PEC3 (Setembro de 2010), logo em Novembro do mesmo ano, a Multinacional Siemens volta à carga. A Multinacional afirma que possui 10 mil milhões de Euros para financiamento de TGVs, através da sua Siemens Project Adventures (que por sua vez está ligada à Siemens Financy Services), e que iria propor ao governo português um esquema de financiamento do TGV.

Duas perguntas: que relação existe entre a data de adjudicação do TGV (Dezembro de 2009), e a apresentação dos PECs1, 2 e 3 (Março, Maio e Setembro de 1010)? Será que a adjudicação terá servido de garantia para que a Srª Merkle desse o seu aval a esses PECs? Porque uma coisa é certa: quem manda na UE é Ângela Merkle. Ela é que manda no dinheiro, ela é a "chanceler do Euro".
A outra pergunta: qual a razão porque a Siemens veio, de seguida (Novembro de 2010) anunciar a intenção de financiar a obra?

Entretanto, como sabemos, e com o PEC4 já avalizado por Merkle, o Governo cai. Mas o TGV não cai, e Sócrates, antes de cair, ainda insiste. E tem razão, porque os 80 mil milhões INTERCALARES, existiram mesmo!
Seria o dinheiro para "aguentar" Sócrates até que as primeiras tranches do PEC4 chegassem. Durão Barroso, numa resposta fugidia, disse que desconhecia essa quantia intercalar, e que tal modalidade não estava prevista nos regulamentos da UE. Mas o facto é que Sócrates trouxe de lá a promessa dessa garantia!

O TGV implica a compra de material, muito material, entre os quais os comboios (locomotivas e carruagens), nada menos de 22, numa primeira fase. Mas também a manutenção, a assistência, todo o complicadíssimo sistema hard e softwere indispensável para o controle da rede, o aluguer de material complementar, etc., etc., etc. Um nunca mais acabar de encargos eternos. Para fornecimento do material, dispõem-se, à partida, três empresas capazes de cumprir com o programa de concurso: Alstom (francesa), a Bombardier (Canadiana) e a Siemens (Alemã). A quem adjudicar?

A Alstom francesa está metida em sérios problemas judiciais na Suiça, França e Brasil, sob a acusação de ter subornado políticos para que lhe adjudicassem material. A canadiana Bombardier, se bem se lembram os portugueses, fechou as fábricas na Amadora em 2004, deixando centenas de trabalhadores no desemprego. A Siemens alemã, tem a vantagem de possuir as máquinas mais competitivas do mercado, assentes na plataforma Velaro, que podem atingir os 350 Km/hora, sendo o comboio mais rápido do mundo.

Esta escolha da empresa fornecedora (como o contrato de financiamento) estava nas mãos de Sócrates. Perante este cenário, a quem acham que se deveria fazer a adjudicação? A uma empresa com problemas judiciais, a outra que saiu de Portugal com tão triste fama, ou à alemã Siemens, que possui uma boa máquina ferroviária e que faz parte da mesma empresa que negociaria um financiamento com o Governo português para a execução do TGV? Era evidente a quem adjudicar. E Sócrates tinha o poder para o fazer. Será que o TGV era a garantia dada por Sócrates à Srª Merkle para que esta avalizasse os empréstimos resultantes de sucessivos PECs, sem que Sócrates sofresse a humilhação interna de ter que pedir a intervenção do FMI (com que prometera a pés juntos, nunca governar? E com isso hipotecar em definitivo a sua carreira política?
Se isto for verdade, Sócrates seria o elo mais fraco deste acordo que lhe garantia os dinheiros com que suportava um Estado devorador e excessivo que foi incapaz de meter na linha. Merkle, o elo mais forte e representante da poderosíssima industria alemã.

Se calhar, Sócrates já há muito que desejaria ver-se livre do "empecilho" do TGV. Mas será que podia?

Neste mundo, não há almoços grátis.

(Texto de F.Gouveia, Engº. Desconhecido. Recebido por e-mail e julgo merecedor de interesse)

terça-feira, maio 24

Exploring the Wonders of the Universe





The newly-installed Alpha Magnetic Spectomer-2 is visible at center of the International Station’s starboard truss. The Alpha Magnetic Spectometer. Or AMS, is the largest scientific collaboration to use the orbital laboratory. This investigation is sponsored by the U.S. Department of Energy and made possible by funding from 16 nations (incluindo Portugal). Led by Nobel Laureate Samuel Ting. More than 600 physicists from around the globe will be able to participate in the data generated from this particle physics detector. The mission of the AMS, in part , to seek answers and cosmic ray propagation in the universe.
(image credit NASA)

segunda-feira, maio 23

Estrangeiros

Vi hoje ou ontem na TV, um sujeito num comício do PS que, ao arengar às massas classificava Passos Coelho como “estrangeiro”. Não explicitamente, mas depreendendo–se ser ele o visado. Não sou advogado de defesa do político em questão, nem estou aqui a lutar pelo seu Partido. Estou indignado é com a classificação de estrangeiro que lhe foi atribuída, porquanto tenho 2 filhos nascidos em Angola, onde a minha mulher me acompanhou durante uma comissão militar, o que era raro, pois exigia coragem da sua parte, bem como o pagamento do seu bolso das respectivas passagens. Quer dizer que, para esse indivíduo eles também são estrangeiros. Estrangeiros eram os chineses e indianos, alguns que nem uma única palavra portuguesa sabiam, que levaram noutro comício, este em Évora. Também vi no mesmo programa da TV uma moçambicana que disse estar ilegal no nosso País e que também fora na onda. Iam para fazer número, na mira do passeio grátis e do saco de merenda dado a cada um. Duas senhoras de idade, vestidas de preto, quando entrevistadas disseram que a respectiva Junta de Freguesia pusera duas camionetas à disposição da população e uma delas, com ar feliz, acrescentou:
- “Tudo de graça!”
Assim se vai gastando o que temos e o que não temos, e que eu vou pagando.

sábado, maio 21

ENDEAVOUR at the International Space Station





Na sua última e definitiva missão.

ASSUSTADOR PORQUE CREDÍVEL


Dominique Strauss Kahn foi vítima de uma conspiração construída ao mais alto nível por se ter tornado uma ameaça crescente aos grandes grupos financeiros mundiais. As suas recentes declarações, como a necessidade de regular os mercados e as taxas de transacções financeiras, assim como uma distribuição mais equitativa da riqueza, assustaram os que manipulam, especulam e mandam na economia mundial.
Não vale a pena pronunciar-nos sobre a culpa ou inocência pelo crime sexual de que Dominique Strauss Kahn é acusado, os media já o lincharam. De qualquer maneira este caso criminal parece demasiado bem orquestrado para ser verdadeiro,as incongruências são muitas e é difícil acreditar nesta história.
O que interessa aqui salientar é: quem beneficia com a saída de cena de Strauss Kahn?
Convém lembrar que quando em 2007 ele foi designado para ser o patrão do FMI, foi eleito pelo grupo do clube Bilderberg, do qual faz parte. Na altura, ele não representava qualquer "perigo" para as elites económicas e financeiras mundiais com as quais partilhava as mesmas ideias. Em 2008, surge a crise financeira mundial e com ela, passados alguns meses, as vozes criticas quanto à culpa da banca mundial e ao papel permissivo e até colaborante (?) do governo norte-americano.
Pouco a pouco, o director do FMI começou a demarcar-se da política seguida pelos seus antecessores e do domínio que os Estados Unidos sempre tiveram no seio da organização.
Ainda no início deste mês, passou despercebido nos media o discurso de Dominique Strauss Kahn. Ele estava agora bem longe do que sempre foi a orientação do FMI. Progressivamente o FMI estava a abandonar parte das suas grandes linhas de orientação: o controlo dos capitais e a flexibilização do emprego. A liberalização das finanças, dos capitais e dos mercados era cada vez mais, aos olhos de Strauss Kahn, a responsável pela proliferação da crise "made in America". O patrão do FMI mostrava agora nos seus discursos uma via mais "suave" de "ajuda" financeira aos países que dela necessitavam, permitia um desemprego menor e um consumo sustentado, e que portanto não seria necessário recorrer às privatizações desenfreadas que só atrasavam a retoma económica. Claro que os banqueiros mundiais não viam com bons olhos esta mudança, achavam que estava tudo bem como sempre tinha estado, a saber: que a política seguida até então pelo FMI tinha tido os resultados esperados, isto é os lucros dos grandes grupos financeiros estavam garantidos. Esta reviravolta era bem-vinda para economistas progressistas como Joseph Stiglitz que num recente discurso no Brooklings Institution, poderá ter dado a sentença de morte ao elogiar o trabalho do seu amigo Dominique Strauss Kahn. Nessa reunião Strauss Kahn concluiu dizendo: "Afinal, o emprego e a justiça são as bases da estabilidade e da prosperidade económica, de uma política de estabilidade e da paz. Isto são as bases do mandato do FMI. Esta é a base do nosso programa".
Era impensável o poder financeiro mundial aceitar um tal discurso, o FMI não podia transformar-se numa organização distribuidora de riqueza. Dominique Strauss Kahn tinha-se tornado num problema. Recentemente tinha declarado: "Ainda só fizemos metade do caminho. temos que reforçar o controlo dos mercados pelos Estados, as políticas globais devem produzir uma melhor distribuição dos rendimentos, os bancos centrais devem limitar a expansão demasiado rápida dos créditos e dos preços imobiliários. Progressivamente deve existir um regresso dos mercados ao estado". A semana passada, Dominique Strauss Kahn, na George Washington University, foi mais longe nas suas declarações: "A mundialização conseguiu muitos resultados...mas ela também tem um lado sombrio: o fosso cavado entre os ricos e os pobres. Parece evidente que temos que criar uma nova forma de mundialização para impedir que a "mão invisível" dos mercados se torne num "punho invisível".

Dominique Strauss Kahn assinou aqui a sua sentença de morte, pisou a alinha vermelha, por isso foi armadilhado e esmagado.

Posted: 18 May 2011 10:57 AM PDT

Debates televisivos

Com excepção de Jerónimo de Sousa, um homem gentil mas pouco habituado a estas andanças, o candidato Sócrates levou “tareias, atrás de tareias”, mas ontem com Passos de Coelho e principalmente no âmbito da Economia, chegou a ser penoso de se ver.
Como é possível aceitarmos que “o grande defensor do Estado Social, foi precisamente o mesmo que o amputou e faliu?” E como é possível assacar aos outros a responsabilidade pela crise internacional teimar a persistir entre nós, sem quaisquer perspectivas de recuperação, pois o Governo, nos últimos 2 anos não conseguiu (soube) estancá-la?
Voltámos ao tempo do Chefe do Governo = Governo = Portugal? “Quem não é por nós é contra nós”. Parece que sim. Já comecei a olhar à minha volta para ver quem me está a ver, ou quem me está a escutar. Sócrates nada me diz sobre o “meu” PS.

sexta-feira, maio 20

Um não-país

“Há coisas que são de uma evidência escandalosa. Tenho vindo a enumerá-las e as circunstâncias impõem que continue a fazê-lo. O Partido Socialista, nestes anos do Governo, deu cabo do país. Arruinou-o e fê-lo resvalar para um estado de penúria e de impotência que não tem comparação nem paralelo com nenhuma das crises mais graves dos últimos dois séculos. Enfeudou-o sem alternativa a interesses estrangeiros. Desacreditou-o internacionalmente. Tornou-o inviável. Portugal não vale nada e passou a ser um país "abaixo de cão", ou, se se preferir, um não-país sem conserto. Um não-país que ficou na dependência absoluta dos seus credores. Um não-país que perdeu toda a autonomia política e económica. Um não-país cujos dirigentes socialistas perderam de todo o sentido da recuperação e da decência. Um não-país que nada pode oferecer à geração dos seus filhos e que já comprometeu todos os recursos que deveriam ser guardados para os seus netos.
Portugal é um não-país à imagem do Partido Socialista. O Partido Socialista tornou-se um partido sem dignidade e sem mérito, conduzido por gente sem mérito e sem dignidade. A única metáfora aplicável à situação (simples metáfora, sublinho, não vá algum dos idiotas úteis de serviço pôr-se a fazer interpretações literais) é a de que, nas próximas eleições, o Partido Socialista merece ser corrido a pontapé pelos portugueses. Num país de abjecta subsidio-dependência e de calaceiros profissionais, isto pode não passar de wishful thinking como, de resto, algumas sondagens parecem indiciar. Mas alimentar essa esperança é a única saída que resta a qualquer cidadão decente: constitui uma obrigação cívica contribuir para o afastamento radical de uma cambada. Essa gente delapidou de tudo o que podia configurar uma independência nacional e representar um património produtivo, dignificador e útil.
Vemos o Partido Socialista, impante, a encrespar-se e a mandar vir todos os dias, como se o desastre não fosse com ele e não tivesse absolutamente nada a ver com o estado em que Portugal se encontra. Sabe que não precisa de analisar a situação, nem de falar nas causas da desgraça, nem de fazer mea culpa e muito menos de assumir responsabilidades de qualquer espécie. "Lá vamos, cantando e rindo" podia ser o slogan insensato da sua campanha. Esta estranha inversão dos comportamentos e da realidade dos factos só é possível num país de lorpas, em que a aldrabice infrene se tornou um método de acção política e a irresponsabilidade governamental aspira a transformar-se em princípio constituinte. Se Portugal não fosse um país de lorpas contumazes, é de duvidar que Sócrates saísse ileso dos lugares em que se põe a arengar e a dizer o que diz.
O homem apresenta-se como a encarnação da excelência governativa, paradigma das políticas virtuosas, campeão irrepreensível e bem sucedido do desenvolvimento e do progresso, salvador destemido da pátria. Vê-se na televisão, ouve-se na rádio, lê-se nos jornais e não se acredita. Mas reconheçamos que em tudo isso há um mérito sinistro. A criatura sabe a quem se dirige e conta, mais uma vez, com a canalha analfabeta e irresponsável do costume para lhe dar um número expressivo de votos. Sabe que não precisará de cumprir nada daquilo que prometer, que terá depois a desculpa das imposições da troika e que a piolheira mais ignóbil provavelmente votará nele porque nunca deixará de esperar que haja sempre mais alguma coisinha a pingar do erário público. É neste contexto que os responsáveis pelo maior falhanço da nossa história desde a revolução liberal procuram fazer dos outros parvos para lançarem uma estratégia de "sucesso". Um novo sucesso de José Sócrates seria a última instância do trágico e a catástrofe sem remédio para Portugal. A troika fez um diagnóstico implacável e impôs todo um catálogo coerente de medidas correctivas. Mas, ante a repugnante bronquidão previsível no eleitorado deste não-país, o erro da troika foi um e só um: devia ter imposto a saída imediata de José Sócrates pela esquerda baixa.”

(por VASCO GRAÇA MOURA, hoje)

sábado, maio 7

Seres decentes



“Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si. O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber. Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira. O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.
As pessoas de bem, logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.
Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a. Mas pedi-la, não. Nunca!»

O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”.
Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta - acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”. O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.

Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.”

(Fernando Dacosta)

quinta-feira, maio 5

O "protectorado"

“Anda muita gente a protestar contra o facto de Portugal se ter tornado “um protectorado” por causa da crise da dívida. Quem manda no país, dizem, é agora a “troika” (Comissão Europeia, BCE e FMI), tirando significado à escolha eleitoral do próximo dia 5 de Junho. Tudo isto é verdade. Mas o normal num protectorado é encontrar-se nessa situação contra a sua vontade. Outro país, ou uma organização internacional, terá imposto a sua vontade, passando a dominar o “protegido”.
Ora nós somos hoje um protectorado porque deixámos chegar a nossa dívida externa a níveis insustentáveis. E a “troika” veio a Portugal porque nós pedimos para ela vir – caso contrário, não teríamos dinheiro para pagar o normal funcionamento do Estado e da economia.
É pena que muitos dos que hoje berram contra o “protectorado” não tenham reparado que o nosso país desde há uns quinze anos acumula dívida externa, ao ritmo anual de perto de 10% do PIB. Protestam contra o remédio amargo, quando deviam ter alertado para a doença. Agora é tarde para exibições patrióticas.”

(Francisco Sarsfield Cabral, in “Página1” de 04/05/2011)