Um não-país
“Há coisas que são de uma evidência escandalosa. Tenho vindo a enumerá-las e as circunstâncias impõem que continue a fazê-lo. O Partido Socialista, nestes anos do Governo, deu cabo do país. Arruinou-o e fê-lo resvalar para um estado de penúria e de impotência que não tem comparação nem paralelo com nenhuma das crises mais graves dos últimos dois séculos. Enfeudou-o sem alternativa a interesses estrangeiros. Desacreditou-o internacionalmente. Tornou-o inviável. Portugal não vale nada e passou a ser um país "abaixo de cão", ou, se se preferir, um não-país sem conserto. Um não-país que ficou na dependência absoluta dos seus credores. Um não-país que perdeu toda a autonomia política e económica. Um não-país cujos dirigentes socialistas perderam de todo o sentido da recuperação e da decência. Um não-país que nada pode oferecer à geração dos seus filhos e que já comprometeu todos os recursos que deveriam ser guardados para os seus netos.
Portugal é um não-país à imagem do Partido Socialista. O Partido Socialista tornou-se um partido sem dignidade e sem mérito, conduzido por gente sem mérito e sem dignidade. A única metáfora aplicável à situação (simples metáfora, sublinho, não vá algum dos idiotas úteis de serviço pôr-se a fazer interpretações literais) é a de que, nas próximas eleições, o Partido Socialista merece ser corrido a pontapé pelos portugueses. Num país de abjecta subsidio-dependência e de calaceiros profissionais, isto pode não passar de wishful thinking como, de resto, algumas sondagens parecem indiciar. Mas alimentar essa esperança é a única saída que resta a qualquer cidadão decente: constitui uma obrigação cívica contribuir para o afastamento radical de uma cambada. Essa gente delapidou de tudo o que podia configurar uma independência nacional e representar um património produtivo, dignificador e útil.
Vemos o Partido Socialista, impante, a encrespar-se e a mandar vir todos os dias, como se o desastre não fosse com ele e não tivesse absolutamente nada a ver com o estado em que Portugal se encontra. Sabe que não precisa de analisar a situação, nem de falar nas causas da desgraça, nem de fazer mea culpa e muito menos de assumir responsabilidades de qualquer espécie. "Lá vamos, cantando e rindo" podia ser o slogan insensato da sua campanha. Esta estranha inversão dos comportamentos e da realidade dos factos só é possível num país de lorpas, em que a aldrabice infrene se tornou um método de acção política e a irresponsabilidade governamental aspira a transformar-se em princípio constituinte. Se Portugal não fosse um país de lorpas contumazes, é de duvidar que Sócrates saísse ileso dos lugares em que se põe a arengar e a dizer o que diz.
O homem apresenta-se como a encarnação da excelência governativa, paradigma das políticas virtuosas, campeão irrepreensível e bem sucedido do desenvolvimento e do progresso, salvador destemido da pátria. Vê-se na televisão, ouve-se na rádio, lê-se nos jornais e não se acredita. Mas reconheçamos que em tudo isso há um mérito sinistro. A criatura sabe a quem se dirige e conta, mais uma vez, com a canalha analfabeta e irresponsável do costume para lhe dar um número expressivo de votos. Sabe que não precisará de cumprir nada daquilo que prometer, que terá depois a desculpa das imposições da troika e que a piolheira mais ignóbil provavelmente votará nele porque nunca deixará de esperar que haja sempre mais alguma coisinha a pingar do erário público. É neste contexto que os responsáveis pelo maior falhanço da nossa história desde a revolução liberal procuram fazer dos outros parvos para lançarem uma estratégia de "sucesso". Um novo sucesso de José Sócrates seria a última instância do trágico e a catástrofe sem remédio para Portugal. A troika fez um diagnóstico implacável e impôs todo um catálogo coerente de medidas correctivas. Mas, ante a repugnante bronquidão previsível no eleitorado deste não-país, o erro da troika foi um e só um: devia ter imposto a saída imediata de José Sócrates pela esquerda baixa.”
(por VASCO GRAÇA MOURA, hoje)
5 Comentários:
Quem assina este texto não pode falar muito. É muito prático encontrar um bode expiatório. A verdade infelizmente é que dessa delapidação são responsáveis a igual titulo PS e PSD. Acrescento ainda que a visão sobre o significado do que se passa e do estado do país demonstra muito pouca reflexão. É mais um amplificador ou um megafone do que alguém que pensa.
FV - 16 anos de "bode expiatório" levaram a isto...
Poderei ser "megafone", mas não sou estúpido. Não estou é para perder tempo com quem o não merece.
Peter - O Megafone não era para si obviamente mas sim para o autor do texto que se limita a repetir coisas que estão erradas e não contribuem em nada para que sejam resolvidos os problemas reais do país e que tem responsabilidade para fazer muito mais. Obviamente não é o seu caso até porque mesmo muitas vezes discordando do que escreve gosto da forma como reflecte nas coisas. As minhas desculpas pela confusão. Quanto ao resto nesses 16 anos como sabe tem pelo meio anos de PSD e mais a politica seguida foi iniciada pelo actual presidente da republica ... PSD também. Por isso Peter é que é bom que não nos concentremos em ver o mal todo numa pessoa e vejamos que na realidade a politica seguida não foi diferente daquela que foi inaugurada com a adesão à altura CEE ... Esse modelo de crescimento é que foi mal pensado e mal executado e é sobre isso que devemos reflectir porque é a terceira vez na história que cometemos esse mesmo erro mas sobretudo porque o grande problema da nossa economia não é como é claro a divida. O nosso problema é a ausência de perspectiva de crescimento, porque se houvesse essa perspectiva haveria capital para financiar a mesma divida. Cometemos esse erro todos não apenas os que nos governam embora esses tenham mais responsabilidade no cartório. Por isso é que claramente não vou votar nem num nem noutro. Num porque foi incompetente noutro porque não passo cheques em branco a um partido sem programa e com duas politicas profundamente contraditórias a degladiarem-se no seu interior. Mas não quero deixar de mais uma vez pedir desculpa pelo meu comentário anterior. Não era minha intenção insultá-lo, não está na minha forma de ser. As minhas desculpas.
Blue Gift
Julguei que me vinhas responder ao e-mail que te enviei sobre a impossibilidade de Sócrates parar com o TGV. Enganei-me, mas compreendo atendendo à tua situação.
FV
Não tem nada de me pedir desculpas. Irei votar, pois ainda tenho esse direito. Em qq Partido, branco, ou nulo. Tudo menos Sócrates.
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