segunda-feira, dezembro 20

Em defesa da qualidade do ensino

“O país, de norte a sul, nos grandes e pequenos centros urbanos, e também nas suas regiões mais deprimidas, está a provar a estupidez de certos complexos socialistas, que pretendem deter a verdade absoluta sobre o que deve ser o sistema público de educação.
O poder político de Lisboa está a tentar acabar com os chamados contratos de associação com as escolas do ensino particular e cooperativo. Dizem os iluminados que o Estado não pode mais pagar o ensino para ricos, quando tem uma oferta pública ao dispor.
Todos os dias, os meios de comunicação social estão a mostrar pobres, ricos e remediados a indignar--se com esta imposição que ameaça encerrar-lhes a escola que lhes está a dar uma educação de qualidade.
Os famosos rankings demonstram que, um pouco por todo o país, estes estabelecimentos têm melhores resultados do que as ditas escolas públicas vizinhas. É por isso que, na maior parte dos casos, são os próprios alunos que saem em defesa das suas escolas.
Coisa jamais vista nos estabelecimentos do Estado. Como sempre, a realidade impõe-se à ideologia. Esperemos que o Ministério da Educação e o Presidente da República não deixem que a demagogia fale mais alto do que o grito destas pessoas e persistam numa medida altamente prejudicial para a qualidade do ensino em Portugal.”

(Raquel Abecasis in “página1” de 20/12/2010)

quarta-feira, dezembro 8

Agora é que conta

“Chama-se "Agora é que conta", passa na TVI" e é apresentado por Fátima Lopes. O programa começa com dezenas de pessoas a agitar uns papéis. Os papéis são contas por pagar. Reparações em casa, prestações do carro, contas da electricidade ou de telefone. A maioria dos concorrentes parece ter muito pouca folga financeira. E a simpática Fátima, sempre pronta a ajudar em troca de umas figuras mais ou menos patéticas para o País poder acompanhar, presta-se a pagar duzentos ou trezentos euros de dívida. "Nos tempos que correm", como diz a apresentadora - e "os tempos que correm" quer sempre dizer crise - a coisa sabe bem. No entretenimento televisivo, o grotesco é quase sempre transvestido com boas intenções.
Os concorrentes prestam-se a dar comida à boca a familiares enquanto a cadeira onde estão sentados agita, rebolam no chão dentro de espumas enormes ou tentam apanhar bolas de ping-pong no ar. Apesar da indigência absoluta do programa, nada disto é novo. O que é realmente novo são as contas por pagar transformadas num concurso "divertido".
Ao ver aquela triste imagem e a forma como as televisões conseguem transformar a tristeza em entretenimento, não consigo deixar de sentir que esta é a "beleza" do Capitalismo: tudo se vende, até as pequenas desgraças quotidianas de quem não consegue comprar o que se vende.
Houve um tempo em que gente corajosa se juntava para lutar por uma vida melhor e combater quem os queria na miséria. E ainda há muitos que não desistiram. Mas a televisão conseguiu de uma forma extraordinariamente eficaz o que os séculos de repressão nem sonharam: pôr a maioria a entreter-se com a sua própria desgraça. E o canal ainda ganha uns cobres com isso. Diz-se que esta caixa mudou o Mundo. Sim: consegue pôr tudo a render. Até as consequências da maior crise em muitas décadas.
Entretanto a apresentadora recebe 40.000¤ por mês. Foi este o valor da transferência da SIC para a TVI. Uma proposta irrecusável segundo palavras da própria.
A pobre da Fátima Lopes só ganha 1290 euros por dia. Brincando com miséria dos outros, pobre povo português, sem alternativas, mas miseravelmente felizes.”

(autor desconhecido, circula por aí)