Agora é que conta
“Chama-se "Agora é que conta", passa na TVI" e é apresentado por Fátima Lopes. O programa começa com dezenas de pessoas a agitar uns papéis. Os papéis são contas por pagar. Reparações em casa, prestações do carro, contas da electricidade ou de telefone. A maioria dos concorrentes parece ter muito pouca folga financeira. E a simpática Fátima, sempre pronta a ajudar em troca de umas figuras mais ou menos patéticas para o País poder acompanhar, presta-se a pagar duzentos ou trezentos euros de dívida. "Nos tempos que correm", como diz a apresentadora - e "os tempos que correm" quer sempre dizer crise - a coisa sabe bem. No entretenimento televisivo, o grotesco é quase sempre transvestido com boas intenções.
Os concorrentes prestam-se a dar comida à boca a familiares enquanto a cadeira onde estão sentados agita, rebolam no chão dentro de espumas enormes ou tentam apanhar bolas de ping-pong no ar. Apesar da indigência absoluta do programa, nada disto é novo. O que é realmente novo são as contas por pagar transformadas num concurso "divertido".
Ao ver aquela triste imagem e a forma como as televisões conseguem transformar a tristeza em entretenimento, não consigo deixar de sentir que esta é a "beleza" do Capitalismo: tudo se vende, até as pequenas desgraças quotidianas de quem não consegue comprar o que se vende.
Houve um tempo em que gente corajosa se juntava para lutar por uma vida melhor e combater quem os queria na miséria. E ainda há muitos que não desistiram. Mas a televisão conseguiu de uma forma extraordinariamente eficaz o que os séculos de repressão nem sonharam: pôr a maioria a entreter-se com a sua própria desgraça. E o canal ainda ganha uns cobres com isso. Diz-se que esta caixa mudou o Mundo. Sim: consegue pôr tudo a render. Até as consequências da maior crise em muitas décadas.
Entretanto a apresentadora recebe 40.000¤ por mês. Foi este o valor da transferência da SIC para a TVI. Uma proposta irrecusável segundo palavras da própria.
A pobre da Fátima Lopes só ganha 1290 euros por dia. Brincando com miséria dos outros, pobre povo português, sem alternativas, mas miseravelmente felizes.”
(autor desconhecido, circula por aí)
5 Comentários:
Este comentário foi removido pelo autor.
Peter,
Bom regresso!
Também recebi e dei uma olhadela...
absolutamente miserável o espectáculo. A televisão no seu pior se ainda é possível.
E o que mais me choca não é a exploração mas o facto de termos pessoas que se prestam a "isto"
Quanto à Fátima Lopes... ela bem queria ser a Ophra!
Depois faz programas como este, anúncios publicitários que... enfim, só dá uma no cravo e outra na ferradura.
Oportunistas
Um abraço da Meg (myself)
abraços, meu caro!
o capitalismo no seu melhor...
e a oprah oferece carros
cada um com seu salário
faz a propaganda que quer
a publicidade compensa
e a publicidade paga
como já escrevi um dia, basta ter umas boas mamas, Peter..e tem-se um programa de televisão. Que interessa que seja uma besta hipócrita?!
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