O 1º ministro veio enfim referir-se à crise económica, ao afirmar que as famílias com poupanças podiam estar tranquilas.
Não sei se acredite nele pois já estou escaldado. Disse ainda que os bancos portugueses estão mais protegidos e eu começo a lembrar-me do BCP. Também já anteriormente dissera que nunca permitiria que se arriscasse o dinheiro dos portugueses em fundos de investimento não credíveis e eu começo a lembrar-me do dinheiro e não é pouco, do Fundo de Pensões aplicado nos referidos Fundos. Se são credíveis, ou não, é que não sei, mas nunca fiando.
Enviaram-me este texto que divulgo, pois talvez o mesmo elucide aqueles que, como eu, se debatem em receios e interrugações. Podem lê-lo ou ficar apenas pela introdução se, por acaso, já o receberam por e-mail, pois está a ter bastante saída:
“ - Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos.
- Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares.
- Aí, um banco perguntou para o Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia.
- Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.
- Com os 800.000 dólares. Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) para ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 63 polegadas, notebooks, cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito.
- A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.
- Em Agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo...
- As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez...
- O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro.
- Fácil...parecia fácil.
- Só que todo mundo teve a mesma ideia ao mesmo tempo.
- As taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Paul percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.
- Milhões tiveram a mesma ideia do Paul.
- Tinha casa para vender como nunca.
- Paul foi aguentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.
- Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela.
- Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as 3 casas, mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago.
- Paul se danou.
- Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa em que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento.
- Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.
- Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos, que não quiseram acordo.
- Paul entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido.
- Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir...
- Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis.
- Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis.
- Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face.
- Com a “inadimplência” dos Pauls esses títulos começaram a valer pó.
- Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.
- Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... preço que “despencou”.
- Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.
- Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura.
- A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares.
- A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.
- Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber.
- Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito.
- Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.
- O medo de perder o emprego fez a economia travar.
- Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.
- O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários.
- O FED também começou a injectar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez.
- O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo, porém essas acções levam meses para surtir efeitos práticos.
- Essas acções foram correctas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão...
- O FED trabalhava.
- O mercado ficava atento e as famílias esperançosas.
- Até que na semana passada o impensável aconteceu.
- O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, “correntistas” correndo para sacar suas economias, “boataria” geral, pânico.
- Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira última, quebrado, insolvente.
- No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse.
- Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por acção. Há um ano elas valiam 160 dólares.
- Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos.
- A bola da vez seria o Lehman Brothers, um “bancão”.
- O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira.
O que começou com o Paul hoje afecta o mundo inteiro.
A coisa pode estar apenas começando.
Só o tempo o dirá.
- No dia 15 de Setembro/2008, o Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de 500 (quinhentos ) pontos no Indice Dow Jones, que mede o valor ponderado das acções das 30 maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de New York - a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929 ...
Este dia certamente, será lembrado para sempre na historia do capitalismo.”
(O texto é brasileiro, rectifiquei a ortografia de algumas palavras, mas mantive outras. Foi-me enviado por e-mail.)
Em toda a cadeia que se criou, os executivos dos bancos e correctores de Wall Street obtiveram lucros fantásticos por muito tempo e as suas operações financeiras foram elogiadas por analistas económicos e empresas de classificação de riscos e tomaram-se como exemplos da pujança capitalista, modelo da livre iniciativa.
No dia em que o castelo de cartas caiu, nós simples mortais, que jamais participámos na farra, somos chamados para pagar a conta.