terça-feira, outubro 28

O Papa Bento XVI


Fui educado na religião católica e depois de um largo período, voltei a ela. Não sou nenhum fundamentalista, sigo a religião à minha maneira, pois acho que se trata de um assunto do meu foro íntimo. Aliás não podia ser de outro modo para quem, como eu, procura embrenhar-se nos mistérios do universo e nas origens da Criação e da vida, há mais de 20 anos. A Biblia não é quanto a mim para ser seguida à letra, aliás nunca a li porque não calhou, mas para ser interpretada à luz das últimas descobertas da Ciência.

Vem isto a propósito da próxima visita do Papa a Angola.
Não é Angola que está em causa. Adoro Angola, adoro o povo angolano, dois dos meus filhos gémeos são angolanos, nasceram lá porque eu quis, porque pedi à minha mulher que na altura se encontrava em Portugal, que regressasse, porque Angola iria tornar-se um grande país e os meus filhos teriam um brilhante futuro à sua frente. O que está em causa é o actual Governo de Angola, são as mãos manchadas de sangue (?) de José Eduardo dos Santos.

Não vou aprofundar os motivos que levam o actual Papa Bento XVI, anterior Cardeal Joseph Ratzinger, a não visitar Portugal, ou a pôr reticências acerca de Fátima, nem tenho complexos de colonialista relativamente à antiga Província ultramarina, eufemismo utilizado para não empregar a designação pejorativa de “colónia”. Por mim e no seguimento do que de início escrevi, é-me absolutamente indiferente que o Papa visite ou não Portugal, mas o mesmo não se aplica à maior parte dos portugueses habitantes de um Portugal “profundo”, que seguem fervorosamente a religião cristã. Para eles, não esqueçamos, a atitude do Papa é uma ofensa.

Uma “desculpa de mau pagador” foi a de que o Papa ia visitar a Angola do José Eduardo dos Santos, que não a minha, porque fora ele que acabara com a guerra fratricida em Angola.
Foi? Não foi ele que a iniciou?
Talvez fosse melhor o Papa retardar a sua visita.
Mas mais que saber os motivos que levam o Papa a visitar Angola, o que vejo com apreço é a nova vida que já tantos dos meus compatriotas ali levam, ali encontraram, emigrando de uma Pátria que pouco ou nada fez por eles. Para esses, para os católicos, para grande parte da população angolana, quer queiramos, quer não, o Papa será bem-vindo.

12 Comentários:

Às 28 outubro, 2008 01:19 , Blogger joshua disse...

Partilho os teus pontos de vista e os teus questionamentos. Parece que Angola volta a sorrir um pouco mais e melhor a muitos portugueses e angolanos. Gosto de sentir que ali há esperança e uma promessa de desenvolvimento real. Enquanto por aqui a esperança definha, ainda bem que lá se levanta.

O Papa é um intelectual brilhante com uma estratégia de sensibilização do povo cristão medíocre.

Irei ler os seus livros e outros textos com prazer. Deplorarei a aridez afectiva que passa, coitado, quer queira quer não, em especial para os católicos locais e especiais devotos da mensagem Fátima e do seu cerne que afinal nos vai medulando e modulando.

Pelo menos para mim, Fátima tem uma luz e uma intensidade que só eu sei. Somos, uma vez mais, semelhantes, Peter, no plano do amor à Ciência e à Sapiência e Sabedoria: gosto devotadamente de Astronomia e olho para o Cosmos como o 6.º Evangelho, depois dos quatro e depois do 5.º, que para mim é indiscutivelmente, à luz da ciência recta e sem preconceitos, o Santo Sudário.

Abraço
joshua

 
Às 28 outubro, 2008 01:51 , Blogger Peter disse...

A demora no reconhecimento de Angola pelo Governo português da época, motivada muito provavelmente pelos acontecimentos ali vividos em especial em Luanda (ler "O último ano em Luanda") teriam levado a essa decisão e a um esfriamento das relações entre os dois governos, que nós inteligentemente ultrapassámos.

Não concordo com a segunda parte desta afirmação:

"O Papa é um intelectual brilhante com uma estratégia de sensibilização do povo cristão medíocre."

mas também não tenho bases para concordar ou não concordar. Terei que ler algo escrito por ele. Tenho tenção do fazer mas, de momento, tenho outras prioridades.

Conheço Fátima, Assis e Lourdes. Já estive várias vezes em cada um desses locais e apenas Assis tem para mim algo que não é deste mundo. Vou a Fátima com respeito mas procuro não me questionar. Lourdes é puro comércio.

O Cosmos é a minha Bíblia.

Abraço,
Peter

 
Às 28 outubro, 2008 08:49 , Anonymous Anónimo disse...

O Papa, na minha óptica, pode visitar quem quiser, quando quiser e onde lhe apetecer.
Aí estou como o Peter escreve.

Podia, contudo, mostrar mais algum respeito pelos portugueses católicos (eu não sou) e por uma Nação que sempre foi uma aliada e um sustentáculo da Santa Sé em vários momentos da História.
Não penso que aqui Bento XVI seja particularmente clarividente ou sequer brilhante.

O mesmo se diga quanto à sua forma de fazer chegar a sua mensagem aos fiéis.

Quanto ao argumento usado, eu sempre pensei que a guerra em Angola acabou quando os EUA, conjuntamente com a Mossad, e mais um ou outro interesse obscuro, deixaram cair Jonas Savimbi.
Aliás, fosse José Eduardo dos Santos o homem de paz que quer fazer parecer e não tinha permitido aquela exibição grotesca do corpo de um adversário, nem manteria em clima de guerra e repressão Cabinda!

José Eduardo dos Santos e o seu círculo mais chegado são um bando de facínoras, ladrões e assassinos e é com eles que bento XVI se vai encontrar!

 
Às 28 outubro, 2008 09:11 , Blogger Tiago R Cardoso disse...

Não aprecio o actual Papa, tem uma imagem muito afastada, passa a ideia de não contactar directamente com o povo.

Penso que em parte se deve á comparação com o anterior.

 
Às 28 outubro, 2008 10:10 , Blogger Peter disse...

ferreira-pinto

Pões "os pontos nos is" com uma crueza que o estado actual das coisas já nos leva a temer e a rodear-nos de cuidados. Haja em vista o que “parece” ter-se passado com o blog “o jumento” (consta dos n/links):
“A Polícia Judiciária pediu ao gabinete nacional da Interpol que tentasse saber junto da sua congénere nos Estados Unidos da América (EUA) quem é, ou quem são, os autores do Jumento, um blogue que se dedica essencialmente a relatar alegados acontecimentos ocorridos no interior da Direcção-Geral dos Impostos (DGCI).”
No que respeita ao Governo de Angola e tendo em vista que há que acautelar os interesses portugueses e o da significativa colónia que já lá trabalha, não se pode deixar de pensar que o mesmo não é composto por “meninos do coro”…

 
Às 28 outubro, 2008 10:14 , Blogger Peter disse...

Tiago

Tenho idêntica impressão sobre ele e por isso discordei com o que escreveu "joshua".
"O Papa é um intelectual brilhante com uma estratégia de sensibilização do povo cristão medíocre."
Não há dúvida que é um intelectual brilhante, mas não sensibiliza o "povo cristão medíocre".

 
Às 28 outubro, 2008 10:19 , Blogger Peter disse...

Tiago

Estava a ler mal a frase do "joshua".
A estratégia do Papa para "sensibilizar o povo cristão" é que é "medíocre".

 
Às 28 outubro, 2008 10:21 , Blogger Peter disse...

joshua

Estava a ler mal a frase, a estratégia do Papa para "sensibilizar o povo cristão" é que é "medíocre".

 
Às 28 outubro, 2008 12:39 , Blogger Manuel Veiga disse...

graças a Deus que sou ateu!... rss

 
Às 28 outubro, 2008 13:55 , Blogger joshua disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 28 outubro, 2008 15:49 , Blogger Joaquim Alves disse...

Pela minha vivência da fé, e pela minha comunhão com a Igreja, considero este Papa, tal como os outros anteriores o homem certo para o lugar.
Este Papa chama a atenção para a formação que os cristãos católicos devem ter, devem perseguir e que infelizmente é tão fraca na maioria esmagadora deles, a começar por mim.
Depois de João Paulo II, homem afável, empático mas que muitas vezes sem se perceber era irredutivel, vem um Papa alemão com uma imagem dificil, uma postura dificil.
Curiosamente ao que sabemos fez este Papa mais pelo ecumenismo que os outros, quando nos pareceria que tal não seria possivel.
A visita a Angola será com certeza não pelo José Eduardo, mas sim por ser um dos paises mais católicos de África, um país ainda em convulsão, um país em mudança.
Neste país a Igreja Católica tem tido uma intervenção muita atenta e feito um trabalho muito meritório na ajuda dos que mais precisam.
Julgo ser essa a verdadeira razão para a visita do Papa a Angola.
Fátima foi visitada duas vezes por João Paulo II e uma por Paulo VI.
Acredito que quando for o tempo Bento XVI cá virá.
Gostaria que o fizesse, mas parece-me bem mais importante que leve a Palavra, o testemunho a outros cantos do mundo.
Abraço amigo.

 
Às 28 outubro, 2008 18:04 , Blogger Peter disse...

lusitano

Destaco o que me fez concordar, em parte, consigo:

"A visita a Angola será com certeza não pelo José Eduardo, mas sim por ser um dos paises mais católicos de África, um país ainda em convulsão, um país em mudança.
Neste país a Igreja Católica tem tido uma intervenção muita atenta e feito um trabalho muito meritório na ajuda dos que mais precisam.
Julgo ser essa a verdadeira razão para a visita do Papa a Angola."

Compreendo a visita, mas esta será sempre um trunfo nas mãos de um Governo que muito pouco tem feito pela população e cujo retrato, esboçado pelo Ferreira Pinto, não se afasta da realidade.

 

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