sexta-feira, outubro 3

Crises













Desde há dias que alguns acontecimentos me dançam na cabeça.
É claro que a crise económica é um deles.
Mas também a história do leite contaminado na China e a questão da lei do divórcio.

Aparentemente nenhum deles está interligado. Mas eu, como costumo encontrar conexões entre acontecimentos, lá vi um fio condutor que une todas estas matérias e eventualmente outras.

Onde está essa conexão?
Em nós. Pois, em nós, as pessoas.
Por um qualquer motivo, creio que todos somos muito parecidos, apesar das diferenças e individualidade que contemos.

Por isso, qualquer destes eventos, uns mais assustadores que outros, poderiam facilmente ser resolvidos se o objecto da sua solução fosse a felicidade das pessoas.
O que se passa – verdade de La Palisse – é que as motivações que produzem as apressadas e pouco acauteladas soluções destas crises, nada têm a ver comigo, nem contigo. São apenas mais um modo de contaminar uma vez mais o nosso já precário sossego.


Vejamos:
A lei do divórcio é discutida em termos absolutamente teóricos e de ordem jurídica. Mesmo quando os “afectos” são referidos, servem, apenas, para consolidar um parecer retórico de ordem legal.
A constituição de uma culpa individual é tão idiota como a atribuição, por defeito, dos filhos às mães aquando de um divórcio. Os pais têm sempre que provar que estão em melhores condições para assumir a paternidade das crianças.
Assim, a discussão em torno da tal nova lei, é quase vazia de legitimidade, porquanto não passa de mais uma guerra política e, mais grave, partidária.
Ode estão as pessoas nesta discussão? Algures…

Com o leite contaminado, quase que me apetece citar o comentário daquela mãe que desesperada dizia: “já nem sabemos o que podemos comer”.
Estamos a falar de um país onde as pessoas apenas parecem ser um número indeterminado, sem muitos direitos (ou quase nenhuns). Um país que escondeu resultados desta crise antes e durante os Jogos. Um país que ainda dá a maior visibilidade ao seu ícone maior, que é o Mão, qual Big Brother vigilante. Um país que consegue exportar os seus produtos aos melhores preços, porque paga mal a quem os fabrica.
Ou seja, as pessoas são relegadas para um plano mais que secundário.

Por último a maior crise económica desde 1929, segundo creio.
Quem a iniciou, porque a iniciou? Quem tem a perder e quem vai ganhar com ela?
Nem vale a pena responder. Todos sabemos o resultado do concurso.
A verdade é que não conheço (e posso estar mal informado, admito) nenhuma resolução de nenhum congresso que procure resolver de imediato os problemas das pessoas.
Ou seja, vamos injectar milhares de milhões em bancos que geriram mal as suas expectativas de lucro para tentarmos que a economia de mercado, como a conhecemos, não desabe de vez.
O petróleo comanda as operações, o endividamento é o álibi. Do armamento e outros que tais nem se fala.
A verdade é que as pessoas, nós, iremos ficar ou sem casa ou sem comer, ou ambos.
Enquanto isso, ainda não proibiram a publicidade aos empréstimos fantásticos que nos permitem aquelas férias, o tal carro, a maravilhosa vivenda.

A visão que me ocorre é a dos filmes futuristas. Mas para pior.
Afinal a realidade suplanta largamente a ficção.
É a realidade, não é?

5 Comentários:

Às 03 outubro, 2008 15:20 , Blogger Peter disse...

Tens razão:

"O que se passa – verdade de La Palisse – é que as motivações que produzem as apressadas e pouco acauteladas soluções destas crises, nada têm a ver comigo, nem contigo. São apenas mais um modo de contaminar uma vez mais o nosso já precário sossego."

E a leitura do artigo "O seu dinheiro está deguro no banco?", publicado na VISÃO de hoje, uma série de perguntas com as correspondentes respostas, não me deixou mais sossegado.

O que querem? Deixei de acreditar no que diz o nosso Primeiro.

Quando começa a corrida?
Já começou?
Chego sempre atrasado ...

 
Às 03 outubro, 2008 22:25 , Blogger C Valente disse...

bfs com saudações amigas

 
Às 05 outubro, 2008 09:56 , Blogger tagarelas disse...

Meu caro e' isso mesmo.
A realidade suplanta largamente a ficcao.
Por quanto mais tempo vamos ter um "Mundo" como o que hoje comhecemos? Nao muito tempo, pois nao?

 
Às 05 outubro, 2008 14:53 , Blogger Papoila disse...

Esta é a realidade. Pelo campo fala-se de crise também.
Beijos

 
Às 05 outubro, 2008 21:19 , Blogger Manuel Veiga disse...

o cidadão como principio e fim da política, diziam os romanos...

abraços

 

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