O enfarte
Começou a sentir-se mal, já conhecia os sintomas pois já passara por essa provação. Apressada e imprudentemente meteu-se no carro e conduziu até ao Centro de Saúde, onde era habitual paciente. A sua gordura e o seu coração tinham-no levado à reforma apenas com 44 anos, reforma que não dava para viver. Praticamente tudo era para a farmácia que ia aumentando as instalações à sua custa e de outros/as como ele. Se não fossem os desgraçados dos pais a ajudá-lo…
A médica não se dignou olhar para ele. Não sabia para onde ela estava a olhar, mas não olhou para ele, nem sequer o mandou sentar, mas ele sentou-se. A enfermeira, que já o conhecia, estava a falar sobre ele à médica que continuava com o olhar vago e distante.
- Sr Joaquim (vá lá, tratou-me pelo nome…) nós aqui não temos médico da especialidade. Como é que o senhor veio?
- Vim no meu carro.
- Então pode ir nele para o hospital de Santarém para ser medicado.
Dito isto virou-lhe as costas e enfiou pelo corredor.
Dirigiu-se para o carro com dificuldade.
- Vamos ver se chego lá vivo, ia remoendo.
A enfermeira deu-lhe umas palmadinhas nas costas e acompanhou-o até à porta. A sua idade e o traquejo no trato de doentes dava-lhe a humanidade que a médica novata não tinha.
Chegou ao hospital à justa, mesmo a tempo de lhe acudirem ao enfarte anunciado.
Chegou ao hospital à justa, mesmo a tempo de lhe acudirem ao enfarte anunciado.
E se o curso de medicina tivesse uma Cadeira de Relações Humanas?
Ou se em vez dos 19 e tal para entrar na FacMedicina, fosse obrigatória a aprovação numa Disciplina com esse nome, dada no 12ºano?
13 Comentários:
Vi a reportagem do Sr Joaquim na TV e fiquei mais uma vez indignada como comportamento da médica e dos auxiliares de saúde no Centro Médico.
Como sabes a minha situação é complicada e volta e meia recorro ás urgências dos Hospitais.
O ano passado apanhei uma médica na triagem em S. José que não sabia o que era uma "ileostomia".
O bombeiro que me levou até estava indignado e disse-me em voz alta:
- você está bem entregue! A médica não sabia o que era uma ileostomia. Tive que lhe dizer que a Srª não tem intestino e usa um saquinho (ahhhhh disse ela)
Fiz um post na altura a contar esta situação revoltante.
grilinha
Tenho de me penitenciar pela ausência, que irei corrigir.
O conto, que é um caso da vida real, é romanciado e o senhor não se chamava Joaquim. Penso que a alguns médicos falta humanidade e talvez uma Cadeira de relações humanas não fosse descabida.
Do fundo do coração, antiga companheira dos fóruns do SAPO, desejo sinceramente as melhoras na companhia de todos os teus.
P.S. - Vou providenciar para que o teu blog conste dos n/links
Oie lindo! Não entendo, como mandou o senhor ir para outro hospital, dirigindo o carro nesse estado... Como acreditar em profissionais que cuidam da nossa saúde?
Bom fim de semana! Beijos
Tens razão "olhos de mel", mas embora romanciado, aconteceu mesmo.
Não basta saber medicina para tratar de doentes, é preciso também ser humana.
Eu concordo com a revolta perante o tratamento médico desumanizado; mas censuro aqueles utentes dos cuidados de saúde que parecem esquecer-se que todos morrem, e às vezes até se julgam credores de viver eternamente!
histórias da vida real..
excelente sugestão.
abraços
bem visto, no entanto a culpa também é do sistema, um sistema que não penaliza os bons nem os maus.
Mas de facto quem quer ser médico tem de ter todas as capacidades, incluindo as morais, já que alguns só lá estão pelo dinheiro.
Triste, não é???
Contudo, acho que não é só a nivel de médicos; há muita gente que precisa de ter cursos de relações humanas...
Obrigada pela visita...
Beijos e abraços
Marta
vbm
Oh Vasco, essa de viverem eternamente, só para os políticos comunistas: Fidel de Castro, Kin il Sung (não sei se é assim que se escreve).
Amigo Tiago, as Ordens são muito poderosas! Os médicos, quando atacados, protegem-se uns aos outros.
Se isto não passasse de ficção, mas os factos são deprimentes: a humanidade das palavras e da solicitude ausenta-se e, com a rotina, acende-se uma frieza mortífera!
joshua
O facto em si é real. O doente, que não se chamava Joaquim, foi mandado no seu automóvel para Santarém.O contexto é fictício.
Grave, sem dúvida, Peter. Quanto a ti, espero que tudo vá pelo melhor em saúde e serenidade [Tendo em conta o que me relataste de ti na outra posta].
Abraço.
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