domingo, julho 31

Corpo de Borboleta


Imagem - recebida por mail, desconheço o autor



No início era apenas um corpo.
Uma lagarta recolhida na sua crisálida, escondida do negro espelhado da noite.
Alheia ao sol do dia mais claro. Enrolada, ali permanecia enquanto o tempo por ela passava.
Dias que se faziam noite e noites que se faziam dia.
Pelas frestas da seda envolta em si mesma, espreitava as luzes e cores de que o mundo é feito.
Via rostos alegres de felicidade esculpidos. Observava a tristeza de faces mergulhadas em cores de dor e mágoa.
Meneava-se no seu leito de espera e não entendia a razão de estar confinada naquelas paredes de seda tecidas.
Sentia-se só. Sabendo que não o estava.
Revolveu entranhas e viu que ele sempre esteve consigo.
Faria sentido que agora o seu interior tão interior que não consegue saber se existe, fosse revelado ao mundo.
Estende dedos de solidão encarquilhados. Rasga o novelo do embrião em que existe.
Respira e sente a frescura de uma nova vida.
Na escuridão do seu conhecimento ofuscada pela luz exterior do casulo, ela tenta libertar-se pela galáxia.
Não quer ficar mais tempo naquela prisão de enganos.
Sente que um dedo lhe toca.
E outro.
Uma mão.
Cálida, meiga, serena.
Descerra a cortina que lhe encerra os olhos e sente o vento que lhe semeia um sorriso na face.
Agarra aqueles dedos como se deles dependesse o nascimento do seu novo eu. Um ser renascido.
Sai do casulo feito de seda que a protegia. Envolvia.
Ou simplesmente a aprisionava.
Já não está só.
Transforma-se na mais bela magia de cores, saída da cartola daquele mágico.
O seu mágico.
Aquele que a trouxe de regresso à vida.
Pintam-se estrelas de todas as cores pelos Céus.
De entre as asas multicolores dela, vislumbram-se dois corpos unidos pelo encontro e reencontro de corações que se havia antes desencontrado. Descobrem-se e redescobrem-se.
Cristalizam-se em estrelas que rodeiam a mais iluminada Lua.
Ela deixou de se sentir só. Ganhou vida e asas para poder voar livremente de coração preso ao dele.
Ele viu o sorriso que havia perdido ser-lhe devolvido.
Ela regressou.
Basta-lhe.

Anjo do Sol

sábado, julho 30

Hum...numa tarde de verão....

sexta-feira, julho 29

Na morte

A tangencia da sombra em mim e rasares etéreos quais asas de anjo impalpáveis, como se de substrato se tratasse a conduzir à falência do sonho.
Do pesadelo constante, a dor que macera a alma.

[Onde deixaste os teus voos rasantes e toques suaves?]

Tudo apagado nas realidades irreais. Nem o aroma a raiar essência ficou. Nada. Do corpo guardo memórias de noites translúcidas, salpicadas de vitrais multicolores e lençóis desalinhados.

O quase tocar-te não passa de alucinação. Ficaste algures em terras templárias onde nem sequer ouso voltar.
Restam-me cabelos soltos/azeviches. E olhos amendoados. Talvez sabores salgados de beijos e lágrimas. Talvez!

Talvez corpos quentes e delirantes, frenéticos.

Sei da impossibilidade de repetições irrepetíveis.
Sei.

[Querer-me-ias de novo?]

C. já nem memórias sou capaz de guardar. Queimam. Chamuscam peles e almas.

[Quase inaudível o som longínquo da voz. Absurdo.]


Viver é carregar um amor impossível?

Quando os dedos fervilham de letras, quereria que elas percorressem distâncias [mesmo sabendo que não existem distâncias] te tocassem corpo, percorressem lábios, e lábios devorassem lábios.

Talvez na morte.
Apenas na morte.

quinta-feira, julho 28

Visão deslumbrante.

Volto qualquer dia



mas o blog continua.

quarta-feira, julho 27

Fraude nos telefones

Cuidado!

Ligam para a sua casa, empresa, ou até telemóvel, dizendo que é do Departamento Técnico da empresa servidora e perguntam se o seu telefone dispõe do Serviço de Discagem por "Tom".
Com a desculpa que necessitam testar, pedem-lhe para discar " 90# ".
Uma vez executada esta operação, informam-no de que não há nenhum problema com o seu telefone, agradecem a colaboração e desligam.
Quando terminou o procedimento acima, você colocou a sua linha telefónica como receptora de quem lhe telefonou. Isto chama-se "CLONAGEM", ou seja uma cópia fiel, neste caso DA SUA LINHA TELEFÓNICA.
Daí em diante, todas as ligações feitas por aquela pessoa que lhe telefonou inicialmente, serão DEBITADAS NA SUA CONTA DE TELEFONE.

OBS.: ISTO ESTÁ OCORRENDO NOS TELEFONES FIXOS E NOS TELEMÓVEIS.

ATENÇÃO!

Jamais digite 90 # no seu telefone.

PASSE PARA TODOS QUE VOCÊ CONHECE! Até ao momento as companhias telefónicas NÃO SABEM como parar, detectar ou evitar esta fraude.

Budapeste - Praça dos heróis



Peter e os 7 chefes guerreiros, conquistadores do território da actual Hungria.

Nas ervas

Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura,
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso,
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão,

porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve,

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

(Eugénio de Andrade)


ESTOU FARTO DE POLÍTICOS!

Agosto

Em Agosto o País fecha. Os sindicalistas profissionais não sindicalizam, os grevistas estão de férias e os políticos aproveitam este estado de sonolência para nos continuarem a enfiar barretes.
Os gravíssimos problemas com que nos debatemos no dia a dia, são varridos para debaixo do tapete, até Setembro/Outubro e surgem as Presidenciais que ainda estão tão distantes que, quando lá chegarmos, possivelmente nem sequer haverá dinheiro para as realizar.
E o que têm de novo para nos oferecer? Nada!
Um Mário Soares a andar de elefante, ou montado numa tartaruga, cheio de genica, de iniciativas e de ideias novas, "compatíveis" com os seus 80 anos?
Um Cavaco a quem culpabilizam (com razão, ou sem ela, não sei, não sou eu que o digo) da situação económica a que o País chegou?
O resto não conta, acabará por se aliar ou a um ou ao outro lado, na 2ª volta.
Não há mais ninguém?
Claro que há, mas não estão para chatices. Presidente da República? Para perderem todas as mordomias que auferem nos seus cargos de direcção em empresas particulares e estatais: Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos ... Sim, esses que nos vêm pedir sacrifícios. Porque não dão eles o exemplo? Se o fizessem teriam autoridade moral para os pedirem a nós.

Aqui há tempo, uma senhora entrevistada na TV, comparou o País ao Titanic, que se afundava enquanto a orquestra continuava a tocar.

Claro que antes das presidenciais temos as autárquicas. É necessário dinheiro para a propaganda partidária. Está visto, qualquer pessoa que pense um pouco sabe muito bem que o dinheiro atribuído pelo Estado não cobre as despesas. Portanto há que cativar o betão armado. Daí o megalómano, perfeitamente dispensável e ruinoso TGV. Quem vai andar nele?

E o Aeroporto da Ota? Porque não o constroem em Freixo de Espada à Cinta ( sem ofensa para este burgo) ?

Elefantes brancos? É o país deles:

O Centro Cultural de Belém.
A dispendiosíssima Casa da Música, de que ninguém fala.
Estádios de futebol com enormes encargos de manutenção e que, devido à falta de água, nem sequer dão para pôr lá rebanhos a pastar.

Edifícios de apartamentos não geram riqueza. Portugal é um país que tem sempre brilhante participação nos Salões Internacionais de Inventores. Porque não aproveitam e investem nesses dispositivos (estão sempre lá outros países para os copiarem ...) ?
Porquê? Porque é muito mais seguro, no estado actual da economia mundial, ter o seu dinheirinho em depósitos off-shore.

terça-feira, julho 26

LUMINESCÊNCIAS OU PEQUENOS RASGOS DE LUCIDEZ

[O tornear-te nas ausências adivinhando nas luminescências das noites intranquilas, sonhando-te, sonhando-te, sabendo cada pedaço desse corpo de entregas e o queimar fragmentos dispersos que se vão reunindo num único ponto de luz em milhões de estilhaços rasgando o negro das insónia, faz-me saber-me (te)]
Duas tremendas névoas tocam o horizonte virtual porque nada começa ou acaba naquela linha imaginária. Disformes vão percorrendo o espaço em paralelismos bizarros deixando rastos de cinza-carregado traçando pequenos rastos. Talvez divise uma ave no final do firmamento ou quiçá sejam apenas reminiscências de algum passado distante que não lembro no consciente e se manifestam dessa estranha forma no chamado consciente. [Não há consciente] no que sou obrigado a dar-te razão porque tudo se passa ao nível dos sentidos que não conhecem razões. A razão é a negação dela mesma. Mero conceito anacrónico.
[Menti-te. Faz hoje anos] a voz travessa, coquete, sensual, bela a sugerir corpos tocados trocados partilhados estilhaçados de encontro ao outro.
Fere a luz solar. Forte, de uma intensidade que dói vai todavia fazendo o seu laborioso trabalho de dar a vida. [Oremos ao Sol. Um dia tornar-me-ei guardião de uma qualquer Pirâmide e prestarei culto inequívoco ao Deus que tudo ilumina e permite vida]
Se os poetas cantam as noites boémias passadas entre copos, estrelas, luares fosforescentes e corpos de musas, terão ainda de aprender a cantar o Sol.
No reino da utopia:
Milhões de figuras esparsas e desfiguradas percorrem caminhos cruzados que todavia vão dar ao mesmo ponto cardeal. O caos como exemplo máximo da perfeição. De lá – desse mundo da utopia – sabe-se não haverem governantes, nem soldados, armas, religiões que apenas dividem o seres humanos em credos estapafúrdios e viciosos. A maldade foi abolida. Todos aqueles rostos afogueados que percorrem aqueles caminhos cruzados têm ar de felicidade. Impera a Paz.Quem sabe um dia seja assim. [Quero que seja] ao que te vou dizendo: - Será se o desejarmos.
[O tornear-te nas ausências adivinhando nas luminescências das noites intranquilas, sonhando-te, sonhando-te, sabendo cada pedaço desse corpo de entregas e o queimar fragmentos dispersos que se vão reunindo num único ponto de luz em milhões de estilhaços rasgando o negro das insónias, faz-me saber-me (te)]
O tremendo ruído passa que nem seta sob a forma de um automóvel aparentemente desgovernado e sem tripulante a bordo. Embate com estrondo num outro que circulava lentamente. Dentro vidas ceifadas pela loucura.
No reino da utopia:
Milhões de figuras esparsas e desfiguradas percorrem caminhos cruzados que todavia vão dar ao mesmo ponto cardeal. O caos como exemplo máximo da perfeição. De lá – desse mundo da utopia – sabe-se não haverem governantes, nem soldados, armas, religiões que apenas dividem o seres humanos em credos estapafúrdios e viciosos. A maldade foi abolida. Todos aqueles rostos afogueados que percorrem aqueles caminhos cruzados têm ar de felicidade. Impera a Paz.Quem sabe um dia seja assim. [Quero que seja] ao que te vou dizendo: - Será se o desejarmos.
Cinco palavras. Apenas cinco e soubeste-me…

Sem título...(Clicar na imagem para aumentar)

Ana Hatherly – “A Idade da Escrita”

“Numa tradição que remonta a Demócrito, a inspiração poética é atribuída a um sopro divino que os deuses emitem e que o poeta recebe, habitado pelos deuses. A palavra poética reveste-se aqui de uma imaterialidade a que o poeta não sabe, nem pode, resistir.”

Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado

Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde

Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado

(“A Idade da Escrita” – Ana Hatherly – Lisboa, Edições Tema, 1998)


Estou a tentar cultivar-me …

Não percebo

Não percebo, mas louvo a atitude dos repórteres televisivos nas suas tentativas infrutíferas de entrevistarem o senhor Primeiro Ministro.
Já tinham visto nas campanhas eleitorais que ele é o "homem do dia seguinte".

Do mal o menos …

Um tipo que trabalha numa empresa. Agarra no telefone e diz:

"PAULINHA!, MEXE O CU E TRÁS-ME UM CAFÉ COM DOIS PASTEIS DE NATA.
ANDA LINDONA! JÁ!!!!"

Do outro lado da linha telefónica ouve-se uma voz de macho que responde:

"OH FILHO DA PUTA! ENGANASTE-TE NA EXTENSÃO!
SABES COM QUEM ESTÁS A FALAR???!!!
ESTÁS A FALAR COM O DIRECTOR GERAL MEU IMBECIL!!"

O outro, sem se atrapalhar, responde:

"E TU Ó MEU MERDAS, GRANDE CABRÂO!!! SABES COM QUEM ESTÁS A FALAR?"

O director geral, cauteloso, responde:

"NÃO, POR ACASO NÃO!!"

O empregado pousa o auscultador e diz:

"Uff, ao menos isso!"

A "cara-metade"



devidamente precavida com o "armamento" adequado a cada "falta" ...

segunda-feira, julho 25

Fazer o bem... ou não

Ontem, em conversa com uns amigos, sentados na esplanada, falavamos sobre as pessoas fazerem o bem.
A conversa surgiu a propósito (e já vão entender que, realmente, a conversa é como as cerejas) de treino de cães, tendo passado a seguir para o exemplo daquelas séries com cães treinados, tipo Rex e Max e, finalmente, para o facto de os animais fazerem o bem, desinteressadamente ao contrário de grande parte dos seres humanos. Mesmo sabendo que, nos casos que referi, falamos de simples filmes, o certo é que existem exemplos de animais que são verdadeiros heróis, mas desses não vemos nas TV's todos os dias. E o que querem eles em troca? Nada. Porque nada pedem como moeda de troca. Aquilo que querem é o que sempre querem, com ou sem actos de heroísmo: atenção, cuidado e carinho.

Mas, e o ser humano? Quantas vezes já disseram as famosas palavras: "esqueces do que eu te fiz", "fiz-te tanto bem e agora dizes isso ou aquilo"?
E quantas vezes já as ouviram?
E de que forma estará relacionado com o facto de haver quem goste tanto e necessite que lhes agradeça infinitamente, mesmo quando pouco ou nada fizeram, apenas para os contentar?

Afinal, faz-se o bem pelo prazer de o fazer, ou para que se lhes agradeça? E se um simples obrigada, em privado não lhes chega, então fizeram o bem porque o quiseram ou porque quiseram demonstrar publicamente que têm actos (ou não, porque muitas vezes é mesmo muita parra para pouca uva) de pessoas boas?

E porque os cãezinhos ou outros animais com actos de heroísmo, não exigem também que os humanos lhes sejam gratos infinitamente?

Talvez porque não necessitem disso para viver. Talvez porque a simplicidade da sua vida é precisamente nua da mesquinhez humana.
Talvez porque eles estejam certos e os humanos errados.

Da experiência EPR aos computadores quânticos.

Como sou pessoa de inteligência limitada, que não compreende as “nuances” da linguagem poética, venho hoje falar-vos de uma experiência científica, que sempre me intrigou e que, com muito maior razão, foge à minha compreensão.

Em 1935, Albert Einstein, Nathan Rosen e Boris Podolsky, levaram a cabo uma experiência, que ficou conhecida como “experiência EPR”.
Consideraram uma partícula que se desintegrava espontaneamente em dois grãos de luz, A e B, que, por simetria, deveriam partir em direcções diametralmente opostas. Mas se A não “sabia” antecipadamente que direcção tomar, antes de ser detectado, como podia B (que se encontrava num local distante) “adivinhar” o comportamento de A e regular o seu próprio comportamento de forma a ser captado, no mesmo momento, na direcção oposta?
Isto não fazia sentido, a menos que a comunicação entre A e B fosse instantânea, o que implicava velocidades de transmissão de sinais superiores à da luz.
“Deus não envia sinais telepáticos”, dizia Einstein, concluindo que a mecânica quântica não fornecia uma descrição completa da realidade e que esta deveria estar “escondida” por trás da fachada da incerteza e do indeterminismo quânticos (“Teoria das variáveis escondidas”).
O físico francês Alain Aspect veio posteriormente dar razão à mecânica quântica, admitindo que A e B fazem parte de uma realidade global: “o Universo é um vasto sistema de partículas, que interagem todas umas sobre as outras”.

Como dizia Richard Feynman, nas suas palestras:
“Não dá para fazer perguntas sobre as quais, honestamente, não existe resposta no estádio actual do conhecimento.”

As partículas quânticas tipo A e B, produzidas por determinados processos físicos, designam-se por “pares entrelaçados”. Recentemente, os cientistas australianos, pegaram em 3 fotões: A, B e B1. “A” era o fotão a transportar e os outros dois o “par entrelaçado”. Destes, guardaram B1 e colocaram B no ponto para onde queriam que o fotão A reaparecesse. Fizeram então interagir o fotão B1 com o fotão A, (o que levou à destruição deste), mediram o resultado desta interacção e transmitiram esses dados para o local onde estava B, que assim se converteu numa cópia de A .

Qual o interesse?

Para já, a possibilidade de construção de computadores quânticos onde, ao contrário dos digitais, o “bit” quântico, já designado pelos cientistas por “qubit”, pode ter ao mesmo tempo os valores 0 e 1, ou seja, uma sobreposição dos estados 0 e 1, o que faz com que, para certos efeitos, se comportem como vários processadores em paralelo, com uma imensa capacidade de memória e a possibilidade de resolver problemas a uma velocidade milhões de vezes maior.

Espero que nos comentários alguém me possa elucidar porque eu, sinceramente não compreendo. Aliás, como o espantoso e saudoso Feynman já admitia.

domingo, julho 24

M473M471CO

Por vezes, a nossa mente é capaz de descodificar mensagens sem nos darmos conta:


M473M471C0 (53N54C1ON4L):

4S V3235 3U 4C0RD0
M310 M473M471C0.
D31X0 70D4 4 4857R4Ç40 N47UR4L D3 L4D0
3 M3 P0NH0 4 P3N54R 3M NUM3R05,
C0M0 53 F0553 UM4 P35504 R4C10N4L.
540 5373 D1550, N0V3 D4QU1L0...
QU1N23 PR45 0NZ3...
7R323N705 6R4M45 D3 PR35UNT0...
M45 L060 C410 N4 R34L
3 C0M3Ç0 4 F423R V3R505
H1NDU-4R481C05

Poema do Silêncio - José Régio

Hoje, em tons de outro azul...

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

Postulado da “Carneirada”

Ouvia eu a celebração de uma missa enquanto me deslocava no automóvel.

O pároco – certamente um homem sem fé, sem vontade e sobretudo sem princípios – fazia a apologia da obediência cega, argumentando que quem é conduzido, é livre!!!

Sou assumidamente um ateu. Respeito porém quem pensa de forma contrária e vê no divino o remédio para todas as maleitas.

Mas não posso respeitar um sacerdote que em nome de Deus se arroga o direito de impingir a teoria da obediência cega.
Este dogma tem custado à Igreja a perda de fiéis. As sumptuosas catedrais que antes se enchiam de gente estão agora quase vazias, povoadas apenas por uma meia dúzia de pessoas de idade avançada, regra geral, pouco letrada, mas acima de tudo, pouco informada.

Ora esta obediência que o “bom” pároco defendia, é a mesma que conduziu a Alemanha à guerra, os Europeus à catástrofe, Portugal a cinquenta anos de obscurantismo, sempre com a conivência e muitas vezes com a cumplicidade da Igreja Católica Romana. É ainda a mesma que sujeita a mulher ao primado do machismo, é ainda a mesma que induz os homens-bomba a fazerem-se explodir em nome de outro Deus qualquer.

Não seria possível a uma casta de generais levarem milhares de homens a combaterem outros homens, acaso as pessoas se dessem ao prazer de pensar. O conceito de Céu parece-me que conduz – segundo a interpretação destes “iluminados pastores”, o homem ao horror e à “carneirada” compulsiva.

Eis aí a forma primitiva da determinação objectivadora na qual se separavam o conceito e a coisa, determinação essa que já está amplamente desenvolvida na epopeia homérica e que se acelera na ciência positiva moderna. Mas essa dialéctica permanece impotente na medida em que se desenvolve a partir do grito de terror que é a própria duplicação, a tautologia do terror. Os deuses não podem livrar os homens do medo, pois são as vozes petrificadas do medo que Eles trazem como nome.

Vivemos numa época de tagarelice universal. De cristalização de imagens e de palavras. De generalizado e irreflectido uso de palavras e de linguagens, de que, muitas vezes, não se conhece as implicações que elas têm no plano do pensamento.
Para se ver o significado de uma palavra basta ir ao dicionário. Mas já não é tão fácil compreender os campos semânticos em que as palavras, ou os conceitos, se inscrevem. Que são múltiplos e complexos e representam esquemas de referência que lhes determinam o significado e o sentido. Às vezes, o uso descontextualizado de um simples conceito pode provocar enormes equívocos, muitas vezes porque o interlocutor, ou o próprio locutor, não apreendeu o campo semântico em que ela se inscreve. Isto, naturalmente, no plano, discursivo, analítico, conceptual. Esta situação tem particular acuidade no sensível universo dos discursos «politicamente correctos»!
Reflectir sobre conceitos em uso na linguagem comum pode levar a que se abram as portas a pensamentos novos, a formas inovadoras de aproximação cognitiva aos fenómenos, a novos horizontes discursivos.
Por tudo o que foi escrito aconselho vivamente a Igreja a fomentar cursos intensivos de “uso de conceitos e da palavra” aos seus sicários.
Não é justo nem desejável que uma casta de inúteis continuem a defender o postulado da obediência cega.

VIDA

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém, que o que
mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser, vá onde você queira ir.

Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só
temos uma chance de fazer aquilo que queremos.


As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade não aparece somente para aqueles que choram, mas sim para
aqueles que se machucam e buscam sempre, para aqueles que reconhecem a
importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido.

Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do
passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar, duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar, porque, em pleno dia... se morre.

(Clarice Lispector)

Chegar aos 100 anos ...

sábado, julho 23

Apoio telefónico do Júlio de Matos

TRRIIIMM... TRRIIIMM... TRRIIIMM...

Responde o atendedor de chamadas da Casa de Saúde:
"Obrigado por ter ligado para o Júlio de Matos (Instituto de Saúde Mental), a companhia mais adequada aos seus momentos de maior loucura."
* Se você é obsessivo-compulsivo, marque repetidamente o 1;
* Se você é co-dependente, peça a alguém que marque o 2 por si;
* Se você tem múltipla personalidade, marque o 3, 4, 5 e 6;
* Se você é paranóico, nós sabemos quem é você, o que você faz e o que quer. Aguarde em linha enquanto localizamos a sua chamada;
* Se você sofre de alucinações, marque o 7 nesse telefone colorido gigante que você, e só você, vê à sua direita;
* Se você é esquizofrénico, oiça com atenção, e uma voz interior lhe indicará o número a marcar;
* Se você é depressivo, não interessa que número marque. Nada o vai tirar dessa sua lamentável situação;
* Porém, se VOCÊ votou Sócrates, não há solução, desligue e espere até 2009.

Aqui atendemos LOUCOS e não INGÉNUOS! Obrigado!

Antes do Big Bang

Esta questão é abordada num interessante e extenso artigo do número de Julho da revista "Science & Vie". Não me vou demorar a expor um assunto que é do conhecimento público, mas sim inclui-lo no contexto de Ciência, de que já aqui falei em anterior artigo.
A Teoria do BB, apesar de cientificamente comprovada, não passa de uma mera hipótese, uma vez que nada dos diz sobre o que se passou antes do chamado "muro de Planck", 10^-43 segundos, que é uma barreira intransponível para os conhecimentos actuais. De facto, à medida que nos aproximamos do "instante zero" (se por acaso este existe), todas as características do Universo: densidade, temperatura e curvatura, tendem para o infinito.

O problema resulta da incompatibilidade entre as leis da relatidade geral, que funciona para os grandes objectos astronómicos e o infinitamente pequeno regido pela Física Quântica. A "grande unificação" entre as duas teorias tem vindo a ser tentada, no sentido de substituir o BB. A "Teoria das cordas", que tem sofrido modificações, foi a pioneira das candidatas a essa grande unificação, mas não é a única.

Todavia não é só esse o problema. Há que rever a noção de "tempo". Não sabemos o que é. Sabemos medi-lo a partir de movimentos regulares de diferente natureza: um segundo corresponde a 1/86400 do dia solar médio, os relógios de quartzo funcionam com a oscilação extremamente regular do respectivo cristal ...
O "tempo", tal como o concebemos ao nível macroscópico, não é mais que um movimento em função de um outro e vice-versa. Ora no mundo do infinitamente pequeno, a Física Quântica que dele se ocupa tem uma visão do mundo onde não há senão objectos, campos, variáveis e equações que as ligam, mas "onde não aparece um "espaço", no qual tudo teria emergido, nem um "tempo" no qual tudo evoluiu".
Por isso as equações quânticas" podem parecer estranhas, à primeira vista, por o "tempo" não estar incluído nelas. Reformulando as questões que se colocam nos primeiros instantes do Universo e exprimindo todas as grandezas pertinentes (temperatura, volume, número de neutrões p.e.) umas em função das outras, sem fazer intervir o elemento "tempo", desaparece essa tendência para o infinito, a que me referi acima.

Talvez que a resposta mais correcta, por agora, seja a do cientista Carlo Rovelli: "a maneira mais correcta de ver a evolução do Universo, é aceitar que antes do BB* não havia nada."

* se esta teoria conseguir dar resposta a umas quantas "interrogações", ou se entretanto não for substituída por outra ...

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Piano de José Castelo Branco

sexta-feira, julho 22

Cada um come o que pode...

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What is life?

“Life is a fascinating thing. We can all recognise it but we cannot define it. It is the most elusive natural property known to science and no definition adequately captures its essence. Moreover, you find the chemicals that make up living things in the composition of inorganic objects also.

Initially, it seems obvious that all life must reproduce itself. However, this allows some inanimate objects to slip into the classification as well. Flames can reproduce, for example, otherwise it would be impossible to light candles. By taking reproduction as a definition, we must consider candles alive also. Using the reproduction property as a characteristic of life excludes some undoubtedly living creatures. For example, mules are born when a male horse mates with a female donkey. This produces a genetically distinct creature, a mule, which happens to be sterile as a species and so incapable of reproduction. By our first definition of life, therefore, we cannot classify a mule as alive. To exclude the flame as a life-form, some definitions specify that only reproducing systems capable of genetic mutation and therefore evolution are alive. However, this definition still does not include the mule.

As a final complication, there are viruses. Unlike a microbe, when a virus is isolated, it is incapable of reproducing. To behave as if it were alive, that is, to reproduce and be capable of Darwinian evolution, it must first invade a microbe and hijack its genetic copying machinery. Scientists still cannot decide whether viruses are to be considered living or not.

In the search for a definition that includes all living things but excludes all non-living things, some scientists are beginning to search beyond traditional biological thinking. According to them, the answer may lie in the mathematics of information theory and the way living things store information in their genes. Yet, it is too early to know if this definition will work any better.”

Não sei de onde retirei este texto, nem quem é o autor, mas trata-se de uma hipótese curiosa, na medida em que remete a procura da resposta para além da Biologia, talvez para “the mathematics of information theory and the way living things store information in their genes”.

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quinta-feira, julho 21

Para quem tem problemas intestinais....

O saco de plástico

Uma velhota entra no autocarro fazendo-se acompanhar pelo tradicional
saco de plástico.
Senta-se, ocupando o lugar ao seu lado com esse mesmo saco.
Aproxima-se um cavalheiro para ocupar esse lugar e intempestivamente
grita a dita senhora:

- Cuidado com os tomates!

Muito corado e ainda de rabo esticado, questiona amavelmente o homem:

- São tomates, o que aqui leva, minha senhora?

- Não, são pregos!!!

Da Ciência

As chamadas "Guerras da Ciência" são, na verdade, guerrilhas sócio-filosóficas contra a Ciência e foram quase ignoradas pelos cientistas durante largo tempo.
A SSK ( Sociologia do Conhecimento Científico) é uma actividade de grupos de sociólogos que têm procurado relativizar o conhecimento científico como se este fosse apenas um conjunto de regras convencionalmente aceites pelos cientistas numa dada época e cultura sócio-política. O conhecimento da Natureza e estou a restringir-me ao planeta em que vivemos, seria um conjunto de relações estabelecidas consensualmente sem mais pretensões a objectividade do que qualquer sistema de crenças de qualquer outro grupo. Estes sociólogos fazem parte de um grupo a que pertencem os chamados "pós-modernistas".

Julgo que foi em 2001 que o professor universitário de Coimbra, e influente sociólogo, Boaventura de Sousa Santos, publicou um livro intitulado "Um Discurso sobre as Ciências", que levou à publicação no ano seguinte do livro "O discurso pós-moderno contra a Ciência - obscurantismo e irresponsabilidade", pelo professor universitário António Manuel Baptista, no qual rebate as ideias expressas por BSS. Apreciando este último, do qual tenho lido algumas obras, nomeadamente: "Pela mão de Alice - o social e o político na pós-modernidade", não posso neste "conflito" (?) deixar de concordar com AMB, porque se identifica mais com as ideias dos cientistas, astro-físicos e cosmologistas, que desde há um ror de anos vêm preenchendo parte importante das minhas leituras.

"A ciência considera-se "objectiva" no sentido em que os seus "factos" não podem ser criados só pelo pensamento e podem ser percebidos, em princípio, por todos. Constam da realidade física, dita natural. Para as chamadas "ciências humanas ou culturais", os "factos" são sempre, sem excepções, algo que os homens poderiam ter decidido que fossem diferentes pelos poderes associados ao pensamento, à mente estimulada muitas vezes pelas emoções. Quaisquer conclusões ou construções do pensamento sem correspondência com estes factos, não pertencem à ciência ou não pertencem "ainda" à ciência." (António Manuel Baptista, op cit)

quarta-feira, julho 20

Alberto João Jardim obtém cidadania Chinesa

Foi um Alberto João bastante diferente que compareceu na conferência de imprensa para abordar a questão da sua nova nacionalidade. De olhos em bico, Jardim foi adiantando que “quero ser o único Chinês na Ilha. E se a Índia me der também a cidadania, serei de igual modo, o único Indiano, o que irá conferir estatuto especial”, foi dizendo.
Acrescentou de seguida que tal pretensão “se deve ao facto de ter sido injustamente acusado de xenofobia”. “Se eu sou Chinês, como podem afirmar que eu não quero Chineses na Ilha?”, sublinhou.

Às voltas com um problema bicudo, Alberto João disparou em muitas direcções, a começar pelo líder do seu próprio partido. “Era o que faltava esse filho da mãe, para não dizer filho….bem, vocês sabem, querer fazer purgas”.

Questionado sobre a que purgas se referia, Alberto João adiantou: “Querem dizer-me que o Major Valentim ou Isaltino Morais não são pessoas de bem?”

Isaltino Morais chorava copiosamente enquanto assistia á conferência de imprensa e ía limpando as lágrimas a Marques Mendes que usava em lugar do tradicional lenço. Chamado à atenção por um dos jovens repórteres do InApto, o candidato à Câmara de Oeiras, disse “Nem me apercebi. Ele é tão pequeno e transparente, que julguei ser o meu lenço branco”.

Marques Mendes doado há já algum tempo ao Zoológico de Lisboa pelo seu partido, sentiu-se ultrajado: “Incrível. Ora se eu sou um ser raro que pode e deve ser exibido no Jardim zoológico, estou protegido por associações de protecção de animais. O Alberto vai ter uma manifestação de macacos em frente à sede do Governo regional. Talvez mesmo de um ou dois rinocerontes”

Valentim Loureiro preferiu remeter-se a um prudente silêncio por “ter engolido um apito dourado” segundo nos confessou.

Alberto João despiu-se em plena conferência e cantou um dos famosos “bailinhos da Madeira”. “Estou a treinar para o Circo nacional da China. Estou certo de que esses cubanos do Continente vão roer-se de inveja”, afirmou.

terça-feira, julho 19

Não é o jornalista um ser humano com emoções?

A objectividade é obviamente posta de lado quando somos confrontados com emoções. Sobretudo se estas se apresentarem sob a forma de “sentires” pessoais.

O jornalista está muitas vezes dividido entre o paradigma e o estigma. Um e outro são conceitos castrantes.
Uma coisa é noticiar algo de forma irreal. Outra é dar-lhe algum cunho literário. Pessoalmente não vejo nenhuma contradição entre as várias perspectivas. Sei dos “mestres” que ditam a “lei”. Sei das “escolas” politicamente correctas. Porém este verdadeiro absurdo não será uma forma de afastar o leitor do seu jornal?

Também esta área específica tem conhecido evoluções. As escolas que ministram cursos de Comunicação estão a maior parte das vezes literalmente alheias a um quotidiano que faz a diferença.
Prevejo num futuro não muito longínquo o ruir do “saber” puramente académico das diversas escolas.
Antevejo novas fórmulas de fazer chegar a mensagem. Nem sempre a “objectividade” tal qual é entendida é de facto contundente.
Abomino o “alegadamente” e afins.
As coisas terão de ser chamadas pelos nomes. Se um político subtraiu fundos públicos para uso pessoal isso é roubo. Não é “alegadamente” qualquer outro eufemismo.

O falsificacionista vê a ciência como um conjunto de hipóteses que são propostas conjecturalmente com o objectivo de descrever ou de explicar com rigor o comportamento de algum aspecto do mundo, ou universo. No entanto, nem todas as hipóteses servem. Existe uma condição fundamental que qualquer hipótese ou sistema de hipóteses tem de satisfazer para possuir o estatuto de lei ou teoria científica. Para fazer parte da ciência, uma hipótese tem de ser falsificável.
Uma boa lei ou teoria científica é falsificável precisamente por fazer afirmações definidas sobre o mundo. Quanto mais uma teoria diz sobre o mundo, mais oportunidades potenciais existirão de mostrar que, na verdade, o mundo não se comporta do modo previsto pela teoria. Uma teoria muito boa é aquela que faz afirmações muito informativas sobre o mundo – sendo, por isso, extremamente falsificável – e que resiste à falsificação sempre que é sujeita a testes.
Como a ciência procura teorias com um grande conteúdo informativo, o falsificacionista saúda a proposta de conjecturas especulativas ousadas. As especulações arrojadas são encorajadas, desde que sejam falsificáveis e desde que sejam rejeitadas quando são falsificadas.
Esta atitude implacável diverge da precaução defendida pelo indutivista radical. Segundo este último, só devemos admitir na ciência teorias que possamos mostrar que são verdadeiras ou provavelmente verdadeiras. Devemos ir além dos resultados imediatos da experiência apenas na medida em que as induções legítimas o autorizem. O falsificacionista, pelo contrário, reconhece as limitações da indução e a subserviência da observação à teoria. Os segredos da natureza só podem ser revelados com a ajuda de teorias engenhosas e penetrantes.

O relativismo cultural, como tem sido chamado, desafia a nossa crença habitual na objectividade e universalidade da verdade moral. Afirma, com efeito, que não existe verdade universal em ética; existem apenas os vários códigos morais e nada mais. Além disso, o nosso próprio código moral não tem um estatuto especial: é apenas um entre muitos. A primeira coisa que precisamos de fazer notar é que no âmago do relativismo cultural está uma certa forma de argumento. A estratégia usada pelos relativistas culturais é argumentar, a partir de factos sobre as diferenças entre perspectivas culturais, a favor de uma conclusão sobre o estatuto da moralidade.
Culturas diferentes têm códigos morais diferentes.
Logo, não há uma «verdade» objectiva na moralidade. Certo e errado são apenas questões de opinião e as opiniões variam de cultura para cultura.
Podemos chamar a isto o argumento das diferenças culturais. Para muitas pessoas é persuasivo. Mas, de um ponto de vista lógico, será sólido? Não é sólido. O problema é que a conclusão não se segue da premissa – isto é, mesmo que a premissa seja verdadeira, a conclusão pode continuar a ser falsa. A premissa diz respeito àquilo em que as pessoas acreditam – em algumas sociedades as pessoas acreditam numa coisa; noutras sociedades acreditam noutra. A conclusão, no entanto, diz respeito ao que na verdade se passa. O problema é que este tipo de conclusão não se segue logicamente deste tipo de premissa. Para tornar este aspecto mais claro, considere-se um tema diferente. Em algumas sociedades as pessoas acreditam que a Terra é plana. Noutras sociedades, como a nossa, as pessoas acreditam que a Terra é (aproximadamente) esférica. Segue-se daqui, do mero facto de as pessoas discordarem, que não há «verdade objectiva» em geografia? Claro que não; nunca chegaríamos a tal conclusão, porque percebemos que, nas suas crenças sobre o mundo, os membros de algumas sociedades podem simplesmente estar errados. Não há qualquer razão para pensar que se o mundo é redondo, todos têm de saber disso. Da mesma maneira, não há qualquer razão para pensar que, se existe uma verdade moral, todos têm de conhecê-la. O erro fundamental no argumento das diferenças culturais é que tenta derivar uma conclusão substancial sobre um tema partindo do mero facto de as pessoas discordarem a seu respeito.

Ante todas estas possibilidades onde ficam os nosso próprios sentimentos? – Acaso não nos choca um acidente de dimensões enormes, apenas porque somos jornalistas?! – O amor não faz parte das nossas vidas?

O mundo é acima de tudo, emoções.

À pesca ...

segunda-feira, julho 18

Ciência e sociedade

A ciência baseia-se em factos, em dados objectivos que podem medir-se e comprovar-se.
A opinião que a sociedade tem dos avanços científicos é às vezes altamente influenciada por crenças morais e religiosas e por ideologias políticas. Por isso, em certas ocasiões, surgem conflitos entre ciência e sociedade, normalmente devidas à falta de comunicação e acirrados por interesses gregários, confessionais ou partidários, estranhos à natureza do debate.

Na medida em que faz parte da sociedade, a ciência trata de resolver os problemas que afectam esta, mas é importante separar com cuidado os factos objectivos, relacionados com um tema científico, dos interesses meramente ideológicos.

Indiscutível é que os avanços científicos dos últimos dois séculos tiveram como consequência um avanço espectacular, embora o medo tenha sempre acompanhado a evolução da humanidade.

Olhando para a Grécia Antiga, o que se desenvolveu foi principalmente a Matemática e a Filosofia, além de alguma Física, (só Física aplicada) desde que não perturbasse muito…

A curiosidade do Homem foi sempre vista com alguma suspeita. Veja-se o que sucedeu a Prometeu:
- vai roubar o fogo dos deuses para dar ao Homem e acaba castigado.
Ou repare-se na história de Dédalo e de Ícaro, pai e filho. Ícaro quis voar mais alto, a cera derreteu-se e ele caiu. O pai voou mais baixo e conseguiu chegar ao outro lado.
Segundo a Bíblia, Adão e Eva são expulsos do Paraíso porque Eva comeu do fruto da sabedoria, quis saber mais...

A metáfora é que podemos querer fazer coisas, mas não devemos ir além daquilo que não perturbe os hábitos e crenças adquiridos.

sábado, julho 16

Da Perversão, da Arte e da Loucura.

No último quarto do século, a historiografia sobre a filosofia analítica tem evocado frequentemente e com alguma insistência a influência de Kant neste ou naquele filósofo contemporâneo ou nesta ou naquela problemática analítica privilegiada, à revelia, muitas vezes, dos autores comentados, quando não das próprias interpretações analíticas tradicionais e mais ou menos "oficiais" a respeito dessa influência. Na perspectiva destas últimas, a rejeição da filosofia de Kant (e, portanto, da sua influência) é uma consequência natural da rejeição analítica quer do fundacionalismo da Crítica da Razão pura, quer da problemática caracteristicamente epistemológica desse livro e da sua expressão na filosofia da linguagem e na filosofia da ciência contemporâneas e, em particular da actualidade da teoria “Kantiana” sobre a distinção entre o analítico e o sintético, e a possibilidade do sintético à priori, para uma teoria sistemática da significação que unificaria esses domínios. Mas, por outro lado e em contraste, a historiografia mais recente da filosofia analítica (Coffa, 1986, 1995; Rorty, 1988; Friedman, 1992, 1993) sugere claramente a existência de uma continuidade mais ou menos essencial entre a problemática “Kantiana” referida, e, de maneira geral, o fundacionalismo “Kantiano”, e a problemática das diferentes vertentes do movimento analítico desde as suas origens até aos nossos dias, a qual ocorreria justamente a despeito dessa reiterada rejeição da actualidade da filosofia de Kant, quer dizer, sem que os filósofos analíticos tivessem necessariamente consciência dela.



Todo o pensamento é imoral. A sua própria essência é a destruição.

Se pensamos em qualquer coisa, matamo-la; Nada sobrevive à reflexão.



In “Óscar Wilde, Aforismos”



Numa entrevista, Escher chegou a declarar que os seus assuntos eram por vezes muito irónicos, pois não podia deixar de brincar com as nossas certezas irrefutáveis. Para ele era, por exemplo, um prazer poder misturar duas ou três dimensões, plana e espacial, e brincar com a gravidade. Tinha um prazer enorme em questionar as pessoas sobre se tinham a certeza de que um chão não podia ser também um tecto, ou se estavam convencidas de que se passava para um plano mais elevado quando se subia uma escada. Estas e outras questões servem sobretudo para realçar a falibilidade da percepção humana e desafiar certas certezas frequentemente aceites como dados adquiridos. Num tempo de grande insegurança, em que nada é o que parece, faz cada vez maior sentido que se coloquem em dúvida algumas verdades consideradas irrefutáveis. Uma dessas questões poderá ser o facto de o processo criativo ser vulgarmente considerado como algo muito positivo e benéfico para o progresso cultural e científico da humanidade. O que aqui se pretende é considerá-lo em toda a sua ambivalência e duplicidade, para que certas ambições intelectuais, tanto no campo da Ciência como no da Arte possam ser criticadas.



As afinidades entre a Ciência e a Arte são inúmeras e variadas. Possíveis aproximações estabelecem-se vulgarmente tendo em conta certos aspectos positivos que conciliam as duas formas de conhecimento. Contudo, dada a ambivalência da própria natureza humana, fará todo o sentido realçar também a dualidade inerente a todo o processo criativo. Quando excedem os seus limites, tanto a criação artística como a científica poderão tornar-se fontes reais de perigo e destruição. O nosso tempo exige que tanto a Arte como a Ciência se devam constituir em actos éticos de autoconsciência. Para isso é necessário combater não só o excesso de orgulho do conhecimento, mas também alguns excessos de intelectualismo e esteticismo. É urgente desafiar certas certezas e ironizar acerca dos abusos da razão e da estética. Há que não ter medo de modificar o pensamento acerca de certas realidades que nos parecem inabaláveis e profundamente sólidas.



Sabe-se que o termo “Cientista” não apareceu antes de 1834 e que, em muitos romances e contos do séc. XIX, a palavra se refere ainda à figura de um criador que é uma mistura de artista, filósofo, artífice e investigador químico. Em “A Estranha Morte do Professor Antena”, Mário de Sá Carneiro afirma que “um grande sábio cria – imagina tanto ou mais do que o Artista. A Ciência é talvez a maior das artes – erguendo-se a mais sobrenatural a mais irreal, a mais longe em Além. O artista adivinha. Fazer arte é Prever. Eis pelo que Newton e Shakespeare, se não excedem, se igualam.”
No próprio subtítulo da obra de Mary Shelley, Frankenstein, or The Modern Prometheus (1818), é também evidente esta comparação. Aqui, a referência a Prometeu diz respeito não só ao deus da mitologia grega implicado no roubo do fogo aos deuses, mas também evoca a história de Prometeu plasticator, que dizem ter criado e animado a humanidade a partir do barro. Conhecimento e criação parecem, então, serem totalmente indissociáveis, estando constantemente presentes nas acções mais significativas e determinantes do destino da humanidade. A importância das suas consequências faz com que se desenvolva um forte sentido de responsabilidade capaz de colocar algumas dúvidas acerca dos processos de criação da Ciência e da Arte, deixando-se por vezes insolúvel a questão de saber se a busca de perfeição é louvável ou condenável e mantendo em aberto a possibilidade de poder ser ambas. Exemplo dessa ambiguidade é o conselho final de Victor Frankenstein ao seu amigo Walton: “Adeus, Walton! Procure a felicidade e fuja de todas as ambições, mesmo do desejo inocente de se distinguir na ciência. Mas porquê falar assim? Outros poderão triunfar onde eu falhei.”



A mente criativa, posta ao serviço da arte ou da ciência, tem uma enorme probabilidade de ser vítima da loucura. Desde Metropolis e The Cabinet of Dr. Caligari de Fritz Lang, Dr. Jekyll and Mr. Hyde de Victor Fleming, ou Doctor Strange Love, protagonizado por Peter Sellers, até à personagem de Dr. Hannibal Lecter, imortalizada por Anthony Hopkins, o protótipo do Cientista Louco não se destina somente a criticar certos excessos da Ciência. Todos estes indivíduos excêntricos são personagens de histórias de transgressão, que expõem o processo criativo como uma prática destrutiva afecta à ciência, à arte e até à política. Os exemplos literários e cinematográficos, que ajudaram a imortalizar estas figuras, apreenderam alguns dos aspectos mais comuns à actividade artística e científica. Ser criador significa, em muitas destas histórias, possuir uma atitude distanciada, viver em completo isolamento, ser atacado de demência maníaca – que separa o indivíduo das relações humanas normais – interiorizar um ideal obsessivo de objectividade e impessoalidade, tratar seres vivos como objectos das suas experiências e das suas teorias estéticas e não como objectos dos seus afectos, etc.
É de notar que tanto o artista como o cientista utiliza frequentemente o termo “experiência” para caracterizarem as suas práticas científicas e artísticas. O excesso de envolvimento nas suas experimentações produz frequentemente uma clivagem entre objectividade e afectividade que implicará uma cisão psíquica entre razão e emoção responsável pela desintegração da personalidade. O testemunho de Victor Frankenstein é sobre este aspecto esclarecedor. Diz-nos o cientista criado por Mary Shelley: “Um ser perfeito deveria manter sempre o seu equilíbrio e nunca permitir que a paixão ou um desejo passageiro lhe perturbasse a tranquilidade. Não creio que os estudos constituam excepção a esta regra. Se o trabalho tende para diminuir o afecto e o gosto pelos prazeres simples que nada deve perturbar, é porque os estudos são nefastos ao espírito humano.” Em A Ilha do Dr. Moreau (1896) de H. G. Wells, o Dr. Moreau é um escultor e cientista que pratica a arte da tortura com curiosidade científica, chegando a afirmar, em determinado momento, que “até hoje, eu nunca me preocupei com a ética da minha investigação.” Esta presunção em relação à actividade criadora é comum tanto ao cientista como ao artista. A atitude estética da “arte pela arte” traduz também este excesso de deslumbramento pelos valores e poderes da expressão artística que, por se colocarem acima de qualquer outros, produzem uma separação categórica entre a Arte e a Ética. As histórias de “Cientistas Loucos” não são somente enredos destinados a relatarem as desventuras de actos científicos falhados e consequente alienação mental dos seus autores. Acima de tudo, elas reflectem uma profunda crise da identidade artística, transformando-se em narrativas de auto-reflexão acerca das incertezas inerentes à actividade criadora. As suas personagens são artistas ou cientistas que são também vilões, autores do mal e perpetradores de acções que nos fazem reflectir sobre o dilema da responsabilidade artística.



Na sua obra intitulada Forbidden Knowledge (1996), Roger Shattuck fala-nos sobre o termo pleonexia dizendo-nos que significa “ir além da condição que lhe é devida”, podendo traduzir um impulso irresistível em ultrapassar os limites – particularmente os limites do conhecimento – mesmo correndo o risco de prejudicar os outros. Já Sigmund Freud, na sua obra “Civilização e seus Descontentamentos”, havia chamado a atenção para a existência de impulsos perversos irresistíveis e para a tendência constitutiva, no homem, para a agressão. Em “Para Além do Princípio do Prazer”, Freud tinha também suspeitado que operavam no ego outros instintos para além dos de auto preservação. Segundo o pai da psicanálise, existiriam duas espécies de processos constantemente activos na substância viva operando em direcções contrárias, uma construtiva e outra destrutiva. Estas forças contrárias dariam origem aos instintos de vida e aos instintos de morte, justificando-se assim a existência de certas tendências para além do princípio do prazer, tendências mais primitivas e independentes dele. Tudo isto parecia explicar a atracção do ser humano pelo proibido, o qual lhe provoca habitualmente um sentimento de felicidade mais intenso. Daí que, num conto de Edgar Allan Poe intitulado “The Black Cat”, se afirme, pela voz do narrador, que praticamos habitualmente uma má acção pelo simples facto que sabemos não dever praticá-la. Em “The Imp of Perverse”, um texto que é quase um tratado acerca da perversidade humana, Poe conclui:



“No sentido que aqui atribuo (a perversidade) é, na realidade, um mobile sem motivo, um motivo não motiviert. Debaixo das suas ordens actuamos sem finalidade compreensível ou, se esta parece uma afirmação de termos contraditórios, podemos modificar a proposta dizendo que, debaixo do seu impulso, actuamos pela razão de que não devemos fazê-lo. Em teoria, nenhuma razão pode ser mais irracional, mas na prática não há nenhuma mais forte. Com certas mentes e em certas condições chega a ser completamente irresistível. Estou tão certo de estar vivo como estou que o mal ou o terror que conduz a um acto qualquer é, com frequência, a única força invencível que nos impele, sim, que nos impele exclusivamente a continuá-lo. Esta tendência imperiosa de fazer mal pelo próprio mal não admite análise, nem solução com elementos posteriores. É um impulso radical, primitivo, elementar. Pode dizer-se –, e disso tenho a certeza –, que quando persistimos em certos actos é porque sentimos que não deveríamos persistir neles.”





Esta tendência negativa para o mal e a autodestruição, que inexplicavelmente se apodera do indivíduo em momentos totalmente imprevisíveis, revela a profunda duplicidade do carácter humano, que nunca será uno e indivisível, sendo por vezes vítima de instintos obscuros que podem conduzi-lo à morte. O famoso pensamento de Schopenhauer de que o fim da vida é a morte encontra aqui total justificação. Segundo a teoria de E. Hering, citada por Freud em “Para Além do Princípio do Prazer”, existem duas espécies de processos constantemente activos na substância viva operando em direcções contrárias, uma construtiva ou assimilativa e outra destrutiva e desintegradora. É natural, então, que todo o processo criativo seja determinado por esta sempre implícita duplicidade. Em “Eureka”, um tratado acerca das origens do Universo, Poe refere que “na unidade original da coisa Primeira reside a causa Secundária de Todas as Coisas, com o Germe da sua Inevitável Aniquilação.” A ideia de que na criação está presente a ideia de destruição é partilhada também por Camille Paglia na obra “Sexual Personae”. Aqui, a autora defende que a Arte tal como a Natureza possui uma natureza ambivalente, simultaneamente criadora e destruidora, comparável à Deusa indiana Kali. A força dionisíaca própria da Natureza justifica a presença de uma energia agressiva na Arte. Segundo Paglia, “a arte é ordem. Mas a ordem não é necessariamente justa, simpática e bela.”



Que o homem não é realmente uno mas duplo é, como se sabe, a grande conclusão da ambiciosa experiência científica e psíquica de Dr. Jekyll, um dos mais famosos cientistas loucos da história da Literatura. Revelar uma constituição multiforme, incongruente e cheia de independência e reconhecer a verdadeira e primitiva dualidade humana, sob o aspecto moral seriam os grandes motivos das suas descobertas. Ao querer separar artificialmente, por meios químicos, o bem do mal, as experiências fracassadas de Jekyll provaram que estes dois lados opostos serão sempre indissociáveis. O seu reconhecimento final é esclarecedor: “Constitui uma maldição do género humano que estes dois elementos estejam tão estreitamente ligados; que no âmago torturado da consciência continuem a degladiar-se.”. Outro exemplo duma personalidade dual e profundamente contraditória é o famoso Hannibal Lecter criado por Thomas Harris em “The Silence of The Lambs”. Lecter era ao mesmo tempo um homem culto e um canibal. Este psiquiatra conceituado, que fizera inúmeras avaliações psiquiátricas para tribunais de Maryland, Virgínia e outros da Costa Leste dos Estados Unidos, era um investigador activo que colaborava com várias publicações para prestigiadas revistas da área, destacando-se um excelente artigo para o Journal of Clinical Psychiatry. Tinha gostos artísticos sofisticados que se manifestavam pelo seu interesse pelos estudos anatómicos de Géricault para Le Radeau de «La Meduse», pela sua atenção aos pormenores do Esfolamento de Mársias de Ticiano, exposto na National Gallery de Washington, e pelo seu gosto musical pelas Variações de Goldberg de Glenn Gould. Ele próprio era um artista que decorou a sua cela com desenhos do Palazzo Vecchio e do Duomo de Florença, pintados de memória a partir de vistas do Belvedere. Mas além de possuir uma capacidade de percepção e penetração em relação aos fenómenos da psicologia humana, Lecter era um assassino de nove pessoas, todas elas mortas em actos de canibalismo. Também em Seven, o célebre filme de David Fincher, existe um serial killer metódico e culto que deixa no local do crime algumas pistas que incluem citações de Paradise Lost de Milton – entre as quais se encontra a frase “long is the way and hard that leads out of hell to light” – tendo por fim castigar aqueles que cometeram um dos pecados mortais.



Esta cisão psíquica tem sido motivo de grande interesse para muitos escritores e artistas do séc. XX, entre os quais se pode contar Alfred Hitchcock, que um dia confessou o facto de sempre se ter interessado por uma mentalidade tipo Jekyll and Hyde e que os seus filmes sobre a duplicidade ou divisão da personalidade eram: Shadow of a Doubt, Strangers on a Train, Psycho e Frenzy. Tudo isto nos ajudará a entender a mentalidade obsessiva tipo Jekyll-Hyde do próprio Hitchcock, um homem que era capaz de demonstrar a mais pura generosidade para com criados e familiares, mas que também possuía uma obsessão selvagem por mulheres bonitas de quem se sentiu separado para sempre. Casos como o do realizador de cinema americano abundam em todas as áreas artísticas. Numa obra recentemente publicada com o título Picasso, My Godfather, a sua autora Marina Picasso, neta do artista, procede a uma série de revelações acerca das características mais negras e menos conhecidas da personalidade de Picasso. Ficamos a saber, por exemplo, que Picasso prestava pouca atenção aos seus netos, por vezes nem os recebia e mandava dizer que o Mestre estava a trabalhar ou a dormir. Este comportamento, parece ter estado na origem do suicídio de um deles, que bebeu uma garrafa de lixívia, uma semana depois de o avô ter morrido. Aliás, a própria mãe de Picasso chegara a dizer um dia que nenhuma mulher podia ser alguma vez feliz com o seu filho Pablo. Marina descreve-o como um homem diabólico, que era incapaz de amar, sendo uma combinação de poder, mortificação e incomunicabilidade. Era um demiurgo inacessível que tratava as pessoas como se fosse algo que ele podia manipular de acordo com o humor do momento. Consta que tratava melhor a sua cabra de estimação que os seus netos, mandando dizer, sempre que não os queria receber, que “O Sol não quer ser perturbado”. Paulo, seu filho, era uma peça do puzzle de Picasso, tal como cada uma das suas pinturas. Acerca do vampirismo de Picasso, Marina confessa que: “A demanda de Picasso pelo absoluto ocultava uma vontade implacável de poder. O seu extraordinário trabalho exigia sacrifícios humanos. Ele apoderava-se de qualquer um que se aproximasse dele e lançava-o no desespero. Ninguém na minha família escapou a este sufoco. Ele precisava de sangue para assinar cada uma das suas pinturas: o sangue do meu pai, do meu irmão, da minha mãe, da minha avó, e o meu; o sangue de todos aqueles que o amavam – pessoas que pensavam que amavam um ser humano, quando em vez disso amavam Picasso.”



O lado negro do génio é tão real quanto a sua surpreendente capacidade criadora. Em Memórias, Sonhos e Reflexões, Carl Gustav Jung chegou a concluir que “uma pessoa criativa tem pouco poder sobre a sua própria vida. Ela não é livre. Está cativa e é conduzida pelo seu demónio.” Além de outros, o testemunho de Stephen King poderá servir-nos de referência, quando numa entrevista afirmou que o lobisomem em nós nunca está longe da superfície e que ele próprio bem podia ter usado uma espingarda de mira telescópica para resolver os seus demónios, mas que, em vez disso, usava um processador de texto. A seguinte confissão do famoso escritor americano revela-se a este propósito muito significativa: “O meu lado destrutivo tem uma grande expressão nos meus livros. Penso que se trata do lobisomem em mim. Mas a verdade é que adoro fogo, adoro destruição. É óptimo, é negro e é excitante.” Também propósito do seu livro The Stand, King afirmara que, nesta obra, tivera oportunidade de destruir toda a raça humana, e que isso representara para si um enorme divertimento.



A atracção pela obscuridade dos instintos humanos mais primitivos sempre foi comum a muitos autores que produziram as mais interessantes obras na história da literatura e da arte. Para eles, a questão mais importante não é a virtude de uma dada personagem, mas o génio e a força da mente empregues na perpetração de actos perversos. Daí que Joseph Conrad utilizasse a expressão “o fascínio do abominável” e que Melville tenha concluído após ter escrito Moby-Dick: “I’ve written a very wicked book and I feel spotless as a lamb.” O impulso da criação pode tornar-se simultaneamente num impulso perverso. O impulso criativo transforma-se num incontrolável ímpeto destrutivo devido à crueldade de um heroísmo, cujos ideais são simultaneamente governados por forças agressivas de ambição e grandiosidade, assim como por um profundo desejo de destruição. Este constitui o verdadeiro paradoxo do acto criativo, que cria destruindo e destrói criando. Na sua conhecida Teoria Estética, Adorno defende que “as obras de arte são negativas a priori em virtude da lei da sua objectivação; causam a morte do que objectivam ao arrancá-lo à imediatidade da sua vida! A sua própria vida alimenta-se da morte.” Nisto reside o profundo paradoxo da criação que frequentemente lança o artista na inevitável contradição de criar destruindo e de destruir para criar. Daí que alguns autores tenham construído ficções onde se critica o papel do escritor, do artista ou de qualquer criador, tendo todos eles, por intenção, colocar persistentemente em dúvida o próprio processo criativo. Na obra de Thomas de Quincey, “Do Assassínio como uma das Belas Artes”, fala-se de um coração de tigre, escondido sob o mais insinuante e enganador refinamento, afirmando-se ironicamente que o fim único do assassínio, considerado como arte, é, precisamente, o mesmo da «Tragédia» como Aristóteles a concebia, isto é, «purificar o coração por meio da piedade e do terror». Como diz Lyall Watson, em Dark Nature, “o mal é uma força da Natureza e uma realidade biológica, algo de universal como Milton, Dante, Goethe e Stevenson. Já o tinham entendido. Pode ser assustador e até chocante enfrentar o nosso lado negro, mas é extremamente necessário.” Ligadas pela consciência desta urgência, ciência, arte e literatura têm tudo a uni-las e nada a separá-las.


Caminhar abertamente para o abismo parece pois, um caminho natural para a raça humana em geral e para os artistas em particular.

Onde começa uma e acaba a outra?! – Será possível criar “obra-prima” sem desafiar as leis da normalidade? – O que é afinal a normalidade?


Porque de quando em vez também me apetece escrever sobre coisas sérias...

sexta-feira, julho 15

A Poesia de Daniel Jonas


Escrevo para me esvaziar de mim.

A cuspo. Para me libertar das musas.

De um saber imperial. Dos meus orgãos

calçados com planisférios.

Escrevo para que te apaixones,

pelo que pareço e não pelo que sou:

O meu interior é horrível e degradante

e sou por fora um límpido sorriso de candelabros.

Eu sou perigoso. A minha língua é azul.

Daniel Jonas
O Corpo está com o Rei
Edições AEFLUP

Deputados passam a ter hora marcada para dormir a sesta.

O plenário decidiu sem votos contra e com apenas duas abstenções, marcar a hora da sesta dos deputados que passa a partir do próximo dia 1 de Junho a ser entre as 14 horas e a saída do hemiciclo.

“Trata-se obviamente de uma medida que visa dignificar a profissão”, disse Marques Mendes que tinha ao lado um saco-cama.

Para o PSD, “esta medida já devia ter sido tomada há mais tempo, mas o PS sempre inviabilizou a maioria de 2/3 necessária para que a lei passasse”, mostrando-se ainda o líder agastado com algumas insinuações vindas da bancada do BE, segundo as quais “o PSD tem passado o tempo a dormir”.

Louçã sustenta estas afirmações alegando “ter sido várias vezes incomodado pela bancada social-democrata, de onde provinham enormes roncos”

Por sua vez o PCP pela voz de Jerónimo de Sousa encara o “sono como uma questão de fundo da dialéctica marxista-leninista e um direito dos trabalhadores.” – “Reparem na Odete Santos. Sempre a dormir e quando acorda está obviamente delirante. Lenine assegurou que o sono é o descanso dos justos.”

Foi impossível o contacto com a bancada do CDS/PP por se encontrarem alguns mergulhados num sono profundo e outros estarem ausentes ao que apurámos “em parte incerta já que não querem acabar com o costelado na prisão” numa clara alusão ao mais recente escândalo que assola o país e que tem como protagonistas alguns membros do partido.

quinta-feira, julho 14

Atentado suicida em Bagdad

E enquanto brincamos, sorrimos, conversamos e sonhamos, o mundo vai desabando...

Mais uma notícia de tristeza, de drama. Desta vez foram as crianças as atingidas.
Eu pergunto: que culpa têm estas crianças?


Notícia de hoje:


A explosão de um automóvel conduzido por um suicida matou ontem pelo menos 32 crianças e adolescentes num bairro xiita da zona sudeste de Bagdad. O atentado aconteceu junto a um veículo do exército dos Estados Unidos, numa altura em que as tropas alegadamente distribuíam doces e presentes, fazendo ainda um morto entre os soldados norte-americanos.

O responsável da morgue do hospital de Kindi, ouvido pela AFP, indicou terem sido recebidos 24 corpos de crianças entre os seis e os 13 anos e o de um adolescente de 18 anos. Neste hospital, indicaram os correspondentes da BBC na capital iraquiana, "centenas de familiares vagueavam pelos corredores ensanguentados, entre gritos desesperados, enquanto procuravam os seus filhos, muitos dos quais gravemente feridos". Os restos mortais de outras sete crianças, com idades inferiores a 15 anos, foram transportados para o estabelecimento hospitalar de Ibn Nafis.

Continuação da notícia Aqui

quarta-feira, julho 13

Da desistência e outras histórias

[A pungência de um silêncio que dói e é já solidão. Apenas o nada e o tremendo grito do vazio]


O caminhar a passos largos nas sinuosidades da autodestruição é apenas o iniciar de um longo percurso que inexoravelmente conduzirá à inexistência.

O saber-se que é o fim que se busca dando a sensação bem real de que o fardo está mais leve e que o deixar de respirar constitui acto libertador é em si mesmo o constatar da inutilidade da vida.

Irrompe a aurora prometedora de sofrimentos. Agigantam-se os fantasmas da noite, agora transparências espelhadas onde cada ser reflectido é o mesmo ser. Todos os fantasmas têm um nome. Sempre o mesmo nome.
O ser o reflexo de cada uma das faces que vou usando com traços comuns pois jamais deixaram de ser a mesma e o levar a concluir que aquele reflexo opacidado tem o meu próprio rosto ergonométrico, assimétrico, talhado em tons pétreos e rígidos encimados por olhos tristes, ausentes, pensativos em tons de azul intenso onde é apenas possível divisar a morte.

[Tenho saudades de ler quem escreve com a Alma]

Apenas escrevo com a Alma. Os dedos são meros veículos. Nem a cabeça faz parte do processo criativo. Essa ausência de cérebro substituído com êxito pelo sentir de dentro, do mais profundo só pode produzir a excelência.

Abandonado a todas as sortes, sortilégios e destinos, os dedos tecem sem arte a arte do mais profundo de um ser humano.

Restam os círculos viciosos repetidos infinitamente até ao limiar de todas as dimensões em vidas arrastadas até ao acto supremo da libertação: o deixar de respirar.


O ser o reflexo de cada uma das faces que vou usando com traços comuns pois jamais deixaram de ser a mesma e o levar a concluir que aquele reflexo opacidado tem o meu próprio rosto ergonométrico, assimétrico, talhado em tons pétreos e rígidos encimados por olhos tristes, ausentes, pensativos em tons de azul intenso onde é apenas possível divisar a morte.


Ao azul esperança sobrepõe-se agora o negro/cinza do vazio e da certeza que em breve tudo acabará.

Eugénio de Andrade

Fotografia de Pedro da Costa Pereira, retirada da sua galeria Aqui


Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Reminiscências

No leitor de cd´s, Beatles. Uma velha colectânea com alguns dos seus – muitos – êxitos.

O que me transporta para uma geração generosa, idealista, em certa medida utópica. Mas sempre uma geração com causas.

As razões insondáveis do Tempo e forças ocultas habituadas a um status quo pré-programado, mataram quase tudo o que havia de bom na vontade de mudança.
Hoje a maior parte dessa gente generosa e utópica, que em lugar de Deuses propunha profundas alterações na forma de encarar o mundo, amor entre os seres humanos em lugar de subserviência, que colocava a flor à lapela em vez de símbolos religiosos ou outros, é uma geração amargurada, quase anti-social.
Da revolução pacífica que sonharam, resta uma sociedade ainda mais decadente do que a encontraram, enquanto a Paz que desejaram se transformou em guerras sucessivas e localizadas, a avidez do lucro, substituiu a ideia de partilha.

Portugal não passou ao lado desta verdadeira fé. Em plena época de sessenta, estudantes desafiaram o poder instituído, os jovens começaram a ter consciência de uma guerra que se travava nas antigas colónias, injusta. Incapazes de reconhecerem as razões que leva um homem a apontar e a disparar uma arma contra um semelhante, alguns – muitos – optaram pela fuga para outros países também eles com profundas convulsões sociais, mas ainda assim onde se respiravam arremedos de democracia.

“Let it be” faz-se ouvir em acordes harmoniosos. Sonhos de uma geração plena da vontade de executar a dádiva. Surpreende-me hoje a simplicidade dos sons. Nada elaborados, quase primitivos, prenhes no entanto de uma rara beleza que só as coisas simples possuem.

Dizimada pela crueldade de uma guerra de interesses obscuros, uma grande parte da geração de sessenta portuguesa, perdeu-se algures entre o sangue vertido ingloriamente, drogas e desapontamentos. Os que sobraram constituem uma franja significativa de gente inadaptada, em que não mora a derrota, mas o desapontamento.

Do sonho de Gedeão, às baladas tristes de Zeca, passando pela poesia de Alegre, interventiva, possante e bela, à épica de Fausto, à clarividência de Adriano, restam hoje apenas resquícios memoriais, registados em folhas de papel, ou em velhos discos de vinil.

Abril foi o renascer de todos esses sonhos.

Deles restam “o sonho comanda a vida”, ou “venham mais cinco”.
Tudo o resto se esfumou na neblina de tempos e vontades.

Ontem como agora, espera-se outra geração generosa. Capaz do acto supremo da dádiva.

E porque “cada vez que um homem sonha, o mundo pula e avança”, também eu quero acreditar que os jovens com a generosidade que os caracteriza serão capazes de se juntar – ainda que com outros sonhos – aquela geração que desafiou preconceitos, derrubou verdades “absolutas” e deixou todo um manancial de esperança que não se esgotou em sessenta, nem num Abril já longínquo quiçá toldado por gentes que preferiam Março e os anos de obscurantismo.

“Eles não sabem que o sonho, é uma constante da vida…”

segunda-feira, julho 11

Google Terra - as imagens














Google Terra

Já imaginou voar de Lisboa a Nova York em 10 segundos e gratuitamente. Pois agora é possível com o Google Earth
earth.google.come se já tinha ficado supreendido com o google maps maps.google.com, bem então vai ficar mesmo surpreendido com o Google Earth. É que é ainda melhor que o google maps. Permite “voar” de local para local, ter uma visão aérea de um local, ver algumas cidades norte americanas em três dimensões. Sobrepor dados sobre os mapas, etc, etc.O download já está disponível em http://desktop.google.com/download/earth/index.html
Mas é necessário ter um computador mais ou menos de jeito e uma boa ligação à net (só funciona em XP e 2000). Eles recomendam:

• Operating system: Windows XP
• CPU speed: Intel® Pentium® P4 2.4GHz+ or AMD 2400xp+
• System memory (RAM): 512MB
• 2GB hard-disk space
• 3D graphics card: 3D-capable video card with 32MB VRAM or greater
• 1280x1024, 32-bit true color screen
• Network speed: 128 kbps (”Broadband/Cable Internet”)

O Google disponibiliza uma página com links (novos tipos de link KMZ – Google landmarks) que permite indicar um sítio no google earth.
Este novo programa da Google faz muitas coisas, mas a que achei mais interessante foram as cidades a 3 dimensões, o terreno (em todo o mundo) e os layers de informação que ainda só estão disponíveis nos Estados Unidos da América, embora existe alguns comentários de que a qualidade da informação não é a melhor que existe.

domingo, julho 10

Pensamentos de uma tarde quente

Ando a ler “a filha do capitão” do José Rodrigues dos Santos. Um livro de alguém de quem aprendi a gostar noutros géneros literários. Não gosto do uso e abuso de estrangeirismos ainda que de certa forma, justificados.

[Tudo isto depois de ter lido de um fôlego o “inEPCIA”, o livro mais lido depois da Bíblia e um pouco antes de “O meu pipi”]

A complementar o quadro, Bach. Bach em fundo, amenizando uma tarde de calor, incêndios e preguiça.

Passo os olhos pelas notícias do dia. Desgraças atrás de desgraças. Desligo e remeto-me um pouco a um exercício de introspecção. Porque temos de tolerar um Alberto João xenófobo sem que nada lhe aconteça? – Pensamento errado. Errado e irado. Remeto-o para o esquecimento. Afinal talvez o dito nem exista e seja uma criação da minha mente tortuosa, quiçá por acção do calor.

Em revista, a semana. Uma semana de pesadelo. Londres foi abalada por actos que aparentemente não deveriam ser cometidos por seres humanos. Mas se não foram humanos, quem colocou as bombas que vitimaram tanta gente inocente, cujo único crime, era deslocarem-se para os seus trabalhos? – Que espécie de humanidade é esta que recorre ao ataque anónimo perpetrado contra inocentes? – Ainda conseguiria entendê-los – quiçá aprová-los – se os ataques tivessem sido direccionados contra Bush, Blair ou mesmo Durão Barroso. Agora contra gente indefesa, trabalhadora, não o entendo de todo.

Pode-se sempre argumentar que ninguém quis saber – nem parece querer – do que acontece no Iraque, no Afeganistão e noutros pontos do globo onde a matança se tornou uma banalidade. Se é certo que esta seria uma óptima argumentação, não deixa também de ser questionável. Tem o Ocidente o direito de impor a sua cultura e a sua forma de pensar e de organizar as sociedades a outros que vêm o mundo de forma completamente diferente? – A resposta é um claro não.

Logo, a intolerância assume contornos indefinidos, em tons cinza/negros.
Seremos todos intolerantes? Ou a maior parte de nós é intolerante? – Tenho pensado nisto bastante. – A resposta parece-me um rotundo sim. Cada um de nós guarda bem no fundo um pouco de intolerância. Esta é em última análise o medo do diferente, daquilo que não entendemos. Mas o facto de não entendermos, não quer dizer necessariamente mau.

O ser humano – falando de forma muito genérica – tem de fazer uma profunda análise. Cada um de nós terá de fazer a sua. É imperioso que esta auto introspecção se faça rapidamente com a finalidade de entendermos o desconhecido, mas sobretudo para entendermos de uma vez por todas que estamos a ser manipulados por uma meia dúzia de gente sem pátria, cor, credo ou qualquer outro ponto de afinidade, que não seja o lucro e o enriquecimento rápido e fácil, independentemente do preço que outros têm de pagar. Muitos, com a própria vida.


Um Ocidental fabricante de armas não hesita em provocar uma guerra se com isso puder obter lucro fácil. Da mesma forma, um Árabe fará o mesmo se o resultado for igual.
Isto prova que não se trata de nenhum choque de civilizações. São os arautos da desgraça que nos vão vendendo essa imagem, porque lhes interessa. Um muçulmano não é necessariamente um inimigo.
O nosso vizinho em princípio também não o é. Porém, todos nós conhecemos um ou outro caso em que o vizinho ou mesmo um familiar próximo, por causa de uma árvore plantada na fronteira entre dois terrenos pode ser o motivo de um deles disparar sobre o outro. Isso faz do que disparou um muçulmano fanático?
Estou certo de que não.

A tarde continua tremendamente quente. O cenário parece saído de “Cem anos de solidão”. O calor sufoca tudo, abafando-me.

Continuarei a ler “a filha do capitão”, um tudo-nada antes de ir ler “O meu pipi”.

Em fundo, Bach.

A preguiça do corpo é substituída por alguma animação mental. Vou reflectir sobre o que acabei de escrever.

Entrega

Observo os voos rasantes das aves.
[Abissais!]

Pensar que estes pequenos seres vivos viajaram milhares de quilómetros em busca do Sol ainda me espanta.
A fragilidade e a pequenez parecem ser um enorme e impenetrável paradoxo que nunca deixará entender a imensa capacidade de sobrevivência. Espanto-me.
Vou chamar-lhes pequenos deuses.

Um dia igual a tantos outros. O tempo a esvair-se diante dos olhos atónitos e sem compreensão, parados, absorvidos pela terrível engrenagem da natureza. Cada segundo representa na verdade, menos um segundo. O fim a aproximar-se a passos largos tantas vezes com a nossa anuência!

[O preferir falar-te de vida plena de salivares trocas entregas em encontros fortuitos que distância apenas se apaga no melhor do imaginário]

O saber da saudade, do desejo adiado, do velho sofá agora cúmplice e testemunha efectiva de penetrações plenas de emoções e o fazer desejar-te aqui e agora.

(…) A frase cortada abruptamente deixando no que não está escrito tudo aquilo que ambos precisamos saber. Gramáticas negam o uso. Eruditos rangem os dentes. Pois que lhes caiam. [Os dentes]
Literatura é sentir. É passar ao papel sentimentos que as letras jamais serão capazes de traduzir.


[Hoje estou libertino, devasso, possesso, lascivo]


Além, Deus olha de soslaio, escondendo-se atrás de um Sol que se põe.

No entreabrir de pernas a vontade da entrega.
[Amanhã apenas o sono fará testemunho das noites de entregas]

sábado, julho 9

A vingança delas

Depois de tantos e-mails machistas pela Net... eis a revanche:


CORAÇÃO DE MULHER É IGUAL CIRCO:
sempre tem lugar para mais um palhaço...

O QUE SE DEVE DAR A UM HOMEM QUE PENSA QUE TEM TUDO?
Uma mulher para ensiná-lo como funciona!

POR QUE AS ARANHAS VIÚVAS-NEGRAS MATAM O MACHO DEPOIS DA CÓPULA?
Para acabar com o ronco antes que ele comece.

POR QUE OS HOMENS QUEREM CASAR COM VIRGENS?
Pq eles não suportam críticas!

COMO SE CHAMA UM HOMEM INTERESSANTE EM PORTUGAL?
Turista .

POR QUE DEUS CRIOU O HOMEM ?
Porque vibradores não cortam relva.

O QUE TÊM EM COMUM O CLITÓRIS, OS ANIVERSÁRIOS E O VASO SANITÁRIO?
Os homens sempre erram !

POR QUE MUITAS MULHERES FINGEM O ORGASMO ?
Porque muitos homens fingem os preliminares

POR QUE APENAS 10% DOS HOMENS VÃO PARA O CÉU?
Porque se todos fossem, seria o inferno !

QUAL A DIFERENÇA ENTRE HOMENS E PORCOS ?
Porcos não viram homens quando bebem .

QUAL A DIFERENÇA ENTRE UM HOMEM E UM PAPAGAIO?
Você pode ensinar o papagaio a falar cordialmente .

O QUE AS MULHERES MAIS ODEIAM OUVIR DO MARIDO QUANDO ESTÃO TENDO
SEXO DE BOA QUALIDADE?
Querida, cheguei .

POR QUE OS HOMENS NA CAMA SÃO COMO COMIDA DE MICROONDAS ?
30 segundos e já está pronto !

QUAL O NOME DA DOENÇA QUE PARALISA AS MULHERES DA CINTURA PRA BAIXO?
Casamento .

O QUE ACONTECEU À MULHER QUE CONSEGUIU ENTENDER OS HOMENS?
Ela morreu de tanto rir e não teve tempo de contar a ninguém.

POR QUE É QUE OS HOMENS TÊM A CONSCIÊNCIA LIMPA ?
Porque nunca a usam...

O QUE ACONTECE COM UM HOMEM, QUANDO ENGOLE UMA MOSCA VIVA ?
Fica com mais neurónios activos no estômago do que no cérebro!!!

POR QUE DEUS CRIOU PRIMEIRO O HOMEM, E DEPOIS A MULHER?
Porque as experiências são feitas primeiro com animais e depois com humanos!!!

POR QUE OS HOMENS GOSTAM DE MULHERES INTELIGENTES?
Porque os opostos se atraem!

QUAL O LIVRO MAIS PEQUENO DO MUNDO ?
"Tudo o que os homens sabem sobre as mulheres"

QUAL A DIFERENÇA ENTRE OS HOMENS E AS FRUTAS?
Um dia, as frutas amadurecem...

POR QUE AS PILHAS SÃO MELHORES QUE OS HOMENS?
Porque elas têm pelo menos um lado positivo..

QUAL A SEMELHANÇA ENTRE O HOMEM E O CARACOL ?
Ambos se arrastam, tem chifres, e acreditam que a "casa" é deles!!!

POR QUE UM HOMEM NÃO PODE TER UM BOM CARÁTER E SER INTELIGENTE AO MESMO TEMPO?
Porque assim seria mulher !!!

O QUE DEUS DISSE DEPOIS DE CRIAR O HOMEM ?
Creio que posso aperfeiçoá-lo...

POR QUE SÃO NECESSÁRIOS MILHÕES DE ESPERMATOZÓIDES PARA FERTILIZAR
UM ÚNICO ÓVULO ?
Porque os espermatozóides são masculinos e se negam a perguntar o caminho

QUANDO É QUE UM HOMEM PERDE 90% DE SUA INTELIGÊNCIA ?
Quando fica viúvo !

E QUANDO É QUE ELE PERDE OS 10% RESTANTES ?
Quando morre o cachorro...

Aluguer de apartamento em Vilamoura

Olá amigos !

Vêm aí as férias e... Tenho uma novidade para vocês... comprei um apartamento T1 em Vilamoura.

Caso estejam interessados posso alugá-lo. Faço um preço especial para amigos: 10 euros por dia.
O apartamento vai ficar mobilado no próximo fim-de-semana e devo salientar que tem vista para o mar e para a piscina do
prédio. É um 2º andar e o prédio não tem elevador (esta é a parte chata).

Aguardo o vosso contacto e peço que repassem esta mensagem.
Abraço a todos e disponham

PS: Anexo a fotografia.


(enviado por Paula Espadinha)

sexta-feira, julho 8

É tempo de diálogo

Não compreendo

O “conversasdexaxa3” fechou. Por motivos que desconheço, deixei de ter o controlo de o gerir e tivemos que abrir um novo, o:

http://conversasdexaxa4.blogspot.com

Mas muitos dos habituais leitores continuam a ir ao blog antigo. Tenho controlado o número de visitantes e verifico que o seu número é muito superior aos que nos visitam aqui.

Actualmente ali não há nada, apenas uma nota explicativa do ocorrido e o novo endereço deste blog, que indico acima.

Confesso que não sei o que fazer. Possivelmente é aborrecido e acredito que o seja, chegarem lá e “baterem com o nariz na porta”, não vindo por isso a este blog.

Mas a equipa continua a ser praticamente a mesma. Apenas a “Lótus”, por motivos compreensíveis, deixou de nos dar a sua colaboração a tempo inteiro, não se escusando porém de o fazer sempre que nos surge algum problema.

Estamos em férias e muitos dos habituais visitantes estão a gozá-las e que o façam o melhor possível. Por outro lado, na equipa nem todos têm actualmente disponibilidade nem inspiração para continuarem a escrever, neste tempo que convida mais à praia que ao computador.

Talvez seja isso …

Choque de civilizações?

S.Huntington aponta no seu livro um conjunto de factores que têm feito endurecer o conflito entre certos sectores do Islão e o Ocidente:

-O crescimento da população muçulmana tem gerado desemprego, sobretudo entre os jovens, que se tornam fiéis à causa islamita, acabando por emigrar para os países ocidentais;

-O Fundamentalismo islâmico tem dado aos muçulmanos uma confiança renovada sobre o carácter diferente da sua civilização e sobre a superioridade dos seus valores, em relação ao Ocidente;

-Os esforços do Ocidente no sentido de universalizar os seus valores e instituições para manter a sua superioridade militar e económica e para intervir em conflitos no mundo islâmico, geram ressentimentos entre os muçulmanos;

-O colapso do comunismo fez desaparecer o inimigo comum do Ocidente e do Islão e originou que cada um visse no outro a sua principal ameaça;

-O contacto crescente entre muçulmanos e ocidentais estimula em cada parte um novo sentido da sua própria identidade e mostra melhor as suas diferenças sobre os direitos dos membros de uma civilização dominada pelos membros da outra.

“As causas do conflito renascido entre o Islão e o Ocidente assentam, assim, em questões fundamentais de poder e cultura” em que, no que respeita ao Islão, a religião, unificada com a política, surge como a mola impulsionadora.

quinta-feira, julho 7

Londres atacada

No coração da cidade, as explosões afectaram várias estações de Metro e um autocarro, causando mortos e feridos. Revelar o seu número e difundir imagens chocantes, é fazer o jogo dos autores do atentado: publicitá-lo. Por isso os “media” ingleses, decidiram, por sua livre iniciativa, não o fazer.


(Foto do jornal "El Mundo")

New York, Madrid, Londres, Bali, a lista do terror prossegue. Ninguém está seguro em lugar nenhum, nesta guerra infindável, que ninguém ganhará.