quarta-feira, julho 13

Da desistência e outras histórias

[A pungência de um silêncio que dói e é já solidão. Apenas o nada e o tremendo grito do vazio]


O caminhar a passos largos nas sinuosidades da autodestruição é apenas o iniciar de um longo percurso que inexoravelmente conduzirá à inexistência.

O saber-se que é o fim que se busca dando a sensação bem real de que o fardo está mais leve e que o deixar de respirar constitui acto libertador é em si mesmo o constatar da inutilidade da vida.

Irrompe a aurora prometedora de sofrimentos. Agigantam-se os fantasmas da noite, agora transparências espelhadas onde cada ser reflectido é o mesmo ser. Todos os fantasmas têm um nome. Sempre o mesmo nome.
O ser o reflexo de cada uma das faces que vou usando com traços comuns pois jamais deixaram de ser a mesma e o levar a concluir que aquele reflexo opacidado tem o meu próprio rosto ergonométrico, assimétrico, talhado em tons pétreos e rígidos encimados por olhos tristes, ausentes, pensativos em tons de azul intenso onde é apenas possível divisar a morte.

[Tenho saudades de ler quem escreve com a Alma]

Apenas escrevo com a Alma. Os dedos são meros veículos. Nem a cabeça faz parte do processo criativo. Essa ausência de cérebro substituído com êxito pelo sentir de dentro, do mais profundo só pode produzir a excelência.

Abandonado a todas as sortes, sortilégios e destinos, os dedos tecem sem arte a arte do mais profundo de um ser humano.

Restam os círculos viciosos repetidos infinitamente até ao limiar de todas as dimensões em vidas arrastadas até ao acto supremo da libertação: o deixar de respirar.


O ser o reflexo de cada uma das faces que vou usando com traços comuns pois jamais deixaram de ser a mesma e o levar a concluir que aquele reflexo opacidado tem o meu próprio rosto ergonométrico, assimétrico, talhado em tons pétreos e rígidos encimados por olhos tristes, ausentes, pensativos em tons de azul intenso onde é apenas possível divisar a morte.


Ao azul esperança sobrepõe-se agora o negro/cinza do vazio e da certeza que em breve tudo acabará.

4 Comentários:

Às 13 julho, 2005 23:26 , Blogger Amita disse...

De fugida passo mas ainda li este texto. E permito-me relembrar-te que se reunires os estilhaços e as estrelas que todas têm o mesmo nome, o cinza e a negritude desaparecerão como por magia, a luzinha que brilha está junto a ti. Vê, Zé, o sol renasce todos os dias! Este é um escurecer momentâneo do escritor-poeta divagando na noite das teclas. Magnífico texto. Bjos

 
Às 13 julho, 2005 23:56 , Blogger Ana disse...

O azul esperança não pode deixar de brilhar nos olhos de quem escreve com a Alma.
Beijo-te.

 
Às 15 julho, 2005 03:56 , Anonymous Anónimo disse...

Escrever com a alma...
É maravilhoso ler tuas palavras, escritas com a alma.

Muita Luz, Amigo!
:)

 
Às 15 julho, 2005 18:26 , Anonymous Anónimo disse...

Zé, belíssimo texto. Mesmo que já o tivesses publicado (eu ainda não o lera) relê-se com a alma. Peter

 

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