domingo, julho 10

Pensamentos de uma tarde quente

Ando a ler “a filha do capitão” do José Rodrigues dos Santos. Um livro de alguém de quem aprendi a gostar noutros géneros literários. Não gosto do uso e abuso de estrangeirismos ainda que de certa forma, justificados.

[Tudo isto depois de ter lido de um fôlego o “inEPCIA”, o livro mais lido depois da Bíblia e um pouco antes de “O meu pipi”]

A complementar o quadro, Bach. Bach em fundo, amenizando uma tarde de calor, incêndios e preguiça.

Passo os olhos pelas notícias do dia. Desgraças atrás de desgraças. Desligo e remeto-me um pouco a um exercício de introspecção. Porque temos de tolerar um Alberto João xenófobo sem que nada lhe aconteça? – Pensamento errado. Errado e irado. Remeto-o para o esquecimento. Afinal talvez o dito nem exista e seja uma criação da minha mente tortuosa, quiçá por acção do calor.

Em revista, a semana. Uma semana de pesadelo. Londres foi abalada por actos que aparentemente não deveriam ser cometidos por seres humanos. Mas se não foram humanos, quem colocou as bombas que vitimaram tanta gente inocente, cujo único crime, era deslocarem-se para os seus trabalhos? – Que espécie de humanidade é esta que recorre ao ataque anónimo perpetrado contra inocentes? – Ainda conseguiria entendê-los – quiçá aprová-los – se os ataques tivessem sido direccionados contra Bush, Blair ou mesmo Durão Barroso. Agora contra gente indefesa, trabalhadora, não o entendo de todo.

Pode-se sempre argumentar que ninguém quis saber – nem parece querer – do que acontece no Iraque, no Afeganistão e noutros pontos do globo onde a matança se tornou uma banalidade. Se é certo que esta seria uma óptima argumentação, não deixa também de ser questionável. Tem o Ocidente o direito de impor a sua cultura e a sua forma de pensar e de organizar as sociedades a outros que vêm o mundo de forma completamente diferente? – A resposta é um claro não.

Logo, a intolerância assume contornos indefinidos, em tons cinza/negros.
Seremos todos intolerantes? Ou a maior parte de nós é intolerante? – Tenho pensado nisto bastante. – A resposta parece-me um rotundo sim. Cada um de nós guarda bem no fundo um pouco de intolerância. Esta é em última análise o medo do diferente, daquilo que não entendemos. Mas o facto de não entendermos, não quer dizer necessariamente mau.

O ser humano – falando de forma muito genérica – tem de fazer uma profunda análise. Cada um de nós terá de fazer a sua. É imperioso que esta auto introspecção se faça rapidamente com a finalidade de entendermos o desconhecido, mas sobretudo para entendermos de uma vez por todas que estamos a ser manipulados por uma meia dúzia de gente sem pátria, cor, credo ou qualquer outro ponto de afinidade, que não seja o lucro e o enriquecimento rápido e fácil, independentemente do preço que outros têm de pagar. Muitos, com a própria vida.


Um Ocidental fabricante de armas não hesita em provocar uma guerra se com isso puder obter lucro fácil. Da mesma forma, um Árabe fará o mesmo se o resultado for igual.
Isto prova que não se trata de nenhum choque de civilizações. São os arautos da desgraça que nos vão vendendo essa imagem, porque lhes interessa. Um muçulmano não é necessariamente um inimigo.
O nosso vizinho em princípio também não o é. Porém, todos nós conhecemos um ou outro caso em que o vizinho ou mesmo um familiar próximo, por causa de uma árvore plantada na fronteira entre dois terrenos pode ser o motivo de um deles disparar sobre o outro. Isso faz do que disparou um muçulmano fanático?
Estou certo de que não.

A tarde continua tremendamente quente. O cenário parece saído de “Cem anos de solidão”. O calor sufoca tudo, abafando-me.

Continuarei a ler “a filha do capitão”, um tudo-nada antes de ir ler “O meu pipi”.

Em fundo, Bach.

A preguiça do corpo é substituída por alguma animação mental. Vou reflectir sobre o que acabei de escrever.

8 Comentários:

Às 10 julho, 2005 23:19 , Blogger Peter disse...

Osama bin Laden pretende a implantação do islamismo a nível mundial. Para o conseguir há que expulsar os estrangeiros dos locais santos e dos países árabes, onde serão criadas sociedades fundamentalistas islâmicas.
Para alcançar este objectivo utiliza o terrorismo de massas, quanto maior o número de vítimas, maior é o impacto sobre a população civil.
Não existe pois espaço para negociações, pois o que está em causa, o que é preciso destruir, são os valores democráticos e religiosos ocidentais e para tanto, o morrer pelas suas convicções é uma honra e um acto de fé.
Por outro lado com quem se vai negociar? Ou quem se vai destruir, capturar, ou bombardear?
Osama bin Laden? Se tal acontecer nada muda, outro o substituirá, como tem acontecido com os seus lugares-tenente capturados. Acresce que a al-Qaeda é uma organização espalhada a nível mundial, em que as células gozam duma quase total autonomia e ainda existem outras "adormecidas", constituídas por militantes não referenciados e por isso insuspeitos e indetectáveis, mas que actuarão quando receberem o "sinal".
Tudo isto torna difícil destruí-la, ou negociar.
Penso que os ingleses se têm portado de um modo exemplar e espero que eficiente, no sentido de "separar o trigo do joio" e vejo com muita, muita apreensão, uma acção dessas sobre o nosso País, onde ao longo destes anos nem sequer temos conseguido combater eficientemente o flagelo dos fogos florestais e detectar e prender, mas prender mesmo, os responsáveis.

 
Às 11 julho, 2005 01:36 , Blogger Peter disse...

Quem é o Alberto Jordão? Se não falarmos nele, esvazia-se como um boneco insuflável.//Até de hoje a oito dias.

 
Às 11 julho, 2005 13:04 , Blogger Amita disse...

Bach como fundo para uma tarde de leitura é uma óptima escolha. A semana a que te reportas foi, indiscutivelmente, de pesadelos sucessivos. O homens estão loucos ao infligirem tanta dor aos seus semelhantes e à natureza. E a sua insanidade ainda não parou! Pertinente o teu apelo à auto-análise de cada um. Bjos

 
Às 11 julho, 2005 13:06 , Blogger Amita disse...

Aproveito para desejar umas óptimas férias ao Peter. Bjo

 
Às 12 julho, 2005 22:37 , Anonymous Anónimo disse...

Olá!

É.. foi muito triste assistir aos noticiários ... Mais um atentado.
E o pior é saber que eles estão agindo (equivocadamente) na defesa de seus interesses.

Para que tantas mortes? Por que os EEUU são assim? E ainda há quem diga q os responsáveis por tais 'ataques' seja Bush... como disseram no 11.09. Só Deus sabe a verdade...

O pior é que pessoas inocentes continuam a morrer.. por motivos mesquinhos...

Lindo Texto... Bach, tarde.. Eita... faltou só o pôr do sol. :)

Beijos!

 
Às 13 julho, 2005 11:34 , Anonymous Anónimo disse...

"amita",obrigado. Não são ainda umas férias. Digamos que foi uma "fuga".Peter

 
Às 13 julho, 2005 11:35 , Anonymous Anónimo disse...

"anjo", sim estou a ver que estão aguentando bem.Peter

 
Às 13 julho, 2005 11:46 , Anonymous Anónimo disse...

"Bluegift",obrigado pelo valor que deste ao meu comentário. Procurei aprofundar mais um pouco o assunto, mas pelo que vejo, o mesmo continua a ser visto simplisticamente, como um conflito Bush/Bin Laden. Peter

 

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