Rigoletto

«E por esso he chamado cabedal delles. E por ende o apostoligo que tem logar de Sam Pedro he cabedal de todos os bispos assy como foy Sam Pedro cabedal sobre todos os apóstolos»


“Le Roi s'amuse” de Victor Hugo parece ter influenciado determinantemente a obra de Verdi, “Rigoletto”.


É pois ao som de Rigoletto – libertino, devasso e amante dos prazeres carnais – que vou digitando diligentemente palavra atrás de palavra.

Pedro definitivamente é uma pedra no meu sapato. Das suas incapacidades falarei um dia. Bronco não distinguia um peixe de uma árvore, ainda que pescador. Resta-me saber de quê.

A insana jangada que me transporta parece querer naufragar a todo o instante. Insana a jangada, insano o passageiro.
Das insanidades também falarei um dia.

[Mas se Pedro veio ter contigo vestido com longa túnica alva, porquê essa tua animosidade contra ele?] Eu digo-te: por ser bronco.

Coríntios: 2:00:00

“Em verdade vos digo: todos os que assistem à peça Rigoletto passarão no purgatório”
Assustadora, esta mensagem Bíblica. Deus ama-se ou teme-se?

Dos seios erectos guardo a imagem – fugaz – do desejo que se escapa no voltear de folhas mortas atiradas para o esquecimento por acções de ventos – alísios? – putrefazendo-as.

O saber do vórtice quase anelar da tua púbis adivinhada entre roupagens é o despertar de todos os desejos.

[Pedro sentiria desejo?] vou-me perguntando aquando das leituras ocasionais dos evangelhos. Ainda não descortinei uma única altura em que este demonstrasse interesse pelo sexo oposto.


Hoje as flores abriram em formato rosa. Pétalas e pétalas em forma vaginal renascendo das cinzas, a quem um tempo nublado não tem permitido rasgar todas as possibilidades.

O restar apenas a impossibilidade da concretização.

Rigoletto, devasso e amante dos prazeres carnais manifesta-se em mim.

Serei Rigoletto.

Serei o amante.

De Pedro a túnica manchada de vinho e um nauseabundo cheiro a peixe.