quarta-feira, julho 27

Nas ervas

Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura,
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso,
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão,

porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve,

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

(Eugénio de Andrade)


ESTOU FARTO DE POLÍTICOS!

2 Comentários:

Às 27 julho, 2005 21:35 , Blogger Peter disse...

persephone, obrigado pela colaboração poetica.

 
Às 29 julho, 2005 19:30 , Blogger Amita disse...

NO LUME NO GUME

Vê como a nudez cresce.

Seria fácil pousar agora
no lume
ou no gume do silêncio
se houvesse vento:
mas quem se lembra do branco
aroma da alegria?

Reconheço no vagaroso
andar da chuva o corpo do amor:
vem ferido: nas suas mãos
como dormir?
Como enxotar a morte: esse animal
sonâmbulo dos pátios da memória?

Bago a bago podes colher
a noite: está madura:
podes levar à boca
a preguiçosa espuma
das palavras.

E crescer para a água.

Em lábios muito jovens
a turbulência das folhas
luta ainda com a raiz da água.

Em lábios muito jovens arder é tão lento...

Eugénio de Andrade


Muito lindo o poema publicado. Te mando este grata pela partilha. Bjos

 

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