Postulado da “Carneirada”
Ouvia eu a celebração de uma missa enquanto me deslocava no automóvel.
O pároco – certamente um homem sem fé, sem vontade e sobretudo sem princípios – fazia a apologia da obediência cega, argumentando que quem é conduzido, é livre!!!
Sou assumidamente um ateu. Respeito porém quem pensa de forma contrária e vê no divino o remédio para todas as maleitas.
Mas não posso respeitar um sacerdote que em nome de Deus se arroga o direito de impingir a teoria da obediência cega.
Este dogma tem custado à Igreja a perda de fiéis. As sumptuosas catedrais que antes se enchiam de gente estão agora quase vazias, povoadas apenas por uma meia dúzia de pessoas de idade avançada, regra geral, pouco letrada, mas acima de tudo, pouco informada.
Ora esta obediência que o “bom” pároco defendia, é a mesma que conduziu a Alemanha à guerra, os Europeus à catástrofe, Portugal a cinquenta anos de obscurantismo, sempre com a conivência e muitas vezes com a cumplicidade da Igreja Católica Romana. É ainda a mesma que sujeita a mulher ao primado do machismo, é ainda a mesma que induz os homens-bomba a fazerem-se explodir em nome de outro Deus qualquer.
Não seria possível a uma casta de generais levarem milhares de homens a combaterem outros homens, acaso as pessoas se dessem ao prazer de pensar. O conceito de Céu parece-me que conduz – segundo a interpretação destes “iluminados pastores”, o homem ao horror e à “carneirada” compulsiva.
Eis aí a forma primitiva da determinação objectivadora na qual se separavam o conceito e a coisa, determinação essa que já está amplamente desenvolvida na epopeia homérica e que se acelera na ciência positiva moderna. Mas essa dialéctica permanece impotente na medida em que se desenvolve a partir do grito de terror que é a própria duplicação, a tautologia do terror. Os deuses não podem livrar os homens do medo, pois são as vozes petrificadas do medo que Eles trazem como nome.
Vivemos numa época de tagarelice universal. De cristalização de imagens e de palavras. De generalizado e irreflectido uso de palavras e de linguagens, de que, muitas vezes, não se conhece as implicações que elas têm no plano do pensamento.
Para se ver o significado de uma palavra basta ir ao dicionário. Mas já não é tão fácil compreender os campos semânticos em que as palavras, ou os conceitos, se inscrevem. Que são múltiplos e complexos e representam esquemas de referência que lhes determinam o significado e o sentido. Às vezes, o uso descontextualizado de um simples conceito pode provocar enormes equívocos, muitas vezes porque o interlocutor, ou o próprio locutor, não apreendeu o campo semântico em que ela se inscreve. Isto, naturalmente, no plano, discursivo, analítico, conceptual. Esta situação tem particular acuidade no sensível universo dos discursos «politicamente correctos»!
Reflectir sobre conceitos em uso na linguagem comum pode levar a que se abram as portas a pensamentos novos, a formas inovadoras de aproximação cognitiva aos fenómenos, a novos horizontes discursivos.
Por tudo o que foi escrito aconselho vivamente a Igreja a fomentar cursos intensivos de “uso de conceitos e da palavra” aos seus sicários.
Não é justo nem desejável que uma casta de inúteis continuem a defender o postulado da obediência cega.
11 Comentários:
Em nome de quê os homens criaram deuses com os quais ameaçaram os outros e os submeteram à sua vontade? Em nome do poder e do seu exercício, claro!
Se pudesse assinava por baixo...
E pensando bem, assino mesmo.
Tu no teu melhor. É impressinante como alteras os temas e como estás tão á vontade em cada um deles.
Zé a igreja é o ópio do povo.
como é possível esta carneirada?
atan na tas contente coa igrêja?
brilhante. o que vindo de ti já não surpreende. admiro sinceramente essa capacidade de tratares temas diversos de forma tão bela.
zé... concordo com a maria... o texto do letras está belíssimo... este tem outro tom... mas igualmente bem escrito... beijinhos.... gi
Olá Zé.
Sempre oportuno e sempre genial.
Beijinhos
"Zezinho" não sabia que tb tinhas este blogue.
Esta é uma outra faceta tua que desconhecia. E gosto!
Beijinhos
Aí como aqui tem gente doente.
meu beijo
domínio total da escrita
beijos de além mar
daniela
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