quinta-feira, maio 31

Blue Moon

Às 09.04 PM de hoje, 31 de Maio, a Lua Cheia para os americanos será uma “Blue Moon”. Em 1946, a revista “Sky & Telescope” publicou um artigo intitulado “Once in a Blue Moon”, no qual opinava que a segunda Lua Cheia num mês, deveria ser chamada “Blue Moon”.

Blue moon

Blue moon, you saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue moon, you know just what I was there for
You heard me saying a prayer for
Someone I really do care for

And then suddenly appeared before me
The only one my arms could ever hold
I heard somebody whisper please adore me
But when I looked that moon had turned to gold

Blue moon, now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Without a love of my own

Na canção, Blue Moon é um símbolo de solidão que os enamorados transformam em Lua Dourada.

Lua Azul, você me viu na maior solidão
Sem um sonho no coração
Sem um amor pra ser a minha paixão
Lua Azul, você sabe bem porque eu estava ali
Você me ouviu pedindo aos céus
Por alguém por quem eu sentisse algo

E do nada, apareceu na minha frente
A única que meus braços poderiam querer abraçar
Eu ouvi alguém sussurrar “por favor, me ame”
Mas quando procurei só vi que a Lua Azul tinha ficado Dourada

Lua Azul, agora não estou mais sozinho
Sem um sonho no coração
Sem um amor pra ser a minha paixão
Sem um amor pra ser a minha paixão

(tradução brasileira)



Mas, como pode ver-se na foto acima, tirada em Outubro de 2003 sobre Watauga (Texas), por Tom King, a Lua pode tornar-se genuinamente azul. A causa poderá ser a existência no ar de pequenas gotas de água de cerca de 1 micron de diâmetro, cristais de gelo, finos grãos de areia, cinzas vulcânicas ou provenientes de fogos florestais, as quais afastam o vermelho e o verde da luz branca.

Deste modo, a luz branca da Lua, passando através desse ar poluído, torna-se azul.

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terça-feira, maio 29

Deixemo-nos de poesia...


Que é bonita e sabe bem mas da maneira como isto está só apetece é ser ordinário mesmo.
Apetece não cuidar das palavras, esquecer o polimento, as boas maneiras e usar termos pouco politicamente correctos, feios mesmo, daqueles que fazem corar uma rameira.

Vejamos:
Ministros que, em nome de um projecto qualquer (ok, ok... o desenvolvimento, a ligação com o mundo, etc. etc.), sem argumentos e sem inspiração (como eu...), simplesmente agudizam um estigma que, longe de ser benéfico, só estimula maior desagregação entre A CAPITAL.... huuuuu.... e o resto do país, nomeadamente a tal Margem Sul, coito de terroristas e delinquentes, onde ninguém se preocupa e nada faz.
É claro que historicamente haveria que equacionar algumas opções de desenvolvimento mas... Mas chega de falar do homem. Toda a gente lhe anda a bater.

Boys, jobs e a falta dos mesmos.
Pois é. A factura a pagar pela concorrência com outros países com maior competitividade é grave e penosa.
Como é que se compete com a China ou Taiwan, Tailândia e outros? Como é que se pode competir com países onde as pessoas não são trabalhadores mas escravos?
Sim eu sei que escravos há em todo o lado até na nossa bela Europa e nos USA.
Mas mesmo assim...

Festivais e canções... Eurovisão 2007. Portugal transporta na maleta de cartão uma cantiga (é assim que se diz....) com cheiro a poeira da estrada e das feiras de interior.
Não posso dizer que era a pior porque não vi aquilo tudo. Vi o bastante, no entanto, para perceber que estes tipos andam a leste (quer dizer... se andassem a Leste, teriam reparado que esses andam atentos), da música que se faz e se consome e dá alguma dignidade aos concorrentes. Ninguém percebe que aquilo não é uma feira? Ali há investimentos a sério.
Como noutras matérias, investe-se no óbvio bacoco, deselegante e ineficaz.
Nem se põe a questão da rapariga até ser engraçada e ter voz.
Dêem-lhe é uma canção, ora bolas.
Mas com ministros que dizem daquelas.... ok não se fala mais nisso.

E a Câmara de Lisboa?
É só rir...

E depois, apetece-me perguntar se alguém desse grupo de iluminados (com ou sem licenciatura...) que dirige esta flor junto ao mar plantada, já pensou de que maneira de desenvolve o país no seu melhor trunfo que é o turismo?
E o interior? Talvez um ou dois estadios.... ah pois já não há Euro nem nada...

Um amigo meu definia muito bem o que penso sobre isto: “Isto é um país a brincar:”

E haveria muito mais e melhor que dizer... mas não temos tempo... Apenas que é triste porque com estas incertezas, nos vão corroendo por dentro e criando buracos difíceis de preencher.

E depois, onde arranjamos nós boa disposição até para os afectos?
Onde fica o desejo de partilhar?
Partilhar o quê? Um conjunto de misérias existenciais? Estigmas de passados?


Pronto, tá bem, acordei com neura... E depois?
Sabem quanto custa um analista? Pois é.
Depois queixam-se que anda tudo cinzento e o caraças.


(Foto: da net...)

O regresso dos bufos?

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, 7ª edição, da Porto Editora, pag 297, "bufo" é uma ave de rapina nocturna, da família dos Bubonídeos também conhecida por "corujão", "mocho-real" ....
Mas também pode ser (pop) polícia secreto; delator; ...

Escreveram que de há 33 anos para cá os bufos diminuíram, levando ao seu quase desaparecimento. Não vejo nenhum facto significativo que tivesse levado ao desaparecimento dos "mochos-reais". É um facto que vivemos numa República e não numa Monarquia, daí poder não haver lugar para eles. Mas o que parece é que não desapareceram, para mal dos ratos do campo, cobras, etc, de que se alimentam.
Portanto, as notícias do seu desaparecimento devem referir-se aos indivíduos abrangidos pelo significado popular da palavra.

Ora vejamos:

- Não tenho tomado conhecimento de um aumento, ou diminuição significativos, dos "polícias secretos", mas também, se eles são "secretos", como é que eu poderia saber se desapareceram, ou não?
Acho que todos os países os têm, por isso porque é que nós haveríamos de ficar atrás deles?

- Na dúvida, deverão tratar-se de “delatores”, segundo o outro significado popular da palavra.
Parece que há 33 anos havia muitos honestos chefes de família que obtinham uns dinheirinhos extras, ou benesses profissionais, contando conversas que ouviam, lesivas do bom nome dos seus superiores, os quais deveriam ser sempre merecedores do maior respeito e consideração e não referidos em anedotas jocosas.
Teriam sido eles os desaparecidos, mas se calhar por morte natural, porquanto a apetência permanecera latente, sempre pronta a reaparecer em qualquer momento:

- Estás a fumar aqui? Cuidado.
- Aquela dactilógrafa há um quarto de hora que não faz nada …

domingo, maio 27

O Hubble detectou um “anel fantasma” de matéria escura

A substância mais comum no universo é aquilo a que se chama “matéria escura” (dark matter). Não brilha nem reflecte a luz e por isso não é visível. Será então uma matéria invisível, composta de átomos bastante diferentes daqueles que constituem a matéria normal do universo, tal como estrelas ou galáxias.

Se fosse possível dirigir o seu carro contra uma parede feita de “matéria escura”, não racharia sequer um farol, nem accionaria o “airbag”. Você não saberia sequer o que sucedera.

Mas o que acontece à “matéria escura” durante uma colisão? Teremos que especular:

- astrónomos utilizando o telescópio espacial Hubble da NASA obtiveram, pela primeira vez, uma visão de como a matéria escura se comportaria durante uma colisão titânica entre dois conjuntos de galáxias (“clusters”).

A destruição criaria uma ondulação de “matéria escura”, um “anel” um tanto similar ao que se forma num lago quando uma pedra bate na água. A descoberta do “anel” está entre a mais forte evidência de que essa “matéria escura” existe. Embora os astrónomos não saibam do que ela é feita, pensam tratar-se de um tipo de “partícula elementar” que se espalha por todo o universo.

Aliás, há muito que suspeitam que essa substância invisível será a fonte da gravidade adicional que une entre si os conjuntos de galáxias (“clusters”). O normal seria os “clusters” dispersarem-se se estivessem unicamente ligados pela gravidade das suas estrelas visíveis, mas eles permanecem unidos.



A estrutura em forma de “anel” é evidentemente uma “imagem composta”, construída a partir do conjunto das observações feitas pelo Hubble. O “anel” pode ser visto no mapa azul da distribuição da “matéria escura” do conjunto, que se sobrepôs sobre a imagem do “cluster”.

É a primeira vez que se detectou a “matéria escura” como tendo uma estrutura única, diferente da do gás e das galáxias do “cluster”. Os investigadores descobriram acidentalmente o “anel” quando traçavam a distribuição da matéria escura dentro do “cluster” de galáxias C1 0024+17 (ZwCl 0024+1652), localizado a 5 biliões de anos-luz da Terra. O diâmetro do “anel” mede 2,6 milhões de anos-luz.

Uma “enormidade” que não tenho sequer capacidade para imaginar.

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sábado, maio 26

Pavia - Anta-Capela de S.Dinis


(Foto Peter)

A anta foi transformada em capela de invocação a S. Dinis, possivelmente no início do século XVII, tendo sido completada a sua destruição por Vergílio Correia nos primeiros anos do século passado.
Quanto a mim, foi um “crime” cometido contra o nosso património cultural, que não aproveitou a ninguém, nem sequer à religião católica, em nome da qual foi feita a destruição/construção.

sexta-feira, maio 25

Pormenores


Indivíduo A a beber café curto:

- Como é que num documento devidamente timbrado, datado de 1996, podem constar como números de telefone e de fax, para contacto, respectivamente :
… 21 … .. .. e … 21 … .. .. quando em 1996 os números de telefone não apresentavam os indicativos 21 – 22 – 290 etc, mas sim 01 – 02 – 090 etc pois a alteração só foi feita em 31 de Outubro de 1999?

Indivíduo B a beber um café longo:

- E como é que no mesmo documento (datado de 1996) consta um código postal composto por 7 algarismos, uma vez que só em 1998 começou a ser utilizada esta nova forma de indicação?

Indivíduo C que não bebeu café, pois já estava a ficar nervoso:

- Eu não ouvi nada! Eu não ouvi nada!

Esclarecimentos:

- Chamo-me António, mas não estava lá.
- Chamo-me Baptista, mas não estava lá.
- Chamo-me Carlos, mas não estava lá.

Segue reconhecimento notarial.

quinta-feira, maio 24

"Ir para o maneta"



Por vezes utilizamos expressões sem nos preocuparmos com a sua origem, ou mesmo se elas têm de facto alguma origem.
É o que sucede com a expressão:
"foi tudo para o maneta"
que empregamos quando queremos descrever uma situação de perda total de um projecto, de uma construção, negócio ...

Esta expressão teve a sua origem no tempo das Invasões Francesas, mais concretamente com a Primeira, comandada por Junot.
Foi uma autêntica "praga" que se abateu sobre o nosso País, com a "soldadesca" pilhando tudo que era valioso e até mesmo o que não era.

Entre os seus Generais, Junot tinha um, de nome Loison, que, por não ter um braço, era conhecido por "o maneta", conhecido também pela sua extrema crueldade. Todo e qualquer português, por vezes populações inteiras, que lhe caíssem nas mãos, eram cruelmente torturadas e mortas.
Daí o ter-se começado a utilizar a expressão acima, quando se perguntava por alguém que desaparecera inopinadamente, a resposta era também invariavelmente:

"Foi para o maneta"

quarta-feira, maio 23

No restaurante

Sentado a um canto do restaurante, saboreando o café que acabava de beber, entretinha-me a ler um artigo de uma revista e a fazer horas para o regresso ao escritório:
“O que é que nos excita e nos provoca e estimula o interesse sexual?”

Será que agora só se pensa em sexo, ou serei eu que estarei a ficar demasiado velho para pensar nele? (interrogo-me).

“Cada pessoa é um mundo e enquanto a algumas são determinadas características que as excitam, a outras podem causar-lhe o efeito contrário, a perda do interesse sexual. Tanto podem ser problemas físicos, de personalidade ou atitudes.”

O homem está a perder o seu estatuto, já que a iniciativa passou a ser da mulher em muitos casos. A emancipação feminina, iniciada com o trabalho fora de casa, completou-se com a pílula anticoncepcional. (“marialvismo” meu? Possivelmente sim).

Continuo a ler:
“Quando se inicia uma relação, gera-se um processo de selecção. Neste processo ambos vão explorando compatibilidades e complementaridades. Pode ser que nem sequer se procure qualquer compromisso e que o interesse em conhecer alguém nem sequer tenha em mente o aspecto sexual, o que não impede que o mesmo não possa vir a acontecer.”

O artigo é mesmo chato e acabo por pôr de parte a revista.

É então que reparo no casal da mesa ao lado, ainda em meio da refeição. Ela muito atraente, uma bela morena, na casa dos quarenta, altura em que a mulher atinge a sua plenitude. Ele talvez dez anos mais velho, nem tanto. Magro alto, mas não em demasia. Casaco e gravata, portanto todo o ar de dois colegas de trabalho.

Não sou “cusco”, mas sem querer dou comigo a ouvi-los:

M - “Tens um problema a resolver, e hás-de resolvê-lo. És um homem muito atraente sob todos os aspectos, mas sabes que o desgaste e o passar do tempo num casamento dificultam as coisas e diminui o desejo.”
H – “Uma boa parte das nossas preferências são de índole cultural, mas nem todas.”

Retomo a leitura. Acho indecente estar a ouvir as conversas dos outros:
“Na nossa atracção, ou rejeição, podem concorrer muitos factores, um simples aspecto, um pequeno detalhe, eventualmente uma parte da história da outra pessoa, que têm maior importância que tudo o resto e que as desencadeiam.”

Alto! A morena parou de comer e fita-o, olhos nos olhos:
M - “ É natural que num casal a mulher seja a mais afectada, sem se dar conta. Um de vocês tem que tomar a iniciativa e pelo que vejo, terás que ser tu.”

Ele não responde, e deixa-a falar:

- Vejo-te muito ansioso com a falta de receptividade da outra parte, mas isso resolve-se conversando sobre o assunto.

Comecei a ver a questão, ou talvez não. Nós homens nunca compreendemos as mulheres.
Ela continua e ele, estúpido, ainda não percebeu que é ela que está profundamente interessada nele e que não o esconde:

M - A certa altura reparei no meu egoísmo...tu a quereres falar sobre o teu problema e eu sem dar conta disso. Mas se te puseres no meu lugar, entenderás que não é fácil a uma mulher que ama alguém, ouvir esse alguém falar de sexo e de ansiedade por outra mulher, mesmo que seja a sua. Por isso não te ouvi como devia ser...Problema meu, não teu, pois tu sempre foste muito directo, eu é que não entendi bem a questão (é caso para dizer que "o amor é cego").

Levantei-me e saí. Estou certo que ele finalmente acabou por compreendê-la, ou talvez não …

segunda-feira, maio 21

Princípio da Equivalência e Teoria das Cordas


No folclore da física, nenhuma história é melhor conhecida do que a de Galileo deixando cair esferas do alto da torre inclinada de Pisa, para provar que a gravidade acelera igualmente todos os objectos, independentemente da sua massa ou composição. É o chamado "princípio da equivalência," e é uma pedra angular da física moderna.
Mas Galileo estava correcto?
Violações incrivelmente pequenas do ”princípio da equivalência” podem de facto existir, fornecendo um teste para a “teoria das cordas” e apontando o caminho para a tão desejada teoria do todo (Theory of Everything). (NASA Science News for May 18, 2007 )

Sendo uma das teorias mais ambiciosas que alguma vez foram propostas, a “teoria das cordas” é a chave para a teoria do campo unificado (Theory of Everything), que “fugiu” a Einstein por mais de trinta anos.
Agora a ciência tenta superar a divergência de quase cem anos entre as leis do “muito grande” (a relatividade geral) e as leis do “muito pequeno” (a mecânica quântica).

A “teoria das cordas “ procura juntar habilmente estes dois pilares da física moderna de uma forma única e harmoniosa, ao proclamar que todas as maravilhas que ocorrem no universo surgem das vibrações de uma simples entidade:

- “curvas de energia” microscópicas (“cordas”), inscritas profundamente no coração da matéria.

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sexta-feira, maio 18

PORTO: O MORRO E O RIO - 8º EPISÓDIO: VANDOMA



Na solidão da aldeola serrana (ou terá sido lá pelo meio do Alentejo?) o homem velho, mais rugas do que idade, levantou a cabeça cansada.

E que faz El-Rei aqui
Por estas Terras de Além?
- Venho ver quem é ninguém.

Mas Senhor, aqui tão longe,
Só há fome... só há pó...
- Venho ver quem está tão só.

E disse El-Rei esta fala:
- Venho ver quem sofre e cala.
Lá na Corte todos pedem
Lá na Corte todos comem
Mas se aqui eu vejo fome
Também vejo o que é ser Homem.

Deixámos o leitor aqui na Sé, 620 anos atrás, em plena boda que el-rei D. João I fizera com sua mulher. Na história do Mundo, seis séculos nada são. No entanto, para este Povo que se afirmou com este Rei, foi o tempo para se fazer e desfazer um império; dividir ao meio o Mundo que havíamos descoberto ou iríamos ainda descobrir; mas tempo também para se perder o orgulho em sermos quem somos e deixarmos alimentar as aves da descrença, tão parecidas com aquelas que dantes piavam por Castela.
Tempo de haver Reis que defendiam a sua terra, ao lado dos mais humildes; tempo de haver outros que fugiam com a Corte para o Brasil. Só os primeiros são Reis.

E entrámos na Sé, apreciando o altar de prata, que D. João I não viu, pois é do século XVIII, uma das primeiras obras de Nicolau Nasoni. Em 1809, com outro João, o sexto, fugido no Brasil, a soldadesca de Soult, especialista em pilhagens, por aqui passou, mas também não o viu. Um sacristão habilidoso não funcionou como ave da descrença: teve a habilidade de o cobrir com uma camada de gesso.

E que faz El-Rei tão longe
Por esses Brazis distantes?
Já não é como era dantes.

O que faz El-Rei não sei
Precisamos de outro Rei.

Cá fora, para os lados da Calçada de Vandoma, o perfume barroco da galilé, mais uma jóia de Nasoni, dando um toque de elegância à estrutura norte do edifício.

A este italiano deve o Porto – e não só – um património artístico de incalculável valor: o Paço Episcopal de que falámos, Igreja dos Clérigos, Palácio de S. João Novo, fachada da Igreja da Santa Casa da Misericórdia, Palácio do Freixo, Casa de Despacho da Ordem Terceira de S. Francisco, casas, fontanários, esculturas em pedra...
Fora do Porto, entre outras, Igreja do Senhor de Matosinhos, Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, Palácio de Mateus em Vila Real...


E na calçada de Vandoma deparei com um cubelo e um pequeno trecho da Cerca Velha, reconstruídos, na zona onde outrora se situava a Porta. Trazida por cavaleiros gascões e franceses, segundo dizem, a imagem de N.S. de Vandoma estava recolhida num nicho da Muralha e dera o nome à Porta e ao Arco. Quer uma sugestão? Volte a entrar na Sé e admire a sua beleza. Está mesmo ao lado do altar de prata de que falamos há pouco, capela de S. Vicente.


É Nossa Senhora de Vandoma que vamos encontrar nas Armas da cidade, ladeada por dois Castelos, com a legenda Civitas Virginis (Cidade da Virgem), inalterada de 1012 a 1813.

Por aqui era a saída da cidade para o Norte: as Eiras, o Corpo da Guarda, a Rua Chã.
Entre esta porta e a de Sant'ana ficava a de S. Sebastião, com acesso à importante Rua do Souto, que atravessava o Rio de Vila e, no século XIII, já chegava ao Olival...

Um dos romances de Alberto Pimentel," O Arco de Vandoma", decorre nesta zona.
-Oh minha Senhora, estão a deitar abaixo o Arco!!!
-Que dizes tu, mulher?
E deitaram mesmo. Estávamos em 1855.

Vinte anos antes - dois anos, apenas, depois do fim do Cerco - uma cidade comovida e em luto fizera um cordão desde a Praça da Ribeira até à Lapa, último destino do coração de um grande Rei. Em cada português que respeita a Liberdade ficou também um bocadinho desse coração generoso.
Mas no centro, bem no centro do Brasão do Porto, ficou inteiro.

E que faz El-Rei querer
Ter aqui seu coração?
Coisa assim eu nunca vi...
- Aqui os homens não cedem.
Aqui dão mais do que pedem
Vou ficar melhor aqui.

No próximo episódio também ficaremos por aqui. Na companhia de Vímara Peres.

(continua)

Colaboração de:
Fernando Novais Paiva – autor do texto e das fotos

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quinta-feira, maio 17

Três rosas vermelhas


- Já chegaste?
- Já estou aqui há 10 minutos.
- Também eu. Sentei-me aqui fora na esplanada. Está-se bem aqui, uma bonita vista, gosto de estar junto ao mar.
- Vamos lá para dentro para o 1º andar, a vista é melhor. Aí fora levanta-se vento e torna-se frio.
- Mas o empregado já encheu a mesa com aperitivos e trouxe uma garrafa de água, como se nós fossemos beber água...
- Não há problema, é tudo gente conhecida.
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- Estás a ver? É uma mesa estupenda. Eles têm aqui um prato de grelhados, com uma carne argentina que é uma maravilha. Dá bem para duas pessoas.
- Tu lá sabes, mas eu não estou para "encolhas", qualquer dia "bato a bota" e quem cá ficar que feche a porta. Vou mesmo beber um tinto especial da Fundação Eugénio de Almeida, pois estes tipos não têm Quinta do Carmo.
- Também tens a mania do Quinta do Carmo. Há aí melhores.
- Pois há. Mas já viste os preços? Estás é a pagar o nome, não o vinho. Ficamos pelo Eugénio de Almeida. Vais ver que gostas, parece veludo.
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- Estás a deixar muita gorjeta.
- Pois estou. Quero que se lembrem de mim senão, quando cá voltar, põem-me ao fundo da sala, virado para a parede.
- Tens andado chateado, nota-se.
- Pois tenho. Só me saem "duques" e cai tudo em cima de mim ao mesmo tempo.
- Vamos andando?
- Vamos. Não tenho nada que fazer, mas vamos.
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- Já viste? A loira deitou para o chão as três rosas vermelhas que o rapaz lhe deu e "por aqui me sigo" e ele ficou parado a olhar.
- Vamos ver o que aquilo dá. Olha, ele desatou a correr atrás dela, mas ela afastou-o.
- Bem, as coisas parece estarem a melhorar pois ele já conseguiu abraçá-la.
- Não. Ela resistiu e afastou-se novamente. Espera, já estão de novo juntos e ela passou-lhe os braços em redor do pescoço. Vamos embora. Fizeram as pazes.
- Não fizeram nada. Ela afastou-o outra vez e começou a correr.
- E ele a correr atrás dela. Já não os vejo.
- Vamos ver o que aquilo dá. Estão lá ao fundo abraçando-se e beijando-se. São arrufos passageiros. Ainda bem, pois a moça era bem bonita.
- Pois é. Só dá para ver ...
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Passa um "monhé", daqueles que andam a vender botões de rosa. Não sei de onde saem, aparecem em todo o lado e em todos os países. Às vezes dá-me a impressão que surgem todos à mesma hora.
Abaixou-se e apanhou do chão as três rosas. Depois tentou vendê-las a um casal que se aproximava. Mas estes, que tinham visto "a manobra", rejeitaram-nas.

Também era demais ...

quarta-feira, maio 16

Soluços


Lembram-se da freira de que falámos há tempos?

Pois a freira foi ao médico:
- Doutor, tenho tido um ataque de soluços, que não me deixa viver. Não durmo, não como, e dói-me o corpo de tanto movimento compulsivo involuntário.
- Tenha calma, irmã, que vou examiná-la.
Ele examina-a e diz:
- Irmã, a senhora está grávida.
A freira levanta-se e sai a correr do consultório, com cara de pânico.
Uma hora depois o médico recebe uma chamada da madre superiora do convento:
- Doutor, o que disse o senhor à irmã Maria?
- Cara madre superiora, como ela tinha uma forte crise de soluços, eu disse-lhe que estava grávida. Espero que, com o susto, ela tenha parado de soluçar!
- Sim, a irmã Maria parou de soluçar, mas o padre António pulou da torre da igreja!!!

terça-feira, maio 15

MEME

A Betty Branco Martins, do blog http://bettybrmartins.blogspot.com, passou-me um “Meme”, para depois o passar a outros.
No final do post deixo a indicação de 6 blogues que lhe deverão dar seguimento, lançando o desafio a outros tantos.
Dando resposta ao desafio da Betty:

O ÚLTIMO FÓSFORO

“Não há luz ao fundo do túnel,
apenas uma caixa de fósforos passada
de uma geração para a seguinte.
A humanidade não tem um pavio comprido
E esta geração tem o último fósforo.”

(JonArno Lawson*,”Love is an Observant Traveller)
· Poeta canadiano,1997.

Betty, obrigada pelo desafio e agora passo-o aos seguintes bloguers:

http://branco-e-preto.blogspot.com/ - Amita
http://klepsidra.blogspot.com - Augusto
http://a-papoila.blogspot.com/ - A papoila
http://amartaeeu.blogspot.com - Marta
http://eusoulouco2.blogs.sapo.pt/ - António
http://apenaseuemaiseu.blogs.sapo.pt - Lúcia

Cabe aos nomeados continuarem a corrente, se assim o entenderem.

EDUCAÇÃO

NOTAS REVELAM BAIXA DE QUALIDADE DO ENSINO PÚBLICO?

"NÃO. Já é altura de deixar de culpar a escola pelos maus resultados dos alunos. Haverá professores menos adequados à função e os manuais não serão os melhores. Mas OS RESPONSÁVEIS PELAS NOTAS MISERÁVEIS QUE PREENCHEM AS PAUTAS SÃO OS ESTUDANTES E OS PAIS. Os primeiros, porque não estudam. Os segundos, porque não os obrigam a estudar."

(Paulo João Santos, editor de fecho, "Correio da manhã", 14 MAIO 2007)

Aí vêm os paizinhos dos meninos “à carga” ...

segunda-feira, maio 14

A “ponte”

Um universo velho é necessário para produzir estrelas. Por sua vez, as estrelas produzem os elementos nucleares mais pesados que o hélio, necessários à subsequente evolução da complexidade.
Se a força da gravidade fosse ligeiramente diferente, ou se a intensidade da força electromagnética fosse ligeiramente perturbada, as estrelas deixariam de existir e o delicado equilíbrio responsável pela possibilidade da existência da vida e pelas propriedades dos núcleos, átomos e moléculas seria destruído.

As estrelas não poderiam nunca ter tocado nada, não poderiam nunca ter percorrido cidades no (des)conforto enlatado dos transportes públicos, sem a “ponte” exacta dos corpos.

Mas preocupa-me a “precisão de relojoeiro” que regula o Universo. Está intimamente ligada às “constantes da Natureza”. Já por aí falei nelas: velocidade da luz no vácuo, massas das partículas elementares da matéria, ...

Por que razão têm os valores que têm?
Se fossem diferentes, a possibilidade da existência de observadores conscientes e em evolução, desapareceria.

domingo, maio 13

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar ...

“Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza,
porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!”

(Alberto Caeiro)

Escolhe-se um poema como quem colhe uma rosa. E do mesmo modo que esta exibe a sua beleza, tal sucede com o poema, que também como um bom vinho precisa de respirar. No seu livro, enfileirado na estante, fenece e morre. É preciso fazê-lo voltar à vida: dar a conhecê-lo, ou relembrá-lo ...

sábado, maio 12

É esta a melhor foto do ano?


Esta foto poderá ser polémica para alguns, talvez a maioria, porquanto o habitual é vermos palestinianos vítimas da polícia ou do exército israelita. Não é este o caso: a foto é a de uma mulher israelita resistindo estoicamente ao desalojamento do seu colonato, decretado pelo Governo Israelita.
O seu autor foi Oded Balily da AP, foi premiada pelo World Press Photo e também foi Prémio Pulitzer.
É o outro lado do problema.

Deixemos a política e admiremos a foto.

sexta-feira, maio 11

Lua, o novo objectivo

Esta foto foi tirada por Shahriar Davoodian de Teerão (Irão) a semana passada (afinal não se preocupam só em fabricar a bomba atómica …). Por ela podemos constatar que a Lua não é totalmente cinzenta, mas que o terreno lunar apresenta subtis diferenças de cor.


As áreas azuis são ricas em Titânio, enquanto as cor de laranja são pobres. O mineral Ilmenite, muito comum na Lua, é rico em óxidos de Titânio, dos quais se pode extrair oxigénio com relativa facilidade, indispensável para a respiração humana e como oxidante para os foguetões./
Oxigénio ali mesmo à mão.
Temos uma nova corrida para a Lua?
Que vão, ao menos não nos chateiam cá na Terra.

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quinta-feira, maio 10

Grilos


Quando eu era miúdo e frequentava a então chamada "Instrução Primária", obrigatória como instrução oficial básica até à 3ª classe, portanto há muitos, muitos anos, adorava por esta altura do ano ir aos grilos.
A escola era no limite da vila e, por detrás, havia um monte com três moinhos de vento que funcionavam mesmo. Um deles era de um companheiro de escola e, muitas vezes íamos lá ver o pai a trabalhar.
Falo deste assunto porque foi ali que filmaram cenas de um dos primeiros filmes portugueses: "A canção da terra", de Jorge Brum do Canto (n.1910 – m.1943).

Claro que foram dias de alvoroço na escola, mas voltemos aos grilos.
Descíamos a outra vertente do monte e espalhávamo-nos pelo campo. Quando um de nós ouvia o seu cantar cri-cri, íamos pé ante pé tentar localizar a toca.
Muitas vezes não conseguíamos. Era a toca de uma fêmea, que não cantava e nos ferrava nos dedos que não era brinquedo. As fêmeas distinguiam-se por terem três rabos.
Com uma palhinha que enfiávamos na toca, procurávamos que o grilo saísse.
Depois de verificarmos que não era uma fêmea, apanhávamo-lo e colocávamo-lo na cabeça, debaixo do boné. Era engraçado, pois alguns começavam logo a cantar ali. Eram os que cantavam mais e que nós chamávamos, vá lá saber-se porquê, de “realistas”.
Quando não conseguíamos fazê-los sair com a palhinha, recorríamos ao último recurso: urinar para dentro da toca.

Havia umas gaiolas pequenas: duas tabuinhas de cor, de forma quadrada, unidas entre si por arames finos, que se compravam nas drogarias e mercearias. Não havia supermercados, e ainda bem que assim foi e que eu cresci em contacto com a Natureza.
Espetávamos um prego na parede, do lado de fora da janela e ali colocávamos o animalzinho. Havia que ter cuidado em colocar apenas um em cada gaiola, pois se colocávamos dois, brigavam entre si.
Como alimento, uma folha de alface. E ali os tínhamos a cantar até ao S.João, altura em que acabavam, mais dia, menos dia, por morrer.

Era assim, meus amigos, mas ide lá para os vossos jogos de computador, para os “game-box” e toda essa vossa ”parafernália”, que os mantém encerrados nos vossos apartamentos, enterrados nos maples.

quarta-feira, maio 9

A freira e a bela

Ia uma freira a caminho do Convento quando uma bela rapariga lhe oferece boleia.
A freira entra no carro e começa a reparar no seu luxuoso interior:
- "mas que belo carro a senhora tem! Deve ter trabalhado muito arduamente para o conseguir comprar.
- "Olhe Irmã, por acaso não foi bem assim. Foi um industrial com quem dormi durante uns tempos que me ofereceu.

Entretanto, a freira olha para o banco de trás onde estava pousado um casaco de vison e exclama:
- "Oh! O seu casaco de peles é lindo! Deve ter custado uma fortuna."
- "Não me custou muito pois bastou-me passar umas quantas noites com um futebolista.

Após ouvir isto, a freira manteve-se calada durante o resto da viagem.
Ao chegar ao Convento foi para os seus aposentos tomar um revigorante banho.
Estava a freira na banheira quando ouve alguém bater à porta do seu quarto.
- "Quem é?"
- "É o Padre António."

Resposta da freira:
- "Vai dar uma curva mais os teus rebuçadinhos de mentol ..."

terça-feira, maio 8

Porque nos damos ao trabalho de procurar a verdade?

Não sei. Damo-nos ao trabalho de procurar as pequenas verdades porque somos curiosos, somos curiosos porque pensamos, pensamos porque somos matéria pensante. No fundo vejo isto de uma forma tão simples que pode parecer uma loucura.
Lembram-se daquela fase em que os bebés passam imenso tempo a explorar o próprio corpo: pés, mãos, joelhos ...?
O bebé procura verdades quando passa uma tarde inteira agarrado a um pé?

Onde quer que exista matéria pensante no Universo, este ganha uma consciência. E o Universo és tu, sou eu, somos todos nós, o que quer que seja o Universo, isso sou eu. Não ”também”, mas eu inteiramente, porque sem mim ele não existe.
O que nós queremos é conhecer-nos, queremos tocar-nos, queremos saber quem somos, porque somos assim?

É a procura da verdade, ou daquilo que para mim é a verdade e essa procura incessante, essa inquietação que me atormenta, esse procurar ir sempre mais além, consigo-o através da herança intelectual que me foi legada pelos humanos que me precederam.

segunda-feira, maio 7

A blogosfera portuguesa

Extractos da tese de mestrado da Drª Paula Silva sobre a blogosfera portuguesa, que era para ter sido lido no 2º Encontro de Blogs em Alvito:

"(…)
O último século viu os media impressos, a rádio e a televisão tornarem-se objectos de consumo massificados e hoje, a cada minuto que passa, há novos computadores a interligarem-se, novas pessoas a entrarem na Rede e novas informações a serem aí colocadas, ao alcance de “todos”.
(…)
Pela primeira vez na história humana, a opinião pode tornar-se pública. Pública como consideramos a opinião de alguém que utilizou meios de comunicação como veículos, mas também pelo facto de poder dizer respeito a todos e que todos podem fundamentar ou rebater. Neste sentido, os blogues são uma ferramenta imprescindível de promoção da racionalidade e de fomento da discussão. Abolidos os intermediários, amplia-se uma oferta de informação que até há pouco tempo estava confinada aos jornalistas e “opinion makers”. É neste contexto que as “notícias” estão a ser produzidas pelo antigo público, por pessoas comuns, e não apenas por quem tradicionalmente costumava produzir a primeira versão da história.
(…)
Indivíduos privados discutem agora assuntos do interesse público e podem funcionar como vigilantes da acção dos media e dos que têm o poder.
(…)
A blogosfera portuguesa não vive da informação original, o âmago do jornalismo, mas funda-se na opinião, a sua grande arma.
(…)
Autênticos best-sellers da Internet e verdadeiros êxitos de nichos informativos, os blogues vêm preencher o vazio criado pelos meios de comunicação tradicionais. São das melhores fontes para encontrar artigos menos conhecidos e sítios perdidos na web, com a oferta de fontes fidedignas a fazer muito pela conquista de seguidores dedicados.
(…)
Quem utiliza a Internet, não se limita a processar solitariamente a informação, interage também socialmente. A necessidade humana pela sociabilidade é tão indispensável quanto a necessidade de informação, pelo que existem tecnologias que permitem a satisfação de ambos os objectivos e os blogues parecem ser um desses casos. Encorajam o diálogo e são uma via para vozes que, na maioria das vezes, não têm como ser ouvidas.
(…)
Actualmente, uma parte importante da esfera pública está na Rede, contribuindo os blogues para a sua manutenção e crescimento constante. Espaço público esse que funciona como uma ágora universal cujo acesso é mais democrático que outrora e, por isso, promotor da cidadania, fazendo uso público da razão por pessoas privadas.
(…)”

NOTA
Poderá ser lido o texto completo no n/link “Lumife”.

domingo, maio 6

Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto, só...

antónio ramos rosa

Diálogo entre sexos


Um homem vai a conduzir numa estrada. Uma mulher vai a conduzir na mesma estrada, mas no sentido oposto. Ao cruzarem-se a mulher baixa o vidro e grita:

- "POOOOORCO".

O homem, como mandam as regras da educação, imediatamente baixa o vidro e responde amável:

- "PUUUUUTA"...

Cada um continua o seu caminho, mas o homem, que vai sorridente, ao virar a primeira curva, estampa-se contra um gigantesco porco no meio da estrada.

Moral da historia:
Os homens nunca percebem o que as mulheres lhes querem dizer!

sábado, maio 5

O cruzeiro

Passeavam num cruzeiro Cavaco Silva, Alberto João Jardim e PedroSantana Lopes, quando de repente toca o alarme, e soa o alerta :

- O navio está a afundar-se !

De imediato ouve-se a voz do Professor Cavaco :

- Salvem-se as mulheres e as crianças.

Logo de seguida, com o seu charme peculiar, diz Alberto João :

- Que se f.... as mulheres !

Pergunta Pedro Santana Lopes :

- E ainda dá tempo ?

sexta-feira, maio 4

FOTOCÓPIAS

Numa empresa portuguesa, por causa das fotocópias, foi emitida a seguinte circular:

Caros Colegas:

Pede-se encarecidamente ao pessoal da Empresa, que no momento de solicitar fotocópias ao colega da REPROGRAFIA, Sr. João, o façam de uma forma clara e objectiva, completando as frases que escreverem.
Acontece que os "post it" adjuntos aos documentos por fotocopiar, e os pedidos escritos, têm causado problemas ao nosso colega de trabalho que nos faz o favor de tirar as cópias, chegando ao extremo de criar problemas conjugais.
Como exemplo, citamos algumas notas de "post it" encontradas nos Bolsos do nosso colega pela sua esposa.

- João!... faz-me como o fizeste da outra vez!
- João!... dá-me duas, rapidinho!
- João!... pelos dois lados... e presta atenção que por trás tem que ficar tudo.
- Por favor, João!... primeiro a mim, que estou aflita.
- Quando tirares, faz com que se veja o melhor possível.
- Pode ser sem pressa, mas que fique bem feito!
- João!... urgente! Podes meter-me no meio sem que ninguém perceba e fazer rapidinho?
- João! ... Pode ser pela frente e por trás. Se não conseguires, dá-me duas separadas.
- Então, João, quando é que me fazes o trabalhinho? Estou a ficar aflita.

Percebem agora a GRAVE situação que se encontra o nosso colega???

quinta-feira, maio 3

Estamos sós no universo?

SIM e NÃO

SIM, porque as distâncias astronómicas, por serem de tal modo grandes, tornam-nas totalmente incompatíveis com a mísera duração da vida humana e, neste momento, não se vislumbra qualquer forma de deslocação que supere a velocidade de propagação da luz que, como todos sabemos, é de 300.000 km/s. Estamos restringidos ao nosso “quintal”, o Sistema Solar e, mesmo assim …

Um ano tem, aproximadamente, 31,5 milhões de segundos. Multipliquem por 300.000 e têm a distância percorrida pela luz num ano terrestre 9,45 milhões de kms.

A sonda Pioneer 10, lançada em 02 de Março de 1972, encontra-se neste momento, 35 anos após o seu lançamento, a cerca de 14 milhões de kms do Sol e desloca-se a uma velocidade de 12,07 km/s, muito distante dos 300.000 km/s percorridos pela luz no mesmo período de tempo.
Portanto, para a Pioneer fazer a distância de 9,45 milhões de kms percorridos num ano por um raio de luz, levaria cerca de 783 mil anos, tendo em atenção a sua velocidade de deslocação!


NÃO, porque para irmos ao planeta Gliese 581c, recentemente descoberto, que parece ser semelhante à Terra e poder oferecer condições de habitabilidade, dado que se encontra a uma distância de 20 anos/luz (190 milhões de kms) e tendo em atenção a velocidade de deslocação da Pioneer 10, citada no período anterior (12,07 km/s), levaríamos SÓ, cerca de 16 milhões de anos, só na ida (783.000X20).!

Vamo-nos contentando com estas criações artísticas do planeta orbitando a sua estrela anã vermelha





(Sunrise from the Surface of Gliese 581c - Illustration Credit & Copyright: Karen Wehrstein)

e com a visita de discos voadores, em que eu acredito (sou um ingénuo) como o ocorrido lá para os meus lados, na barragem de Monte Novo, entre Évora e Reguengos, às 14h30 de 31 de Maio de 2004, fotografado pelo Engº Eduardo Silva: um objecto “tipo fusiforme” que cruzou o espaço nacional e também foi detectado pelos radares da Força Aérea.

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quarta-feira, maio 2

A volubilidade da luz

"Perguntas-me se vi o céu, se reparei no céu, que está lindo esta manhã. Que pode ter o céu?, penso. E a pergunta ecoa nos segundos seguintes. Poderia ser um poema se o permitisse. Mas não me apetece, calo o eco.

Não reparei no céu, reparei na luz intensa da manhã entre as árvores e senti vontade de fotografar, mas o tempo não é meu e a maioria das manhãs, com ou sem sol, não me pertence. Penso nisso enquanto desço a rua do trabalho. E penso nisso enquanto espero pelo elevador.
São iguais os gestos que começam o dia de trabalho. Fora, ficou hoje o sol. Enquanto espero o elevador sinto-me triste. A tristeza tem crescido nos últimos dias, sempre, enquanto espero o elevador.
Ainda que apenas me limitasse a registar, com a máquina fotográfica, os movimentos embalados das pessoas nas ruas ou a luz intensa entre as árvores, seria outra vida, mais verdadeira, porventura, do que a luta viciada em que as coisas em que acredito são usadas contra as coisas em que acreditei. Seria uma contemplação inútil mas uma contemplação assumida e uma inutilidade assumida. Enquanto espero o elevador penso nisso e quando abro a porta desisto. O tempo não me pertence, anuo, aceito, carrego no botão do meu andar - todos os dias.
As coisas em que acreditei. O pretérito perfeito foi intencional e ditado pela coerência. Quando a coerência é escassa torna-se mais valiosa. Os dias passam iguais e a desistência torna-se insuportável sempre que abro a porta do elevador, como se esse gesto a agigantasse. Mas suporto-a. Pior ontem que hoje, mas suporto-a.

Esta manhã, senti vagamente os teus bons dias e pouco depois ouvi mais claramente o bater da porta - incomodou-me ter acordado mais tarde. Antes do elevador e antes de reparar na luz intensa entre as árvores, sentada à beira da cama a calçar-me, pensei em como gostaria que me dissesses bom dia outra vez. Perguntaste-me pelo céu, o que é igual.


(foto Peter)

Talvez pudesse fotografar casamentos e baptizados. Ou talvez os meros registos fotográficos das pessoas nas ruas sejam um dia algo mais que inútil contemplação. O tempo muda as fotografias, oferece-lhes um tempo berço, uma pausa de invisibilidade variável, o contraste daí resultante. E, como cada vez há menos árvores, mesmo as fotografias que só mostram a luz intensa entre as árvores, poderão um dia, talvez, fazer nascer em alguém a raiva de plantar árvores ou a raiva pelas árvores que foram abatidas, sendo isso uma perda, por menos poético que seja e por menos sensibilidade à luz e à serenidade que se experimente.

Tu não, mas eu sim. Gosto das pessoas nas fotografias, gosto da silhueta humana, frágil, e verosímil nessa fragilidade, como que, por fim, no contexto certo do espaço que é demais e afasta, do sol que ofusca e escurece. E numa perspectiva mais técnica e mais escolar, gosto em geral da escala que a silhueta humana oferece a uma imagem. Pela silhueta humana se mede tudo - o tamanho das casas, a largueza das ruas, a intensidade da luz pela forma como cai nos ombros, o vazio do mundo, a proporção, tão pequena, de gente.

A silhueta negra de uma pessoa. Quanto mais pequena, mais negra e mais se destaca a cabeça. E mais simples é: um ponto redondo e um traço ligeiramente curvado. À volta, o resto, o espaço enorme, mesmo nas cidades, o espaço que apaga os gestos e emudece a vontade. Ao longe, vê, é simples. Mais longe, nem sinal de nós.

Que poderia ter o céu que mudasse tudo isto, que nos permitisse regressar, ao menos nas árvores, que poderia ter o céu além da luz que te assalta e abre os olhos, precários, numa gratidão irracional pelo amanhecer indiferente do caos?”

(Os meus agradecimentos pelo texto. Conforme o solicitado, não revelo a identidade.)

terça-feira, maio 1

Hoje é o dia das "Maias"


O dia das "Maias" é o primeiro de Maio, que desde tempos imemoriais se comemorava em Portugal e assumia diversas formas celebrativas de Norte a Sul. No Alentejo, nos meus tempos de rapaz, era tradicional introduzir a flor da imagem nas fechaduras das portas, para não deixar entrar o Maio retouceiro e sátiro.
A flor, que se chama “maia”, é campestre e pode ser encontrada em diversas cores, embora a mais vulgar seja a de cor branca, raiada de violeta.

No Baixo Alentejo, com particular incidência na região de Beja, as "Maias"eram meninas vestidas de branco e enfeitadas com flores, com uma coroa também de flores (de preferência giestas) na cabeça, sentadas em cadeiras à esquina de alguma rua, num largo ou junto à porta das suas casas, enquanto companheiras mais crescidas, com pequenas bandejas na mão, pediam a quem passava:

"-Meu senhor, um tostãozinho para a “maia!", ou "um tostão para a Maia, que não tem saia!"