quarta-feira, maio 23

No restaurante

Sentado a um canto do restaurante, saboreando o café que acabava de beber, entretinha-me a ler um artigo de uma revista e a fazer horas para o regresso ao escritório:
“O que é que nos excita e nos provoca e estimula o interesse sexual?”

Será que agora só se pensa em sexo, ou serei eu que estarei a ficar demasiado velho para pensar nele? (interrogo-me).

“Cada pessoa é um mundo e enquanto a algumas são determinadas características que as excitam, a outras podem causar-lhe o efeito contrário, a perda do interesse sexual. Tanto podem ser problemas físicos, de personalidade ou atitudes.”

O homem está a perder o seu estatuto, já que a iniciativa passou a ser da mulher em muitos casos. A emancipação feminina, iniciada com o trabalho fora de casa, completou-se com a pílula anticoncepcional. (“marialvismo” meu? Possivelmente sim).

Continuo a ler:
“Quando se inicia uma relação, gera-se um processo de selecção. Neste processo ambos vão explorando compatibilidades e complementaridades. Pode ser que nem sequer se procure qualquer compromisso e que o interesse em conhecer alguém nem sequer tenha em mente o aspecto sexual, o que não impede que o mesmo não possa vir a acontecer.”

O artigo é mesmo chato e acabo por pôr de parte a revista.

É então que reparo no casal da mesa ao lado, ainda em meio da refeição. Ela muito atraente, uma bela morena, na casa dos quarenta, altura em que a mulher atinge a sua plenitude. Ele talvez dez anos mais velho, nem tanto. Magro alto, mas não em demasia. Casaco e gravata, portanto todo o ar de dois colegas de trabalho.

Não sou “cusco”, mas sem querer dou comigo a ouvi-los:

M - “Tens um problema a resolver, e hás-de resolvê-lo. És um homem muito atraente sob todos os aspectos, mas sabes que o desgaste e o passar do tempo num casamento dificultam as coisas e diminui o desejo.”
H – “Uma boa parte das nossas preferências são de índole cultural, mas nem todas.”

Retomo a leitura. Acho indecente estar a ouvir as conversas dos outros:
“Na nossa atracção, ou rejeição, podem concorrer muitos factores, um simples aspecto, um pequeno detalhe, eventualmente uma parte da história da outra pessoa, que têm maior importância que tudo o resto e que as desencadeiam.”

Alto! A morena parou de comer e fita-o, olhos nos olhos:
M - “ É natural que num casal a mulher seja a mais afectada, sem se dar conta. Um de vocês tem que tomar a iniciativa e pelo que vejo, terás que ser tu.”

Ele não responde, e deixa-a falar:

- Vejo-te muito ansioso com a falta de receptividade da outra parte, mas isso resolve-se conversando sobre o assunto.

Comecei a ver a questão, ou talvez não. Nós homens nunca compreendemos as mulheres.
Ela continua e ele, estúpido, ainda não percebeu que é ela que está profundamente interessada nele e que não o esconde:

M - A certa altura reparei no meu egoísmo...tu a quereres falar sobre o teu problema e eu sem dar conta disso. Mas se te puseres no meu lugar, entenderás que não é fácil a uma mulher que ama alguém, ouvir esse alguém falar de sexo e de ansiedade por outra mulher, mesmo que seja a sua. Por isso não te ouvi como devia ser...Problema meu, não teu, pois tu sempre foste muito directo, eu é que não entendi bem a questão (é caso para dizer que "o amor é cego").

Levantei-me e saí. Estou certo que ele finalmente acabou por compreendê-la, ou talvez não …

11 Comentários:

Às 23 maio, 2007 01:28 , Blogger Belzebu disse...

Será, amigo Peter? Por vezes a rotina turva-nos a percepção, impede-nos de ver o óbvio! Aliás, considero que a cedência à rotina é provavelmente o nosso pior inimigo, desvia-nos o olhar, seda-nos e vai-se a clarividência!

Saudações infernais!

 
Às 23 maio, 2007 09:12 , Blogger Maria Carvalho disse...

Talvez não...

 
Às 23 maio, 2007 09:15 , Blogger Peter disse...

Meu "satânico" amigo:

Who knows?

 
Às 23 maio, 2007 09:46 , Blogger Peter disse...

Maria Carvalho, deixei-lhe um comentário ao poema "Ainda", no seu blog "Poemas soltos". Não sei se foi aceite.

Obrigado pela visita.

 
Às 23 maio, 2007 11:38 , Blogger Paula Raposo disse...

Peter, embora não esteja mais nos v/links, não teria porque não aceitar um comentário teu.

 
Às 23 maio, 2007 12:29 , Blogger Peter disse...

"paula raposo", é preciso variar os links, o que não implica menos consideração para com os autores, nem que o facto dos blogs não estarem nos links, não sejam visitados.
Penso que não tem interesse em se apresentar uma extensa lista de blogs nos links se:
- os autores desses blogs não nos visitam;
- quando o fazem não comentam os artigos: mandam beijinhos, ou o que é bem pior, vêm falar do tempo, ou de almoços a realizar, não fazendo qualquer referência ao artigo que "pretensamente" deveriam comentar;
- nós tivessemos tempo de visitar assiduamente os blogs que constam dos "links", como aliás deveríamos fazer.

 
Às 23 maio, 2007 19:02 , Anonymous Anónimo disse...

Peter
De acordo. Os comments são para comentar o post em causa e não para:
.Procurar reciprocidade na visita;
.Alimentar conversas estéreis;
.Marcar presença.
Neste último caso sugerem-se outras vias ( por exº : sinais acústicos )
SANDOKAN

 
Às 23 maio, 2007 21:51 , Blogger Peter disse...

"Sandokan" os livros de Emílio Salgari ainda se vendem bem.

"Sinais acústicos" LOL

 
Às 23 maio, 2007 22:26 , Blogger Papoila disse...

Peter:
A conversa ouvida sem querer misturada com o arigo enfadonho sobre os relacionamentos, deu um magnífico tema de conversa aqui no Conversas... Como diz a Blue se entra o Amor o entendimento complica-se... tão próximos e tão distantes... porque nas suas relações homens e mulheres não ligam o "descomplicador"?
Beijos

 
Às 23 maio, 2007 23:15 , Blogger Peter disse...

"papoila" a história, porque de história se trata, foi gizada na mesma altura da outra, do "qué frô" e a ideia que presidiu às mesmas foi precisamente essa:
- criar um tema de conversa.

 
Às 24 maio, 2007 13:13 , Anonymous Anónimo disse...

Blue
Depende da perna.

SANDOKAN

 

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