quinta-feira, maio 17

Três rosas vermelhas


- Já chegaste?
- Já estou aqui há 10 minutos.
- Também eu. Sentei-me aqui fora na esplanada. Está-se bem aqui, uma bonita vista, gosto de estar junto ao mar.
- Vamos lá para dentro para o 1º andar, a vista é melhor. Aí fora levanta-se vento e torna-se frio.
- Mas o empregado já encheu a mesa com aperitivos e trouxe uma garrafa de água, como se nós fossemos beber água...
- Não há problema, é tudo gente conhecida.
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- Estás a ver? É uma mesa estupenda. Eles têm aqui um prato de grelhados, com uma carne argentina que é uma maravilha. Dá bem para duas pessoas.
- Tu lá sabes, mas eu não estou para "encolhas", qualquer dia "bato a bota" e quem cá ficar que feche a porta. Vou mesmo beber um tinto especial da Fundação Eugénio de Almeida, pois estes tipos não têm Quinta do Carmo.
- Também tens a mania do Quinta do Carmo. Há aí melhores.
- Pois há. Mas já viste os preços? Estás é a pagar o nome, não o vinho. Ficamos pelo Eugénio de Almeida. Vais ver que gostas, parece veludo.
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- Estás a deixar muita gorjeta.
- Pois estou. Quero que se lembrem de mim senão, quando cá voltar, põem-me ao fundo da sala, virado para a parede.
- Tens andado chateado, nota-se.
- Pois tenho. Só me saem "duques" e cai tudo em cima de mim ao mesmo tempo.
- Vamos andando?
- Vamos. Não tenho nada que fazer, mas vamos.
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- Já viste? A loira deitou para o chão as três rosas vermelhas que o rapaz lhe deu e "por aqui me sigo" e ele ficou parado a olhar.
- Vamos ver o que aquilo dá. Olha, ele desatou a correr atrás dela, mas ela afastou-o.
- Bem, as coisas parece estarem a melhorar pois ele já conseguiu abraçá-la.
- Não. Ela resistiu e afastou-se novamente. Espera, já estão de novo juntos e ela passou-lhe os braços em redor do pescoço. Vamos embora. Fizeram as pazes.
- Não fizeram nada. Ela afastou-o outra vez e começou a correr.
- E ele a correr atrás dela. Já não os vejo.
- Vamos ver o que aquilo dá. Estão lá ao fundo abraçando-se e beijando-se. São arrufos passageiros. Ainda bem, pois a moça era bem bonita.
- Pois é. Só dá para ver ...
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Passa um "monhé", daqueles que andam a vender botões de rosa. Não sei de onde saem, aparecem em todo o lado e em todos os países. Às vezes dá-me a impressão que surgem todos à mesma hora.
Abaixou-se e apanhou do chão as três rosas. Depois tentou vendê-las a um casal que se aproximava. Mas estes, que tinham visto "a manobra", rejeitaram-nas.

Também era demais ...

10 Comentários:

Às 17 maio, 2007 09:16 , Blogger Menina Marota disse...

Sorrio... gostei da cena dos namorados... eheheh... sei lá, talvez por me trazer lembranças de "arrufos" passados... ;)))

Ah... a música hoje apetece...

Bjs ;)

 
Às 17 maio, 2007 12:08 , Blogger Papoila disse...

Finalmente uma das tuas crónicas do quotidiano com a tua marca. O "arrufo" dos namorados... as rosas e o "Qué frô" a aproveitá-las... Adorei.
Beijo

 
Às 17 maio, 2007 22:36 , Blogger Nilson Barcelli disse...

Uma história simples e bem contada.
Gostei.
Abraço.

 
Às 17 maio, 2007 23:15 , Blogger augustoM disse...

Obrigado pela nomeação dos meme, mas entrei já numa corrente, e ainda ainda estou muito acorrentado para entrar noutra.
Um abraço. Augusto

 
Às 18 maio, 2007 01:22 , Blogger Peter disse...

CORREIO

O blog tem, do lado direito, esta secção destinada ao envio de e-mails.
Citando Nilson Barcelli:

"eu escrevo para quem me lê, (...) isto é, pessoas que, gostando ou não do que escrevo, pensam e avaliam as ideias e a capacidade criativa do autor."

 
Às 18 maio, 2007 09:45 , Blogger Marta Vinhais disse...

Olá, Peter - gostei muito da tua crónica - interessante a habitual "manobra"...
Obrigada pela visita e, sim eu gosto muito da Maria do Rosário Pedreira.
Deixo-te um excerto de um poema dela:
"
É nas linhas das mãos que os deuses escrevem
os mais belos romances. Nas nossas, porém,
somente elaboraram um divertimento, um
esboço, um rascunho, nem sequer literatura
de Maria do Rosário Pedreira - A Casa e o Cheiro dos Livros
"
Bom fim de semana - beijos e abraços
Marta

 
Às 18 maio, 2007 11:18 , Blogger Belzebu disse...

Excelente esta "crónica das nossas vidinhas"! Não falta o tinto Eugénio de Almeida, o arrufo costumeiro e o "Qué frô", que nos persegue por todo o lado!

Um abraço infernal!

 
Às 18 maio, 2007 11:57 , Blogger Peter disse...

"belzebu", obrigado pelo teu comentário que me aumentou os conhecimentos:

- não sabia que se chamavam "Qué frô", a esses "incentivadores de romances" que, como dizes, nos perseguem por todo o lado.

Retribuo com um "abraço diabólico"!

 
Às 18 maio, 2007 12:02 , Blogger Peter disse...

Marta

Fiquei satisfeito por teres gostado. É sempre agradável para quem escreve.
Obrigado pelo poeminha da Maria do Rosário Pedreira, que poderá ser uma boa sugestão para o Peter's.

Sinto, pelo teu modo de escrever, que o "mau tempo" já passou.

Um bom fds para ti, com muita amizade.

 
Às 21 maio, 2007 14:50 , Blogger António disse...

Olá, Peter!
Diálogos de gente viva.
Acho que nunca tinha lido nada teu do género.
Bem urdido e bem contado (sabes que gosto muito das coisas em diálogo).

Abraço

 

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