“Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar…”
(Francisco Fanhais)
“Aprende a nadar companheiro.
Aprende a nadar companheiro
Que a maré se vai levantar.”
(Sérgio Godinho)
As pessoas deveriam ser os destinatários de todas as coisas.
Às pessoas deveriam ser dadas condições para que as suas necessidades, básicas e não só, fossem satisfeitas.
O que assistimos hoje, e que mais não é que a sequências de séculos de pseudopreocupações com a segurança e bem-estar dos muitos que são o suporte de tão poucos.
Aparentemente as actuais possibilidades de conhecimento não têm produzido grandes alterações no pensamento e nas atitudes nem de uns, nem de outros.
Aliás, a recente campanha do Banco Alimentar Contra a Fome é reflexo desta perversidade que leva os que mais pobres são, a solidarizarem-se com os que ainda são mais pobres.
E assim, o “Zé Ninguém”, qual estátua decorativa, substitui-se ao Estado no seu papel social. Não que nós, os destinatários destas solidariedades – ora num lado, ora noutro, desta cada vez maior barricada –, nos devamos divorciar do nosso papel de participantes da construção do mundo.
Mas a verdade é que cada vez mais somos nós – seja através da compra de discos, camisolas, bonecos e outros artigos promocionais – que patrocinamos causas sem fim e das quais nunca sabemos os verdadeiros resultados.
A maré que se vai levantar não é mais a maré da paz e da fraternidade. Acreditem que esta maré vai ser a da lei do mais forte e resistente, sobre o fraco e o sensível.
Por mim, cada dia que passa, sinto no peito a angústia e o nascer de um ódio tal, que me desgasto aos poucos.
Isto, dito poeticamente, soaria melhor. Mas não.
Continuo a não querer escrever.
O desrespeito pela Pessoa ultrapassou todos os limites. Já não são só aqueles que nunca conheceram limites, ou sempre acharam que os seus eram bastante alargados.
Hoje, em qualquer lugar, em qualquer momento, podemos ser abalroados por aqueles que, considerando-se donos de um qualquer universo, detentores de um qualquer poder (nem que seja o de ter uma arma na mão), entendem que temos que os servir, servir os seus intentos e motivos.
Um dia destes, a tranquilidade da nossa casa será invadida por gente, pessoas, afinal, que, por já não terem nada, nada temem, nada querem que não seja conquistarem um qualquer espaço onde possam exibir o seu poder.
A verdade é que, ricos e pobres, bonitos s feios, elegantes e disformes, vão acabar por ser engolidos e finalizar da mesma maneira, quatro palmos de terra abaixo dos que respiram.
Não me apetece escrever.
A próxima semana é de outro que, espero, esteja mais optimista do que eu.
Uma boa semana para todos os que por aqui vão passando.