conversas de xaxa
"Amar esta sombra que desliza e que é talvez já a presença que nos foge" (António Ramos Rosa)
quarta-feira, agosto 31
terça-feira, agosto 30
Neo-liberalismo, onde nos levas?
Alguém se lembra das velhas teorias sobre a evolução do trabalho? Um dos senhores mais conhecidos desta corrente era Maurice Reuchlin que, no anos 80, publicou mesmo um livro chamado: 'O Trabalho no Ano 2000' .
Nele, a evolução vertiginosa da economia liberal, reforçada pelos progressos tecnológicos (que aparentemente, na altura, roubavam postos de trabalho), era vista como uma dádiva dos céus em prol da humanidade. Maurice Reuchlin falava alegremente da forma como a crescente mecanização da indústria e o desenvolvimento dos serviços iria evoluir, levando, gradualmente, e entre outras benesses, a uma diminuição das horas semanais de trabalho e a uma diminuição dos anos de trabalho para a reforma. Tais medidas iriam dar aos jovens a oportunidade de entrar no mercado do trabalho, e o investimento dos mais seniores em actividades, merecidas, de tempos livres. Era o Futuro risonho que nos esperava. Mas a vida, repleta de predadores sem escrúpulos mascarados de messias, preparava-se para nos pregar uma partida... E eis que, pouco a pouco, o lucro, os objectivos económicos de cada empresa, passaram a ter como limite: o Infinito ! E toda a sociedade começou, gradualmente, a ser escravizada por esta política desumana e elitista. O lucro infinito passou a ser Deus e senhor de todas as economias ocidentais !
Afinal, de que nos serve trabalhar com eficiência e dedicação para o desenvolvimento económico global, se, mais tarde, apenas vamos receber uns parcos dividendos do esforço realizado, perdendo cada vez mais qualidade de vida ?
Mas, afinal, o que é que está a acontecer com o Trabalho? Para que poço escorreram as águas de todas as previsões iniciais acerca da mecanização da Indústria e dos Serviços, as tais que visavam uma maior humanização do Trabalho na nossa sociedade? O que é que vai ser do nosso futuro? Trabalhar dia e noite até aos 75 anos (sim, esperem pela demora...) em prol da competição internacional? Mas é mesmo isto que nós queremos fazer da nossa vida, do nosso futuro ?
Realço as palavras de Fernando Penim Redondo citadas e comentadas no blogue 'mas certamente que sim', ex-'o vento lá fora', do Paulo Querido:
«Nenhum partido de esquerda perspectiva atacar os interesses materiais das classes dominantes. Todos eles concentram as suas propostas no plano das prestações sociais sem beliscar a organização social da produção e sem questionar a propriedade ou as relações de produção próprias do capitalismo.» ( Fernando Penim Redondo, in Dotecome )
«Os “empreendedores capitalistas” são unanimemente considerados os únicos capazes de promover o desenvolvimento económico, autênticos “salvadores da pátria”. A distinção tradicional, em que a direita defendia o status quo e a esquerda pretendia destruí-lo, passou à história.» ( idem ) A verdade não é um bem nos tempos que correm: ...(Paulo Querido).
Meus caros, acho que nunca na minha vida vi tanto a necessidade de ser Independente quanto hoje. Confesso que, em tempos, e porque o contexto assim o exigia (ainda existia esperança...) cheguei a votar Cavaco, e mesmo Freitas do Amaral, pesasse embora desde sempre a minha simpatia pela esquerda, pela revolução do sistema. Mas não. Basta. Hoje assistimos passivamente ao funeral da Esquerda e da Direita, seduzidos pela ganância que impera. Apenas nos oferecem o colaboracionismo cego e surdo dum capitalismo desenfreado, bastante mais preocupado com o enriquecimento e bem estar de uma minoria empresarial, à custa do sacrifício inglório da população.
Até onde nos irá levar esta ganância económica? Para quê correr desta maneira se o problema está na base do raciocínio segregador da política actual de neoliberalismo económico?
Um dia, a começar hoje mesmo, se possível, vamos ter que travar esta verdadeira Peste que invadiu a economia internacional. Há alternativas económicas, claro que sim. Há que apostar nelas e insistir para que os governos nos devolvam o que implacavelmente nos roubaram: A esperança nos frutos do trabalho de uma vida, a esperança roubada ao 'Trabalho no ano 2000'.
segunda-feira, agosto 29
domingo, agosto 28
A Lira de Nero
A visita a Coimbra do primeiro-ministro e do seu lacaio (?) da administração interna aquando dos terríveis incêndios que assolaram aquela região com a finalidade de se reunirem com Governadores Civis e alguns autarcas, mostrou-nos uma coisa importante: enquanto casas ardiam e as chamas ameaçavam a cidade dos estudantes, os “senhores dos fogos” sorriam abertamente, como se festa se tratasse.
Foi uma daquelas imagens que vale por todas as palavras. É este o sentido de estado dos imbecis que nos desgovernam. Foi um óbvio insulto a todos aqueles que perderam os seus haveres, foi um sorriso escarninho ao trabalho dos Bombeiros portugueses, foi em última análise o toque da Lira enquanto Roma ardia.
São imagens que os portugueses devem reter na memória; talvez assim, num próximo acto eleitoral os remetam para os devidos e merecidos lugares: a rua.
Porém não poderemos esquecer o pano de fundo que serviu de aperitivo a todo este cenário: o baixo combate político, questões mesquinhas, partidarizadas! Foi tudo aquilo que não se deve nem pode esperar do debate de ideias. É o constatar da incapacidade de quem nos tem governado nos últimos 30 anos.
Acima dos interesses do país, parecem estar os interesses partidários, os interesses pessoais, os interesses dos amigos.
Por outro lado ficámos a saber que a censura pegou moda: uma deputada municipal de Mirandela, proibiu que quadros com nus, fossem expostos, tal como havia já acontecido anteriormente em Viseu, pela ainda directora de um dos mais importantes museus portugueses.
Ficámos ainda a saber que quem perdeu tudo ou quase tudo nos terríveis incêndios de há dois anos no Algarve ainda espera e desespera pela prometida ajuda “imediata” que os políticos se apressaram a garantir.
Um dos maiores jornais europeus, o El País, conclui no final de uma excelente reportagem, que Portugal parece ser ingovernável. Cita como exemplo as fugas de Durão Barroso e António Guterres.
É a conclusão de grandes jornalistas e de grandes analistas. Ainda assim, permito-me discordar. Não é o País que é ingovernável, mas os homens que o conduzem, que são incompetentes.
Lá por fora, parece claro que em breve os Iraquianos que antes do acto de agressão americano vivia mais ou menos em paz estejam á beira de uma guerra civil, por causa de uma Constituição ditada pelos Americanos.
Sei que muitos argumentarão que se vivia no tempo de Saldam Hussein numa ditadura e que o regime era acusado de perpetrar milhares de mortes.
Fica a pergunta: quantas já aconteceram depois da queda do regime? – Muitas mais certamente.
Foi interessante ainda, tomarmos conhecimento dos números aterradores gastos com os meios aéreos. Mais de 266 mil euros por dia. Este número tinha em consideração um determinado número de horas de voo, já largamente ultrapassadas, pelo que me parece óbvio que as empresas que disponibilizam os meios aéreos terão lucros muito superiores ao que seria de esperar. Coincidência?
Ao longe diviso chamas. As chamas que vão devorando florestas e esperanças.
Ainda ao longe a Lira de Nero.
sábado, agosto 27
sexta-feira, agosto 26
Retrospectiva
Fez exactamente 60 anos que as duas primeiras bombas atómicas foram lançadas sobre duas cidades Japonesas. Para evitar a morte de militares americanos foi a desculpa, sem importarem os milhares de vidas de pacatos cidadãos japoneses. A ignomínia cobrirá para sempre o país que as lançou. Ganhou sem sombra de dúvida o epíteto de “maior golpe terrorista jamais perpetrado”.
Nada pode explicar este acto de barbárie. Nem mesmo o ataque japonês no Pacífico. Ao responderem daquela forma, os USA colocaram-se ao nível desse acto ignóbil.
Agosto é igualmente tempo de sol e férias. Mas é igualmente tempo de actos de guerra nas estradas portuguesas, que mau grado as medidas de alteração do código da estrada, continuam a ceifar vidas ingloriamente.
É ainda o mês dos grandes incêndios, da imagem de um país em chamas e manifestamente da constatação da “Indústria dos fogos”.
Não é novidade para ninguém que uma boa parte deles são de origem criminosa. Também não é novidade para ninguém, as posições assumidas por todos os governos que têm passado pelo Poder da negação do óbvio.
Um primeiro-ministro ausente em parte incerta e a gozar as delícias de um qualquer paraíso enquanto o país arde literalmente, é a prova cabal da inoperância, do laxismo e quiçá de alguma conivência, com negócios obscuros.
É igualmente óbvia a falta de meios aéreos. Mas não só. No terreno, os abnegados e muitas vezes incompreendidos Bombeiros portugueses, debatem-se igualmente com falta de material suficiente para debelarem as labaredas que consomem as pequenas economias familiares, debilitam –, o já mais que debilitado – meio ambiente. As paisagens portuguesas ainda não há muito tempo verdejantes são hoje cenários lunares, negros, tão negros como os cenários de horror vividos por milhares de famílias que dependiam em grande parte daquilo que os negócios obscuros lhes teimam em roubar.
Impressiona a passividade de um governo em férias, impressiona a ausência de José Sócrates, impressiona a posição dos governadores civis, que ao arrepio da vontade de muitos autarcas – esses, vimo-los sempre presentes – decidiram não haver motivos para decretar o estado de calamidade pública.
Agosto foi ainda um mês de confronto entre a actual directora do Museu Grão Vasco e o Movimento Cívico “AMARTE”.
À óbvia atitude arrogante desta, a generosidade de muitos que se dispuseram a encetar uma luta pela sua demissão.
É um confronto de modelos de vida. Não é um confronto de gerações.
De um lado o retrocesso, a ambiguidade, a incompetência e a falsidade. Do outro, a abertura, a generosidade, uma visão de uma sociedade sem tabus, o amor real pela arte.
Ante um cenário real e a frontalidade traçados pelo Movimento e destacados em muitos órgãos de comunicação social, a inglória tentativa de arranjar apoios que na verdade não tem. A carta assinada pela quase totalidade dos funcionários do Museu é um acto de pura coacção levada a cabo pela Dr. ª Ana Paula Abrantes e alguns lacaios ávidos de protagonismo.
Lamento que a maior parte que não concorda com a gestão da senhora tenha assinado tal documento. Perderam uma oportunidade quase única para a isolarem. Presumo que alguns de vós que assinaram com medo de represálias não conseguirão adormecer tranquilos.
Aqueles e aquelas que trabalharam com as Dr. ªs Dalila Rodrigues e Maria João Pinto Correia dificilmente terão coragem para as enfrentar. Iria ser difícil olhá-las nos olhos!
Agosto é também tempo de festa. E de Feira.
S. Mateus abriu as portas à diversão, à alegria, ao entretenimento.
O espaço da Feira, obviamente melhorado, será a forma dos visitantes esquecerem por horas que vivem num país de incendiários, de incompetentes – ao nível do Poder central – e de velhas do Restelo que querem a todo o custo reintroduzir conceitos anacrónicos de ver o Mundo.
Mecânicos substituem calendários de mulheres nuas por reformas de ministros.
Mecânicos, bate-chapas, sucateiros e um vogal da junta de Pirescoxe têm andado numa lufa-lufa a substituir calendários de mulheres nuas com seios grandes, pelas declarações de rendimentos dos ministros com grandes dígitos. O que está a dar são as reformas obscenas que os ministros acumulam com ordenados provocantes.
- "Há três anos que tenho a Carla Matadinho na parede. Agora vou trocá-la pela reforma do Campos e Cunha, que é muito mais indecente!", confidenciou um mecânico de olhar lúbrico.
A excitação é tal que alguns ministros têm sido alvo de piropos lançados por homens das obras ao passar debaixo dos andaimes.
Das pérolas mais frequentes sublinhem-se apenas duas:
"Contigo, reformava-me todos os dias" e "Comia-te essa pensão toda, ò Dr.".
Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas
(António Ramos Rosa)
Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas
e perfuma-as com o odor da sua lenta vulva
Ela tanto pode ser uma fêmea da lua como uma rapariga solar
Nas suas ancas ondula um indolente outono e nos seus seios desponta a [primavera
Eu vejo-a e não a vejo na brancura da página
porque ela flutua vagamente na distância como uma lua no meio-dia
Mares bosques clareiras fontes em delicadas e delgadas linhas
fluem com o fulgor dessa mulher azul
As palavras caminham com o ritmo fresco dos seus pés descalços
sobre uma praia fulva de conchinhas brancas
O seu hálito doce embriaga as frases nuas
Ela é a presença ausente corpo de aragem viva
e a sua felicidade é tão vaga como vaga a sua longínqua imagem
quinta-feira, agosto 25
Praga - Staré Mesto
(Fotografada por Peter)
Para evitar problemas com a Exmª Srª Directora do museu, que não gosta de nus, para descanso do Letras_ao_acaso e porque houve uma leitora que manifestou interesse em visitar a cidade, aí temos Praga, em todo o seu explendor.
Tenho a vaga impressão de já ter publicado a foto, mas vê-se bem duas vezes, não acham?
Amanhã, por estas horas já devo estar mergulhando nas excelsas ondas.
Divirtam-se por cá, com a Bluegift, o Letras_ao_acaso e a Anjo_do_sol, se entretanto regressar de férias.
A arquitectura dos corpos
Musée d’Orsay – Manet – “Olímpia”
Pendestes como frutos ou moluscos
da intersecção convexa das colunas
alongam-se volume adivinhado
nos véus retensos que os desenham soltos.
Os fustes se articulam de joelhos
ancas artelhos metatarso e dedos.
E no de se mover a arquitectura
desnudo o templo se promete ampliado
e penetrante e ardente quando a vida
que é suco em fruto endurecer de sangue.
Outras colunas se entreabrem já
humedecidas no seu friso oculto
a tanta imagem prometida. E só
os dorsos das estátuas se não fitam.
De uma cintura opostamente os globos
se erguem metades lado a lado rijos.
Lisos na curva os que de baixo avançam
e pontiagudos no seu eixo os outros
que acima opostamente se arredondam
e em contracurva se diluem suaves
na curvatura larga que irradia
de um ponto refundado até uma linha
em que outra curva enegrecida avança.
Sob esta - aonde se bifurca o fuste -
em lábios se abre vertical um friso
internamente prolongado para
o duro eixo do templo receber
que a horizontal cariátide sustenta.
Na noite cavernosa a que se aponta
e em que mergulha e se desliza e volta
quando se move do que as partes une
de oscilações o templo e o seu suporte -
trementes superfícies e rebordos
se roçam se estrangulam se recreavam
até que imóveis o edifício jorra
adentro de si mesmo um fecho líquido
selando a abóbada nocturna e quente
da cripta profunda. Ou não selando.
Dentro se funde ou não se funde um ovo
com desse líquido o pequeno acaso.
No campo se separam em pedaços
colunas arcos tímpanos e frisos.
(Jorge de Sena, Março 70)
quarta-feira, agosto 24
CARTA DE UM EMIGRANTE MOÇAMBICANO NA FLORIDA/EUA, PARA O SEU IRMÃO EM MAPUTO
Mano Jossias, como se vê, as árvores não te deixam ver a floresta.
Como podes clamar-te pobre, e pedires o meu apoio para a compra da casa, quando és capaz de pagar por uma cerveja quase 1 dólar, mais do dobro do que pago eu, e na nossa terra o consumo per-capita de cerveja é o dobro daqui.
Quando te dás ao luxo de pagar tarifas de telefone fixo ou celular, cerca do dobro do que me custam a mim, e ainda por cima permites que essas mesmas tarifas sejam aumentadas sem sequer te avisarem?
Ou quando tu compras uma viatura por US$ 25.000,00, que a mim não me custa mais do que US$ 12.000,00, completa de extras que me permitem viajar a todo o lado em segurança e conforto. Repara bem que só pelos extras que uma viatura vendida aqui tem de série, tu pagas aí mais do que eu compro aqui a viatura toda.
EU NÃO TE ENTENDO!!!
E a gasolina. Sabes quanto pago por litro. US$ 0,36. Quanto pagas tu? Mais de US$ 0,50. AINDA VIAJAS, MANO?
Quando tu queres comprar casa quanto te custa? Falaste em US$ 120.000. E se fores ao Banco pedir financiamento, pagas 10 casas iguais em 15 anos, ao juro anual de 45%. Sabes quanto me custa a mim? Menos de USD 25.000. E posso pagar nos mesmos 15 anos a juros inferiores a 3%.
ÉS UM HOMEM RICO, IRMÃO!!!
Pobres somos nós, os emigrantes que vivemos na Florida, já que o Governo do Estado, tendo em conta a nossa situação financeira, que é precária, nos cobra somente 2,5% de imposto (há outro de 4% que é Federal), o que totaliza 6,5% de impostos ao consumidor final (IVA), e não 17% que pagas, aí, de IVA, por exemplo pela água e pela farinha.
Sabes quanto pago de seguro saúde familiar e reforma? 10% anual do meu salário.
Quanto pagas tu de segurança social? 7%. E Imposto de Rendimento? Mais 10%.
A diferença até não é grande. Mas sabes que ainda o ano passado a Tina teve os gémeos num hospital que mais parecia um hotel e quanto paguei? ZERO.
Quanto te custa a ti um parto numa qualquer clínica? Mais de US$ 1.500. A alternativa é aquele pardieiro a que chamam hospital que depois de pagares mais de US$ 250 num quarto "especial" por um parto mal assistido, com alimentação á tua conta e 5 dias de internamento, ainda te mandam embora com a mulher e o filho cheios de malária ou outras infecções.
E a tua reforma? Já fizeste os planos de como vais viver quando te reformares e receberes mensalmente menos de US$ 40? Como morreu o Papá, depois de 6 anos á espera de uma reforma que nunca chegou e que acabou por matá-lo? E os quase 40 anos de trabalho dele nos CFM, contaram para quê?
Sabes quanto recebo eu, de cada vez que por doença justificada tenho de faltar ao trabalho. US$ 150 por dia. E daqui a 15 anos quando me reformar?
Mais de US$ 5.000 mensais até morrer ou então a totalidade dos meus descontos ao longo da vida, acrescidos de 100%, de uma única vez. Então de que servem os teus descontos, mano?
ÉS DECERTO MUITO RICO PARA ESBANJARES DINHEIRO ASSIM!!!
Um País que quase não tem indústria, como é capaz de cobrar ás empresas uma contribuição industrial de 35%, como aí na nossa terra, e, ainda por cima,querem que pague adiantado. De facto, só sendo ricos é que se justificaria pagar um imposto desse calibre.
Necessariamente, têm que nadar em abundância, aí em Moçambique. És pobre porque ganhas US$ 200 por mês.
Pobres somos nós que não pagamos tantos impostos e ganhamos US$ 3.000,00.
Somos tão pobres, aqui nos EUA, que as escolas públicas emprestam os livros de estudo aos nossos filhos, prevendo que não tenhamos com que comprá-los, enquanto tú gastas por ano nos mesmos livros, dos 3 miúdos, mais que o teu salário de um mês inteiro.
Às vezes, fico, até, com inveja, pensando que, quando em Moçambique se pede um empréstimo, os bancos são capazes de cobrar mais de 45% de juro, ao ano.
PAGAR ISSO É SER RICO!!!
Não como aqui que chegamos a pagar menos de 4% de juro ao ano, justamente porque não estamos em condições de pagar mais do que isso.
Tu aí em Maputo, de cada vez que te queres deslocar á Matola, pagas de transporte ida e volta mais de US$ 0,70, arriscas a vida em carros que mal servem para transportar gado, enquanto eu, porque sou emigrante pobre, por cerca de US$ 10 mês, tenho direito a um título que me permite deslocar dentro do Estado da Florida para qualquer local, sem pagar mais um cêntimo, e na maior das comodidades.
Aí, pagas US$ 20,00 a US$ 25 por uma refeição, num restaurante qualquer com direito a vinho, mesa e toalha, enquanto que eu não pago mais de US$10,00 e o vinho vem do mesmo local de onde vem o teu.
E na maioria das vezes nem direito tens de reclamar quando a comida te provoca desarranjo intestinal, enquanto eu nesse caso, imediatamente pediria uma indemnização ao restaurante que chegava para viver o resto da vida sem problemas. E rapidamente a questão seria resolvida.
Por uma noite num hotel, aí pagas de US$ 80,00 a US$ 150,00, enquanto que, aqui, não pago mais de US$ 50.00. E sou tratado como um igual, enquanto tu, porque és negro, és quase empurrado porta fora, e na tua terra.
Por último, parece que mais de 80% da população activa, aí na nossa terra, está desempregada, enquanto que, aqui, só 4% estão na mesma situação. Não te parece que, viver sem trabalhar, é um luxo que só os ricos podem ter? E, nesse caso, não haveria em Moçambique 30 vezes mais ricos do que aqui? Faz as contas mano.
Quem é rico e quem é pobre? Se conseguires responder-me a isto de forma convincente, falarei á Tina na possibilidade de te ajudar, apesar de sinceramente me parecer que não precisas.
Um grande abraço do mano Jeremias
NOTA:
- Será Moçambique, ou Portugal?
- Será Matola, ou Lisboa?
terça-feira, agosto 23
Um inédito de Fernando Pessoa
"Que fiz da vida?
Que fez ela de mim?
Quanta coisa feliz ignorada ou perdida!
Quanto princípio que não teve fim!
Que sinto ante estas águas e este céu?
Ai de mim! Só o coração que é meu...
E o súbito azul em que reparo
Do mar, do antigo mar,
Pois despertei do sonho em que caíra,
Há uma carícia vaga, há um sorriso raro
Que parece falar
De qualquer paz além de gozo e dor,
De qualquer novo amor
Que transcende a verdade e a mentira.
E, desperto todo, eu que dormia
O sono natural da sensação
E que por isso não ouvia,
Oiço o som das ondas, claro, fresco, e uma Brisa me passa pelo coração, E estendo ao mar a mão E o mar me estende sua mão, a espuma."
(in Jornal de Letras)
Períodos de reconstrução e regeneração
CASA - 4 anos, no máximo, incluindo plantas, licenças e empréstimos bancários.
EUCALIPTAL - Cerca de 40 anos.
PINHAL - Cerca de 70 anos.
SOLO - 7 a 8.000 anos de regeneração, uma vez que, depois dos incêndios, se seguirá a erosão da camada superficial, provocada pelos ventos e chuvas.
Este povo que somos
Capaz do melhor e do pior:
- capaz de deixar tudo para ajudar o vizinho, no combate aos incêndios;
- mas também capaz de ir em passeio ver e filmar os incêndios que devastam o país, ao ponto de obrigar a GNR a contê-los, de modo a impedir a sua curiosidade doentia, que impedia a passagem dos carros de bombeiros. Uma vergonha!
segunda-feira, agosto 22
SOLIDARIEDADE
Enquanto se verificar este inferno de chamas, dores, desespero e
sofrimento, não tenho disposição para continuar a publicar
quaisquer artigos no blog que não contribuam para minorar o
sofrimento das vítimas.
Desmarco-me assim da exploração despudorada, que está a ser feita por
certos meios de comunicação social, facilmente identificáveis, desta
desgraça que está a destruir o País.
PRAGA - Vista geral
Uma cidade e uma gente que eu adorei conhecer e onde gostaria de viver.
(Foto do Peter)
domingo, agosto 21
Executem-se!
Não posso deixar de me surpreender com as declarações dos nossos políticos acerca do flagelo que tem varrido o país, deixando-o cada vez mais pobre.
A insistência – ou teimosia?! – no facto de que Portugal tem os meios necessários para combater incêndios, a não declaração de calamidade pública em muitos locais do país, a atribuição das causas a “efeitos naturais num ano de seca extrema” e outros eufemismos fazem-me tirar algumas conclusões.
Ou são burros – acredito que esta afirmação seja verdadeira em muitos casos – ou então querem-nos fazer a nós de jumentos.
Os portugueses já lhes provaram que não o são. Assim, aposto na primeira hipótese: são burros.
É hoje óbvio para cada um de nós, que existe uma “indústria de fogos”. É claro que muita gente lucra à custa da destruição da nossa mancha florestal. É ainda claro que não existe vontade política de por cobro a esta situação. É tenebroso pensarmos que quem nos governa esconde algo tão hediondo.
Se um ou outro incêndio pode ser atribuído a causas naturais, a maior parte deles tem origem criminosa, pesem embora os muitos estudos e estatísticas. Porém, como sabemos, os estudos ou as estatísticas, apenas terão alguma ponta de verdade, se as premissas de que se parte forem as certas. Quando os pressupostos estão errados, os resultados têm forçosamente de ser errados.
As contradições:
“Portugal pede ajuda à EU”. “Portugal solicita ao governo Espanhol o envio de meios aéreos”. “Chegam da Alemanha três helicópteros para ajudarem a combater os incêndios florestais” e outras notícias similares vão-nos chegando a conta gotas.
“Portugal dispõe de meios – aéreos e terrestres que bastem” – vão-nos dizendo os nossos iluminados governantes.
Se assim é porque solicitam ajuda e o envio de mais meios?
Terão alguma noção do que se passa em muitas corporações de bombeiros que lutam obviamente com falta de meios? Terão alguma ideia – mesmo que muito ténue – do que será estar no meio de um inferno de chamas, dando o seu melhor e sendo ainda por cima tantas vezes maltratados?
Estou certo de que não.
O governo socialista demorou a aparecer. Primou pela ausência. Primou pela incapacidade. Prima pelas promessas a que já nos habituou a não cumprir.
António Costa após milhares de hectares ardidos resolveu dar sinais de vida, prometendo, aligeirando a catástrofe em que o país se encontra mergulhado.
Enquanto isso, o primeiro-ministro pontuava pela ausência. Primeiro, as suas preciosas férias. – Convenhamos que merecidas após três longos meses de trabalho! – Quando finalmente se resolve a aparecer, traz um discurso que já conhecemos de cor e salteado: promete que tudo será resolvido.
A sério, senhor primeiro-ministro? Está certo de que num prazo considerado razoável irá colmatar a falta de habitação daqueles que a perderam? – Acha que pode prometer aos portugueses que no próximo ano as florestas ardidas terão o mesmo número de árvores e com o tamanho exacto daquelas que se perderam?
Permita-me que lhe chame demagogo. Isto para não usar o termo correcto, que como sabe, seria o de mentiroso.
Agora sabemos que alguém está a fazer mais um mirabolante estudo para “escolher os meios aéreos a comprar”. Só podem estar a brincar connosco!
Claro que todos temos antecipadamente a noção de que os prometidos meios aéreos para o próximo Verão, ainda estarão a ser “estudados”. Sabemos igualmente que as pessoas que este ano perderam os seus bens, daqui a muitos anos ainda não terão sido ressarcidos. Sabemos ainda que o senhor e o seu “magnífico” governo voltará a prometer uma comissão qualquer e que “para o ano de certeza haverá meios próprios, etc.”.
Parece-me chegada a altura das populações se organizarem em milícias com a finalidade de zelarem para que no próximo ano, não estejamos aqui a lamentar de novo a perda enorme da nossa floresta. Vamos certificarmo-nos de que os culpados são de facto tratados como tal. Vamos exigir a esse bando de inúteis que nos governa que tome medidas e que investiguem a sério quem são os verdadeiros culpados.
Em última análise, que a justiça popular se abata sobre quem deveria – não lhes pagamos para isso? – zelar pelos interesses da coisa pública e das populações.
Não posso calar
Não posso calar a minha revolta, a minha dor e a minha indignação. Por isso e porque o assunto afecta a todos os cidadãos do nosso País (ou deveria afectar, mas pelos vistos não afecta) tomei a liberdade de transcrever a "Nota" que o jornalista Rui Santos (ruimmsantos@netcabo.pt) escreveu no fim do seu artigo: "Atolados em desculpas", publicado no jornal Correio da Manhã, de 21 AGO 05:
"O País arde, na terra e no mar (!), mas as férias continuam. Andamos a assar (não apenas sardinhas nos barcos de turismo) e o Governo não consegue apagar esta imagem que nos assola de política queimada. As desculpas, aqui, são o calor. Mas como é que somos sempre tão céleres a pagar obras de fachada de interesse público reduzido (a construção dos estádios para o Euro'2004 foi de uma megalomania ofensiva para um País que subiu a cota de desempregados para os 400.000), discutimos a compra de submarinos quando nem sequer há patrulhas que apaguem um fogo de um barco a arder e não conseguimos impor uma política de serviço público? Ou será que o País tem mesmo de arder todo para se construir um novo?"
Mais uma vez peço desculpa ao autor por este pequeno "roubo", mas a intenção foi apenas a de procurar sensibilizar um maior número de leitores.
Pirilampo
- O que é um pirilampo, após tomar VIAGRA?
- Um candeeiro de pé alto.
(Uma equipa de médicos, neurologistas e ecologistas descobriu que a mesma substância responsável pelo controle da pressão sanguínea que leva à erecção do pénis, serve de mensageira entre o impulso eléctrico emitido pelos neurónios do vaga-lume e o disparo do flash luminoso.)
sábado, agosto 20
Governo viabiliza pequenas oficinas de serralharia
Um projecto grandioso do Governo presidido por Sócrates está em marcha.
Basicamente o projecto propõe-se criar mais postos de trabalho, com o fabrico artesanal de aviões de combate a incêndios, nas pequenas oficinas que não tenham mais do que dois trabalhadores.
“É uma medida que já estava prevista”, disse José Sócrates, após o regresso de férias.
O InApto quis saber se a medida não seria irrealista.
“De todo”, garantiu o primeiro-ministro. “Esta medida tem a ver com o prometido choque tecnológico que anunciámos aquando da campanha eleitoral”, continuou.
António Costa que se encontrava ao lado de Sócrates sorriu. Pareceu-nos um sorriso escarninho, mas não podemos afirmá-lo.
Fizemos diligências no sentido de conhecer algumas opiniões de pequenos serralheiros contemplados com a medida.
“Fabulosa”, disse-nos Manuel Peres. “Nunca fiz um avião, mas sempre achei que sou capaz. Finalmente vou poder realizar o meu sonho. Só não sei se poderá voar”, acrescentando que “isso é o menos importante”.
Por seu lado a serralharia “Bate que Verga”, afiança que “já tenho um projecto a hidrogénio. Os propulsores funcionarão a hidrogénio, o que permitirá ao «Deixa Arder» manter-se quase indefinidamente no ar”, concluiu.
Sócrates ouvia com entusiasmo o serralheiro.
“Como os senhores jornalistas podem confirmar, temos grandes cérebros em Portugal. A ideia de funcionarem quase de graça é inteligentíssima. Além disso, permite apagar todos os fogos que apareçam. Vou mesmo pedir aos donos das aeronaves que vão lançando bombas incendiárias sobre as florestas, para intensificarem as acções, de forma a testarmos os “Deixa Arder”.
António Costa continuava a sorrir no nosso entender de forma escarninha.
Porém, o projecto tem um âmbito mais vasto, segundo explicou Sócrates. “A ideia é reciclarmos tudo o que se encontre na sucata. Será a partir de velhos carros e máquinas de lavar – ao que sabemos as de loiça são bastante melhores, por causa das enormes pás que permitirão colocá-las nos aviões – que o projecto quase secreto será desenvolvido.
Um cliente da oficina “Bate que Verga” que entretanto havia chegado gritava a plenos pulmões: “Porra Manuel, o portão que colocou na garagem caiu”.
Sócrates instado a pronunciar-se sobre a fiabilidade do projecto escusou-se a tecer considerações.
Sociedade de consumo
Boa Tarde!
- Tarde....Diga
- Queria uma água com gás
- Fresca ou natural?
- Fresca.
- Com ou sem sabor?
- Pode ser de limão.
- Frieze limão, Castelo Bubbles, Carvalhelhos limão?
- Sei lá, traga-me uma qualquer...Frieze
- Frieze limão já acabou....Pode ser morango, tangerina ou maracujá?
- Esqueça...traga-me umas Pedras.....
- Fresca ou natural?
- Fresca.....
- Com ou sem limão?
- Sem
- Normal ou levíssima?
- Quem?
- Normal ou uma nova que saiu, que é mais leve....
- Ó meu amigo, traga-me uma Bohemia e esqueça o resto....
- Sagres Bohemia não temos. Só temos normal, Preta e Zero
- Então traga uma Superbock
- Garrafa ou imperial?
- Garrafa.
- Superbock normal, Green, Twin ou Stout?
- Porra.... já perdi a sede.... xau...
sexta-feira, agosto 19
Bom dia!
Hoje ao dirigir-me para comer o rissol de camarão (dos melhores de Lisboa) e o café matinal, passei por um velhote que estava sentado num dos bancos do jardim, que normalmente atravesso.
Devia ser pessoa de oitenta e muitos anos. Nitidamente alentejano: colete, boné e uma tosca bengala de madeira.
Disse-me:
- Bom dia.
Admirado, eu que nem sequer conheço os inquilinos do prédio onde moro, respondi à saudação, parei e fui sentar-me ao lado dele. Começámos a falar e esqueci o café.
Claro que era alentejano, viúvo, sem nenhum familiar na terra, viera para Lisboa viver com uma filha divorciada e sem filhos, que morava no bairro. Passava o dia e às vezes as noites ... sozinho, sem ter ninguém com quem falar. Por isso vinha sentar-se ali a ver pessoas e sempre na esperança que alguém parasse para trocar dois dedos de conversa. Sempre era melhor do que estar emparedado vivo num depósito de velhos, a que com eufemismo chamam "lar".
Tivemos sorte:
- ele porque encontrou um patrício com quem poderia falar do seu Alentejo, que nunca mais deverá ver;
- eu porque me senti humano e me libertei da massa anónima da grande cidade, que se atropela e se empurra sem a mínima consideração para com ninguém. O lisboeta tornou-se egoísta e indiferente, não quer chatices e está-se nas tintas para com os outros. O seu umbigo é o centro do mundo.
Apesar de todo o horror e dramatismo, as populações rurais afectadas pelo flagelo anual dos incêndios, que há 20 anos (pelo menos) aguarda solução, têm-nos dado um belíssimo exemplo de solidariedade humana, "perante a terna indiferença do mundo", citando Camus e dos políticos, penso eu.
quinta-feira, agosto 18
O lábio aproxima-se
O lábio aproxima-se do que vai ser o próximo o outro lábio
e no nunca-será beija o nunca
um lábio de doçura adolescente
tão fugidiamente novo tão oferecido
como uma folha de sono e de silêncio de ser-não-ser
Sem caminho
nos flancos do que não há do que nunca poderá ser
a mão tornou-se o lábio do para-ser
e desliza sobre o lábio branco beija o puro beijo
de si própria para além de si enamoradamente branca
Ó pura proximidade fugidia
que a língua-libélula persegue em círculos
até ao infinitesimal momento em que o lábio toca e não toca o outro lábio
e no tremor de ser-não-ser beija o puro começo de um beijo e o seu fim de uma [extrema doçura.
António Ramos Rosa
Burrocracia
O presidente da Câmara duma cidade capital de Distrito, excluiu dum concurso para auxiliar administrativo da referida Câmara, uma candidata licenciada em História, porque o diploma universitário apresentado pela mesma, embora oficialmente reconhecido pela Universidade de Lisboa, NÃO PROVAVA QUE A CANDIDATA TINHA CONCLUÍDO O ENSINO BÁSICO !!!
Por este andar, o referido presidente da Câmara ainda se "arrisca" a terminar a sua brilhante carreira, como administrador de alguma grande empresa estatal!
A verdadeira bravura
A verdadeira bravura está em chegar em casa bêbado de madrugada, ser recebido pela mulher com uma vassoura na mão e ainda ter peito para
perguntar:
- Vais varrer ou vais voar?
quarta-feira, agosto 17
A implosão da mentira
Mentiram-me.
Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem sobretudo impunemente.
Não mentem tristes,
alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
que acham que mentindo história a fora
vão enganar a morte eternamente.
Mentem, mentem e calam
mas as frases falam e desfilam de tal modo nuas que mesmo o cego pode
ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura, mas não se
chega à verdade pela mentira nem à democracia pela ditadura.
Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima e em Auschwitz
havia um circo permanentemente.
Mentem, mentem caricaturalmente,
mentem como a careca mente ao pente,
mentem como a dentadura mente ao dente
mentem como a carroça à besta em frente, mentem como a doença ao
doente, mentem como o espelho transparente mentem deslavadamente como
nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio mentem com a cara
limpa e na mão o sangue quente, mentem ardentemente como doente nos
seus instantes de febre, mentem fabulosamente como o caçador que quer
passar gato por lebre e nessa pilha de mentiras a caça é que caça o
caçador e assim cada qual mente indubitavelmente.
Mentem partidariamente,
mentem incrivelmente,
mentem tropicalmente,
mentem hereditariamente,
mentem, mentem e de tanto mentir tão bravamente constroem um país de
mentiras diariamente.
(Afonso Romano de Sant'Anna, Enviado por Manoel Carlos, do blog “Agreste”)
Postal de férias
"Porque será que uma mulher é mais sexy, meia despida, que toda nua?"
A minha resposta a esta pergunta deixada pela Menina_marota num comentário é afirmativa, por deixar lugar à imaginação, ao desejo da descoberta do oculto meio revelado.
Destas férias algarvias, guardo como lembrança a imagem duma bela mulher dos seus trinta e tal anos, loira (as anedotas sobre loiras estúpidas foram inventadas pelas morenas, ou pelos conquistadores mal sucedidos), cabelos compridos e com aquelas enormes argolas nas orelhas, que lhes dão tanto charme, calção de ganga com umas belas pernas, bem torneadas e bronzeadas e uma blusa generosa, mostrando um seio liberto de qualquer “suporte”.
Estava com um moço sentada numa mesa da esplanada e que a certa altura se debruça e tenta fechar uma pequena corrente que ela usava no tornozelo direito. Sempre considerei esse adereço extremamente sexy.
Esperei que eles se fossem embora pois era agradável estar ali.
Logo que o fizeram, levantei-me e fui até ao “eddie’s” beber uns “shots”, terminando a noite no Bon Vivant, onde sempre encontro pessoas amigas.
terça-feira, agosto 16
Estou de férias
Finalmente resolvi tirar férias e já não era sem tempo. Por isso, vou juntar-me ao grupo dos que se encontram de férias - Peter e Bluegift - não fisicamente, o que seria óptimo, mas numa mesma situação.
Vou aproveitar para conhecer terras que não conheço e para algumas visitas. Entre estas últimas, uma das nossas visitantes, a Persephone, que tenciono visitar, retribuindo assim a súa última visita.
Boas férias para quem está de férias, para quem vai. Para quem já foi, agora é a minha vez.
Um abraço a todos, visitantes e da restante equipa - e até breve
Anjo do Sol
segunda-feira, agosto 15
Iguais
Assisti a um documentário interessantíssimo no “People and Arts”, sobre a situação Cubana e os possíveis cenários depois de Castro.
Se é certo que passar a mensagem através da palavra é um exercício interessantíssimo, não é menos certo que as imagens acabam por falar por elas mesmas.
De um lado, a figura amada por uns, odiada por outros, de Fidel. Homem velho, de ar cansado, dir-se-ia desiludido.
A cerca de 150 quilómetros de distância, os Cubano-Americanos, ávidos da mudança que tarda. Também eles velhos, também eles cansados, também eles perseguindo um sonho.
Patético, o grupo que defende a luta armada para derrubar Castro: Alfa 46 de seu nome. Homens velhos, cansados, sonhando com uma Cuba diferente. Treinam diariamente e muitos deles perderam a vida ingloriamente em acções em solo cubano.
Ainda a sonharem, os tubarões que traçam cenários políticos, na ânsia de substituírem Castro na rapina.
Todos têm em comum o sonho esgotado, os olhares cansados, os cabelos inexistentes ou brancos.
Impressionou-me a irrealidade em que cada um deles está mergulhado: Castro a sonhar com uma revolução vitoriosa que nunca terá, os comandos – ex dirigentes Cubanos caídos em desgraça – a sonharem com a vitória da sua própria revolução, os tubarões a sonharem com lucros que não sabem se algum dia terão e a enorme comunidade Cubana apoiada pelos EUA sonhando com uma Cuba copiada do sistema americano.
Todos diferentes e todos iguais nos seus sonhos delirantes do impossível.
Os sulcos cavados nas faces de muitos destes resistentes não são diferentes das enormes marcas do líder cubano; de igual modo, os olhares cansados e tristes, olhando cenários imaginários, mas que tomam como realidade deixou-me uma profunda marca. Emocionei-me mesmo.
Em comum ainda o tomarem os delírios por verdades absolutas. Ou talvez não. Talvez os sonhos se tenham esgotado e teimosamente fingem que acreditam nas próprias mentiras.
Talvez tenham tido todos uma razão para se sentirem vivos. Ou talvez as marcas que ostentam nos rostos não sejam mais do que o constatar que a mesma vida se lhes escoou entre dedos e nada mais reste do que acreditar. Em qualquer coisa, mesmo que irreal.
Castro morrerá no seu posto – o velho comandante de longas barbas e olhar cansado – os tubarões continuarão a sonhar com lucros que nunca verão, os velhos revolucionários do ALFA 46 continuarão a morrer ingloriamente nas praias de Cuba e a enorme massa de Cubanos que acredita poder exportar o modus vivendi Americano, continuará a injuriar a uma prudente distância o regime que nacionalizou os meios de produção e a desejar uma morte rápida a Fidel.
Impressiona-me sobretudo serem tão iguais nas suas diferenças. Teimosamente perseguem quimeras. Acreditam, ou fingem acreditar nelas.
Uns e outros morrerão com a ilusão de batalhas ganhas, de sonhos realizados.
Inevitavelmente Cuba sofrerá mutações de ordem política. Inevitavelmente Castro morrerá. Inevitavelmente os resistentes também.
Esta inexorabilidade temporal parece ser o remédio certo para que possam emergir jovens generosos que sem a ganância do lucro, nem a quimera de uma revolução falhada, possa transformar Cuba num país realmente independente, livre e democrático.
De todos os velhos que clamam vingança, de todos os homens que detêm o poder agora, sobrarão histórias, olhos cansados e sonhos.
sábado, agosto 13
sexta-feira, agosto 12
quinta-feira, agosto 11
terça-feira, agosto 9
In Vino Veritas
Meus caros, vamos a aproveitar a verdade que está presente no vinho e bebê-lo!
Aproveitar os vinhos do Alentejo e do Douro!
Se não apreciarem o tinto, eu não gosto muito, virem-se para o branco, seja ele verde ou maduro!
E, não posso deixar de vos falar num Bar-Restaurante, bem típico saloio, já que estou a falar de vinho. Trata-se da Taverna dos Trovadores e quem conhece Sintra, provavelmente o conhecerá, situado em S. Pedro de Sintra. O seu nome constou já no Guiness como o nome de bar mais comprido, não sei se ainda assim é, ou se já foi ultrapassado, mas é este:
Taverna dos Trovadores que bebem do branco ou do tinto a qualquer hora do dia ou da noite.
Por agora é só que tenho de ir terminar a garrafa que ali está a desafiar-me!
Fiquem bem!!
domingo, agosto 7
A semana em análise.
Numa semana preenchida com catastróficos incêndios que vão delapidando a nossa mancha verde, as economias débeis de milhares de famílias e acentuam o calor sufocante que se tem feito sentir, notou-se a falta de presença dos políticos, sobretudo dos governantes.
Sócrates, após quatro meses de trabalho, resolveu tirar férias. Numa demonstração de como se deve poupar, procurou um paraíso qualquer bem longe do flagelo dos incêndios; o PR (Presidente da República) que poderia ser uma força mobilizadora e mesmo estabilizadora, ignorou por completo a situação de catástrofe nacional que se vai vivendo, por acção de interesses obscuros.
Ficámos porém a saber, que o Governo criou uma comissão para estudar – país de estudiosos, sem dúvida! – a compra de meios aéreos para combate aos fogos.
Veremos o resultado de tão brilhante comissão. O que há para estudar? Só se estiverem a pensar nos patrocínios a colocar nos ditos meios, que para além de darem um ar mais pitoresco aos aviões, pagarão as contas de combustíveis e afins.
Estou mesmo a imaginar os helis pesados com qualquer do género: “H. Vautiler, extintores”, ou os Canadair pintados com estonteantes flamas e despejando milhares de panfletos sobre as populações, num apelo deseperado à solidariedade: “Contribua para o pagamento dos novos meios de combate aos fogos florestais. Ligue 800800800, linha de valor acrescentado e erótica. Cada chamada corresponderá a um euro para o Governo.”
Ainda a marcar a semana, o escândalo brasileiro do “mensalão”. Seria apenas uma questão interna, não houvesse preocupantes notícias que colocam algumas empresas portuguesas na mira do suborno.
Obviamente que todos negam o envolvimento. Nem outra coisa seria de esperar, até porque em Portugal a corrupção já foi extinta há séculos. Calculo que desde o reinado de D. Sancho I.
De louvar os bravos homens e mulheres – refiro-me aos bombeiros portugueses – que apenas com a motivação de ajudarem o próximo, têm combatido abnegadamente a praga dos incêndios, quase sem meios e nem sempre bem entendidos.
Lá por fora, destaco o salvamento dos marinheiros Russos, que haviam ficado no fundo do mar, dentro do mini-submarino. Destaco pela positiva, a tomada de posição do governo Russo, pedindo auxílio a outros países, coisa que não fez aquando do afundamento do Kursk.
A ida a Belém dos dois supostos candidatos ao cargo de Presidente. Soares – uma velha raposa – tentou tirar partido da situação e convenhamos que obrigou Cavaco a definir melhor a sua posição.
Não quero deixar passar a oportunidade de referenciar que o primeiro documento oficial de âmbito Nacional tradudido em Mirandês, finalmente viu a luz do dia.
Na cultura é impossível deixar de assinalar a morte do cantor Ibrahim Ferrer, uma das figuras mais marcantes do mítico grupo "Buena Vista Social Club".
Ibrahim Ferrer, nascido em 1927 em Santiago de Cuba, faleceu a meio da tarde de sábado, num hospital de Havana, onde foi internado devido a uma doença gastrointestinal. Desaparece assim um monstro sagrado da música Cubana.
Em jeito de finalização e desejo: que os verdadeiros culpados pelos fogos florestais sejam identificados, apanhados e julgados.
sexta-feira, agosto 5
quinta-feira, agosto 4
quarta-feira, agosto 3
terça-feira, agosto 2
Pequena Brincadeira
1. Há um 7 de Setembro na Inglaterra?
Não sei
Sim
Não
2. Quantos aniversários teve uma pessoa que viveu 50 anos?
Não sei
49
50
51
3. Alguns meses têm 31 dias. Quantos têm 28?
Não sei
1
2
3
6
9
12
4. Quantos noves (9) existem entre 0 e 100?
Não sei
9
10
11
19
20
5. É correcto que um homem se case com a irmã de sua viúva?
Não sei
Sim
Não
6. Divide 30 por 1/2 e soma 10. Qual é o resultado?
Não sei
10
25
50
70
90
7. Se há 3 maçãs e pegas 2, quantas tens?
Não sei
5
2
3
8. Um médico receita-te três comprimidos e diz-te para tomar um a cada meia hora. Quantos minutos te duram os comprimidos?
Não sei
20
40
60
90
9. Um pastor tem 17 ovelhas. Morrem todas, menos 9. Quantas ficam?
Não sei
0
3
5
8
9
10. Quantos animais de cada espécie Moisés colocou na arca?
Não sei
3
2
1
0
11. Quantos selos de dois cêntimos há em uma dúzia?
Não sei
1
3
6
9
12
Respondam e eu depois darei os resultados.
segunda-feira, agosto 1
Búzio de Ti em Mim
Em mais um crepúsculo
O mar chama por mim
Enterro os dedos na areia morna
Do sol que já se despede
Em tons laranja, vermelho e violeta.
As ondas vêm depositar lágrimas
De vidas perdidas
Aos pés de quem perde o que já não tem.
Pego no búzio adormecido
Colo-o ao ouvido
Na esperança de ouvir a tua voz.
Sopro nele o mel que ainda escorre dos lábios
Depois do último beijo
Solto em sonhos de azul.
Do seu interior ouço a vastidão
De um oceano de ilusões desiludidas.
Rendo-me ao que sou
E tenho
Enrolo-me em mim
Num abraço que poderia ser teu
Na ânsia do preenchimento de vazios
Que tu mesmo pintaste a aguarela.
No meio dos seios, o búzio
Frio, mudo.
E enquanto a alma se aquieta
Irrequieta, inquieta,
O mar vai e vem
Em uivares de vento salgados.
E na brisa exótica
Viajante em mim
Solta-se o véu límpido e sereno
Da permanência do que não fui.
Agora, apenas fico.
Corpo hirto
Açoitado pelos ventos de maré
Rosto sem vida
Do sorriso moldado que perdeu.
Nas mãos, o búzio.
Anjo do Sol