domingo, agosto 21

Executem-se!

Não posso deixar de me surpreender com as declarações dos nossos políticos acerca do flagelo que tem varrido o país, deixando-o cada vez mais pobre.

A insistência – ou teimosia?! – no facto de que Portugal tem os meios necessários para combater incêndios, a não declaração de calamidade pública em muitos locais do país, a atribuição das causas a “efeitos naturais num ano de seca extrema” e outros eufemismos fazem-me tirar algumas conclusões.
Ou são burros – acredito que esta afirmação seja verdadeira em muitos casos – ou então querem-nos fazer a nós de jumentos.

Os portugueses já lhes provaram que não o são. Assim, aposto na primeira hipótese: são burros.

É hoje óbvio para cada um de nós, que existe uma “indústria de fogos”. É claro que muita gente lucra à custa da destruição da nossa mancha florestal. É ainda claro que não existe vontade política de por cobro a esta situação. É tenebroso pensarmos que quem nos governa esconde algo tão hediondo.

Se um ou outro incêndio pode ser atribuído a causas naturais, a maior parte deles tem origem criminosa, pesem embora os muitos estudos e estatísticas. Porém, como sabemos, os estudos ou as estatísticas, apenas terão alguma ponta de verdade, se as premissas de que se parte forem as certas. Quando os pressupostos estão errados, os resultados têm forçosamente de ser errados.

As contradições:

“Portugal pede ajuda à EU”. “Portugal solicita ao governo Espanhol o envio de meios aéreos”. “Chegam da Alemanha três helicópteros para ajudarem a combater os incêndios florestais” e outras notícias similares vão-nos chegando a conta gotas.

“Portugal dispõe de meios – aéreos e terrestres que bastem” – vão-nos dizendo os nossos iluminados governantes.

Se assim é porque solicitam ajuda e o envio de mais meios?
Terão alguma noção do que se passa em muitas corporações de bombeiros que lutam obviamente com falta de meios? Terão alguma ideia – mesmo que muito ténue – do que será estar no meio de um inferno de chamas, dando o seu melhor e sendo ainda por cima tantas vezes maltratados?
Estou certo de que não.

O governo socialista demorou a aparecer. Primou pela ausência. Primou pela incapacidade. Prima pelas promessas a que já nos habituou a não cumprir.

António Costa após milhares de hectares ardidos resolveu dar sinais de vida, prometendo, aligeirando a catástrofe em que o país se encontra mergulhado.
Enquanto isso, o primeiro-ministro pontuava pela ausência. Primeiro, as suas preciosas férias. – Convenhamos que merecidas após três longos meses de trabalho! – Quando finalmente se resolve a aparecer, traz um discurso que já conhecemos de cor e salteado: promete que tudo será resolvido.
A sério, senhor primeiro-ministro? Está certo de que num prazo considerado razoável irá colmatar a falta de habitação daqueles que a perderam? – Acha que pode prometer aos portugueses que no próximo ano as florestas ardidas terão o mesmo número de árvores e com o tamanho exacto daquelas que se perderam?

Permita-me que lhe chame demagogo. Isto para não usar o termo correcto, que como sabe, seria o de mentiroso.
Agora sabemos que alguém está a fazer mais um mirabolante estudo para “escolher os meios aéreos a comprar”. Só podem estar a brincar connosco!
Claro que todos temos antecipadamente a noção de que os prometidos meios aéreos para o próximo Verão, ainda estarão a ser “estudados”. Sabemos igualmente que as pessoas que este ano perderam os seus bens, daqui a muitos anos ainda não terão sido ressarcidos. Sabemos ainda que o senhor e o seu “magnífico” governo voltará a prometer uma comissão qualquer e que “para o ano de certeza haverá meios próprios, etc.”.

Parece-me chegada a altura das populações se organizarem em milícias com a finalidade de zelarem para que no próximo ano, não estejamos aqui a lamentar de novo a perda enorme da nossa floresta. Vamos certificarmo-nos de que os culpados são de facto tratados como tal. Vamos exigir a esse bando de inúteis que nos governa que tome medidas e que investiguem a sério quem são os verdadeiros culpados.

Em última análise, que a justiça popular se abata sobre quem deveria – não lhes pagamos para isso? – zelar pelos interesses da coisa pública e das populações.

5 Comentários:

Às 21 agosto, 2005 22:32 , Blogger Peter disse...

Porquê?
(1)Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

(2)Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?

Será verdade que:

(1)- A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade? No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais?

(2)- Muitos jornalistas, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei?

(3)- À redacção de muitos órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder" ? Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre?

(4) - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos? Os comandantes de bombeiros destas zonas parece conhecerem bem esta realidade?

 
Às 21 agosto, 2005 22:57 , Blogger Micas disse...

É revoltante, agoniante. As palavras dos politicos estão gastas e não fazem qualquer sentido, seria bom se de uma vez por todas fizessem alguma coisa para variar. Mais uma vez Portugal é noticia de primeira página aqui na Alemanha e mais uma vez, pelos piores motivos...

 
Às 22 agosto, 2005 00:47 , Blogger Peter disse...

bluegift, vou enviar-te por e-mail, o artº do jornalista José Gomes Ferreira: "A indústria dos incêndios", no qual baseei o meu comentário ao post do Letras_ao_ acaso.

 
Às 22 agosto, 2005 19:38 , Blogger Amita disse...

Tudo o que se passa no nosso país é muito estranho e revoltante. Começou com promessas eleitorais que só foram caça ao voto, seguida de uma série de medidas tomadas contra o povo que os colocou no poder, culminando com os imensos hectares de floresta ardida e o desinteresse da classe política (1ºas férias, depois o país e quem os seus bens perdeu). Não valerá a pena, da minha parte, estar a alongar-me em considerações quando és bem explícito neste texto que todos, repito Todos, deveriam ler e tomar consciência. É com grande mágoa que digo que vivemos num país onde os interesses de uns poucos imperam em detrimento da maioria. E sofro, e continuarei a sofrer... Até quando????

 
Às 23 agosto, 2005 22:23 , Blogger Peter disse...

amita, é como dizes: "Todos, deveriam ler e tomar consciência. É com grande mágoa que digo que vivemos num país onde os interesses de uns poucos imperam em detrimento da maioria."

Até quando? Tudo tem um fim, assim nós queiramos ...

 

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