segunda-feira, agosto 15

Iguais

Assisti a um documentário interessantíssimo no “People and Arts”, sobre a situação Cubana e os possíveis cenários depois de Castro.

Se é certo que passar a mensagem através da palavra é um exercício interessantíssimo, não é menos certo que as imagens acabam por falar por elas mesmas.

De um lado, a figura amada por uns, odiada por outros, de Fidel. Homem velho, de ar cansado, dir-se-ia desiludido.

A cerca de 150 quilómetros de distância, os Cubano-Americanos, ávidos da mudança que tarda. Também eles velhos, também eles cansados, também eles perseguindo um sonho.

Patético, o grupo que defende a luta armada para derrubar Castro: Alfa 46 de seu nome. Homens velhos, cansados, sonhando com uma Cuba diferente. Treinam diariamente e muitos deles perderam a vida ingloriamente em acções em solo cubano.

Ainda a sonharem, os tubarões que traçam cenários políticos, na ânsia de substituírem Castro na rapina.

Todos têm em comum o sonho esgotado, os olhares cansados, os cabelos inexistentes ou brancos.

Impressionou-me a irrealidade em que cada um deles está mergulhado: Castro a sonhar com uma revolução vitoriosa que nunca terá, os comandos – ex dirigentes Cubanos caídos em desgraça – a sonharem com a vitória da sua própria revolução, os tubarões a sonharem com lucros que não sabem se algum dia terão e a enorme comunidade Cubana apoiada pelos EUA sonhando com uma Cuba copiada do sistema americano.

Todos diferentes e todos iguais nos seus sonhos delirantes do impossível.

Os sulcos cavados nas faces de muitos destes resistentes não são diferentes das enormes marcas do líder cubano; de igual modo, os olhares cansados e tristes, olhando cenários imaginários, mas que tomam como realidade deixou-me uma profunda marca. Emocionei-me mesmo.

Em comum ainda o tomarem os delírios por verdades absolutas. Ou talvez não. Talvez os sonhos se tenham esgotado e teimosamente fingem que acreditam nas próprias mentiras.

Talvez tenham tido todos uma razão para se sentirem vivos. Ou talvez as marcas que ostentam nos rostos não sejam mais do que o constatar que a mesma vida se lhes escoou entre dedos e nada mais reste do que acreditar. Em qualquer coisa, mesmo que irreal.

Castro morrerá no seu posto – o velho comandante de longas barbas e olhar cansado – os tubarões continuarão a sonhar com lucros que nunca verão, os velhos revolucionários do ALFA 46 continuarão a morrer ingloriamente nas praias de Cuba e a enorme massa de Cubanos que acredita poder exportar o modus vivendi Americano, continuará a injuriar a uma prudente distância o regime que nacionalizou os meios de produção e a desejar uma morte rápida a Fidel.

Impressiona-me sobretudo serem tão iguais nas suas diferenças. Teimosamente perseguem quimeras. Acreditam, ou fingem acreditar nelas.

Uns e outros morrerão com a ilusão de batalhas ganhas, de sonhos realizados.

Inevitavelmente Cuba sofrerá mutações de ordem política. Inevitavelmente Castro morrerá. Inevitavelmente os resistentes também.

Esta inexorabilidade temporal parece ser o remédio certo para que possam emergir jovens generosos que sem a ganância do lucro, nem a quimera de uma revolução falhada, possa transformar Cuba num país realmente independente, livre e democrático.

De todos os velhos que clamam vingança, de todos os homens que detêm o poder agora, sobrarão histórias, olhos cansados e sonhos.

2 Comentários:

Às 15 agosto, 2005 23:37 , Anonymous Anónimo disse...

certa vez, há milênios rs, ganhei um livro com a história da revolução cubana... e a dedicatória do autor dizia... ".... fidel transformou um quintal dos estados unidos em uma belíssima nação." ... era bonito... perpetuava a fé na humanidade.... agora... nem sei... bj... gisele

 
Às 17 agosto, 2005 13:07 , Blogger Noélia de Santa Rosa disse...

Se te tentares distanciar do facto de pertenceres à mesma espécie animal a que pertences (humanóides) e olhares para os métodos e organização dos grupos sociais, vais perceber que não passamos de macacos replicando gestos e ansiedades dos nossos ancestrais antepassados.
O Velho macaco Alfa (Fidel Castro ou outro qualquer ditador), chefe do clã, esteve estes anos todos a impor as suas regras dominantes. Uns quantos catavam-lhe os piolhos (lambiam-lhe as botas) outros revoltavam-se e fugiam do clã porque queriam tomar a posição de Alfa no grupo sem o conseguir (fugiram para os EUA) e de longe, esperam com ansiedade, roendo os beiços, rangendo os dentes e salivando ululantes que o Velho Macaco Alfa morra de velhice ou um macaco mais jovem o desafie para o confronto final!

A evolução mental ainda está por fazer!
Coitadinhos dos macaquinhos!

 

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