terça-feira, agosto 23

Um inédito de Fernando Pessoa



"Que fiz da vida?
Que fez ela de mim?
Quanta coisa feliz ignorada ou perdida!
Quanto princípio que não teve fim!

Que sinto ante estas águas e este céu?
Ai de mim! Só o coração que é meu...

E o súbito azul em que reparo
Do mar, do antigo mar,
Pois despertei do sonho em que caíra,
Há uma carícia vaga, há um sorriso raro
Que parece falar
De qualquer paz além de gozo e dor,
De qualquer novo amor
Que transcende a verdade e a mentira.
E, desperto todo, eu que dormia
O sono natural da sensação
E que por isso não ouvia,
Oiço o som das ondas, claro, fresco, e uma Brisa me passa pelo coração, E estendo ao mar a mão E o mar me estende sua mão, a espuma."

(in Jornal de Letras)

16 Comentários:

Às 23 agosto, 2005 19:16 , Anonymous Anónimo disse...

Estou arrebatada! por completo!
Não me parece F.P. nem homónimo nem ortónimo. Nunca foi um dos meus poetas preferidos. Mas este poema... que coisa bela...

 
Às 23 agosto, 2005 20:41 , Blogger Peter disse...

persephone, as perguntas que FP faz, são as que faço a mim mesmo.

 
Às 23 agosto, 2005 20:45 , Blogger Peter disse...

A. não sei bem porquê, o FP nunca foi dos meus preferidos. Talvez influência de Vergílio Ferreira que dizia que Pessoa nunca escrevera qq livro, apenas pequenos "pedaços de papel".//
Mas o poema é de facto extraordinário e foge um pouco ao Pessoa "tradicional".

 
Às 23 agosto, 2005 20:48 , Anonymous Anónimo disse...

Peter: concordas então com o meu comentário.

e todos nós fazemos as perguntas que FP se coloca

 
Às 23 agosto, 2005 21:30 , Blogger Heloisa disse...

E, sao precisas palavras???_nao SAO!_So' as de Desculpas por andar tao "ARREDIA"!!!!!!
So' "exteriormente" arredia!
MEU ABRACO!
Heloisa B.P.
******************

 
Às 23 agosto, 2005 22:32 , Blogger Peter disse...

Heloisa, é um prazer vê-la por aqui. O outro blog é mais adequado à sua sensibilidade poetica.

 
Às 23 agosto, 2005 23:20 , Blogger BlueShell disse...

Um deleite, este poema. Obrigada, Peter ( mesmo que não gostes muito de FP...obrigada...porque eu gosto)
beijos, BShell

 
Às 24 agosto, 2005 01:09 , Anonymous Anónimo disse...

peter... eu adoro o fernando pessoa... alguém que foi capaz de dizer...
"Vive um momento com saudade dele Já ao vivê-lo.... Porque o que importa é que já nada importe... Eis o momento.... Sejamo-lo... Pra quê o pensamento?..." qual definição melhor teremos sobre o querer bem?????????.. se há... eu desconheço... beijinhos ...gi

 
Às 24 agosto, 2005 01:50 , Blogger Amita disse...

Este é um poema extraordinário, com questões que tantas vezes colocamos. Obrigado por partilhares o poema. Bjos

 
Às 24 agosto, 2005 02:53 , Blogger Peter disse...

bluegift,ainda bem que gostaste do poema, pois o blog são vocês.

 
Às 24 agosto, 2005 02:56 , Blogger Peter disse...

Gi, uma brasileira que vem de propósito do Brasil para visitar os túmulos de FP e de Cesário Verde, "é obra" ... merece bem que eu lhe ofereça poemas destes.

 
Às 24 agosto, 2005 02:57 , Blogger Peter disse...

amita, não sei "quem partilha com quem" ...

 
Às 24 agosto, 2005 08:39 , Blogger Peter disse...

letrasaoacaso, eu não diria "ideologias nazis", mas sim "ideologias nacionalistas", o que, como sabes, não será exactamente o mesmo. Mas cada um tem as suas opiniões e admito perfeitamente estar enganado.

 
Às 24 agosto, 2005 11:04 , Blogger Amita disse...

Bom dia. Partilhamos tudo com todos. Partilhamos a tristeza, a dor, a alegria, os sonhos, a esperança de dias. Partilhamos a música que se fez ou se fazia, cores, vozes silenciadas cantando baixinho estranhas melodias. De Amor, de Amizade há a partilha. E essa, por muito escuro e denso que seja o Tempo, sempre fica. Eu tento, apesar de alguma ausência, marcar presença com meu sorriso sereno que convosco partilho. Bjos

 
Às 25 agosto, 2005 17:42 , Blogger amelia disse...

Visitei por um acaso este blog. Este poema, não me deixou avançar mais. Fernando Pessoa é, sem dúvida, um dos meus poetas preferidos, talvez por ser imprevísivel, talvez pela sua dualidade cativante. Não sei. Também não importa. Sei que, o meu livro de sempre, pertence-lhe. O "Livro do desassossego", é o meu livro de todas as horas.

Peter, parabéns pelo teu blog, é interessante, fresco e não tem nada de "xaxa".

 
Às 25 agosto, 2005 20:20 , Blogger Peter disse...

amelia, o "conversas de xaxa" já vai em 4ª edição o que significa, sem falsa modestia, que tem tido boa aceitação.
Contamos com a tua visita e esforçar-nos-emos por te agradar.

 

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