A arquitectura dos corpos
Musée d’Orsay – Manet – “Olímpia”
Pendestes como frutos ou moluscos
da intersecção convexa das colunas
alongam-se volume adivinhado
nos véus retensos que os desenham soltos.
Os fustes se articulam de joelhos
ancas artelhos metatarso e dedos.
E no de se mover a arquitectura
desnudo o templo se promete ampliado
e penetrante e ardente quando a vida
que é suco em fruto endurecer de sangue.
Outras colunas se entreabrem já
humedecidas no seu friso oculto
a tanta imagem prometida. E só
os dorsos das estátuas se não fitam.
De uma cintura opostamente os globos
se erguem metades lado a lado rijos.
Lisos na curva os que de baixo avançam
e pontiagudos no seu eixo os outros
que acima opostamente se arredondam
e em contracurva se diluem suaves
na curvatura larga que irradia
de um ponto refundado até uma linha
em que outra curva enegrecida avança.
Sob esta - aonde se bifurca o fuste -
em lábios se abre vertical um friso
internamente prolongado para
o duro eixo do templo receber
que a horizontal cariátide sustenta.
Na noite cavernosa a que se aponta
e em que mergulha e se desliza e volta
quando se move do que as partes une
de oscilações o templo e o seu suporte -
trementes superfícies e rebordos
se roçam se estrangulam se recreavam
até que imóveis o edifício jorra
adentro de si mesmo um fecho líquido
selando a abóbada nocturna e quente
da cripta profunda. Ou não selando.
Dentro se funde ou não se funde um ovo
com desse líquido o pequeno acaso.
No campo se separam em pedaços
colunas arcos tímpanos e frisos.
(Jorge de Sena, Março 70)
6 Comentários:
Eu assinei o protesto.
Peter, venho agradecer-te a atenção. Infelizmente não fará muita diferença pois sei que não tenho colocação possível nos próximos... 10 (?) anos. Mas agadeço-te mesmo muito. Fiquei sensibilizada.
Perdoa não comentar mas a minha (rápida) visita desta vez teve apenas este fim. Depois comento com atenção e consciência. Detesto palavras futeis.
Não sei se te ausentas por motivos prazerosos, mas desejo-te um bom descanso.
Beijitos
Esta já a vi ao "vivo"...está perto do "Déjeuner sur l'herbe".
mfc, tirei a foto ao "Déjeuner sur l'herbe", como podes vê-la no meu blog: http://oblogdopeter.blogspot.com
mas a minha máquina não tinha possibilidades de fotografar a "Olimpia" sem flash.
eheh... Letras, será que a essa senhora não terá algum complexo??
E, que tal angariarmos uns fundos e, "oferecer-lhe" uma lipoaspiração (é assim?)
Não será um problemas de gordurinhas, que lhe colocou esse trauma?
Peter, boa escolha do Poema. Grata pela partilha.
Um abraço ;)
... do Poema e da Imagem, claro...
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