terça-feira, agosto 30

Neo-liberalismo, onde nos levas?

Alguém se lembra das velhas teorias sobre a evolução do trabalho? Um dos senhores mais conhecidos desta corrente era Maurice Reuchlin que, no anos 80, publicou mesmo um livro chamado: 'O Trabalho no Ano 2000' .
Nele, a evolução vertiginosa da economia liberal, reforçada pelos progressos tecnológicos (que aparentemente, na altura, roubavam postos de trabalho), era vista como uma dádiva dos céus em prol da humanidade. Maurice Reuchlin falava alegremente da forma como a crescente mecanização da indústria e o desenvolvimento dos serviços iria evoluir, levando, gradualmente, e entre outras benesses, a uma diminuição das horas semanais de trabalho e a uma diminuição dos anos de trabalho para a reforma. Tais medidas iriam dar aos jovens a oportunidade de entrar no mercado do trabalho, e o investimento dos mais seniores em actividades, merecidas, de tempos livres. Era o Futuro risonho que nos esperava. Mas a vida, repleta de predadores sem escrúpulos mascarados de messias, preparava-se para nos pregar uma partida... E eis que, pouco a pouco, o lucro, os objectivos económicos de cada empresa, passaram a ter como limite: o Infinito ! E toda a sociedade começou, gradualmente, a ser escravizada por esta política desumana e elitista. O lucro infinito passou a ser Deus e senhor de todas as economias ocidentais !

Afinal, de que nos serve trabalhar com eficiência e dedicação para o desenvolvimento económico global, se, mais tarde, apenas vamos receber uns parcos dividendos do esforço realizado, perdendo cada vez mais qualidade de vida ?
Mas, afinal, o que é que está a acontecer com o Trabalho? Para que poço escorreram as águas de todas as previsões iniciais acerca da mecanização da Indústria e dos Serviços, as tais que visavam uma maior humanização do Trabalho na nossa sociedade? O que é que vai ser do nosso futuro? Trabalhar dia e noite até aos 75 anos (sim, esperem pela demora...) em prol da competição internacional? Mas é mesmo isto que nós queremos fazer da nossa vida, do nosso futuro ?

Realço as palavras de Fernando Penim Redondo citadas e comentadas no blogue 'mas certamente que sim', ex-'o vento lá fora', do Paulo Querido:

«Nenhum partido de esquerda perspectiva atacar os interesses materiais das classes dominantes. Todos eles concentram as suas propostas no plano das prestações sociais sem beliscar a organização social da produção e sem questionar a propriedade ou as relações de produção próprias do capitalismo.» ( Fernando Penim Redondo, in Dotecome )
«Os “empreendedores capitalistas” são unanimemente considerados os únicos capazes de promover o desenvolvimento económico, autênticos “salvadores da pátria”. A distinção tradicional, em que a direita defendia o status quo e a esquerda pretendia destruí-lo, passou à história.» ( idem ) A verdade não é um bem nos tempos que correm: ...(Paulo Querido).

Meus caros, acho que nunca na minha vida vi tanto a necessidade de ser Independente quanto hoje. Confesso que, em tempos, e porque o contexto assim o exigia (ainda existia esperança...) cheguei a votar Cavaco, e mesmo Freitas do Amaral, pesasse embora desde sempre a minha simpatia pela esquerda, pela revolução do sistema. Mas não. Basta. Hoje assistimos passivamente ao funeral da Esquerda e da Direita, seduzidos pela ganância que impera. Apenas nos oferecem o colaboracionismo cego e surdo dum capitalismo desenfreado, bastante mais preocupado com o enriquecimento e bem estar de uma minoria empresarial, à custa do sacrifício inglório da população.

Até onde nos irá levar esta ganância económica? Para quê correr desta maneira se o problema está na base do raciocínio segregador da política actual de neoliberalismo económico?

Um dia, a começar hoje mesmo, se possível, vamos ter que travar esta verdadeira Peste que invadiu a economia internacional. Há alternativas económicas, claro que sim. Há que apostar nelas e insistir para que os governos nos devolvam o que implacavelmente nos roubaram: A esperança nos frutos do trabalho de uma vida, a esperança roubada ao 'Trabalho no ano 2000'.

1 Comentários:

Às 30 agosto, 2005 11:20 , Anonymous Anónimo disse...

"Blue" devo dizer-te que escreveste um magnífico texto de análise e revolta, apontando ao mesmo tempo caminhos que treão mais cedo ou mais tarde de ser contrapostos a este estado miserável de coisas e de falta de ideias.
Eu acredito nas utopias.
Um dia com a mudança de emntalidades, o mundo só poderá ser melhor. Para isso, precisamos que cada um de nós, altere a sua forma mesquinha de pensar e não olhe apenas para o próprio umbigo.
A esquerda -sobretudo em Portugal - defende uma política neoliberal, tal como fazem os partidos de direita; na verdade, não encontro assim tantas diferenças entre eles.
Há que renovar o espectro partidário e assumir a ruptura.
Conta comigo.
Beijos

 

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