quarta-feira, janeiro 30

O Início...

"No início não havia nada. E esse nada não era nem vazio nem vago: não precisava de mais, bastava-se. E Deus viu que isso era bom. Por nada no mundo iria criar fosse o que fosse. O nada era mais que uma conveniência : o nada bastava-lhe.

Deus tinha os olhos perpetuamente abertos e fixos. Mas mesmo que eles estivessem fechados, nada iria mudar. Não tinha nada para vêr e Deus não olhava para nada. Era cheio e denso como um ovo duro, possuindo a sua curvatura e a sua immobilidade.

Deus era a satisfacção absoluta. Não queria nada, não ouvia nada, não se apercebia de nada, não recusava nada e não se interessava por nada. Vivia de tal forma em plenitude que acabava por não viver. Deus não vivia, ele existia.

A sua existência não tinha para ele um princípio perceptível. Como certos grandes livros que têm frases iniciais tão discretas, que as esquecemos rapidamente e ficamos com a impressão de estarmos instalados na sua leitura desde o princípio do tempo. Da mesma forma, era impossível perceber o momento em que Deus começou a existir. Era como se Ele tivesse sempre existido.

Deus não tinha linguagem e portanto não tinha pensamento. Ele era saciedade e eternidade. E tudo isto provava incontestavelmente que Deus era Deus. E esta evidência não tinha qualquer importância, porque Deus se estava completamente a lixar para o facto de ser Deus."


Amélie Nothomb
in "A Metafísica dos Tubos"
(adaptação)

nota: Esta passagem é a descrição literária mais extraordinária que conheço da Origem do Mundo e de Deus. Amélie Nothomb, Belga, é conhecida pelo romance "Stupeur et Tremblements" que mereceu um prémio da Academia Francesa, tendo igualmente sido adaptado ao cinema.

Marques Mendes pediu pensão vitalícia

Notícia do semanário SOL, recebida por e-mail

Tem 20 anos de deputado
Marques Mendes pediu pensão vitalícia
O ex-líder do PSD pediu o subsídio a que tem direito depois de 20 anos a ser eleito
para a Assembleia da República
2 comentários / 5306 visitas
O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, que na semana passada renunciou ao cargo de deputado,
pediu a atribuição da subvenção mensal vitalícia. O pedido foi confirmado ao SOL pelos serviços da
Assembleia da República, mas ainda irá ser processado pela Caixa Geral de Aposentações.
A subvenção mensal vitalícia é uma prestação social a que vários deputados ainda em funções têm
direito. A pensão vitalícia, que chegou a ser garantida para quem estivesse oito anos no
Parlamento e, mais tarde, passou para um limite de 12 anos, foi revogada em Outubro de 2005.
Mas todos os deputados que até 2009 cumpram esses 12 anos têm direito a pedi-la.
Marques Mendes, que completou 50 anos em Setembro, não só cumpria essas condições, como as
ultrapassava. Eleito deputado desde 1987, Mendes tinha, portanto, 20 anos de parlamentar, ainda
que muitos deles passados com o mandato suspenso para exercer funções governativas. Esses 20
anos de deputado permitir-lhe-ão ter direito ao máximo da pensão: 80 % do último ordenado.
Segundo a lei, o valor da pensão é calculado «à razão do vencimento base correspondente à
data da cessação de funções do cargo em cujo desempenho o seu titular mais tempo
tiver permanecido, por ano de exercício, até ao limite de 80%». O vencimento bruto de um
deputado é de 3.631,39 euros. 80 % desse valor é 2905 euros sujeitos a impostos.
Segundo a edição de hoje do Correio da Manhã, a despesa pública com as pensões vitalícias dos
políticos será de 8 milhões de euros em 2008. Ainda segundo o CM, como são 383 os beneficiários
das pensões vitalícias, cada um receberá, em média, 1751 euros mensais. Entre os beneficiários da pensão vitalícia estão Isabel Castro, Almeida Santos, Manuela Ferreira Leite e Narana Coissoró.


Apropósito disso....






Também é poesia, ou não?
(Foto tirada do Google)

terça-feira, janeiro 29

Os 'novos pobres': a classe média sobreendividada

A denúncia parte de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar: há médicos e professores a pedirem-nos ajuda para dar de comer aos filhos.
(Jornal Expresso – Raquel Moleiro, com Isabel Vicente, 1/12/2007)

«Manuela, 33 anos, hesitou antes de escrever aquele «e-mail» para o Banco Alimentar Contra a Fome (BACF). E mesmo enquanto o redigia, não tinha ainda a certeza de, no fim, ter coragem de carregar no botão de enviar. Ela, bacharel em Relações Internacionais, quadro de um ministério, casada com um professor de educação física ex-atleta olímpico. Mãe de uma bebé com cinco meses, tinha agora de pedir ajuda para alimentar a família. O marido que ficou sem emprego, um salário de 2000€ que desapareceu no mês em que festejaram a gravidez, a renda da casa que foi falhando vezes de mais, o cartão de crédito gasto até ao limite, o apartamento trocado por um quarto, e nem assim a comida chegava à mesa . "No dia em que enviei o «e-mail» faltavam três semanas para receber e só tinha 80€", explica. "Havia para a bebé, mas nós íamos passar fome".

O caso tem um mês. Ana Vara, assistente social do BACF, ligou a Manuela mal leu o pedido. E disse-lhe o que tanto tem repetido ultimamente: não tenha vergonha, não é a única. " Nos últimos quatro meses, mais que duplicaram os pedidos directos ao banco alimentar. E há cada vez mais casos de classe média ", garante Isabel Jonet. A directora do BACF chama-lhes " os novos pobres": empregados, instruídos, socialmente integrados, mas, ainda assim, vítimas da pobreza e até da fome. Nos últimos três meses, chegaram ao banco alimentar de Alcântara 250 casos, 30% dos quais se enquadram nesta nova categoria. E em todos há pontos transversais: mais mulheres, muitas mães, desemprego inesperado, rupturas familiares, e sempre sobre-endividamento.

(...) As famílias tradicionalmente carenciadas aparecem no banco alimentar, pedem olhos nos olhos. Os novos pobres gritam por ajuda, envergonhadamente, através do correio electrónico.
Como Luciana, médica, cujo desemprego súbito do marido fez ruir a estrutura económica do lar de nove filhos . Sem ele saber, sem o magoar de vergonha, pediu apoio alimentar para uma casa onde nunca tinha faltado nada.»

Este assunto tem circulado e bem, em e-mails enviados entre amigos e conhecidos, mas é um assunto que me choca e que nos pode atingir quer directamente, quer através dos nossos familiares.
Foi este o motivo que me levou a publicá-lo aqui. Não me movem motivos de ordem política, apenas de carácter humanitário. Também não pretendo protagonismo e muito menos “aproveitamento”.

Por isso sugiro que, quem puder fazê-lo, contacte directamente o BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME e, na medida do possível, faça a sua doação.

domingo, janeiro 27

LISBOA


Houve um tempo em que Lisboa me doía como uma pele carbonizada. Nunca foi tão bela como nos dias em que tempesteou o meu inferno. Atordoei a consciência e aprendi a não me lembrar do sorriso de quem me ensinou a amá-la deixando-me depois as mãos cheias de tesouros azuis a apodrecer em frente ao trono de um rei que abdicou.

Não sabia o que fazer nesses dias. A beleza da cidade magoava-me mais ainda por me ter apaixonado pelos dois durante os mesmos passos

«o espanto pardo dos ténis de atacadores estarrecidos perante a metamorfose das cores de Lisboa a trepar-me pelos tornozelos, o castelo bêbedo de gárgulas debruçadas para a praça em vénias inebriantes a escarnecer a morte entranhando-se-me nas rótulas, o crepúsculo transparente e insubmisso a conquistar-me em êxtases de pirata vitorioso, as gaivotas gordas de gritos brancos no gozo da lassidão dos meus braços a descobrirem inesperadamente a frustração das asas inacabadas e as sombras densas de lodo e de maresia a substituírem-me com terna crueldade os cabelos enquanto me alcoolizavam de azul a lucidez»*

nas calçadas centenárias.

Um dia, muito depois, quando a dor meio adormecida me permitiu voltar a caminhar pelas ruas antigas, compreendi nas marcas do terramoto que eramos ambas filhas da catástrofe e que, tal como a ela, o azul saberia varrer um dia da minha alma o sangue dos membros dissecados do meu amor morto.

Por vezes sinto a vertigem de, como a minha cidade azul, berço e túmulo do meu amor, sobreviver no equilíbrio precário das estacas assentes no lodo escorregadio. Assusto-me na consciência do peso de mil mundos que carrego em cada gesto. Entro em pânico e morro, uma vez mais, nas imagens alucinadas da tragédia, as flores negras que a memória, cedo ou tarde, sempre me oferece. Depois, levanto-me e continuo. Como Lisboa.

* projecto

(colaboração da Cristiana – foto Peter)

sábado, janeiro 26

Uma violenta história do tempo

A partir da Terra o céu nocturno pode parecer pacífico e imutável, mas o universo visto por telescópios de raios gama é um local violento e caótico. Utilizando telescópios deste tipo, os astrónomos testemunharam explosões súbitas e breves, mas de uma tremenda intensidade, denominadas “explosões de raios gama” (gamma-rays burts) e não existe nada conhecido de mais poderoso.

Ninguém sabe o que ocasiona tais explosões. Poderá tratar-se da colisão de duas estrelas de neutrões, ou de uma espécie de “super-supernova” que ocorre quando explodem estrelas extremamente massivas. Uma coisa é certa: essas explosões verificam-se em galáxias longínquas, tão longínquas que as distâncias a que as mesmas se encontram são denominadas de “cosmológicas” e estão para além da nossa compreensão.



Acima, uma concepção artística do fenómeno (NASA January 24, 2008)

Quando olhamos para o céu nocturno estamos a olhar para a História, para o Livro 1, para o início daquilo a que chamamos “Tempo”, em que cada estrela é um capítulo desse livro. Na realidade e sabemo-lo bem, não estamos a ver as estrelas tal como são neste momento em que olhamos para elas, mas sim como eram quando a luz emitida pelas mesmas, há muito, muito tempo, chegou até nós.
Quanto mais profundamente mergulhamos no Espaço, mais para trás estamos olhando no Tempo, porque a luz emitida pelas galáxias mais longínquas é “velha” de biliões de anos. O problema é captar a explosão, tão rápida como o disparo de um flash duma máquina fotográfica numa noite de Verão.
Para serem vistas a tais distâncias as explosões têm mesmo de ser duma violência incrível, senão vejamos:
- os raios gama são uma forma de luz super-energética. Os vulgares fotões visíveis com os nossos olhos, têm energias de 2 a 3 electrões-volts, enquanto que os fotões de raios gama têm energias superiores a 10 giga-electrões-volts (GeV), isto é, biliões de vezes a luz vulgar. Existem mesmo observatórios terrestres que detectaram raios gama de milhares de GeV !





Em Maio a NASA irá proceder ao lançamento do GLAST (Gamma-ray Large Area Space Telescope), na imagem, com o qual se espera detectar uma média de 50 explosões por ano, com energias entre 10 mil eV a 100 GeV.


Aguardemos …

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sexta-feira, janeiro 25

Texto de Guerra Junqueiro (1896)

Segundo Guerra Junqueiro, já fomos assim.

Mas, felizmente, hoje a malta é outra ... será??

" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

(Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896)

Texto enviado pela “bluegift” e que é, quanto a mim, duma actualidade flagrante, principalmente o último parágrafo.


Por coincidência, vi hoje o filme “Call girl” que, para além dos motivos óbvios para os espectadores masculinos, retrata bem certa corrupção político/administrativa, envolvida em negócios imobiliários, geradores de receitas e, por vezes, de “luvas”.

quarta-feira, janeiro 23

Reformas

O "Jornal de negócios" de ontem (22 JAN 08) trazia um artigo com um enorme título na 1ª página:

REFORMAS DE GESTORES DO BCP SAEM MAIS CARAS DO QUE A OPA AO BPI

Não comprei o jornal pois sou um leitor das primeiras páginas expostas nos quiosques.

........................

Ontem à noite tocaram insistentemente à campainha da porta. Quem será a estas horas ? Não esperávamos ninguém ...
Era a nossa antiga “mulher-a-dias” que se tinha ido embora há 4 anos. Tinha sido posta fora de casa pelo filho e vinha procurar onde dormir. Dormiu cá em casa e hoje, manhã cedo, fui levá-la à camioneta para regressar à terra.
Era o mínimo que podia fazer por quem nos ajudara a criar os filhos.

Vivia numa barraca, equilibrada precariamente sobre a linha de CF em Chelas. Chegou a vez da Câmara lhe dar uma casa. Mas como podia ela ir habitá-la? Como poderia pagar a renda, com um marido que trabalhava onde não lhe pagavam e com dois filhos drogados e desempregados? Assim optou por regressar à terra, onde sempre poderia cultivar umas couves e umas batatas. E assim fez.

Quis o destino, ou seja lá o que for, que as pessoas boas, mas intrinsecamente boas, estejam marcadas pelo ferrete da desgraça. O marido pouco mais de um ano viveu. As irmãs, a quem ela enviava algum dinheiro quando andava trabalhando por Lisboa, abandonaram-na e o mesmo fizeram os filhos.

Veio a Lisboa, com grande sacrifício, tratar de problemas que um dos filhos, que está no estrangeiro, tinha com a Justiça. Ficou em casa do outro filho e Domingo veio visitar-nos.

Ontem à noite veio pedir-nos abrigo. Tinha sido expulsa por aquele a quem dera a vida. Não tinha mais ninguém ......

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Vou comprar um porquinho-mealheiro para guardar as minhas economias. Ao menos não estarei a contribuir com o meu dinheiro para essas "reformas milionárias".

terça-feira, janeiro 22

Curiosidades dos anos 1600 a 1700

Quando se visita o Palácio de Versailles, em Paris, observa-se que o sumptuoso palácio não tem casas de banho.
Na Idade Média, não existiam dentífricos ou escovas de dentes, perfumes, desodorizantes, muito menos papel higiénico.
As excrescências humanas eram despejadas pelas janelas do palácio.

Em dia de festa, a cozinha do palácio conseguia preparar banquetes para 1.500 pessoas, sem a mínima higiene.
Vemos, nos filmes de hoje, as pessoas sendo abanadas.
A explicação não está no calor, mas no mau cheiro que exalavam por debaixo das saias (que propositadamente eram feitas para conter o odor das partes íntimas, já que não havia higiene).
Não havia o costume de se tomar banho devido ao frio e a quase inexistência de água canalizada.
O mau cheiro era dissipado pelo abanador. Só os nobres tinham empregados para os abanar, para dissipar o mau cheiro que o corpo e a boca exalavam, além de também espantar os insectos.

Quem já esteve em Versailles admirou muito os jardins enormes e belos que, na época, não eram só contemplados, mas "usados" como vaso sanitário, porque não existia WC, nos sumptuosos bailes promovidos pela monarquia.


Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de Junho (para eles, o início do verão).
A razão é simples: o primeiro banho do ano era tomado em Maio; assim, em Junho, o cheiro das pessoas ainda era tolerável. Entretanto, como alguns odores já começavam a incomodar, as noivas carregavam ramos de flores, junto ao corpo, para disfarçar o mau cheiro.
Daí termos Maio como o "mês das noivas" e a origem do "ramo de noiva" explicada.

Os banhos eram tomados numa única banheira enorme, cheia de água quente.
O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças.
Os bebés eram os últimos a tomar banho. Quando chegava a vez deles, a água da banheira já estava tão suja que era possível "perder" um bebé lá dentro.
É por isso que existe a expressão em inglês " don't throw the baby out with the bath water ", ou seja, literalmente, "não despeje o bebé juntamente com a água do banho", que hoje usamos para os mais apressadinhos.

O telhado das casas não tinha forro e as vigas de madeira que os sustentavam era o melhor lugar para os animais - cães, gatos, ratos e besouros se aquecerem. Quando chovia, as goteiras forçavam os animais a saltarem para o chão.
Assim, a expressão "está a chover a potes " tem seu equivalente em inglês em "it's raining cats and dogs" (chovem gatos e cães).

Aqueles que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho.
Certos tipos de alimento oxidavam o material, fazendo com que muita gente morresse envenenada (lembremo-nos de que os hábitos higiénicos da época eram péssimos).
Os tomates, sendo ácidos, foram considerados, durante muito tempo, venenosos.

Os copos de estanho eram usados para beber cerveja ou whisky.
Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo "no chão" (numa espécie de ‘narcolepsia’, induzida pela mistura da bebida alcoólica com óxido de estanho).
Alguém poderia pensar que ele estivesse morto e, assim, preparavam o enterro.
O corpo era, então, colocado sobre a mesa da cozinha por alguns dias e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo e esperando para ver se o morto acordava ou não.
Daí surgiu o velório, que é a vigília junto ao caixão.

Em Inglaterra, alguns anos após um cadáver ser enterrado, os caixões eram abertos, os ossos retirados e postos em ossários e o túmulo utilizado para outro cadáver.
Às vezes, ao abrirem os caixões, percebia-se que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo.

Surgiu, assim, a ideia de, ao se fechar o caixão, amarrar uma tira no pulso do defunto, passá-la por um buraco feito no caixão e amarrá-la a um sino.
Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo, durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar.
E ele seria "saved by the bell ", ou " salvo pelo sino", expressão usada até aos dias de hoje.

(Recebido por e-mail - foto GOOGLE)

segunda-feira, janeiro 21

Ponto da situação

O blog http://conversasdexaxa4.blogspot.com é, como sabem, dirigido pelo PETER, responsável pelo mesmo e que tem outro blog só seu, o http://oblogdopeter.blogspot.com

Tem como colaboradores efectivos:
- o ANT com dois blogs só dele:
http://amplificador.blogspot.com e o ”d'age” http://dagemusica.blogspot.com
- a BLUEGIFT, que passou a integrar também a equipa do blog "Notas soltas_ideias tontas" http://notassoltasideiastontas.blogspot.com
mas continuando na nossa equipa.

Todos estes blogs constam dos n/links.

Eventualmente dão a sua colaboração:
- o FERNANDO NOVAIS PAIVA, já há bastante tempo e em artigos de índole histórica;
- a CRISTIANA PALHAIS, uma nova colaboradora, autora do artigo publicado ontem.
Nenhum destes colaboradores tem blogs e não aceitaram integrar a equipa do nosso, pois o seu tempo é limitado e são avessos a compromissos.
Deste modo, não têm possibilidade de responder aos comentários dos seus eventuais leitores, delegando em mim essa tarefa quando tal se torne necessário, pelo que servirei, por assim dizer, de intermediário. Pediram-me encarecidamente que mencionasse este facto para que não se criem mal-entendidos.

São as "regras do jogo"...

Desejo boas-vindas à Cristiana, julgo que irão gostar dos seus escritos e saúdo o regresso do Paiva, cujos artigos sobre o Porto foram muito apreciados.

Os nossos agradecimentos a todos os que nos lêem e nos comentam.

Continuamos a contar convosco,

Peter

domingo, janeiro 20

Mas afinal quem pensamos nós que somos?!

Compreendemos cedo a mortalidade e passamos a vida a acreditar que, ainda assim, de uma ou de outra forma, conseguiremos chegar à eternidade: a eternidade num livro, numa pintura, num filho, numa árvore; a eternidade em algo onde sejamos capazes de nos prolongar; a eternidade num olhar nosso sobre o mundo, num pensamento nosso a respeito do mundo...

... com alguma sorte, e a ajuda das modas estéticas do tempo em que vivemos, os suportes materiais onde lográmos, mesmo que precariamente, inserir aquilo que mais profundamente somos, não será destruído, mas guardado e partilhado com os que ainda não nasceram... seremos Cezannes, até ao dia em que alguém, de olhar subitamente limpo e liberto, se lembre de nos comparar com o mundo e, à vista das nossas obras, comece a rir...

Nada além deste dia... nenhuma eternidade além da eternidade desta hora que passa carregada de instantes que tudo trazem na sua subtileza e dos quais os olhos cansados da procura constante saberão colher a beleza indiscutível.

Amanhã teremos tanto como hoje temos e a eternidade que possamos guardar no que deixamos, tão precária e sempre vulnerável à nudez do riso, convenhamos... será de quem nasce e está, não de quem morre.

Não somos nada, não é?



E será possível sabê-lo e ouvir melhor ainda a grande gargalhada do mundo? O mundo é absurdo e por isso é livre; e nós não somos nada e, na consciência dos instantes, saberemos ser tudo além de nós? É possível rir da absurda liberdade do mundo e rir da nossa dimensão? Será esta capaz de redimensionar ainda mais os problemas e os dramas da existência humana, até que a aprendizagem da leveza e da união com o mundo seja, por fim, a nossa respiração?

Lembro-me agora das fases evolutivas de Nietzsche: será possível a Criança?
E lembro-me de uma frase em "A Vida Inteira", de Miguel Esteves Cardoso:
«Gostaria de ser criança outra vez; não para ter toda a vida à minha frente, mas para não ter vida nenhuma atrás de mim»... pode não ser assim, mas era esta a ideia; e pode o autor ter-se inspirado em alguém , também não sei... mas de quem são as ideias afinal? ...
Siga:
- será possível o esquecimento auto-induzido?, aquele que permitirá aos olhos colher a beleza dos instantes, tão intensamente efémera que só pode conter a eternidade?

São muitas perguntas, não é?
Será possível a leveza das perguntas?...

(colaboração de Cristiana Palhais. - Foto NGM)

sábado, janeiro 19

Proibição de fumar

Fumei durante bastantes anos e, com o passar destes, verifiquei aquilo que todo o fumador verifica no que respeita ao seu organismo. Não vou especificar.
É inegável que o fumar me dava prazer, me fazia companhia, era um modo de passar o tempo … enfim pequenos prazeres que reconheço e relembro com saudade.

Tentei por duas vezes deixar de fumar. Da primeira vez consegui estar 15 dias sem o fazer e da segunda um mês.

Até que um amigo meu contraiu cancro no pulmão, o que me admirou, pois ele não fumava. Era um companheiro de poker e passávamos noites naquele ambiente de fumo espesso que reina numa pequena sala de jogo (clandestino) mas que era uma forma de passar o tempo nas pequenas vilas do interior.
Foi um sofrimento indescritível, eu estava no hospital a visitá-lo na véspera da sua morte e a ouvi-lo gritar:
- “mas ninguém me ajuda? Ajudem-me, por favor.”
Não compreendo ainda hoje porque não o mantinham “sedado”, já que se encontrava na fase terminal.

A partir daí deixei de fumar. Nunca mais fumei. Há as explicações médicas de habituação do organismo, patati, patatá, que não se pode deixar de fumar de repente…
Há é uma questão de força de vontade, ou existe, ou não existe. É uma questão de opção: fumar, ou não fumar.

Se uma pessoa que fuma, sabe tudo isso e continua a fumar, está no seu pleno direito de o fazer, mas não tem é o direito de prejudicar os não fumadores que estão compartilhando o espaço público onde o fumador se encontra. A sua liberdade termina onde começa a liberdade dos outros.

O civismo deveria traduzir-se e tem de traduzir-se, não só na condução automóvel, como tanto se reclama e justamente, como em todos os actos da nossa vida quotidiana. Mas quando é a Entidade máxima a prevaricar … Felizmente que os fumadores anónimos, embora com sacrifício, o que é natural, têm aceite as medidas proibitivas e restritivas.

Enviaram-me o artº 4º, nº1, alíneas a) e b) da legislação publicada:

Não sei se é este o texto exacto. Teria que consultar a legislação publicada e não estou para isso. Mas se é e fosse funcionário público e ainda por cima fumador, garanto-vos que não ficava nada satisfeito com a distinção que parece existir entre as situações da alínea a) e as da alínea b).

quinta-feira, janeiro 17

O Realizador e o Duplo




Realizando um Filme

Estão a realizar um filme. Mas está tudo errado. Julgar-se-ia que o herói estaria triunfal no convés de um navio, mas pelo contrário está num cadafalso à espera de ser enforcado.
Julgar-se-ia que a heroína estaria a beijar o herói no convés desse mesmo navio, mas pelo contrário está a ser amarrada para um tratamento de electrochoques.
Multidões de camponeses que anseiam por democracia, e supostamente estariam a celebrar a morte de um tirano, estão, na realidade, a carregar esse mesmo tirano às costas, declarando-o o salvador do povo.
O realizador não sabe onde está o erro. O produtor está muito abalado.
O duplo pergunta repetidamente, agora? depois dá um salto e cai de cabeça.
Entretanto uma manada de elefantes atropela o elenco principal; e inundações fictícias estão de facto a inundar o palco.
O duplo pergunta novamente, agora? e dá um novo salto e cai de cabeça.
O realizador, coçando a cabeça, diz, talvez os electrochoques pudessem ser substituídos por insulina...?
Tem a certeza? pergunta o produtor.
Não, mas mesmo assim, podíamos tentar... E, já agora, esse duplo não é muito bom, pois não?

in "O Túnel", de Russell Edson

Qualquer semelhança entre o conto acima e a realidade política actual não é simples coincidência...

terça-feira, janeiro 15

Uma “não-escrita”

Isto é uma “não-escrita” porque não vou escrever sobre coisa nenhuma. Há tanto para escrever, mas eu não me consigo decidir. Tudo está condicionado, porque sim. Porque não é original, porque não, porque estão fartos de política, porque futebol nem pensar. Detestam, nem querem ouvir falar.

Vou falar do “porcão” na Via de Cintura Interna do Porto, à saída para a A3? Devia ter sido giro a apanha à mão, dos 200 porcos. Será que os apanharam todos?

Ou vou falar do nevão em Vila Real? Nem tem comparação. A neve é imaculadamente branca e pura. Os seus cristais são uma maravilha da Natureza. Não há dois iguais. Parece impossível, mas é mesmo assim. A Natureza é assim, não há dois seres iguais, rigorosamente iguais. Nem mesmo os gémeos verdadeiros o são. Sei isso de experiência vivida.

“quero-te e és o meu amor.
Será que sou o teu?”

Não sei quem escreveu isto? Eu não fui. Nunca iria expor os meus sentimentos na praça pública. Mas é bonito, nós gostamos que nos digam palavras bonitas e sobretudo sentidas.

Será que são sentidas?

Duvido, duvido sempre. O meu mal é esse: duvidar.


A foto? Acho que é um “boneco” giro. É Lisboa, praia da Torre, um sítio que por ali há e a que chamam “Feitoria”. Vocês não conhecem, ou talvez alguns conheçam. Hum … duvido.

A sonda “Stardust” regressou à Terra depois de percorrer milhões de quilómetros no Espaço. Trouxe uma colher de chá de poeira estrelar. Dizem que irá ocupar os cientistas no seu estudo durante largo tempo. Mas o que é que isso vos interessa?

E que permitirá conhecer as origens do nosso Universo. Tretas, já não vou nisso.

Mas se já não vou nisso, vou no quê?

Lá está ele com a mania que sabe do assunto e o que é que vos interessa a queda da sonda?

“Não imaginas como é importante saber, nunca mais tive esta sensação que tenho contigo, este desejo que arde e esta ternura toda e esta ansiedade que escondo ou tento esconder, muitas vezes até de ti procuro esconder em parte, talvez seja para não ser demasiado ansiosa, para tentar não ser.”

Outra vez. O texto com interferências. Devo ter colhido estas palavras de amor em algum comentário. Possivelmente é considerado plágio. Será que ainda vou ser processado?

Já vos disse que os comentários são a melhor coisa deste blog?

Pois é, afinal é para isso que escrevo, como agora estou a fazer, ou melhor, a tentar fazer:
- para obter “feed back”.

Este texto, foi publicado no blog em 15 JAN 06, portanto faz hoje 2 anos. Introduzi-lhe actualizações, mas como o texto é meu …
Dois anos se passaram. É muito tempo. Pode ser a “vida” dum blogue, mas também pode ser uma vida na vida duma pessoa.
A foto? Esta é actual (24 OUT 07) também é minha e não tem “copyrights”.

sábado, janeiro 12

O canto nocturno

“Eram ardentes grãos num mundo dilatado
e as copas balouçavam numa vagarosa calma.
O deus da noite absorvera os gritos e os apelos
e só se ouvia o marejar de uma matéria vaga.
E era já um canto, o sonho violento que desperta
entre troncos de árvores, entre estrelas
e entre as figuras de pedra de um jardim.
Será que tudo se liga, o deserto e o oásis,
a mão de terra e o rio que brilha,
os projectos que formamos e a ondulada calma?
Ele abraça o sono de uma deusa que é ausência
ardente e verde nos seus flancos de terra,
mas noutra vertente a água é penetrada
pela luz que ascende por escadas cristalinas.
Os instrumentos nupciais nas mãos mediadoras
são cachos de pedras e guitarras de argila.
Sob uma vaga imóvel todos ramos do sangue
se acendem no ovo verde da folhagem.”

(António Ramos Rosa, in “Acordes”)

António Ramos Rosa traduz aqui as dúvidas com que me debato e às quais, desajeitadamente vou procurando dar vazão ...

«Será que tudo se liga, o deserto e o oásis,
a mão de terra e o rio que brilha,
os projectos que formamos e a ondulada calma?»

quinta-feira, janeiro 10

O lado cinzento

Cinzento… claro… escuro…
Descubro o tom da alma cinzenta
Obscura, íntima…
Entro no limbo
Entre a sanidade e a demência

Descobri o lado negro,
Tão próximo da luz
Enganadora, traiçoeira,
Rota que apenas conduz
Ao imenso equívoco sombrio

Eis que me encontro
Odeio o espelho
Prefiro a cegueira
Porque ilusória
Calma, discreta.


O claro e o escuro…


(Foto: Ruben Vilas Boas)

quarta-feira, janeiro 9

AGRADECIMENTO

Tenho um apartamento num empreendimento no Algarve. Como se trata de um empreendimento grande, há muitos emigrantes que investiram ali dinheiro, adquirindo apartamentos para subalugar e assim surgiu um português empreendedor, que os toma de aluguer de Maio a Outubro. Todas as semanas chega um autocarro trazendo um novo turno de ingleses, mais ou menos sóbrios, e leva o turno dos seus compatriotas bastante menos sóbrios, que tinham terminado (felizmente para nós) a sua estadia.
E digo: "felizmente para nós", porque a sua estadia no empreendimento é devastadora (elevadores avariados, lixo, vidros partidos, interruptores sem funcionarem …) e marcada por garrafas de cerveja vazias lançadas das varandas para os jardins e de pontas de cigarro que acabam por cair nas varandas de alguns apartamentos que, por construção, as têm um pouco mais avançadas.

Gente fina: ladies and sirs.

Felizmente que em 2007 o seu número diminuiu significativamente e também felizmente, por terem sido substituídos por espanhóis, com os quais não houve quaisquer problemas. Fazem um pouco de barulho, mas está na sua índole e animam os “mortos” portugueses.

Por estes motivos venho agradecer a um tal Simon Heffer, que parece ter escrito num jornal britânico denominado "Telegraph", ou "Telegraph, qualquer coisa" ( os britânicos têm uma grande imaginação para diversificarem os títulos dos jornais):

NÃO VÃO DE FÉRIAS A PORTUGAL

Escrevinhou mais umas coisas, com aquele "sense of humour" de que se arrogam, mas que poucos percebemos, talvez por não sermos ingleses e ainda bem:

"Se os McCann mataram a Maddie então eu sou o Barack Obama".
Por favor, não ofenda o futuro Presidente dos EUA.

E termina a sua “escrevinhadela” com um texto "very british":

"Portugal tem revelado que é uma republica das bananas. Tenha filhos ou não, deve ser adulto e ponderar se quer ir passar férias a Portugal."

Como Portugal não é uma "república das bananas", goze as suas próximas férias na Nigéria, onde poderá comer bananas à vontade.* Faz parte da Commonwealth, não é?

* Parece serem parte importante da sua alimentação …

terça-feira, janeiro 8

Lâmpada fundida

Fundiu-se a lâmpada do meu gabinete, e começa uma longa viagem pela burocracia interna da Administração Pública.
Tenho que avisar o Chefe de Divisão, que por sua vez fala com o Director de Serviços, que comunica o facto ao seu homólogo responsável pelos aprovisionamentos.
Este último dá instruções ao Chefe de Divisão, que se dirige ao Chefe de Secção.
Este constata que não há lâmpadas em stock e, sendo urgente, conclui que não se justifica uma consulta pelo que informa do facto o Chefe de Divisão, que vai de imediato informar o Director de Serviços.
É necessário comunicar com o Director de Serviços Financeiros, que terá que recorrer ao ”fundo de maneio” para disponibilizar a quantia exacta necessária para adquirir a lâmpada numa qualquer loja.
Questiona o seu colega sobre quanto é que a lâmpada efectivamente custa e como este não sabe; terá que perguntar ao seu Chefe de Divisão, que dará instruções ao Chefe de Secção para telefonar para a loja.

Telefonema feito, o Chefe de Divisão já sabe quanto custa a lâmpada, e de seguida é o Director de Serviços a saber e a comunicar a quantia ao seu colega, que dará conhecimento ao seu Chefe de Divisão. Colocada no respectivo envelope a quantia necessária para adquirir a lâmpada, este faz o percurso até chegar ao Director dos Serviços de Aprovisionamento.

Agora é só mandar comprar, nada mais fácil?

Não, a loja fica a quinhentos metros, e a auxiliar tem “bicos de papagaio”, não pode andar tanto e o motorista invoca que é motorista, não tem que andar a comprar lâmpadas, além de que pode ser multado enquanto pára o carro e vai à loja. A solução foi encontrada: foram comprar a lâmpada o motorista e a auxiliar dos “bicos de papagaio”.
A lâmpada é comprada num instantinho, só resta colocá-la, mas o serviço não dispõe de electricista, o motorista não sai do carro e a auxiliar tem “bicos de papagaio”. Trazem-me a lâmpada, eu que a coloque; entretanto eu próprio já lá tinha colocado uma lâmpada que comprara há alguns dias.

Assunto encerrado? Nem pensar.

Seis meses mais tarde o auditor da Direcção-Geral do Orçamento estranha que tenha sido comprada uma única lâmpada, que ainda por cima se encontra em stock. Passa dias a investigar toda a papelada e conclui que “não conseguiu apurar se a lâmpada adquirida seria mesmo necessária, tanto mais que estando em stock a lâmpada nova, lá não encontrou a lâmpada fundida, pelo que concluiu que o dirigente devia repor a quantia do custo da lâmpada por se tratar de uma aquisição indevida”.

Um ano depois é uma Auditoria do Tribunal de Contas a preocupar-se com a já famosa lâmpada e o seu auditor conclui no seu relatório, após aturadas investigações: “é má prática a aquisição de uma única lâmpada para constituição de existências”.

Julgava eu que o tema estava acabado, quando aparece um inspector da Inspecção Geral de Finanças, pois alguém escrevera uma carta anónima insinuando favorecimento da loja onde a lâmpada foi comprada. Quanto a esta última investigação desconheço o resultado, pois o inspector ainda por lá anda….

(autor desconhecido)

Como este texto foi escrito antes da entrada em vigor do “Sistema SIMPLEX”, talvez agora as coisas sejam menos complicadas.
Serão?

Não acredito. E depois querem que o país progrida, né?

segunda-feira, janeiro 7

A TV que temos

Domingo, almoço em casa, acendo a TV e ligo para a RTP1:
- Futebol. Dois jogadores do Benfica que se desentenderam em campo.
Mudo para a SIC:
- Futebol. Dois jogadores do Benfica que se desentenderam em campo.
Mudo para a TVI:
- Futebol. Dois jogadores do Benfica que se desentenderam em campo.

E este “zapping” prolonga-se durante 10/15 minutos. Interrogo-me: mas “isto” é o que de mais importante aconteceu neste país?
E a RTP1, em requintes de malvadez, voltou a apresentar futebol no fim do noticiário, numa espécie de sandes. Futebol por cima, futebol por baixo e qualquer “coisa de indefinido” no meio.

Essa qualquer “coisa de indefinido” foi a intervenção do Ministro das Finanças.

Voltei ao “zapping”. Nada a fazer, era mais do mesmo no noticiário das 3 estações.

Desisti. Decidi ver às 15h locais o noticiário da TVE.

Também se os “nhóis” já estão cá instalados de “armas e bagagens”, se os nossos carros circulam com combustível comprado em Espanha, se a nossa comida é comprada lá e cozinhada com a utilização de botijas de gás também lá comprado, se a roupa que vestimos é espanhola, se …

O noticiário espanhol começou com uma imponente cerimónia de homenagem às Forças Armadas e aos militares que se encontram em missão no estrangeiro. Reportagem impossível de ser apresentada na nossa TV. Imediatamente surgiriam os protestos: fascistas! Militaristas! Para que é que se anda a gastar dinheiro com as FAs? Para que é que precisamos delas se não estamos em guerra com ninguém? …

Noticiário de qualidade, sem interrupções para anúncios de detergentes e outros produtos de limpeza.

Aí eu voltei a interrogar-me:
- Será que somos mais “porcos” que os n/vizinhos e daí a n/TV, com louvável espírito educativo, entende ser necessário estar a lembrar-nos continuamente da existência e necessidade de utilização de produtos de higiene?

sexta-feira, janeiro 4

Um dia

Um dia, ele disse que ia ali à esquina comprar cigarros e desapareceu.
Não é força de expressão ou sentido figurado.
Ele disse exactamente isto: "Vou ali à esquina comprar cigarros "... e
ficou dez anos desaparecido.
Inesperadamente regressou....
Bateu à porta . A mulher foi abrir e lá estava ele.
Dez anos mais velho, mas ele.
Quieto. Sem dizer uma palavra.
A mulher despejou toda a revolta contida durante o decénio:
"Seu isto! Seu aquilo! Então dizes-me que vais comprar cigarros e
desapareces? Abandonas-me, abandonas as crianças, ficas dez anos sem
dar notícias e ainda tens o desplante, a falta de vergonha, a
coragem de reaparecer assim, sem mais nem menos ? Vais pagar-me.
Fica sabendo que vais ouvir poucas e boas. Essa eu nunca te perdoarei. Estás a ouvir?
Nunca! Entra, mas prepara-te para..."

Nisto, o homem dá uma palmada na testa, e diz :
"Fod*-se !......... esqueci-me dos fósforos....."

(recebido por E-mail)

quarta-feira, janeiro 2

Vénus o planeta gémeo da Terra

Apesar das diferenças extremas entre os climas dos dois planetas, Vénus é mais parecido com a Terra do que se pensava. Os resultados obtidos pelas observações do primeiro ano da missão “Venus Express”, da Agência Espacial Europeia e publicados numa série de artigos da revista “Nature”, mostram como “o gémeo” da Terra evoluiu de maneira a formar as condições extremas que observamos hoje à sua superfície e na atmosfera.

É melhor os terráqueos irem “pondo as barbas de molho”…

Os processos observados em Vénus podem ajudar a explicar como foi que os percursos evolutivos dos dois planetas divergiram tanto.
Lançada em Novembro de 2005, a “Venus Express” é a primeira missão, nos últimos 25 anos, dedicada a estudos atmosféricos e de plasmas daquele planeta, nomeadamente a interacção da atmosfera com o ambiente planetário envolvente.
Através do estudo do escape de partículas da atmosfera, os cientistas concluíram que os iões dominantes neste processo são o oxigénio, o hélio e o hidrogénio, o que pode ajudar a explicar como Vénus terá perdido para o espaço a água que inicialmente tinha.

Vénus não possui campo magnético interno, por isso esperava-se que o vento solar (uma corrente de partículas carregadas proveniente do Sol) interagisse directamente com a atmosfera. Mas tal não acontece: o vento solar é inteiramente desviado, mesmo em períodos de actividade solar reduzida, não entrando na atmosfera.
Foram ainda observadas as primeiras indicações de relâmpagos em Vénus, confirmados pela propagação de ondas electromagnéticas na ionosfera (a camada mais externa da atmosfera).

Foram estudadas com maior detalhe as regiões polares do planeta. Se observações anteriores já haviam revelado um enorme vórtice de nuvens em rotação, com um duplo centro sobre o pólo norte, agora apresentam-se provas de uma estrutura semelhante no pólo sul, mas com uma rotação mais rápida.

Estas estruturas lembram a circulação atmosférica da Terra no hemisfério de Inverno. Foi investigada em detalhe a dinâmica das camadas superiores de nuvens, e descobriu-se que a região polar sul sofre variações consideráveis, possivelmente devido à injecção de dióxido de enxofre a partir da superfície.

Também se apresentaram resultados sobre os níveis de oxigénio e de dióxido de carbono, nos lados diurno e nocturno, na alta atmosfera de Vénus - a região de transição entre a atmosfera mais densa e o espaço. E a existência de uma camada mais quente na alta atmosfera, entre 90 e 120 km de altitude no lado nocturno do planeta, uma região à qual, por se pensar ser muito fria, se deu o nome de "criosfera".
Por fim, foram elaborados uma série de perfis de temperatura, a diferentes altitudes, mais detalhada e com mais precisão do que os anteriores.

(Bibliografia – “Nature” e “Astronovas”)

NOTA:

Há vários cientistas portugueses envolvidos na missão espacial “Vénus Express”, a missão da Agência Espacial Europeia, que está presentemente a estudar em detalhe a atmosfera do planeta Vénus. São eles:

- David Luz, investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa/Observatório Astronómico de Lisboa - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CAAUL/OAL-FCUL);
- Maarten Roos-Serote, que integrou o CAAUL/OAL até Agosto de 2007;
- Pedro Russo (Instituto Max Planck para a Investigação no Sistema Solar, Alemanha, e Centro Multimeios de Espinho) que tem vindo a desenvolver ultimamente o seu trabalho na Alemanha, integrando diferentes projectos internacionais na área da comunicação e educação em Astronomia, nomeadamente na Rede Europeia de Ciências Planetárias (Europlanet) e na Comissão 55: “Comunicar Astronomia com o Público”, da União Astronómica Internacional.

Pedro Russo foi nomeado Coordenador Internacional do “Ano Internacional da Astronomia 2009”, iniciativa que está ser promovida a nível mundial pela União Astronómica Internacional com o apoio da UNESCO, e que será uma celebração global da astronomia e da sua contribuição para a sociedade e para a cultura, estimulando o interesse a nível mundial não só pela astronomia, mas pela ciência em geral, com particular incidência nos jovens.
Na celebração deste evento, que tem como principal acontecimento a celebração dos 400 anos da primeira utilização do telescópio para observações astronómicas por Galileu, estão para já envolvidos 192 países.
Trata-se assim de um momento importante de afirmação internacional da Astronomia Portuguesa, que tem vindo a crescer nos últimos anos a nível internacional e que agora vê reforçada a sua posição.


Não somos nenhuns "coitadinhos". Temos muita gente de valor e se esses "valores" não estão cá em Portugal, é por não lhe terem sido proporcionadas condições para tanto.

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terça-feira, janeiro 1

2007 - A Figura do ano

Fernando José Matos Pinto Monteiro, Procurador-Geral da Republica, foi considerado a figura do ano pelo jornal "Correio da Manhã".

Na entrevista que concedeu à separata "Especial Domingo" pode ler-se:

«P - Que balanço faz de 2007?
R - Foi um ano em que procurei diminuir o sentimento de impunidade que existe em Portugal através da activação de todos os meios ao meu alcance para o combater. Os factos vieram dar-me razão! Há bolsas de impunidade em Portugal que procurei combater em vários campos, seja no alto capital, branqueamento de dinheiro, seja na pequena criminalidade, com os ilícitos nas escolas, ou naquela mais grave, como a que está a acontecer no Porto.

P - Como fez isso?
R - Procurei que as pessoas acreditassem na Justiça. A Justiça portuguesa não é boa nem má, digamos que é assim-assim, mas se o cidadão não acreditar nela será sempre má. Mesmo que esteja a subir de nível - e em algumas coisas está - se não gerar confiança será sempre má. É preciso que o cidadão sinta a Justiça mais próxima e transparente.
Depois, esforcei-me por reforçar o mais possível o sentimento de segurança. O sentimento de segurança do cidadão existe se este pensar que não há privilegiados, que todo o tipo de ilícito é punido.»

Concordo com a escolha feita pelo jornal. Acredito nele e inspira-me confiança.

Para os 2 milhões de portugueses em situação de pobreza extrema e que, se não fossem os subsídios estatais, seriam o dobro.
Para os 500.000 desempregados, mais de 50.000 com curso Superior, muitos dos quais filhos de pais da classe média, transformados em novos pobres.
Para as milhares de famílias endividadas, que desesperam para conseguir gerir o seu magro orçamento.
Para as 9.000 pessoas que vivem miseravelmente nas chamadas “ilhas” do Porto, quando na mesma cidade há casas que são transaccionadas por 5.000.000 €.

Quando:

- os voos para o Brasil estiveram completamente cheios;
- os melhores hotéis esgotaram a lotação para as festas de fim de ano;
- os condomínios mais caros se vendem rapidamente; só em Lisboa existem cerca de 75.000 apartamentos T2 e T3 por vender.

São uma realidade chocante, que eu não compreendo, que os meus compatriotas não compreendem, não aceitam, nem podem aceitar.
Penso que a única forma de atenuar esta realidade “obscena” será através da criação de mais riqueza e tal não se conseguirá com greves, nem com manifestações de rua, nem por decreto governamental.
Consegue-se com o investimento e a criação de mais riqueza, geradores de postos de trabalho susceptíveis de atenuar a desigualdade que nos divide, mas também e principalmente, com o esforço, o trabalho e a criatividade de todos nós.

Vamos tentar fazê-lo em 2008.