Os 'novos pobres': a classe média sobreendividada
A denúncia parte de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar: há médicos e professores a pedirem-nos ajuda para dar de comer aos filhos.
(Jornal Expresso – Raquel Moleiro, com Isabel Vicente, 1/12/2007)
«Manuela, 33 anos, hesitou antes de escrever aquele «e-mail» para o Banco Alimentar Contra a Fome (BACF). E mesmo enquanto o redigia, não tinha ainda a certeza de, no fim, ter coragem de carregar no botão de enviar. Ela, bacharel em Relações Internacionais, quadro de um ministério, casada com um professor de educação física ex-atleta olímpico. Mãe de uma bebé com cinco meses, tinha agora de pedir ajuda para alimentar a família. O marido que ficou sem emprego, um salário de 2000€ que desapareceu no mês em que festejaram a gravidez, a renda da casa que foi falhando vezes de mais, o cartão de crédito gasto até ao limite, o apartamento trocado por um quarto, e nem assim a comida chegava à mesa . "No dia em que enviei o «e-mail» faltavam três semanas para receber e só tinha 80€", explica. "Havia para a bebé, mas nós íamos passar fome".
O caso tem um mês. Ana Vara, assistente social do BACF, ligou a Manuela mal leu o pedido. E disse-lhe o que tanto tem repetido ultimamente: não tenha vergonha, não é a única. " Nos últimos quatro meses, mais que duplicaram os pedidos directos ao banco alimentar. E há cada vez mais casos de classe média ", garante Isabel Jonet. A directora do BACF chama-lhes " os novos pobres": empregados, instruídos, socialmente integrados, mas, ainda assim, vítimas da pobreza e até da fome. Nos últimos três meses, chegaram ao banco alimentar de Alcântara 250 casos, 30% dos quais se enquadram nesta nova categoria. E em todos há pontos transversais: mais mulheres, muitas mães, desemprego inesperado, rupturas familiares, e sempre sobre-endividamento.
(...) As famílias tradicionalmente carenciadas aparecem no banco alimentar, pedem olhos nos olhos. Os novos pobres gritam por ajuda, envergonhadamente, através do correio electrónico.
Como Luciana, médica, cujo desemprego súbito do marido fez ruir a estrutura económica do lar de nove filhos . Sem ele saber, sem o magoar de vergonha, pediu apoio alimentar para uma casa onde nunca tinha faltado nada.»
Este assunto tem circulado e bem, em e-mails enviados entre amigos e conhecidos, mas é um assunto que me choca e que nos pode atingir quer directamente, quer através dos nossos familiares.
Foi este o motivo que me levou a publicá-lo aqui. Não me movem motivos de ordem política, apenas de carácter humanitário. Também não pretendo protagonismo e muito menos “aproveitamento”.
Por isso sugiro que, quem puder fazê-lo, contacte directamente o BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME e, na medida do possível, faça a sua doação.
11 Comentários:
Também já ouvi falar de casos semelhantes ao que contas..
Contribuo sempre que fazem a campanha nos supermercados e sim, às vezes, penso na hipótese de alguém bem próximo, mesmo eu, ter que recorrer ao Banco Alimentar Contra a Fome...
Beijos e abraços
Marta
Marta
A situação é preocupante, para não dizer deseperada, para muitos dos nossos compatriotas.
Aliás já era para toda uma população desde sempre menos favorecida. Mas quem se habituou a um determinado nível de vida, como o simples facto de fazer aquilo que neste momento estou a fazer: escrever a resposta ao teu comentário, deve ser terrível.
P.S. - Li o teu "Desafio de Janeiro", mas felizmente ando bastante ocupado actualmente e, por isso, não posso participar.
O pior mesmo é este temor, insidioso e venenoso que se instalou entre os portugueses, de viverem no temor, dia após dia, de suceder com eles...
Por isso, eu ajudo. Sempre que posso. Da forma que posso e às vezes que sei.
quintarantino
O pior é qd o temor se transforma em realidade.
Acabo de receber "A VERDADE" - Newsletter de informação Nº3 de JAN 2008, que me dá conta:
«Enquanto a maioria aperta o cinto, um pequeno grupo de privilegiados consegue levar uma autêntica vida de nababos!
Este número d'A VERDADE vai revelar-lhe quem são, o que fazem e quem paga os salários destes portugueses PAGOS A PESO DE OURO!»
Mas que m... é esta?
Se há crise e nós sentimo-la bem, têm de ser TODOS OS PORTUGUESES a contribuir para que a mesma seja debelada.
Veja-se agora essa de eu ser responsável pelo pagamento de "selos" de carros, cuja matrícula já esqueci, bem como a quem os vendi, ou os stands onde os troquei por outros novos.
Que mais vão inventar para nos "sacar" dinheiro para pagar aos Administradores?
Amigo Peter, vivemos numa sociedade extremamente injusta e castradora, onde o pior sinal, é exactamente aquele que está na base deste post, o desaparecimento da classe média. Ela é sempre a mais punida em sociedades como a nossa, mal administrada e sem consciência social. O BACF já não tem capacidade de resposta para tantos e tantos casos de pobreza extrema e paralelamente, uma cada vez mais gorda riqueza, nas mãos dos mesmos, furta-se a contribuir para o debelar do problema!
Aquele abraço infernal!
Caro Peter, a verdade é que nem sei que te diga.
Cada vez mais se promove a dependência e a infelicidade.
É pagar, pagar, sem nada em troca. Começo a ficar cansado, muito cansado.
Abraço
Querida Bluegift_____e_____Peter:))
______________cheguei!!!
agora é só_____um olÁ:)
e_________de todo coração__________
agradecer____________a visita na minha ausência
____________voltarei mais tarde
para ler e_____________comentar
beijOs com carinhO
Costumo contribuir para estas e outras acções, não que me alivie o peso dos contrastes sociais ou porque me lembro de vestir ocasionalmente o manto da aboa samaritana, mas como aqui já se disse, porque estas situações estão sempre mais perto de nós do que gostaríamos de imaginar.
O limbo, as existências na corda bamba são cada vez mais uma realidade omnipresente no nosso quotidiano.
"blondewithaphd"
PARECE que apenas 5 nomes, onde se inclui o de Victor Constâncio, conseguem arrecadar anualmente 1,532 MILHÕES € (mais de 305 mil contos).
Este teria ganho em 2006 mais de 280.000 € (56 mil contos).
Queres saber quanto ganha o presidente da Reserva Federal dos EUA?
Clica em:
http://www.federalreserve.gov/generalinfo/faq/faqbog.htm
"What are the salaries of the Board members?"
Congress sets the salaries of the Board members. For 2008, the Chairman's annual salary is $191,300 (133.910 € ou seja 26.846 contos). The annual salary of the other Board members (including the Vice Chairman) is $172,200.
Preocupante esta sociedade que grita aos nossos ouvidos as facilidades e depois faz cobranças que trucida quem cai nas armadilhas...
Peter,
É, já o disse não sei onde, verdadeiramente obsceno o que se passa com estes salários (eu diria assaltos.
Aqui, onde já não dúvida nenhuma de como baixou o poder de compra de uma clásse média que práticamente já deixou de existir.
Será que ainda se pode ir mais longe?
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