O canto nocturno
“Eram ardentes grãos num mundo dilatado
e as copas balouçavam numa vagarosa calma.
O deus da noite absorvera os gritos e os apelos
e só se ouvia o marejar de uma matéria vaga.
E era já um canto, o sonho violento que desperta
entre troncos de árvores, entre estrelas
e entre as figuras de pedra de um jardim.
Será que tudo se liga, o deserto e o oásis,
a mão de terra e o rio que brilha,
os projectos que formamos e a ondulada calma?
Ele abraça o sono de uma deusa que é ausência
ardente e verde nos seus flancos de terra,
mas noutra vertente a água é penetrada
pela luz que ascende por escadas cristalinas.
Os instrumentos nupciais nas mãos mediadoras
são cachos de pedras e guitarras de argila.
Sob uma vaga imóvel todos ramos do sangue
se acendem no ovo verde da folhagem.”
(António Ramos Rosa, in “Acordes”)
António Ramos Rosa traduz aqui as dúvidas com que me debato e às quais, desajeitadamente vou procurando dar vazão ...
«Será que tudo se liga, o deserto e o oásis,
a mão de terra e o rio que brilha,
os projectos que formamos e a ondulada calma?»
19 Comentários:
"Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio"
Antonio Ramos Rosa
bela escolha de palavras, Peter.
beijo.
... efectivamente, tudo se liga ...
quin[tararantino]
Sim, mas porquê?
Estou sentado ao computador, mergulhado no ar que respiro, que constitue parte da atmosfera, que rodeia a Terra, que pertence as Sistema Solar, que faz parte da Via Láctea, que se dirige a uma velocidade extonteante para a Constelação da Virgem ........
Porque hei-de considerar-me independente se faço parte de um TODO?
E que se eu próprio não sou mais que um aglomerado de células, de átomos, de ADN ...
Onde começo e onde termino, se o ar que inspiro já foi expirado e já entrou nos corpos de tantos seres e se, quando eu morrer, quer seja cremado, quer seja enterrado, aquilo que constituia o meu corpo, continuará a circular por aí?
inspirado, Peter?
Senhor Peter, gostei de ler.
Bluegift, beijinho para ti. E para o Peter, posso chamar assim não posso?
Caro Peter,
Ramos Rosa tem essa "coisa" de nos encher de dúvidas...
E as dúvidas às vezes trazem inquietação.
Somos e não somos eis a questão.
Fazemos parte de todo, mas esse todo passa tão bem sem nós!!
Vou filosofar.
Um abraço
Lúcia
Olha, não, acho que não é "inspiração", é um "não sei quê" que me oprime e me leva a questionar-me.
"miss Vader"
Outro dia não gostei de um comentário teu, noutro blog.
Tem de haver dinheiro para escolas, como tem de haver dinheiro para comstruir o NAL.
Quanto às primeiras, têm de formar os técnicos e especialistas da tua geração, que se quer sejam melhores que os daquela a que pertenço.
Quanto ao NAL, já há vários anos que devia estar a ser contruído.
É uma corrida contra os espanhois e contra o tempo.
Mas onde, dirás?
Não te sei responder, mas, francamente, acho que na Ota é que não.
"Tio Peter"
"Meg"
Esse TODO só existe, porque nós existimos. "Apaga-se" com a nossa morte.
"bluegift"
SPLEEN
“Quand le ciel bas et lourd pèse comme un couvercle
Sur l’esprit gémissant en proie aux longs ennuis,
Et que de l’horizon embrassant tout le cercle
Il nous verse un jour noir plus triste que les nuits ;
Quand la terre est changée en un cachot humide,
Où l’Espérance, comme une chauve-souris,
S’en va battant les murs de son aile timide
Et se cognant la tête à des plafonds pourris ;
Quand la pluie étalant ses immenses traînées
D’une vaste prison imite les barreaux,
Et qu’un peuple muet d’infâmes araignées
Vient tendre ses filets au fond de nos cerveaux,
Des cloches tout à coup sautent avec furie
Et lancent vers le ciel un affreux hurlement,
Ainsi que des esprits errants et sans patrie
Qui se mettent à geindre opiniâtrement.
- Et de longs corbillards, sans tambours ni musique,
Défilent lentement dans mon âme ; l’Espoir,
Vaincu, pleure, et l’Angoisse atroce, despotique,
Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir. »
(Baudelaire, « Les Fleurs du Mal »)
Bijou, bijou
Interessantes as suas "xaxas"...
Voltarei para visitas mais atentas...
tudo se liga. claro. problema saber onde...
(um dos meus poetas)
abraços
Peter! Amei os versos! No fundo as coisas acabam de alguma forma se tocando.
Que sua semana seja de realizações!
Beijos
Olha estava s ver se me saía um comentário e nem preciso de mais. É só ler o herético.
Agora que provoca "inquietação, inquietação, porquê não sei...", como diz o Zé Mário, lá isso provoca.
Abraços
Claro, tudo faz parte da mesma matéria!
Embora não aprecie muito Rosa, agradou-me este poema!
Boa semana aí, na Bélgica!
Por favor, dê saudades minhas ao manechen Piss, sim?
Oláááá
Não desapareci, embora pareça :-)
Apenas não tenho tido tempo para visitar os blogs :-(
Passo para vos desejar a todos um Feliz Ano de 2008, apesar de já o ter feito no meu site :-)
Beijos doces
I also read HOPE in here! A esperança da ascensão. A esperança na e da luz.
É Peter tudi está ligado e o poeta di-lo como ninguém!
Somos uma teia de forças, de energia que nos mantám em equilibrio...
Boa semana!
Beijo
As letras do meu PC estão apagadas e dá nisso...
Beijos
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