O Doutor Ferreira do Amaral, — não o engenheiro da Brisa, mas um, presumo que, seu irmão —, previu ontem na Sic, no programa “O Expresso da Meia-Noite” a necessidade de duas medidas de política económica que, executadas, mudarão radicalmente o
modus vivendi das sociedades nos próximos anos.
Primeira. Cumprir a contenção de endividamento externo dos estados da União Europeia forçará alguma cooperação entre os estados da União. Ora, como já não há moedas nacionais — excepto a Inglaterra e alguns membros do Leste; os quais aproveitam o facto para desvalorizar as suas moedas, assim embaretecendo as exportações, encarecendo as importações e, desse modo, facilitando a contenção do endividamento por reequilíbrio das respectivas balanças de pagamento — a União vai ter de aprovar um mecanismo tributário que
subsidie as exportações e
tribute as importações dos estados membros excessivamente endividados. Ou seja, vai ter de permitir o uso de alguns mecanismos de reequilíbrio que anteriormente eram proporcionados pela soberania monetária de que os países abdicaram.
Segunda. Para evitar que a economia derrape da recessão para a depressão — esta, uma fase de estagnação, de desemprego elevado, sub-utilização da capacidade de produção instalada, produtiva com uma e atonia prolongada de negócios, de três a cinco anos —, os países vão ter estimular muito mais o consumo e o investimento, a reanimar as expectativas e perspectivas de confiança no futuro. Esse estímulo é impossível com a poupança que existe, pelo que os estados da União terão de recorrer ao
financiamento monetário, i.e., à
emissão de papel moeda, ou seja euros impressos nas Casas de Moeda para entregar ao Banco Central Europeu em quitação dos empréstimos contraídos! Ou seja, como não é permitido na União Europeia saldar défices de estado com emissão de moeda, mas como tal medida é imprescindível para evitar a depressão económica — e a deflação, que seria o grau extremo de crise — Bruxelas vai ter de autorizá-la ficando por saber quem irá liderar o processo.
A desenrolar-se este desenvolvimento, os europeus e os portugueses podem contar com uma
ulterior inflação forte que há-de corroer o poder de compra dos salários, das pensões, dos subsídios sociais, rendas de senhorios e juros de empréstimos concedidos.
Ao contrário do que se propala, o desafogo dos empregados e funcionários públicos, e a desgraça das perdas de bolsa dos accionistas ‘falidos’, vai ser sol, e mal, de pouca dura para o desafogo dos primeiros, e para a desgraça dos segundos. Certo será o prejuízo dos dependentes de pensões, subsídios, rendas e juros. Mas, enfim, isso é o costume!
O factor que suscita mais
suspense neste momento político é o de ver como a Alemanha vai reagir a isto! Sabe-se que os alemães só aderiram ao Euro para granjear a confiança da França e do Ocidente de que não enfeudariam ao marco os países do Leste Europeu, seu
hinterland natural. A reticência alemã derivava sobretudo da experiência catastrófica de hiper-inflação que sofreu na década de 20 do século 20. A célere integração da ex-República Democrática Alemã na República Federal, e por arrasto na União Europeia, foi um bónus de que beneficiou e cujos custos foram em parte suportados pelos demais estados da União.
Veremos como será. Mas duvido muito que os alemães aceitem a liderança da dupla voluntarista Sarkozy-Barroso para conduzir o processo técnico e político de reformulação do
modus vivendi económico e monetário. Penso mesmo que, a ser essa a linha vencedora, a Alemanha prefira sair do Euro e regressar ao Marco! Veremos como será.
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