sábado, fevereiro 7

O Holocausto e o Vaticano

O Papa Pio XII exerceu o seu pontificado desde 1939 até à sua morte em 1958. O seu silêncio público perante o extermínio dos judeus europeus, apesar dos repetidos pedidos dos aliados para que falasse, é um facto histórico. Os defensores de Pio XII, incluindo o próprio Vaticano, retratam-no como um amigo dos judeus, cuja diplomacia silenciosa e incansável salvou a vida a centenas de milhares de judeus.
Mais difícil de explicar será o auxílio dado pelos funcionários da Igreja a Adolf Eichmann, que acabou por fugir para a Argentina e a outros proeminentes assassinos nazis após a derrota do Terceiro Reich.
Em Novembro de 1999, o arcebispo Weakland fez na Congregação Shalom em Fox Point, Wisconsim, a seguinte e notável afirmação:
«Eu reconheço que nós, Católicos – ao pregarmos a doutrina de que o povo judeu foi infiel, hipócrita e assassino de Deus (…) contribuímos para as atitudes que tornaram o Holocausto possível.»

No Concílio Vaticano II, que decorreu entre 1962-65, Marcel Lefebvre, um dos bispos presentes, declarou-se contra muitas posições de Roma e decidiu fundar uma igreja autónoma, a Fraternidade de São Pio X, que reclama o regresso à missa em latim e recusa o ecumenismo e o diálogo inter-religioso Os seus seguidores instalaram-se na Suíça, onde construíram um seminário e o movimento expandiu-se também por França e Inglaterra. O encontro de Assis que ocorreu em 1986, para o qual o Papa Paulo VI convocou os líderes de outras religiões (e que João Paulo II repetiu após o 11 de Setembro), foi outro momento de discordância que levou Lefebvre a acusar o Papa de se afastar da tradição católica, pondo, assim, em causa a sua autoridade como Chefe da Igreja.
A excomunhão da Igreja Católica deu-se automaticamente, quando Michel Lefebvre ordenou um bispo da sua igreja, acto que é matéria de afastamento automático e sinal de ruptura com Roma.

Em Agosto de 2005 o Papa Bento XVI encontrou-se com o líder da Fraternidade de São Pio X, monsenhor Bernard Fellay, na sua residência de Verão, em Castelgandolfo. O encontro concretiza um passo no caminho para que o movimento seja reintegrado na Igreja, mas é preciso que este queira voltar e esteja disposto a aceitar as regras do Vaticano, pois a ruptura partiu de Lefebvre e não de Roma. Este passo é positivo, pois se há abertura e diálogo com protestantes e ortodoxos, também se compreende que haja com um grupo que rompeu com a Igreja Católica.

Na sequência deste procedimento, o Papa Bento XVI reabilitou quatro bispos excomungados, um dos quais, o britânico Richard Williams, nega que 6 milhões de judeus tenham sido assassinados pela Alemanha nazi, reduzindo esse número para umas centenas de milhar e nega categoricamente a existência de câmaras de gás.

Filha de um pastor protestante, Ângela Merkel explicou o porquê de comentar assuntos da Igreja Católica: "Penso que se trata de uma questão fundamental, que é saber se, graças a uma decisão do Vaticano, alastra a sensação de que o Holocausto pode ser negado." Por isso exigiu ao Papa "que torne claro que não pode ser assim e que deve haver relações positivas com o judaísmo". Na semana passada o Conselho Central Judaico alemão cortou relações com a Igreja Católica, e a polémica alastra na própria Igreja.
O cardeal Walter Kasper, responsável pelas relações com os judeus, criticou Bento XVI por não o ter alertado para o perdão aos bispos excomungados. Antes dele, o bispo de Hamburgo, Werner Thissen, considerou que a decisão do Vaticano compromete a confiança na Igreja, e o cardeal Karl Lehman, antigo presidente da Conferência Episcopal alemã, considera o caso uma catástrofe.
Em resposta, o Vaticano veio declarar que desconhecia a posição do bispo Richard Willians e que este deveria pedir desculpa e retratar-se.

9 Comentários:

Às 07 fevereiro, 2009 12:40 , Blogger antonio ganhão disse...

Lá-se vai o diálogo ecuménico e o inter-religioso... como se pode ultrapasser isso quando se pretende que todosLá se vai o diálogo ecuménico e o inter-religioso... como se pode ultrapassar isso quando se pretende que todos falem a uma só voz? Ou se anulam, ou divergências de fundo serão inevitáveis.

É claro que para o sucesso de qualquer diálogo passa por não tomar a nuvem por Juno... se tivermos de boa fé.
falem a uma só voz? Ou se anulam, ou divergências de fundo serão inevitáveis.

É claro que para o sucesso de qulaquer diálogo passa por não tomar a nuvem por Juno... se tivermos de boa fé.

 
Às 07 fevereiro, 2009 17:06 , Blogger Peter disse...

Antonio - o implume

Eu o que não posso aceitar é que se negue a "solução final" de Hitler. Maioritariamente judeus, mas também ciganos e homossexuais foram gaseados e cremados.
Como se pode negar Auschitz que eu vi horrorizado com os meus próprios olhos?
O diálogo ecuménico nada me diz, como nada diz aos islamitas.
Até que ponto o Vaticano ignorou o Holocausto? Por as vítimas serem judeus?
Até que ponto o Vaticano facilitou, através de Espanha, a fuga de altas personalidades nazis para a América do Sul? Porquê?

 
Às 07 fevereiro, 2009 22:52 , Blogger Diogo disse...

Peter - «Como se pode negar Auschwitz que eu vi horrorizado com os meus próprios olhos?»


Eu também não nego Munique, que visitei maravilhado com os meus próprios olhos.

O que é que você viu em Auschwitz, que não pode negar? O que é que você sabe sobre Auschwitz? A História divide-se hoje entre negacionistas e afirmacionistas? Ou apoia-se em factos, provas e evidências. Estamos a falar de uma ciência ou de uma crença?

 
Às 08 fevereiro, 2009 01:12 , Blogger Peter disse...

Diogo

Sou lic História e fui prof, neste momento reformado. Devido à minha idade ainda vivi os tempos da IIGM.

Esta é a minha resposta à sua pergunta: "O que é que você sabe sobre Auschwitz?"

Apoio-me "em factos, provas e evidências." De outro modo não teria exercido satisfatoriamente as minhas funções de prof, ter-me-ia limitado a "mandar bocas".

 
Às 08 fevereiro, 2009 13:04 , Blogger antonio ganhão disse...

Uma andorinha não faz a primavera, o que eu disse é que será muito difícil que todos os Bispos falem a uma só voz. Que exista um Bispo que negue o Holocaustro, deve ser convidado a retratar-se. Caso em consciência não o consiga fazer, em meu entender deve ser enviado para um daqueles retiros de clausura.

O que eu digo é que o diálogo ecuménico e inter-religioso é um politicamente correcto sem futuro.

 
Às 09 fevereiro, 2009 11:36 , Blogger Peter disse...

O bispo tradicionalista Richard Williamson recusou retratar-se até ter revisto todas as provas históricas sobre o assunto.

Certamente irá consultar os 11 volumes de material de arquivo, sobretudo tráfego diplomático em tempo de guerra, publicado entre 1965 e 1981. Estes registos conhecidos como “Acts et Documents du Saint Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale” contribuem para muitos dos pouco lisonjeiros relatos históricos da guerra.

 
Às 09 fevereiro, 2009 21:38 , Blogger Peter disse...

Williamson afastado de cargos
na Fraternidade São Pio X (pág 1)

O bispo lefebvriano Richard Williamson, que gerou forte polémica com as suas posições negacionistas em relação ao holocausto, foi retirado da direcção do seminário de La Reja, da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
A decisão foi anunciada pelo superior da ordem religiosa na América do Sul, Christian Bouchacourt, o qual disse que as afirmações de Williamson
“não reflectem, de forma alguma, a postura da Fraternidade”.

A Santa Sé voltou a tomar posição sobre a controvérsia em torno da decisão do Papa em reabilitar o Bispo lefebvriano e respectivos seguidores da Fraternidade de S. Pio X.
Uma nota emitida pela Secretaria de Estado da Santa Sé diz que a plena comunhão com a Igreja depende de um conjunto de etapas que terão de ser percorridas e pede ao Bispo que se retracte publicamente.
O Papa Bento XVI, diz o comunicado, não tinha presente a negação do Holocausto por parte de Williamson quando lhe levantou a excomunhão e a outros três bispos, no mês passado.

 
Às 12 fevereiro, 2009 22:30 , Blogger Peter disse...

O Papa Bento XVI veio, de novo, a público defender que o holocausto
é um “capítulo terrível na nossa história que nunca deve ser esquecido”, condenando qualquer tentativa de o negar ou minimizar.

O Papa fez esta afirmação hoje, no seu primeiro encontro com judeus desde o início, em Janeiro, da controvérsia sobre o bispo integrista Richard Williamson, um defensor da tese de que não
houve câmaras de gás nos campos de concentração dos nazis que nega a completa extensão da Shoah.

 
Às 22 dezembro, 2009 00:57 , Anonymous Anónimo disse...

o papa atual foi da Hitlerjugend.... e venera o papa de Hitler... Pio XII...

ah....
Pio XII tem passado negro....
quando era cardeal Pacelli... ele intruiu o partido católico de Centro (Zentrum) a votar a favor de 1 lei de exceção em 1933 que dava imensos poderes a Hitler... em troca... o III Reich assinou concordata com o vaticano. Pacelli participou da assinatura da concordata.
Pacelli e o Vaticano não tomaram nenhuma atitude contra os prelados alemaes e austriacos que apoiavam Hitler. Nem se importaram com a presença de capelães na SS e Wehrmacht.
Pio XII nao condenou o padre Jozef Tiso, ditador eslovaco (pró-nazista).Tiso massacrou judeusmciganos e opositores.
Tampouco condenou o regime Ustasha (Croácia) liderado por Ante Pavelic. o regime era nazi-catolico e exterminou opositores, ortodoxos servios, ciganos e judeus... a crueldade Ustasha escandalizava até mesmo os nazistas! Padres participavam pessoalmente das atrocidades... promoviam conversoes forçadas,torturas e assassinatos.
Pio XII foi alertado ... mas se omitiu criminosamente.
Depois da guerra... varios nazis e ustashas(Mengele,Eichmann,Pavelic etc.) fugiram da Europa com ajuda do Vaticano,CIA e Cruz Vermelha (Ratlines). Os prelados Hudal*,Draganovic**,Montini***,Tisserant,Caggiano e Siri estavam envolvidos com as Ratlines.

*austriaco, membro do NSDAP
**croata e antigo oficial de Pavelic.
***ele se tornou o papa Paulo VI

 

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