«Pela primeira vez, há muito tempo,
pensei na minha mãe.
Julguei ter compreendido porque é que,
no fim de uma vida, arranjara um “noivo”,
porque é que fingira recomeçar.
Também lá, em redor desse asilo
onde as vidas se apagavam, a noite
era como uma treva melancólica.
Tão perto da morte, a minha mãe
deve ter-se sentido libertada
e pronta a tudo reviver.
Como se esta grande cólera me tivesse limpo
do mal, esvaziado da esperança, diante
desta noite carregada de sinais
e de estrelas, eu abria-me
pela primeira vez
à terna indiferença do Mundo.»
(Albert Camus, O estrangeiro)
Um texto mágico,
a que costumo associar este outro:
pensei na minha mãe.
Julguei ter compreendido porque é que,
no fim de uma vida, arranjara um “noivo”,
porque é que fingira recomeçar.
Também lá, em redor desse asilo
onde as vidas se apagavam, a noite
era como uma treva melancólica.
Tão perto da morte, a minha mãe
deve ter-se sentido libertada
e pronta a tudo reviver.
Como se esta grande cólera me tivesse limpo
do mal, esvaziado da esperança, diante
desta noite carregada de sinais
e de estrelas, eu abria-me
pela primeira vez
à terna indiferença do Mundo.»
(Albert Camus, O estrangeiro)
Um texto mágico,
a que costumo associar este outro:
«Em que meditas, meu amigo?
Será nos teus antepassados?
Todos eles são pó no pó.
Meditas nas virtudes deles?
Repara só como sorrio.
Toma desta copa e bebamos,
Ouvindo sem inquietação
O grande silêncio do mundo.»
Omar Khayyam, Rubaiyat
Etiquetas: literatura, v
3 Comentários:
"...à terna indiferença do mundo."
"...ouvindo sem inquietação o grande silêncio do mundo."
Quando se alcança esta verdade, esta certeza, o mundo começa a ficar para trás e o caminho a seguir terá de ser percorrido a sós.
Não me parece que seja um percurso de inquetude e solidão, pelo contrário, deve ser uma estrada de luz e paz em que vamos cheios, plenos de nós.
Bom Dia
qualquer dos dois está lindo! dificil é ser capaz de lá chegar...
vbm
Interessante a associação do texto do Camus com os versos do Omar Khayyam.
Quanto ao primeiro, tenho citado muitas vezes "a terna indiferença do mundo".
Quanto ao segundo, começo a ver o meu círculo familiar e social a estreitar-se cada vez mais, até que chegue a minha vez.
Mas vem aí o Carnaval e podemos exibir as nossas máscaras de todos os dias, máscaras tristes dum povo que já não acredita em ninguém e pior ainda:
DEIXOU DE ACREDITAR EM SI PRÓPRIO!
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