conversas de xaxa
"Amar esta sombra que desliza e que é talvez já a presença que nos foge" (António Ramos Rosa)
segunda-feira, maio 31
domingo, maio 30
Remédio contra as insónias
Um tipo meu amigo, que sofria de insónias, foi ao médico que lhe cobrou 80€ e lhe receitou uma cassete vídeo do jogo Portugal-Cabo Verde.
Andam a gastar um dinheirão em propaganda televisiva para conquistar a simpatia e o apoio do público por uma selecção que não se mexe, a pesar de receber 800€ por cada presença diária nos treinos e por um seleccionador que “não interessa nem ao Menino Jesus”. Como se isso não bastasse, arranjaram ainda umas irritantes cornetas.
Passam o tempo em visitas de cortesia a entidade autárquicas, tiveram a “luminosa” ideia de pôr a tropa a incutir-lhes disciplina e “espírito de corpo". Ponham mas é os tipos a correr e a treinar a sério, criando mecanismos, jogadas estudadas e trabalhadas e automatismos.
É preciso “lata”, para admitir que vão ganhar o Campeonato! Nem à fase seguinte vão passar. Os “milagres” só acontecem uma vez!
sábado, maio 29
Uma questão complexa
“O Jornal de Notícias informava há dias que a colheita de morangos junto ao mar, na zona de Mira, só está a ser possível graças a imigrantes tailandeses. No passado, dezenas de toneladas de morangos ficaram por apanhar.
Um agricultor recorreu ao Centro de Emprego, que lhe indicou cem desempregados. Mas, destes, só um – uma mulher – aceitou trabalhar. Os outros, ou não apareceram, ou deram desculpas para não apanharem os morangos, preferindo ficar em casa a receber o subsídio de desemprego. Note-se que os tailandeses são pagos no mínimo, a 550 euros líquidos mensais – e os portugueses não receberiam menos.
Casos deste tipo multiplicam-se por todo o país. Apesar de termos uma altíssima taxa de desemprego, há sectores que, sem o trabalho dos imigrantes, não poderiam funcionar. O turismo (incluindo a restauração) e as construção civil, por exemplo.
A coincidência de um forte desemprego com a recusa dos nacionais a executarem certas tarefas regista-se noutros países europeus, como a Alemanha ou a França. O que mostra como a questão do desemprego é mais complexa do que parece.”
(Francisco Saarsfield Cabral, in “Página 1” de 28/05/2010)
quinta-feira, maio 27
Desnorte
“Duas semanas depois de anunciadas as novas medidas de austeridade, tudo o que se sabe sobre elas sabe a pouco. Ao aumento de impostos, de que se discute, ainda, a constitucionalidade, soma-se apenas uma mão cheia de medidas avulsas, em matéria de despesa, cujo impacto final, uma a uma, ninguém arrisca quantificar.
Para cortar 14 milhões de euros no bolo de 8,7 mil milhões do orçamento da saúde, a ministra Ana Jorge anuncia um corte cego de 5% nas horas extraordinárias. Mas o mesmo Governo que arrisca lançar o caos em algumas urgências e blocos hospitalares, para poupar 14 milhões, não abdica de gastar mais do dobro em promoções “ad-hoc”, decididas pelos respectivos chefes de serviço, e destinadas a premiar o desempenho dos funcionários públicos “excelentes”. Só porque faltou coragem para decidir: este ano haverá progressões e prémios zero!
Proíbe-se contratações, por concurso, de funcionários públicos, mas os gabinetes ministeriais continuam a poder recrutar, fora da administração, mais pessoal.
O ministro das Obras Públicas recusa-se a ficar sem pasta e insiste em não congelar os projectos, embora saiba que não haverá dinheiro para os financiar.
No meio deste desnorte, o tempo, implacável, corre contra nós.”
Graça Franco
quarta-feira, maio 26
Um Homem... Um Político... Um Verdadeiro Ser Humano...
Uma carta escrita ontem às 13:36 pela Menina Marota e que é também uma homenagem:
O Coronel Mário Pinto Simões foi um dos Presidentes da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.Homem de princípios rígidos, militar por vocação, não mudou o seu estilo de vida pelo facto de ter subido ao mais alto cargo do Concelho.Homem de trato fácil, apesar da sua aparente rudeza, transmitia uma simplicidade de costumes que até comovia.Lembro-me dele com um enorme respeito, maior respeito ainda, nos dias de hoje, pelas atitudes públicas que tomava.Possuía um usadíssimo Renault 5 quando entrou em funções. Com ele terminou o seu mandato. Mas o que mais me impressionava, naquela altura e, ainda hoje me impressiona, foi a sua atitude enquanto no exercício de Presidente de Câmara.Ele conduzia o seu próprio carro nas deslocações diárias; ao almoço deslocava-se a casa nas mesmas condições, o mesmo se passando à saída. Foi assim durante todo o mandato presidencial.Só admitia motorista e carro da autarquia quando, efectivamente, saía em serviço oficial. Um dia intrigada com o seu comportamento, interroguei-o sobre o assunto e ele muito simplesmente me disse:- “ Que moral posso ter em mandar um motorista a casa buscar-me para vir para o meu "trabalho" quando os demais funcionários, que ganham muito menos que eu, vêm pelos seus próprios meios?Apesar de já contar com a resposta, porque assim imaginei ser, surpreendeu-me o ar calmo e tolerante dele.Quando já no final do cumprimento do seu mandato, foi surpreendido com algumas falsas declarações que dele fizeram para o prejudicar, apesar de ter oportunidade para contratar um gabinete jurídico de renome, foi comigo que falou para preparar a sua defesa.Sentado num dos sofás da sala da minha anterior casa, expôs-me com toda a honestidade todos os acontecimentos que tinham gerado a tal confusão. Não dormi nessa noite na preparação do documento que no dia seguinte lhe entreguei e que bastou para se defender e sair de cabeça bem levantada no final do seu mandato.Políticos como este, creio, já não existem.Hoje em dia, a despesa pública é cada vez mais aumentada com superficialidades e luxos a que os políticos se dão ares… e depois exigem que seja o mais pequeno a entregar os seus magros recursos, para os sustentar.Se cada um se privasse do carro ou dos carros e respectivos motoristas com que se "passeiam" bem como, as suas famílias tantas vezes, e só mesmo em actos oficiais os utilizassem, isso sim, seria uma pequena amostra do respeito que tinham por aqueles que os elegeram e que neste momento, muitos, atravessam situações dramáticas.Isto não falando de outras benesses luxuosas que se permitem ter.E o Povo continua a pagar os seus "vícios".
terça-feira, maio 25
LISA
Em 1915, Einstein observou que o espaço-tempo não é apenas um grande palco onde a "física" acontece, mas é um elemento activo que pode dobrar, deformar e ondular massas e dobrar o espaço-tempo. As forças gravitacionais ocorrem naturalmente porque os planetas tal como a maçã de Newton tentam mover-se o mais linearmente possível no espaço-tempo - mas fazem-no em curva, porque o próprio espaço-tempo é curvo! A queda da maçã pode assim ser visto como uma curva, não no espaço, mas no espaço-tempo.E as ondulações?
Quando as massas se deslocam rapidamente, como por exemplo, duas estrelas num sistema binário próximo, criam exteriormente propagação de ondas no espaço-tempo, ondas gravitacionais. Podem imaginá-las como as ondas criadas numa lagoa quando se joga uma pedra, só que as ondas gravitacionais não se movem em círculos, mas em esferas, e não afectam a superfície da água, mas o próprio tecido do espaço-tempo.Se pudéssemos ouvir essas ondas, poderíamos aprender muito sobre o Universo, especialmente sobre o seu “lado negro”, que não podemos observar com telescópios.
Este lado escuro é preenchido por objectos pesados que, no entanto, não emitem muita luz, como os enormes buracos negros nos centros das galáxias, milhões a bilhões de vezes mais pesado que o nosso Sol.
Desde 1960 que os cientistas vêm tentando detectar as ondas gravitacionais, mas é muito difícil, porque quando elas cruzam a Terra, as ondas de perturbações são mínimas. A melhor tentativa até agora feita foi com o detector gigante LISA (Laser Interferometer Space Antenna), constituída por três naves posicionado num triângulo, com lados de 3,1 milhões de milhas (treze vezes a distância da Terra à Lua). Queremos ir ao espaço, porque é tão calmo, porque não se poderia fazer algo tão grande no chão e também porque uma grande antena pode medir essas ondas.
O nº 1111 de Abril da revista “Science&Vie” traz um artº “Trous noirs – ils seraient les créateurs du monde!” que, até certo ponto, se relaciona e é inovador.
segunda-feira, maio 24
Atlantis Lifts Off
Space shuttle Atlantis lifted off from Launch Pad 39A at NASA's Kennedy Space Center in Florida on the STS-132 mission to the International Space Station at 2:20 p.m. EDT on May 14. The third of five shuttle missions planned for 2010, this was the last planned launch for Atlantis. The Russian-built Mini Research Module-1, also known as Rassvet, or "dawn," will be delivered and it will provide additional storage space and a new docking port for Russian Soyuz and Progress spacecraft. The laboratory will be attached to the bottom port of the station's Zarya module. The mission's three spacewalks will focus on storing spare components outside the station, including six batteries, a communications antenna and parts for the Canadian Dextre robotic arm.
Image Credit: NASA
Image Credit: NASA
quarta-feira, maio 19
Eça de Queirós
"...Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesmapobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".
(“As Farpas”, 1872)
Afinal o mal já vem de longe…
segunda-feira, maio 17
Os “tansos” do costume…
Espanha e Portugal foram intimados pelos “manda-chuva” Merkel e Sarkozy a diminuírem rapidamente os “buracos” das contas públicas.
Zapatero eliminou empresas públicas e direcções-gerais, reduziu os salários dos funcionários públicos em 5% e cortou 15% nos vencimentos dos políticos.
Sócrates, que não deve “aquecer o lugar”, de conivência com o novo líder do PSD (nem me lembro como se chama) cortou 5% nos ordenados dos políticos, o que não é mais que areia deitada para os olhos de quem, por muitos e maus anos irá verdadeiramente pagar:
- nós, os “tansos” do costume.
domingo, maio 16
Morreu Saldanha Sanches
José Luís Saldanha Sanches morreu esta madrugada, vítima de cancro, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O fiscalista e comentador estava internado há alguns dias e tinha-se afastado da vida pública há já vários meses. Saldanha Sanches, jurisconsulto e professor universitário de Direito Fiscal, nasceu em Lisboa, em 11 de Maço de 1944.
Tornou-se conhecido pela sua militância no MRPP na década de 70, e esteve preso, por acção da PIDE, durante vários anos. Dava, actualmente, aulas na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e na Universidade Católica.
A esta actividade, juntava tarefas de comentador de assuntos fiscais na comunicação social. Foi ainda autor de numerosos artigos e de alguns livros. O seu último artigo, ditado da cama do hospital: “Os papa-reformas”, vem publicado no semanário “Expresso” de hoje (sábado)
“De que serve aumentar o IVA ou tributar as mais-valias, se o Estado continua a esbanjar recursos?”
No campo político, foi, em 2007, mandatário do socialista António Costa nas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. Era casado com Maria José Morgado, magistrada do Ministério Público, que admiro e a quem envio as minhas condolências.
sexta-feira, maio 7
Empurrando passageiros para debaixo do Metro
No programa da manhã de hoje (07 Maio) da TVI, apresentado por Luís Goucha, Hernâni de Carvalho comentou o caso de uma senhora convidada, que é impressionante e demonstrativo de que o cidadão honesto e cumpridor é abandonado à sua sorte por uma Justiça que parece disponibilizar cada vez mais atenção e protecção ao acusado.
O filho da senhora, com uma situação económica difícil, foi deliberadamente empurrado para debaixo do Metro por um indivíduo, sem qualquer motivo, como se veio a apurar.
Mais, o referido indivíduo já na semana anterior causara a morte de outra pessoa com idêntica atitude, mas como não foi apresentada queixa, o mesmo encontrava-se em liberdade.
Desta vez foi levado a julgamento e condenado a 20 anos de prisão. Um bom advogado conseguiu a redução da pena para 13 anos, uma vez que “não havia qualquer motivo que levasse à prática do acto”.
À mãe não lhe foi prestado qualquer apoio, nem sequer de natureza psicológica.
Como o condenado já se encontra preso há 3 anos, agora, de acordo com a nova lei que permite a sua libertação ao fim do cumprimento de ¼ da pena e ainda de uma provável amnistia a conceder pela visita do Papa, em breve o teremos aí entregue ao seu passatempo de empurrar passageiros para debaixo do Metro.
Um conselho de amigo:
- afastem-se da linha amarela e só avencem para o Metro depois deste parado.
quinta-feira, maio 6
Deixa andar
Uma rede de traficantes de armas foi desmantelada pela PJ do Porto. Foram presos 23 suspeitos, todos sem emprego. Para quê, com um negócio destes? Claro que, como não tinham emprego, não prescindiam de receber o “rendimento mínimo garantido”, apesar de apresentarem um nível de vida elevado, com evidentes sinais de riqueza. Um deles tem uma vivenda em Gaia avaliada em mais de meio milhão de euros e um Mercedes que custa cerca de 100 mil €.
Deixa andar…
Um desgraçado de 73 anos que vivia num lar, encontrava-se preso por não ter 480€ para pagar uma multa, por em 2004 conduzir sem carta. Esteve preso 16 dias até que alguém teve pena dele, pagou a multa e devolveu-o ao seu lar.
Não, não foi nenhum político nem administrador de empresas que o fez. Esses vivem dos Euros que pagamos.
Deixa andar…
quarta-feira, maio 5
Proposta
“Sem ser economista, permito-me uma sugestão, até porque o que a realidade nos mostra é que a ciência dos economistas de pouco ou nada nos tem servido.
Dizer que quem está desempregado não quer trabalhar, porque não aceita as ofertas de emprego
existentes, é injusto e demagógico, Quem está nessa situação tem que, acima de tudo, tentar manter um rendimento mensal que lhe permita viver a si e à sua família. Não se pode dar ao luxo de perder ainda mais rendimentos.
Ora, o que se passa com muitos dos que estão desempregados é que recebem um subsídio de desemprego superior ao salário que lhes é proposto nas ofertas de emprego disponíveis. Como têm que optar entre uma coisa e outra, optam pelo subsídio, que lhes dá um rendimento superior.
Isto é um contra-senso e coloca os desempregados numa situação de aparente laxismo. A melhor forma de estimular as pessoas a reentrar no mercado de trabalho é o Estado dispor-se a cobrir o que falta a estes salários de forma a compor o rendimento mensal.
Para um leigo na matéria, que, se ficasse desempregado, a pior coisa que imagina é mesmo ficar sem trabalhar, parecem óbvias as vantagens desta solução: o Estado, apesar de tudo, poupa algum dinheiro, porque paga menos subsídio de desemprego e o desempregado reentra na actividade e no mercado de trabalho, sendo essa situação por si vantajosa para melhorar a sua situação pessoal e profissional.
Não será isto mais útil do que anunciar cortes cegos no subsídio de desemprego?
Já agora, é bom lembrar que o subsídio de desemprego não vem dos cofres do Estado: é rendimento das próprias pessoas que o recebem e que descontaram essas verbas ao longo da sua vida profissional.”
(Raquel Abecasis, in “Página 1” de 03/05/2010)