quarta-feira, maio 19

Eça de Queirós

"...Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesmapobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal".

(“As Farpas”, 1872)

Afinal o mal já vem de longe…

8 Comentários:

Às 19 maio, 2010 19:15 , Blogger Manuel Veiga disse...

a actualidade dos clássicos. mas que o lê?

abraços

 
Às 19 maio, 2010 19:31 , Blogger vbm disse...

de email em circulação:

«Se o nosso destino é o dos gregos,
então comecemos por envenenar Sócrates!»


LOL

 
Às 19 maio, 2010 21:56 , Blogger UFO disse...

de certeza que é do Eça ??
http://www.infopedia.pt/$as-farpas

eu procuraria melhor...
cheira-me a Ramalho Ortigão

Quanto ao Sócrates envenenado creio que era romano. Teria sido ?

mas o clima tresanda.

 
Às 20 maio, 2010 12:08 , Blogger Peter disse...

UFO

As Farpas de Eça de Queirós(1871):

“Aproxima-te um pouco de nós, e vê. O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, s consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há principio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima abaixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada.O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguer. A agiotagem explora o lucro. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. O número das escolas só por si é dramático. O professor é um empregado de eleições. A população dos campos, vivendo em casebres ignóbeis, sustentando-se de sardinhas e de vinho, trabalhando para o imposto por meio de uma agricultura decadente, puxa uma vida miserável, sacudida pela penhora; a população ignorante, entorpecida, de toda a vitalidade humana conserva unicamente um egoísmo feroz e uma devoção automática. No entanto a intriga política alastre . O país vive numa sonolência enfastiada. Apenas a devoção insciente perturba o silêncio da opinião com padre-nossos maquinais. Não é uma existência, é uma expiação. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido! Ninguém se ilude. Diz-se nos conselhos de ministros e nas estalagens. E que se faz? Atesta-se, conversando e jogando o voltarete que de norte a sul, no Estado, na economia, no moral, o país está desorganizado e pede-se conhaque! Assim todas as consciências certificam a podridão; mas todos os temperamentos se dão bem na podridão!
(Este texto foi originalmente escrito em 1871,mas caso Eça de Queirós voltasse podia constatar que nada mudou, e que para cúmulo temos uma Nova Desordem Mundial.)

 
Às 20 maio, 2010 12:22 , Blogger Peter disse...

UFO

Sócrates (em grego antigo: Σωκράτης, Sōkrátēs; 469-399 a.C.) foi um filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria. Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre que se recusa a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia escolhia o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão. Sócrates admitiu que poderia ter evitado a sua condenação (beber o veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa. Mesmo depois da sua condenação, ele poderia ter evitado a sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos. A razão para a sua cooperação com a justiça da “polis” e com os seus próprios valores mostra uma valiosa faceta de sua filosofia, em especial aquela que é descrita nos diálogos com Criton.

 
Às 20 maio, 2010 13:13 , Blogger UFO disse...

Peço desde já as minhas desculpas pela minha precipitação.
Estive agora a procurar melhor sobre o tema e parece de facto escrito pelo Eça.
Está na crónica de Dezembro de 1871 e não não encontrei menção a nenhum dos autores (Ramalho ou Eça).
É do folheto de Novembro/1871 e não consegui discernir a autoria.

Acedo ao google books online
e encontro o texto das farpas originais, em que Eça e Ramalho colaboraram. Depois, já em 1872, Eça foi colocado num lugar de mama na teta da diplomacia e deixou de colaborar com o Ramalho Ortigão.
book online:
As farpas: crónica mensal da política, das letras e dos costumes
Por Eça de Queirós,Ramalho Ortigão,Maria José Marinho


Na página 284 : Dezembro/1871
Página 312 está o texto mencionado no post (*)
Na página 321 : Janeiro/1872

Todo este mal entendido partiu da minha ignorância literária. E peço desculpa.
Sempre ouvira nas Farpas de Ramalho Ortigão e ignorava que o Eça estivesse também envolvido.
Ontem, com a pesquisa google imediata e desatenta, reforçou-me o que já esperava: Ramalho. Mas é um erro meu.

Aproveitei agora para ler um pouco das Farpas naquele book online.

(*) O texto original é ligeiramente diferente do mencionado no Post. O Eça reviu os textos dele (e do Ramalho creio) posteriormente à sua publicação original.

Mas ao fim e ao cabo o clima por cá está miserável. Fede.

Hoje dá dei uma gargalhada com a foto de uma t-shirt no e-mail:
Não preciso de sexo!
O governo f***-me todos os dias.
Patrioticamente acompanhado de uma bandeira nacional.


Quanto ao Sócrates tem razão de novo.
Estava tão enraizado na minha mente que o caso da cicuta era romano que empurrei o Sócrates para Roma.
Obrigado por me corrigir. Chego à conclusão que estou mais ignorante do que eu pensava.
Agora mais uma brincadeira:
O Sócrates não aceitou ajuda para fugir à condenação para não ter de aturar a mulher (muito mais nova que ele).
Mas que ninguém fique ofendido, ok?
especialmente a minha mulher.

 
Às 20 maio, 2010 13:27 , Blogger UFO disse...

O texto é mesmo original de Eça de Queirós.
--
Ainda bem que me vou enganando, assim tenho mais hipóteses de aprender.
Um monótono aborrecimento se eu estivesse sempre certo.
Obrigado pela correcção Peter.
--

 
Às 20 maio, 2010 15:24 , Blogger Peter disse...

UFO

Meu caro, eu estou aqui a aprender, não sou nenhum erudito, portanto não é minha intenção, longe disso, corrigir alguém.

Agradeço a sua visita ao blogue, pois eu, por motivos particulares, não o tenho podido fazer. Vou aqui deixando umas "coisas"...

 

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