A situação em que vivemos faz-me lembrar um livro já antigo,
que fez a sua época, em sucessivas edições: “
Escuta, Zé Ninguém!” de Wilhelm Reich, sobre o “nazismo”://
“ ... durante várias décadas, primeiro ingenuamente, mais
tarde com espanto, finalmente horrorizado, observou o que o Zé Ninguém da
rua “faz
a si próprio”; como ele sofre e se revolta, como ele estima os inimigos e
assassina os amigos; como ele, onde quer que consiga o Poder como “representante do povo”, abusa desse
poder e o transforma em algo de mais cruel que o Poder que ele antes tinha de
sofrer às mãos dos sádicos indivíduos das classes superiores. (...)”//
Depois desta reflexão e olhando “cá para dentro”, veio-me à
lembrança o livro de Viviane Forrester, “L’Horreur Économique”, publicado em
França em 1996:
“ É preciso ‘merecer’ viver para se ter direito à vida?” (…)
Uma ínfima minoria, já excecionalmente provida de poderes, de propriedades e de
privilégios considerados incontestáveis, assume esse direito por inerência.
Quanto ao resto da humanidade, para ‘merecer’ viver, tem de revelar-se ‘útil’ à
sociedade, pelo menos ao que a dirige, a domina: a economia confundida como
nunca com os negócios, ou seja, a economia de mercado. ‘Útil’ significa quase
sempre ‘rendível’, ou proveitosa para o lucro. Numa palavra, ‘empregável’
(‘explorável’ seria de mau gosto!)”
A autora, Viviane Forrester, veio à Gulbenkian em Abril de
1997 (julgo, pois assisti à sua palestra) integrando um Ciclo de Conferencistas
de diversos países sobre o “Económico-Social”.
“Descobrimos agora que, para além da exploração dos homens,
ainda havia pior e que, perante o facto de já não ser explorável, a multidão de
homens considerados supérfluos, cada homem no seio desta multidão pode tremer.
Da exploração à exclusão, da exclusão à eliminação …?”
Dezasseis anos se passaram. É possível, é quase certo, que
muitos “notáveis” entre nós tenham sido influenciados …