sábado, novembro 30

Administração Local - Autarcas "dinossauros" embolsam subsídio baseado em lei extinta

Vários autarcas já aposentados vão auferir de verbas consagradas por uma lei que foi extinta em 2005, avança a edição desta quinta-feira do Jornal de Notícias. Trata-se de um subsídio de reintegração, que o ex-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Fernando Ruas, aprovou poucos dias depois das eleições autárquicas, tendo, por sinal, solicitado essa verba enquanto antigo presidente da Câmara de Viseu. Estão reformados mas vão encaixar uma verba extra nas suas carteiras. Falamos de autarcas ‘dinossauros’ que abandonaram funções após as últimas eleições de 29 de Setembro, e que solicitaram um subsídio de reintegração pago com base numa lei extinta em 2005, revela o Jornal de Notícias. Pouco depois de deixar o cargo, o ex-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Fernando Ruas, deu luz verde ao pagamento destas verbas. Aliás, foi um dos primeiros a requerê-la, tendo outros autarcas decalcado as suas pisadas. Acontece que este subsídio está previsto por forma a auxiliar os antigos presidentes de Câmaras a regressarem ao mercado de trabalho. O que não se aplica se estiverem já reformados, como é o caso. Mas existe um parecer favorável por parte dos serviços da ANMP, ao qual se soma um outro da Comissão de Coordenação da Região Centro, pelo que, justifica Ruas em declarações ao Jornal de Notícias, "sem eles nem teria requerido a verba", a qual considera "mais do que justa", em função dos 24 anos durante os quais liderou a Câmara de Viseu. "Em 2005 não recebi porque continuei em funções. Recebo agora, é como se fosse um PPR", sublinha Ruas. E prossegue, "todos os autarcas que estavam em funções até 2005 tiveram direito ao subsídio de reintegração e receberam-no", pelo que sustenta o ex-presidente da ANMP, "os autarcas que perderam as eleições tinham direito a subsídio e os que foram eleitos seriam penalizados. Isso é que seria uma profunda injustiça", realça ainda. Outra leitura faz o antigo autarca da Câmara de Armamar, Hernâni Almeida, que esteve à frente do município ao longo de 28 anos. "É legal e eram 50 mil euros, mas estando reformado como autarca e militar achei que me ficava mal", tendo decidido, pois, não solicitar a verba assinalou ao Jornal de Notícias.

sábado, novembro 16

Racismo?

RACISMO

Hoje foi a notícia de que o militar da GNR que disparou sobre uma

carrinha de ciganos que andavam na ladroagem, foi condenado a

prisão efectiva por ter atingido mortalmente "um menino" que nela

se encontrava.

Vamos lá a ver se percebi bem:
1. Os militares foram confrontados com o roubo de bens alheios;
2. Os ladrões puseram-se em fuga;
3. Os agentes da autoridade ordenaram-lhes que parassem;
4. Como não o fizeram, efectuaram disparos para o ar;
5. A fuga continuou e dispararam em direcção da viatura no sentido da sua imobilização;
6. Um dos disparos atingiu mortalmente um dos ocupantes;
7. O militar vai para a cadeia e vai ter de indemnizar a família da vítima.

Se eu percebi as coisas como deve ser, a sentença deveria ter sido:
1. A restituição dos bens roubados;
2. Indemnização ao Estado Português pelos prejuízos e custos com

a manutenção da lei e da ordem mais o respectivo pagamento das

custas de justiça.

O Comando Geral da Guarda Nacional Republicana, por sua vez,

emitiria um louvor aos soldados que, com risco da própria vida,

souberam manter a lei e a ordem, fim último da sua profissão.

Devo andar a ficar senil e já não me revejo nesta Democracia de MERDA.

Vi as imagens da família da vítima a chegar ao tribunal numa moderna

carrinha da marca Mercedes ... o Rendimento Social de Inserção deles

deve ser maior que o meu subsídio de desemprego ou, então, é

complementado com uns biscates nocturnos.

O seu advogado, que de vez em quando vai à TV mandar uns bitaites

sobre a justiça, o Arrobas da Silva, foi recentemente condenado por

falsificação de documentos e outras tretas.

O sr juíz, ou juíza, não sei nem quero saber, se lhe assaltassem a casa,

roubassem as sapatilhas e o telemóvel ao filho no caminho da escola,

se tentassem violar a filha, ... estou certo que, na hora de ponderar a

sentença, não condenaria um homem com uma farda que o investe de

autoridade, trabalha e paga impostos e, sobretudo, agiu em defesa de

todos nós fazendo aquilo que jurou fazer e que é suposto que aconteça

sempre ...

Não, este não é um país de merda não !!!! ...

É um país com gente de merda !!!!


Não foi dito por mim, mas CONCORDO EM TUDO.
Como diz? Racista?! Ah, sim, pois claro!
Barra da Costa

Miguel Sousa tavares


Na coluna de opinião, que semanalmente assina no semanário Expresso, o escritor Miguel Sousa Tavares afirma este sábado que “ao pé da decomposição europeia” a que temos assistido nos últimos tempos, “os males de governação” em Portugal “não passam de subcapítulo de uma tragédia maior”. O comentador político refere ainda que o Governo e o Presidente da República, ao contrário do que alertou Mário Soares, não serão “derrubados pela violência” porque “os portugueses sabem que de pouco serve mudar”.
O escritor e comentador político, Miguel Sousa Tavares, escreve este sábado sobre ‘o fim do euro’ tendo em conta o actual contexto em que, “com 7% de superavit nas suas contas públicas, enquanto à sua volta quase todos os parceiros do euro afundam em défices, a Alemanha está sentada numa pilha de dinheiro”.
Este facto, refere, em “nada aproveita ao euro, nada aproveita aos seus parceiros e nada aproveita à própria Alemanha”, excepto se está “a apostar já no fim do euro e a tratar de entesourar para o dia em que a bomba nuclear rebentar”.
“O caminho seguido pelas troikas e pelo FMI, a reboque da Alemanha, foi de uma estupidez tamanha que ficará registado nos anais da história económica”, considera Miguel Sousa Tavares, sublinhando que “só podia desembocar, como desembocou, no desastre absoluto. E, paradoxalmente para os seus defensores, no aumento das dívidas dos Estados”.
Mas “andam para aí alguns membros do Governo muito contentes” com a descida do desemprego e o crescimento da economia no terceiro trimestre, para o escritor apenas um “sinal de que batemos no fundo e, obviamente, números absolutamente insuficientes para evitar, sequer, o crescimento da dívida”. Pelo que, “só nos resta crescer para fora da zona euro e da Europa” através do “esforço louvável das empresas exportadoras”.
Sousa Tavares diz duvidar que a “Alemanha queira defender a Europa”, até porque “Merkel é uma mulher sem mundo, sem cultura europeia,” e “dali não virá nada, a menos que a Europa se revoltasse contra ela”. Acontece que, questiona, como poderá revoltar-se “uma Europa com líder como Holande, Cameron, Rajoy ou Durão Barroso?”.
Pelo que, conclui, “ao pé da decomposição europeia a que vamos assistindo, os nossos males de governação não passam de um subcapítulo de uma tragédia maior. (…) Que o Governo é mau, incompetente e inexistente na esfera europeia, é um facto à vista de todos. Que, apesar disso e da situação europeia, há coisas em que temos de mudar de hábitos, é outro facto. (..) Mas o Governo e o Presidente não serão ‘derrubados pela violência’ se não se saírem bem, como prevê Mário Soares”.

E isso por “três razões (…), apesar de tudo, há uma maioria que não prescinde de viver em democracia, (…) a alternativa chama-se António José Seguro, e os portugueses sabem que de pouco serve mudar de Governo ou de Presidente se a Europa não mudar de políticas”, remata Miguel Sousa Tavares, no artigo que assina hoje no semanário Expresso.

quinta-feira, novembro 14

Declaração de Amor à Língua Portuguesa


Declaração de Amor à Língua Portuguesa


113

2


Teolinda Gersão

Escritora

Tempo de exames no secundário, os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso,confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas,mas as ideias são todas deles.

Aqui ficam,e espero que vocês também se divirtam. E depois de rirmos espero que nós, adultos, façamos alguma coisa para libertar as crianças disto.

Redacção – Declaração de Amor à Língua Portuguesa

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito. “O Quim está na retrete” : “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum,o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento,e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente. No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.

No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço? A professora também anda aflita. Pelos vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo,o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em “ampa”, isso mesmo, claro.) Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou : a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens,ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero. E pronto, que se lixe, acabei a redacção – agora parece que se escreve redação.O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impôr a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros. E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática). Adenda: publicado pela autora no facebook e republicado no Aventar com a devida autorização.