Noites de Goa
O que tem de diferente, relativamente à totalidade dos livros de divulgação científica, a obra de João Magueijo: “Mais rápido que a luz”? É ser “a biografia de uma especulação científica”, que é também um Diário do autor. Um livro profundamente humano e em que o seu autor tal como eu, “alentejano de gema”, não se parece nada com o retrato que habitualmente fazemos de um cientista. Não é caras leitoras? É um “gatão” …
Atente-se ao final do livro:
“Somos nós – os que amamos o desconhecido para lá de todas as modas políticas ou imposições partidárias – que usufruímos do último e glorioso riso. Gostamos mais do nosso trabalho do que é possível exprimir em palavras. No universo ninguém se diverte mais do que nós.”
Ou no final dos “agradecimentos” da praxe:
“O autor gostaria de agradecer aos candidatos a inquisidores dos dias de hoje por já não brincarem com fogo.”
Para justificar o que venho dizendo, destaco ainda um pequeno texto do capítulo em epígrafe, o qual mereceu a minha preferência:
“ ... enquanto montanhas de papel ... se acumulavam sobre as nossas secretárias, caindo às vezes misteriosamente no caixote do lixo, continuávamos a interrogar-nos sobre a VSL, [variable speed of light, ou “very silly” (disparate), segundo os seus críticos] sentindo-nos frequentemente algo perdidos.
Em Abril a necessidade de espairecer tornou-se de tal forma esmagadora que resolvi pôr tudo de parte por algum tempo e desaparecer de Londres com Kim (a namorada). Escolhemos ir a Goa ... As raves (movidas a “ecstasy”) na praia duravam até ao nascer do Sol ... Os “hippies “ (que viviam nus nas árvores) tocavam flautas a cães furiosos que corriam pelos bares e restaurantes a ladrar e a morder-se uns aos outros ...
Embora este ambiente não parecesse particularmente conducente ao exercício de actividades intelectuais, devo dizer que o meu cérebro funcionou lá melhor do que nunca. Ao descontrair-me ocorreram-me de súbito algumas das grandes ideias da VSL. Claro que só tomei breves apontamentos: as noites de Goa não se prestam a cálculos complicados. Mas lentamente iam-se materializando umas quantas ideias interessantes. (...) Quando, a meio da noite, ia à casa de banho de Deus – a única que existe na maior parte dos bares de Goa – olhava acidentalmente para o céu entre as palmeiras. Com pouca ou nenhuma luz eléctrica a polui-los, os céus de Goa eram povoados pela infinidade das estrelas. Concordo que contemplar o universo enquanto se mija não será das coisas mais poéticas, mas sentir o peso do universo diante dos meus olhos produzia sempre em mim um choque forte. Num sistema sonoro, lá muito ao longe, ouvia-se:
“Quando se sonha não há regras, tudo pode acontecer, as pessoas podem voar”
Atente-se ao final do livro:
“Somos nós – os que amamos o desconhecido para lá de todas as modas políticas ou imposições partidárias – que usufruímos do último e glorioso riso. Gostamos mais do nosso trabalho do que é possível exprimir em palavras. No universo ninguém se diverte mais do que nós.”
Ou no final dos “agradecimentos” da praxe:
“O autor gostaria de agradecer aos candidatos a inquisidores dos dias de hoje por já não brincarem com fogo.”
Para justificar o que venho dizendo, destaco ainda um pequeno texto do capítulo em epígrafe, o qual mereceu a minha preferência:
“ ... enquanto montanhas de papel ... se acumulavam sobre as nossas secretárias, caindo às vezes misteriosamente no caixote do lixo, continuávamos a interrogar-nos sobre a VSL, [variable speed of light, ou “very silly” (disparate), segundo os seus críticos] sentindo-nos frequentemente algo perdidos.
Em Abril a necessidade de espairecer tornou-se de tal forma esmagadora que resolvi pôr tudo de parte por algum tempo e desaparecer de Londres com Kim (a namorada). Escolhemos ir a Goa ... As raves (movidas a “ecstasy”) na praia duravam até ao nascer do Sol ... Os “hippies “ (que viviam nus nas árvores) tocavam flautas a cães furiosos que corriam pelos bares e restaurantes a ladrar e a morder-se uns aos outros ...
Embora este ambiente não parecesse particularmente conducente ao exercício de actividades intelectuais, devo dizer que o meu cérebro funcionou lá melhor do que nunca. Ao descontrair-me ocorreram-me de súbito algumas das grandes ideias da VSL. Claro que só tomei breves apontamentos: as noites de Goa não se prestam a cálculos complicados. Mas lentamente iam-se materializando umas quantas ideias interessantes. (...) Quando, a meio da noite, ia à casa de banho de Deus – a única que existe na maior parte dos bares de Goa – olhava acidentalmente para o céu entre as palmeiras. Com pouca ou nenhuma luz eléctrica a polui-los, os céus de Goa eram povoados pela infinidade das estrelas. Concordo que contemplar o universo enquanto se mija não será das coisas mais poéticas, mas sentir o peso do universo diante dos meus olhos produzia sempre em mim um choque forte. Num sistema sonoro, lá muito ao longe, ouvia-se:
“Quando se sonha não há regras, tudo pode acontecer, as pessoas podem voar”
8 Comentários:
Nós temos um sistema de promoções de génios que me leva sempre a desconfiar... ainda não me curei do Posat! Mas talvez seja só preconceito...
Não é por falta de condições técnicas que o PoSat está em «reforma antecipada». As Forças Armadas, por exemplo, têm estações capazes de receber dados do satélite que, de resto, foi utilizado em missões da ONU no Kosovo e na Bósnia, onde «serviu para transferência de informação».
A missão da GNR no Iraque - mesmo sob comando italiano - é o exemplo de uma situação em que se poderia dar utililidade ao satélite, mantendo de forma independente «alguma forma de comunicação com Portugal».
Não aproveitamos, nem damos o devido valor àquilo que temos e depois admiram-se dos "Magueijos" ensinarem em Universidades inglesas ...
Este Magueijo é o nosso cientista que tem uma teoria considerada radical e revolucinária que questiona Einstein?
interessante, gostei da recomendação.
A VSL, cujas siglas significam variable speed of light, é, como o nome indica, uma teoria que tem por base a variação da velocidade da luz. Foi desenvolvida pelo físico português João Magueijo e surge como tentativa de resposta aos problemas cosmológicos em alternativa à inflação de Alan Guth. Dois dos mais importantes problemas cosmológicos que a VSL tenta solucionar são a questão da planura e a do horizonte.
O problema do horizonte deve-se ao facto de um observador só ter acesso a uma pequena parte do Universo. Isto resulta da combinação de dois fenómenos diferentes: o primeiro, de existir um limite de velocidade da luz e o segundo do Universo ter uma data de nascimento, o Big Bang. Concluí-se que não se pode ver nada que esteja a uma distância superior a 15 mil milhões de anos-luz, quando se estima que aquele ocorreu. Se recuarmos no tempo, quanto mais próximo estivermos do BB, tanto menor será o nosso horizonte. Daqui resulta um Universo primordial fragmentado em regiões minúsculas sem qualquer interacção entre elas. Mas como se pode, então explicar um Universo homogéneo, como se pensa que o nosso é, se no início dos tempos este estava completamente repartido? É que a melhor maneira de homogeneizar qualquer coisa é pô-la em contacto entre si. Ora isto é precisamente o que o problema do horizonte nos nega.
O outro problema é a questão da planura. Em 1922, o físico russo Friedmann ao resolver as equações da relatividade generalizada chegou a uma solução que correspondia a um Universo em expansão. No Universo em expansão não se deve ter a ideia de que são as galáxias que se deslocam afastando-se uma das outras. O que acontece é que as galáxias estão incrustadas no espaço e este está a mover-se, expandindo-se segundo um factor de expansão. Partindo do princípio de que o Universo é homogéneo, Friedmann reduziu assim o número de geometrias capazes de lhe descrever a forma para três casos: espaço euclideano, esférico e pseudo-esférico. Ao introduzir as geometrias na equação de campo de Einstein, Friedmann chegou à conclusão que cada um destes modelos evolui no tempo de uma maneira distinta dos outros. E é melhor ficar por aqui… no modelo pseudo-esférico, o Universo não pára mais de expandir-se, sendo a sua taxa de expansão um valor constante. Todos este modelos são um reflexo da luta entre a expansão e a atracção gravítica. Enquanto que no modelo esférico a gravidade acaba por ganhar, no modelo pseudo-esférico a expansão é dominante.
Sabe-se que o nosso Universo segue o modelo plano pois os outros resultam em situações catastróficas. O problema é que o equilíbrio entre a expansão e a gravidade é muito precário. Para os físicos, é difícil acreditar que o nosso Universo é plano por mero acaso.
A questão da planura é esta mesmo. Encontrar uma justificação para o nosso Universo ter a geometria euclideana.
A teoria da inflação surge na década de 70, sob a autoria de Alan Guth, como uma possível resolução dos problemas cosmológicos. Alan descobriu que no Universo primordial devido às elevadíssimas temperaturas, a matéria das partículas deveria estar no estado líquido. Ao expandir-se o Universo, a sua temperatura diminuiu, tornando-se as partículas naquilo que nós hoje vemos, mas não sem primeiro terem passado por um estado de sobrearrefecimento. Alan descobriu que esta “papa sobrearrefecida” era um material muito tenso e consequentemente com uma gravidade repulsiva. Tal facto levou-o a concluir que o Universo primordial se tenha expandido com uma extrema rapidez, parando este crescimento anormal quando a matéria sobrearrefecida congelava por fim. Desta forma a Teoria Inflacionária de Alan Guth e A. Linde diz que logo a seguir ao BB deve ter ocorrido uma fase de tempo em que o Universo se expandiu com uma velocidade extremamente elevada. Deste modo tentavam-se solucionar algumas inconsistências do modelo “standard” do BB, nomeadamente a homogeneidade, a isotropia e a ausência de curvatura do Universo em larga escala.
O Magueijo pretende resolvê-las através do aumento da velocidade da luz durante um lapso de tempo incrivelmente pequeno. Ir de encontro aos “monstros sagrados”? Nem pensar! E por isso a teoria do Magueijo: VSL cujas siglas significam “variable speed of light” foi apelidada de “very sealy” (disparate).
Dos portugueses ilustres no estrangeiro, o único que me choca é aquele para o qual gostaria que Descartes escrevesse o livro "O erro de Damásio"! :))
Confesso, ainda não li nada desse meu compatriota estado-unidense só pelo mau gosto do título bombástico que escolheu para o seu livro que, de certeza, "remata ao lado da baliza"!
Pois, seja qual for o funcionamento do cérebro, o que quer haja de emegir das respectivas sinapses em nada se subsume ao que biologica ou quimicamente se apure.
Porque o mundo das relações das das coisas subsiste na sua identidade própria que não é física nem mental mas sim a da inteligibilidade objectiva de um mundo que se avera co-possível e compativel com seres vivos que o observam e intelijem.
vbm
Vou fazer-te uma confissão: tenho os dois (acho que são dois) livros do Damásio e ainda não li nenhum. Estão em fila de espera.
P.S. - Agradecia, uma vez que o processo já está em curso, que me desses uma resposta. Sê franco, não irei ficar melindrado se a resposta for negativa. Acredita!
:)
Estás como eu!
Também tenho os livros.
A minha mulher já os leu.
Gostou. Mas eu mantenho-me
reticente.
post scriptum:-
Respondi já áquilo.
Se tiveres alternativa,
acho sinceramente preferível.
Caso contrário, conta comigo.
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