sexta-feira, dezembro 12

George Steiner (VII)

Conclusão da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

CFA - Havia uma tradição de grandes mulheres escritoras com consciência e que sofreram demasiado por causa disso. A Akhmatova, por exemplo. Já não me importava de ter uma nova Virginia Woolf.
GS - Acho a Margaret Atwood uma escritora poderosa, não desses génios, mas poderosa. Existe um enorme vácuo. Um vácuo onde não se ouve a voz das mulheres.
CFA - Mas existe a «shopping novel». Sabe o que é? «Shop until you drop».
GS - Não torne as coisas piores.
CFA - Existe um poema da Akhmatova em que ela diz que só o sangue cheira como o sangue. Como é o cheiro da tortura?
GS - É diferente, diferente do cheiro do soldado que chega da batalha.
CFA - Conseguiria descrever esse cheiro?
GS - Acho que sim, é como couro morno. Talvez por influência de um cheiro que nunca esqueci, o cheiro quente da máscara de clorofórmio da operação à garganta na minha infância.

“George Steiner dispensa apresentações. É um dos grandes humanistas europeus contemporâneos. Um verdadeiro “cartógrafo” da cultura europeia, que sabe como poucos, à maneira dos antigos, recebê-la, contextualizá-la, dar-lhe um sentido e, sobretudo, reinterpretá-la numa lógica de esperança possível. Se a Europa, e o Mundo, caíram e parecem ciclicamente cair no obscurantismo ou na “inumanidade”, a possibilidade de olhar em frente foi a única opção, pois “abrir portas é o trágico preço da nossa identidade”, para utilizar uma expressão do próprio George Steiner.”
(Emílio Rui Vilar, Fundação Calouste Gulbenkian e gradiva, “A Ciência terá limites? – Conferência coordenada por George Steiner”)

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