terça-feira, fevereiro 2

Desabafo

Pessoa amiga, com problemas (todos os temos), enviou-me um e-mail do qual tomei a liberdade de extrair este pequeno texto, tendo o cuidado do expurgar de qualquer elemento identificativo:

“Depois de 4 meses em casa começo a ficar doida. Vale-me o facto de recomeçar a trabalhar amanhã!
Porque deste país, tenho de tentar esquecer-me que vivo nele.
(…)
A última e que me pôs completamente de rastos, foi uma empregada de uma amiga minha, ter levado com a porta da sala de operações do IPO em Lisboa nas ventas, no dia da greve. O marido, com um cancro e a operação da maior urgência marcada, lá ficou de novo à espera... a mulher a vê-lo morrer em cada dia. Pessoas com menos de 60 anos, com um filho engenheiro recem-formado, uma rapariga no 4º ano de medicina em Lisboa, levaram a vida a sacrificar tudo para dar em um futuro aos filhos, privando-se de quase tudo... E DE REPENTE... m**** de VIDA! E serem tratados assim! E de certeza não foram caso único, o que me deixa completamente "passada"! Se fossem ricos, o homem já estava operado... E ASSIM? Que raio de greves são estas em que não são acautelados os mais desfavorecidos?
(…)
E agora só faltava a palhaçada dos carrosséis...

MAS O NOSSO POVO É DO QUE GOSTA, NÃO É?!”

13 Comentários:

Às 02 fevereiro, 2010 02:57 , Blogger alf disse...

pois, as greves são uma chatice.. mas só as greves dos outros, porque quando nos calha a nós fazer greve... somos vítimas de nós próprios, como não podia deixar de ser, a sociedade somos nós que a fazemos.

A história sugere-me o seguinte pensamento: a filha no 4º ano de medicina também um dia fará greve e deixará a porta da sala de operações bater na cara de alguém... um pobre por certo, porque aos clientes ricos cuidará que nada falte ...a não ser que a memória disto a faça agir de maneira diferente.

a democracia tem esta caracteristica curiosa, as falhas da sociedade são as nossas; e isso é também o seu grande mérito, pois podemos aprender com os nossos erros e construir uma sociedade melhor. Ou estarei a ser utópico?

 
Às 02 fevereiro, 2010 09:59 , Blogger Quint disse...

Entre o texto da prosa e o comentário do ALF anda a verdade; aliás, não é inteiramente verdade que o paciente se fosse rico, já estava há muito operado pois normalmente quando a coisa é mesmo séria as unidades privadas de Saúde mandam os pacientes para onde? Vá lá, adivinhem!

 
Às 02 fevereiro, 2010 11:33 , Blogger Peter disse...

Nunca vi em nenhuma capital do mundo dezenas de enormes camiões a entupirem o trânsito durante dias a fio. Se querem fazer greves, façam-nas a pé.

Quando a doença é séria os pacientes vão para os hospitais do Estado, que estão melhor equipados, pois para isso é que pagamos os nossos impostos (não sei se vocês os dois pagam, eu pago).

O mal de certos comentários é serem feitos por pessoas que escrevem de "barriga cheia", ou que apenas abordan um dos aspectos do artigo, como é o caso.

Sim, porque:
- o caso da minha amiga desempregada;
- os sacrifícios que o casal fez para proporcionar um futuro melhor aos filhos e que se vê agora atingido pela desgraça, são "minudências".

Não sei mesmo se valerá a pena abordar aqui determinados problemas que acabam sempre por ser sub-valorizados.

 
Às 02 fevereiro, 2010 11:58 , Blogger antonio ganhão disse...

Somos um país adormecido, por isso precisamos que nos gritem! Que nos gritem à nossa consciência e aos nossos deveres cívicos. Eu acho o grito muito salutar!

 
Às 02 fevereiro, 2010 13:42 , Blogger vbm disse...

De facto, na análise de um problema tende-se a privilegiar uma ou outra ideia-chave e minorar ou subordinar outros aspectos do caso concreto. Centrando-nos na aflição da tua amiga, a empatia é óbvia e a repulsa pela luta colectiva inevitável.

O grave, quanto a mim, é que Portugal virou um Estado Corporativo depois do 25 de Abril. Até então, era-o nominalmente. Depois, tornou-se de facto um país com um Estado Corporativo. Com o Salazar, e o condicionamento industrial e as barreiras alfandegárias, o poder das Corporações era detido pelo patronato conluiado com o governo.

Agora, é o sindicalismo que se apoderou dos ministérios e os acordos fecham-se entre as partes - patrões e empregados - à custa do bem comum, isto é, não há uma autoridade que se sobreponha à oposição das partes constrangendo os eventuais acordos a não se locupletarem à custa do contribuinte e do bem comum.

Quanto a mim, a solução política requer que o poder tenha como base de apoio a aliança dos mais desfavorecidos à classe da média burguesia que se orientará pelo distanciamento às classes exploradoras da alta finança doméstica e estrangeira, reforçando a sua independência com o esforço colectivo do trabalho e da inteligência.

 
Às 02 fevereiro, 2010 14:48 , Blogger Peter disse...

vbm

Explêndido:

"Quanto a mim, a solução política requer que o poder tenha como base de apoio a aliança dos mais desfavorecidos à classe da média burguesia que se orientará pelo distanciamento às classes exploradoras da alta finança doméstica e estrangeira, reforçando a sua independência com o esforço colectivo do trabalho e da inteligência."

 
Às 02 fevereiro, 2010 14:55 , Blogger Peter disse...

antonio - o implume

Não se pode apelar à nossa consciência e aos nossos deveres cívicos, como tu dizes e com o que eu concordo, pois corre-se o risco de perder o emprego, como agora aconteceu com o Mário Crespo.

 
Às 02 fevereiro, 2010 15:09 , Blogger Quint disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 02 fevereiro, 2010 17:58 , Blogger alf disse...

O Mário Crespo agora diz (acrescentou agora) que o Sócrates se referia a ele e ao Medina Carreira.

Curiosamente, o Medina Carreira faz o prefácio do livro que o Mário Crespo vai lançar.

Simpático da parte do Sócrates atacar os dois em vésperas de lançamento do livro, não acham?

Mas eu não me admirava muito que o Medina ainda venha desbroncar sobre este assunto - não estou a vê-lo a alinhar com tretas destas...

vbm, o pessoal (não todo, uma parte)anda a inventar esquemas de servir os interesses próprios há muito tempo. É por isso que os juizes não se reformam, «jubilam-se», que havia esquemas de reformas antecipadas por todo o lado, que as fraudes à SS eram por todo o lado, que os governadores do BP tinham pensões milionárias, que os administradores das empresas publicas têm ordenados obscenos, que os sistemas de avaliação da função publica só dava «muito bom», que os médicos continuam a não picar pontos nos hospitais publicos, que havia professores de liceu que subiam na carreira sem porem os pés nas aulas, etc, etc.

Não são os sindicatos que manipulam as situações e as pessoas, é muito mais ao contrário - as pessoas usam os sindicatos para conseguirem os seus fins.

Isto corrige-se com uma informação que esclareça, debata e desnude as razões por detrás das reinvindicações. Coisa que parece não ter grande interesse para os media porque, na verdade, não interessa às pessoas - alguém quer saber se assiste alguma razão aos tipos dos carroceis? O governo só erra qd as suas medidas afectam os nossos interesses imediatos?

Peter, eu percebo a sua indignação e partilho dela. Melhor do que pode imaginar porque já passei por isso. O que relata não é irrelevante, é algo que nos deve levar a meditar, tentar compreender, que é o primeiro passo para um futuro melhor. Foi isso que tentei fazer.

 
Às 02 fevereiro, 2010 21:03 , Blogger Meg disse...

Peter,

Estou estupefacta...
mas como sou mulher, se calhar tenho os "miolos" moles.
Será que só eu me dou conta que o que importa nesta história que relatas é a vida ou morte de um ser humano, que pertence aos milhões que não pertencem a nenhum sindicato???

Afinal isto é o país da joana????

Já não há limites? Passa-se por cima de tudo?
Eu vi nas TVs pessoas de idade muito avançada, com exames marcados há dois anos, vindas de longe,com preparações feitas no dia anterior, chegaram e baterem com o nariz na porta! Nem um aviso, nem uma palavra, tratadas como gado... pergunto:É JUSTO???

Para ouvir "licenciados" a gritarem pelo direito a REIN-DI-VI-CAR..."licenciados..."

Eu não como em nenhuma das
"mangedouras" deste país... a minha indignação é pelas grandes injustiças, venham de que lado vierem.
Façam as greves que quiserem, mas não deixem de acudir a quem precisa, ou, além de viverem na miséria ainda os mais desfavorecidos terão de pagar mais essa factura?


Desculpa, Peter, este arrazoado mas fiquei chocada com tudo o que li aqui.

Um abraço

 
Às 03 fevereiro, 2010 02:23 , Blogger Peter disse...

Meg

E tens razão em ter ficado chocada, mas esses aspectos humanos, que são os valores que verdadeiramente importam, ou deveriam importar, pouca ou nenhuma importância mereceram.

Não tens nada que pedir desculpa. Lemos pela mesma cartilha.

 
Às 03 fevereiro, 2010 14:22 , Blogger vbm disse...

Sem dúvida, alf, as instituições têm sido instrumentalizadas a servir interesses particulares desta ou daquele estrato social, regional ou profissional.

E é justo censurar a comunicação social de não cumprir o dever de informar objectivamente o que se passa e que interesses contrastantes estão em jogo; ao contrário, silenciam o essencial das questões, e o que convém ou prejudica o bem comum.

Esta é uma enorme diferença entre Portugal e França onde qualquer problema político ou conflito social é ampla e largamente discutido e argumentado por todos, desde os cidadãos mais informados aos simples empregados de cafés - pois, lá, todos adoram discutir a esgrimir razões! :))

É importante que os "espertos", os "vígaros", os "oportunistas" notem que a população em geral está atenta, reage e não se deixa enganar.

 
Às 03 fevereiro, 2010 15:10 , Blogger Lylia disse...

Sim, infelizmente, é o que o povo gosta... tragédia, estupidez

abraço,
lucia

 

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