Estádios de futebol
Entre 1999 e 2003, com vista ao Euro 2004, os visionários da pátria decidiram construir dez novos estádios de futebol: seis públicos (Braga, Guimarães, Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro-Loulé), e quatro privados (Porto, Boavista, Benfica e Sporting). Segundo o Tribunal de Contas, os seis projectos públicos custaram pelo menos 445 milhões de euros, 323 dos quais para os estádios e o restante para estacionamentos e acessibilidades.
Mas também os privados receberam ajudas do Estado (ao abrigo de contratos-programa) e das Câmaras (que nunca resistem ao charme do betão) num total estimável em 210 milhões de euros. Passada a euforia do Euro, ficou a factura. Com a excepção dos “grandes” do futebol português, descobriu-se então que os estádios eram sobredimensionados para a potencial procura, e que jamais seriam rentáveis. Descobriu-se também que, em média, as empreitadas públicas para a sua construção tinham derrapado 230%, que a sua manutenção custa 13 milhões de euros anuais às respectivas Câmaras (35 mil euros/dia!) e que, quando lá jogam as equipas locais, há muito mais bancadas à vista do que multidões de adeptos pagantes. É assim que, desde há umas semanas, as Câmaras de Aveiro e Leiria (porventura seguidas por outras), começaram a falar em vender, arrendar ou, pura e simplesmente, implodir (sic!) os garbosos e quase-novos equipamentos “multifuncionais”, pelo peso asfixiante que a sua simples existência tem nos cofres públicos.
É aqui que o cidadão contribuinte aparece para perguntar: não pensaram? Não fizeram contas e estudos de viabilização financeira? Não olharam para o exíguo mercado português do futebol e do desporto em geral e para os orçamentos do Estado e dos municípios?
José Miguel Sardica
Professor da Universidade Católica Portuguesa
Mas também os privados receberam ajudas do Estado (ao abrigo de contratos-programa) e das Câmaras (que nunca resistem ao charme do betão) num total estimável em 210 milhões de euros. Passada a euforia do Euro, ficou a factura. Com a excepção dos “grandes” do futebol português, descobriu-se então que os estádios eram sobredimensionados para a potencial procura, e que jamais seriam rentáveis. Descobriu-se também que, em média, as empreitadas públicas para a sua construção tinham derrapado 230%, que a sua manutenção custa 13 milhões de euros anuais às respectivas Câmaras (35 mil euros/dia!) e que, quando lá jogam as equipas locais, há muito mais bancadas à vista do que multidões de adeptos pagantes. É assim que, desde há umas semanas, as Câmaras de Aveiro e Leiria (porventura seguidas por outras), começaram a falar em vender, arrendar ou, pura e simplesmente, implodir (sic!) os garbosos e quase-novos equipamentos “multifuncionais”, pelo peso asfixiante que a sua simples existência tem nos cofres públicos.
É aqui que o cidadão contribuinte aparece para perguntar: não pensaram? Não fizeram contas e estudos de viabilização financeira? Não olharam para o exíguo mercado português do futebol e do desporto em geral e para os orçamentos do Estado e dos municípios?
José Miguel Sardica
Professor da Universidade Católica Portuguesa
16 Comentários:
Boas perguntas, retóricas,
do professor Sardica! :)
Porque as respostas
são em absoluto censuradas.
Nunca a economia consegue sobrepor
sua disciplina (lógica) ao desenfreado
apetite da construção e engenharia.
E até a política e o direito desprezam, altaneiros,
o que apodam de desvios economicistas.
Certo, em crise, já todos arrebitam
um pouco mais as orelhas.
Mas, não é nada de rigor;
na primeira oportunidade
desatam a gastar
à tripa forra,
olhos postos só
nas comissões contratuais
que embolsam e repartem
entre si,
à custa do bem comum.
Só que essa noção esotérica
de um estado regulador,
requer a prioridade aos
que sabem regular
dotados da competente
autoridade política da razão.
"olhos postos só nas comissões contratuais que embolsam e repartem
entre si, à custa do bem comum"
Esta é que é a nojeira.
P.S. - Qual o motivo da estrutura da tua escrita?
Peter,
Mas claro que pensaram!
Desculpa já não ser capaz de falar a sério, mas na vertigem dos imensilhões (imensos milhões)de euros, não haviam de sobrar uma fatia para um gordo bodo aos mesmos do costume?
E o TGV, e o Aeroporto, e as obras faraónicas... não vai ser o mesmo?
O que são umas dezenas ou centenas de milhares pingando dos imensilhões (adoro esta palavra)de euros?
Quanto aos estádios, porque é que não há ninguém (responsáveis) na cadeia?
Um abraço
Peter
Infelizmente a história repete-se, o Zé Povinho vai pagando e ninguém é chamado a prestar contas.
A 3ª. via sobre o Tejo, o TGV e o novo aeroporto serão mesmo necessários e/ou prioritários?
Abraço
Peter,
Em relação às obras públicas há uma grande confusão. Primeiro não são despesa são investimento. Segundo o estado nestas construções fez um excelente investimento porque na prática em nenhum outro investimento a re-injecção de $ na economia é tão grande quanto na construção. Não se esqueçam que o estado não gasta no "vazio". O dinheiro da construção vai parar a quem trabalha. Terceiro obviamente havia estudos e projectos de rentabilização. Não se esqueçam é que entretanto como em muitas outras partes do mundo se percebeu que os cálculos feitos em projectos imobiliários estavam profundamente errados ... Querem fazer as contas. Façam-nas mas contem tudo. Contem o valor da gigantesca campanha de publicidade gratuita que o nosso país obteve, o efeito na imagem, etc ... contabilizem esses efeitos todos e depois falamos de contas. Falar só dos gastos sem contabilizar os benefícios também não é um saudável exercício de economia. E já agora acrescento exactamente em que outras coisas acham que o estado deveria investir esse capital? E podemos também incluir o TGV e outras obras publicas.
Fernando Vasconcelos
O que fazem aos estádios?
Põem lá os carneiros a pastar?
A construção gera riqueza para os bolsos dos "patos bravos" e de certos autarcas que facilitam.
A melhor anedota sobre o TGV foi a de um deputado (?) do PS que disse que "ele vai servir para os madrilenos virem a Lisboa à praia"
LOL
Meg
Desculpa esta minha ausência, mas ando ocupado com a FarmVille. Já estou ligado a outro grupo de apoio às crianças com cancro.
Abraço
SILÊNCIO CULPADO
Essas obras faraónicas não geram riqueza, nem produzem para a exportação.
Resolvem temporariamente o desemprego, absorvendo mão-de-obra não qualificada e maioritariamente imigrante.
O cidadão contribuinte é que embolsou o dinheiro que aqui se gastou, não é verdade? porque, como já disse muitas vezes, só ao nível de economia doméstica é que o dinheiro se «gasta».
O dinheiro não se «gasta», circula. Este tipo de obras, com muito baixa taxa de importação mas que atrai verbas do exterior, quer pela imagem que fomenta do país e ajuda à exportação, quer pelo turismo que fomenta, faz aumentar o dinheiro que existe em Portugal.
Quanto aos altos custos de manutenção, apostava que neles estão incluidos ordenados de muitas pessoas que foram associadas a essa manutenção não porque sejam necessários mas porque são primos ou amigos de alguém.
Finalmente, parece-me deplorável que não haja iniciativas capazes de tirar partido dos estádios. Este é que é o verdadeiro cancro da situação, a incompetência de quem devia promover estes equipamentos, e não a sua existência.
Ou seja, na verdade, parece-me que o que a situação retrata é a habitual incompetência e desleixo do zé... que corre às TV a apontar o dedo antes que lhe exijam responsabilidades...
:))
Bravo, alf.
É justamente essa a distinção
entre a micro e a macreconomia!
A nível da totalidade,
os custos de um são o
rendimento de outro.
A coisa mantém-se assim
a nível planetário,
vide o equilíbrio
China - EUA.
Contudo,
a lei clássica de Say,
«a oferta cria a procura»,
não é válida desde que haja
quem prefira não comprar nada
nem acreditar no futuro e, apenas,
amealhar o direito de comprar coisas
e de mandar os outros fazer coisas
quando porventura isso lhe apetecer... :)
Quando esta crítica aos estádios
estava a desenrolar-se, dava tratos
aos miolos para imaginar o que poderia
ser feito para gerar alguns rendimentos...
De uma forma continuada,
não é fácil, mas talvez
começando por embaretecer
o aluguer do estádio,
a utilização se torne
atraente.
Peter,
A estrutura vertical da escrita
é para ser lido mais depressa!
:)
vbm
De Economia percebes tu e eu limito-me a ler o que escreves.
De Física percebe o "alf" e eu limito-me a ler e a tentar compreender.
De futebol pecebo eu e dou um doce a quem indicar como tornar os estádios rentáveis, não constituindo tão pesado encargo para as respectivas autarquias. O resto são lérias...
Porque é que as escolas não jogam à bola, de graça, nos estádios? Porquê os clubes regionais não jogam à bola nos estádios do euro 2004? Poderiam fazê-lo, pagando o mínimo. Ou fazem-no já? Não dará para rentabilizar, mas dá para aproveitar.
vbm
Fantasias...
Os estádios de futebol construídos não eram apenas os "estádios". Tinham pressupostos de exploração do espaço construído através de zonas comerciais assim como outras formas de exploração. Sabe-se hoje que esses cenários eram fantasistas e que ignoravam o facto de não haver simplesmente "gente" que rentabilize tanto espaço comercial, mas isso na altura da sua construção não foi tido em conta. Os projectos TINHAM planos de rentabilização. Podemos acha-los ridículos agora mas eles existiam. Não se tratava Peter apenas de futebol. A rentabilização passava por outras variáveis como é óbvio.
Alf: Obrigado por esclarecer o que eu procurei dizer.Penso que foi claro. É preciso que as pessoas percebam que a discussão sobre os investimentos públicos pode e deve ser feita mas tem de ser feita com base noutros aspectos.
O Peter tem razão quando diz que o futebol não viabiliza essas estádios; mas o vbm também tem razão quando fala das escolas.
Há uma enorme apetência pelo desposto; os polidesportivos rebentam pelas costuras; que eu saiba, o estádio do Inatel não se queixa de falta de ocupação.
Um primeiro passo para a ocupação destes espaços é através das escolas / universidades. Os miudos das ecolas iriam delirar por poder treinar/jogar num estádio a sério.
Mas um estádio serve também para outros desportos; por exemplo, é quase ideal para uma escola de golfe.
Estes estádios têm de ser pensados como estão a fazer com os polidesportivos, que servem para tudo e mais alguma coisa.
Fernando Vasconcelos, gostei muito dos seus comentários informados e positivos, que é uma coisa que rareia na blogoesfera, como na imprensa e na TV - eu, nestas coisas, também não falo mais do que dar opiniões «de bancada», como diz o Peter, do que eu percebo é de física... e de engenharia também.
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