Mau serviço
O Banco de Portugal veio, ontem, dizer-nos algumas verdades inconvenientes sobre o futuro da economia portuguesa, a primeira das quais é a previsão de um agravamento do défice externo em três pontos percentuais nos próximos dois anos. Uma deterioração que é o triplo do previsto, ainda há poucos meses, no boletim de Outono.
Pior ainda: o agravamento agora enunciado colocará o desequilíbrio das nossas contas externas acima dos 11% da riqueza anual criada, quando antes se ficava ainda abaixo do limite psicológico dos dez.
Resumindo: fica, mais uma vez, clara a insustentabilidade do actual modelo de empobrecimento
Continuado.
À anemia económica e aos endividamentos interno e externo galopantes soma-se a segunda verdade: a previsão de aumento do chamado desemprego estrutural da economia e a constatação de que a taxa de desemprego vai continuar a crescer, até 2011, o que fará que esta seja, das últimas crises, a que apresenta a factura social mais alta. Com contas públicas desequilibradas e endividamento a subir, o crédito, cada vez mais escasso e necessário, só pode ser mais caro. Ora, Portugal já está a endividar-se para pagar juros que, por ano, são já superiores ao investimento público.
Transformar este diagnóstico numa boa notícia sobre a inesperada retoma não é apenas excesso de optimismo. É um mau serviço prestado à verdade e ao país.
(Graça Franco, in “Página 1” de 13/01/10)
5 Comentários:
Dizes bem, bluegift.
Não nego a crise. Mas não duvido: - os donos dos jornais querem vender as tiragens (editar 20 ou 80 mil exemplares tem o mesmo custo; logo, passar de 20 para 80, não quadriplica o saldo, decuplica-o ou bi-decuplica-o, é quase lucro marginal limpo!).
Assim sendo, cumpre aos jornalistas, serventuários dos patrões, apelarem ao clima emocional de terror e desgraça, eminente ou consumada, para que as tiragens se vendam. Só não entendo é porque não fazem assim uns preços de saldo, com 2ª e 3ª e 4ª edições impressas de modo a impressionar ainda mais.
Agora, dar a palavra aos que proponham planos de modificação das coisas, isso nunca! São intelectuais, visionários, anti-capitalistas, não-confiáveis, só querem é governar-se eles próprios. Assim os desqualificam, temerosos.
E, no entanto, é ponto assente que a Europa, e Portugal sem dúvida, empobreceu e vai continuar a empobrecer. Ora, podia fazê-lo com dignidade, governando-se a si próprio, vigiando distância saudável com os seus credores e, também, com os seus "salvadores" e respectivos comités de ajuda controlada.
Para tanto, principiaria por planear a sua actividade produtiva e exportável a médio prazo, no devido enquadramento de planos de fomento - digo bem, de «fomento», como os de 'antigamente' -, e destituiria o consumo de pseudo-bens sem qualquer utilidade, isto é, Portugal assumir-se-ia como país empobrecido, e apenas privilegiaria os bens necessários à sua real qualidade de vida e utilidade efectiva.
Faríamos mais coisas; algumas até estamos a fazer: como as barragens nos rios para produzir electricidade, por muito que a Europa e os ambientalistas protestem que estamos a estragar os cursos d´água; também, por exemplo, expropriaria os proprietários silvícolas que não se agremiassem em cooperativas para tratar colectivamente da floresta, limpando-a, utilizando-a e recultivando-a; construiria novas vias férreas, modernas, de passageiros e mercadorias, aproveitando, por exemplo, o traçado rodoviário da 3ª auto-estrada Lisboa-Porto! LOL; antecipava de um ano a importação de automóveis eléctricos, dos híbridos, e também os movidos a ar comprimido; igualmente, reduziria em 20% os subsídios de desemprego e aumentá-los-ia em 50% para os "desempregados" que trabalhassem designadamente em obras de interesse público, comunitário ou social.
Enfim, várias são as medidas que um país pobre pode tomar iniciativa; tudo sem esquecer o controlo e a tributação das grandes fortunas, assim como as das pequenas indecorosas explorações, como, por exemplo, as dos inquilinos com rendas de 10, 15, 20, 80, 150 euros ao mês! etc. etc.
Subscrevo quase integralmente o comentário do VBM; alargaria era algumas das medidas à própria União Europeia.
Aliás, acho que nos devíamos deixar de peneiras e mantendo a União sem fronteiras internas, reforçar as externas.
A globalização está muito em voga mas as hordas de deserdados da fortuna é que nos sobram dentro de portas.
bluegift
Uma grande verdade:
"Já é tempo de tentar colocar os interesses do País à frente dos interesses pessoais dos membros dos partidos."
Servir, não servir-se!
Peter
As verdades são sempre duras de engolir e esta é deveras preocupante. O facto de não sermos os únicos na UE em franca derrapagem não serve de consolação.
Inventem-se novos modelos que estes estão falidos. E já agora combata-se a corrupção e o enriquecimento ilícito para que haja uma distribuição mais justa da riqueza produzida.
Abraço
SILÊNCIO CULPADO
O "vbm" aponta toda uma série de medidas extremamente interessantes e fá-lo com conhecimento de causa.
Quanto ao enriquecimento ilícito, não há consenso possível enquanto os cargos políticos forem encarados não numa perspectiva de servir, mas de se servirem.
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