segunda-feira, novembro 23

A ignorância

Até que ponto um certo amor pelo espaço não revelará, afinal, uma incompreensão muito grande desse mesmo espaço? Porque a Terra não está fora do Universo, nem o Sol, nem a Via Láctea. Assim, se eu pensar em mim enquanto ser humano, poderei sentir-me preso à Terra embora deseje ansiosamente sair, conhecer outros espaços; mas se pensar em mim enquanto matéria pensante, e isso é sobretudo aquilo que sou, compreendo que não preciso fazer viagem nenhuma, que a viagem mais longínqua é a que faz a estrela que a Terra persegue incessantemente.

Eu vivo numa imensa nave redonda e já viajo no espaço e no tempo; na verdade, se penso um pouco, compreendo que nunca fiz outra coisa senão desejar conhecer outros mundos. Mas Universo com vida é aqui. Pode haver mais, haverá certamente mais – “...seria um enorme desperdício de espaço se não houvesse...” (Carl Sagan) -, mas a Terra deve dar-me, enquanto não me for possível viajar no Cosmo, tudo aquilo que me é necessário, todas as fontes de deslumbramento e de encanto possíveis – se a Terra não me der tudo isso, estou certo que nenhum outro mundo me dará. A Terra é o dia único que contém todos os dias, a noite única que contém todas as estrelas, o pequeno mundo onde encontro todos os grandes mundos, o meu hoje que contém todos os ontens e todos os amanhãs, o instante onde encontro o infinito e a eternidade.




"o terror de se ser corpo, de se existir sob a forma de um corpo” (Milan Kundera, “A ignorância”)

Este sentimento leva-me a uma série de reflexões:

- O que me liga a Andrómeda para eu gostar tanto dela? Que sentir profundo é este que me relaciona com essa Nebulosa? O que nos une? Serão os elementos dos átomos que compõem o meu corpo, prioritariamente dali?

- E este corpo que se perpetua através dos meus átomos, integrando outros organismos, num “eterno retorno”? Será possível dissociá-lo do “espírito”, do meu “sentir”, que é “luz” e “vibração”? E seria esta componente espiritual, imortal, que se perpetuaria através de todos os Universos possíveis? A nova “teoria das cordas” que pretende substituir os elementos pontuais e ínfimos da matéria por pequenos segmentos que vibram e é esse vibrar que os caracteriza e lhes confere as suas propriedades, que nos diz? “Vibração”? Sim, pois todo o electrão é simultaneamente “corpúsculo” e “onda”, “onda=vibração”?

- E quando me lembro do “filme-mito”, “2001-Odisseia no espaço”, o que vou encontrar senão “luz” e “música” (vibração)? Será que haverá seres que são só luz?

No livro acima os personagens têm vida própria e é assim que actuam. Movimentam-se livremente como indivíduos e as relações que se estabelecem são procuradas, no interesse de quem as procura, mas sem que com isso se entenda uma relação de dependência, antes de complementaridade.

Que me leva a “postar”?
Não estou sujeito a horário, nem a nenhuma obrigação de o fazer ou deixar de fazer. Estava para aqui a olhar o ecrã em branco...

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9 Comentários:

Às 23 novembro, 2009 10:57 , Blogger Peter disse...

bleugift

Não fales em "matéria negra" senão o "alf" "bate-te".

Que tenhas uma boa semana. Hoje está um dia lindo de sol e céu azul, mas frio. Aí só deves ter frio.

 
Às 23 novembro, 2009 11:51 , Blogger Quint disse...

Ele há gente com sorte ... tens tu um dia lindo e com céu azul, PETER e eu um cinzento, chuvoso e já com uma ida ao dentista em cima do lombo que me saiu o chumbo dum no fim-de-semana e me estragou o Domingo!

No resto, gostei da tua dissertação astronómica e ainda mais do remate final à homem franco e de peito aberto!

 
Às 23 novembro, 2009 12:56 , Blogger Peter disse...

FP

As avarias dos aparelhos eléctricos e os problemas de dentes acontecem sempre aos fins de semana. Estes últimos também sempre que estou em férias.

Boa semana

 
Às 23 novembro, 2009 13:10 , Blogger vbm disse...

Se houvesse uma Terra-Gémea, em tudo semelhante à nossa, mas distinta e composta de outra matéria física, a que se referiria a linguagem do nosso pensamento ao falarmos do nosso mundo: à Terra ou à Terra-Gémea? Por equívoco e inapropriado que possa ser qualquer descrição-explicação do mundo, sempre afirmarei: - Há um só mundo, aquele em que a singularidade do pensamento se avera possível e real.

 
Às 23 novembro, 2009 13:24 , Blogger antonio ganhão disse...

Mas é isso que fazemos, contaminar espaços em branco com a nossa presença...

 
Às 23 novembro, 2009 14:39 , Blogger Meg disse...

Peter,

Estava para aqui a olhar o ecrã em branco...
e não te lembraste que hoje é 2ª feira! Ora!

Mas gostei muito deste teu exercício... tu e os mistérios do Universo, do Cosmos.

Lembras-te do filme O Efeito dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas?...

Um abraço

 
Às 23 novembro, 2009 19:27 , Blogger Peter disse...

antonio - o implume

Então estamos a contaminar...

 
Às 23 novembro, 2009 19:35 , Blogger Peter disse...

Meg

Ontem, em conversa com uns amigos, cheguei à conclusão que as últimas anedotas que pr'aqui tinha, já todos as conheciam. Circulam pela NET, de modo que desisti e republiquei este texto que já tem 3 anos.

Não chequei a ver esse filme. Haverá em DVD? Possivelmente não.

Abraço

 
Às 23 novembro, 2009 19:59 , Blogger Meg disse...

Peter,

Vou pesquisar...
Eu fiz a tradução e as legendas do filme quando ele estreou, na Beira. Foi entre 71 e 74 e a protagonista era a mulher do Paul Newman.
Se achar alguma coisa, digo-te.

Um abraço

 

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