O cerco
Chega-se a uma altura da vida, quem lá chega, em que nos sentimos cercados. Passamos o tempo em funerais de amigos, de familiares nossos e desses amigos, de vizinhos, de conhecidos com quem se tem alguma intimidade, de colegas de curso ou de emprego e respectivos familiares e isto, quando se é casado, é a multiplicar por dois.
E nós, eu, sinto-me ameaçado pela proximidade da morte com a qual estou a contactar semanalmente uma ou mais vezes por semana. São períodos…
É um facto omnipresente que nos espera, que nos espreita, que procuramos ignorar mas não conseguimos.
O fim de semana passado estive no Algarve e em conversa sobre os que partiram, um amigo que eu já não via há anos, disse-me pura e simplesmente que não ia a funerais. Varre-se o lixo para debaixo do tapete…
O pior é que eles também vêm povoar os nossos sonhos e, quando se trata de amores antigos, por vezes sentimos ao acordar uma sensação de culpa…
“Creio que irei morrer.
Mas o sentido de morrer não me move,
Lembro-me que morrer não deve ter sentido.
Isto de viver e morrer são classificações como as das plantas.
Que folhas ou que flores têm uma classificação?
Que vida tem a vida ou que morte a morte?
Tudo são termos onde se define."
(Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos")
7 Comentários:
É estranha a relação que temos com a MORTE, é um fenómeno natural ao qual todos sabemos que não escaparemos, salvo pelo engenho e arte de conseguirmos fazer perdurar a nossa memória pelos feitos que aqui deixarmos mas, mesmo assim, lidamos mal com o fenómeno. Individualmente e agora colectivamente!
Ficamos cercados quando deixamos de fazer novos amigos. Não é a morte que nos cerca, é a nossa desistência da vida ainda em vida. Há um momento para desistir; até lá, sejamos eternamente adolescentes.
Ferreira Pinto
Quando era jóvem, tive oportunidade de visitar um quartel da Legião Estrangeira Espanhola, nas montanhas do Riff, em Marrocos. Possivelmente já não existe.
À entrada do quartel, por cima da ogiva do portão, a frase "Viva la muerte".
Em todas as circunstâncias da vida diária no aquartelamento, o culto da morte era levado ao extremo.
Lembrei-me agora dessa passagem da minha vida.
alf
"sejamos eternamente adolescentes", procuro sê-lo e o contacto diário convosco, aqui no blogue, tem sido uma grande ajuda.
Não desisti da vida, longe disso. Há tantos bem mais novos que eu que já o fizeram. Continuo a planear o futuro e a vivê-lo, por vezes intensamente. Ainda este ano me vi em risco de morrer afogado no mar, onde continuo a ir.
Mas quanto mais alto é o patamar de idade que nos vai sendo consentido atingir, maior é a nossa frustação por verificarmos que não sabemos aquilo que desejaríamos saber.
Abraço amigo.
Depois do comentário do Alf nada mais se pode dizer!
Antonio
Tem razão o "alf" e tem razão o Pessoa:
"Isto de viver e morrer são classificações como as das plantas."
P.S.-Meteste férias da escrita?
Peter,
Claro que somos adolescentes... quem duvida?
A minha neta que o diga!
E o Pessoa às vezes era um "chato"!
Vamos falar de outra coisa, ora!
Um abraço
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