A bandalheira
Na Escola do Cerco do Porto no último dia de aulas do primeiro período, um grupo de alunos do 11º ano apontou uma arma de plástico à professora de Psicologia, exigindo a atribuição de uma nota positiva e estando as imagens já a circular na Internet.
Como é que a professora permitiu que os alunos se levantassem dos seus lugares e a rodeassem?
É a bandalheira.
Para Margarida Moreira, directora regional de Educação do Norte (DREN) esta história não tem qualquer paralelo com o mediático caso da secundária Carolina Michaelis, também no Porto, onde em Março uma aluna agarrou e insultou a professora, depois de esta lhe ter confiscado o telemóvel. Agora desvalorizou mais este caso, considerando-o como "uma brincadeira de muito mau gosto e que excedeu os limites do bom senso. No Norte acontecem sempre coisas no último dia de aulas". Brincadeira?
Bandalheira.
A presidente do conselho executivo da escola não comunicou qualquer ocorrência ao Ministério da Educação e só decidiu abrir um inquérito disciplinar depois do assunto ter sido divulgado na comunicação social porque também considerou ter-se tratado apenas "de uma brincadeira de fim de período que mais ou menos toda a gente fez" e que seria resolvida internamente, caso não tivessem sido captadas as imagens que circulam na Internet. Talvez por estas e por outras a referida Escola do Cerco do Porto esteja classificada em penúltimo lugar.
É a bandalheira.
Manuel Valente, da Federação de Associações de Pais do Porto, afirmou que: "há culpados que têm que ser denunciados e o mais importante de todos é a administração escolar (Direcção Regional de Educação do Norte - DREN), que, sobretudo depois do caso da [Escola] Carolina Michaelis, devia ter imposto regras claras que impedissem a utilização de telemóveis durante as aulas e não o fez", disse aquele responsável. Manuel Valente defendeu que os alunos deviam ser obrigados a depositar os telemóveis - que considera como um claro factor de perturbação das aulas em todos os sentidos - no início de cada aula, recuperando-os depois, à saída para o intervalo. "Os professores, que têm também a sua parte de culpa, deveriam dar o exemplo e fazer o mesmo, desligando os seus telemóveis, ou colocando-os em modo de silêncio e abstendo-se de os usar durante as aulas", acrescentou Manuel Valente. (Jornal de Notícias de 26 DEZ 2008)
A desculpabilização dos filhos, quando deveriam era estar preocupados com o seu comportamento cívico que eles não lhes sabem dar.
“Que ninguém ouse transformar este sofrimento em simples arma de luta política, porque na batalha da Educação os únicos vencedores têm de ser os vossos filhos, e para estes esta batalha não é político-sindical, é a batalha da vida que eles só vencerão com a generosidade, a competência e a coragem de todos nós”
São palavras da mensagem de Natal do Cardeal Patriarca. Não há aqui nada de ser crente, ou deixar de ser crente. Há é bom senso e um apelo à responsabilização, que é algo que há muito anda afastada entre nós e infelizmente não é só no Ensino.
8 Comentários:
Bom Dia Peter
Considero muito grave o que aconteceu e mais grave ainda a forma como todos os envolvidos, directa ou indirectamente, aparecem afirmando que foi uma brincadeira.
No acto educativo não interessa apurar culpas, interessa sim que todo o processo de ensino/aprendizagem assente na educação para a cidadania, para que os alunos se transformem em verdadeiros cidadãos, capazes de escolher o que é melhor para si sem prejudicar os outros, reflectir sobre os seus actos, antecipar a consequência dos mesmos e ter satisfação em assumir a responsabilidade pelas suas atitudes e acções.
No meio desta convulsão de sentimentos que sinto devido ao absurdo da situação, impera uma certa pena pelas pessoas que deram a cara para dizer que foi uma brincadeira, parece-me que o que querem mesmo dizer é que já desistiram dos alunos, dos filhos, dos jovens, ... e é assim que neste nosso país se vão resolvendo os problemas, desistindo-se de lutar através da apresentação de pseudo soluções a curto prazo que terão, no futuro, custos, provavelmente, insuportáveis.
"e infelizmente não é só no Ensino"
Bj
Camila
"E infelizmente não é só na Educação" são nos nossos direitos:
- direito à Segurança;
- direito à Saúde;
- direito ao Trabalho;
- direito à Justiça.
Para só mencionar os fundamentais. Onde estão eles?
Só temos o dever de pagar tudo e mais alguma coisa?
Se agora até reembolsamos os depositantes milionários do BPP depois destes terem ganho milhões de euros em juros impossíveis de pagar.
É isso que dizes:
- desistiram dos alunos, dos filhos e dos jóvens;
- desistiram de lutar procurando apresentar pseudo soluções de curto prazo que terão no futuro custos irreparáveis.
para mim a culpa está no sistema que permite transformou o professor no mau da fita. Tirando-lhe a autoridade e mudando a sua imagem perante os alunos.
Bandalheira, é pouco!!!! Isto virou um circo do far west! Tenho vergonha.
Classicamente, um jovem ou estudava, ou ia para padre, ou para a tropa ou polícia, ou virava ladrão, marginal ou varredor de rua. Ora, todos este caminhos foram substituidos pelo amplo conceito da 'escola inclusiva', melhor dizendo, 'inconclusiva', um perfeito absurdo, a real negação da instrução. Que respeito pode ter um ministério e os seus professores, autores e fautores duma 'fanto-fa-chada' destas!? Eu não sei qual a solução política, mas sei qual ela não é: «passar de ano os alunos que deviam chumbar, e persistindo sem aproveitamento, mantê-los no sistema de instrução escolar.»
vbm
Um dos items do sistema de avaliação imposto pela ministra é (ou "era", pois julgo já ter voltado atrás) a nota dada pelo prof. Quanto melhores notas o prof desse, melhor é/era avaliado.
Qq pessoa e não é preciso ser ministra, vê que é/era um sistema de avaliação que induz o facilitismo.
Blondewithaphd
Pinto Monteiro, Procurador-Geral da República, disse a propósito:
"Na situação foi usado um objecto de plástico que imitava uma arma. A professora não saberia que era falsa. Se tiver existido uma conduta de coacção e injúrias, o MP tem a obrigação de averiguar."
Tiago
"Segundo dados do Ministério da Educação e do Observatório de Segurança em Meio Escolar já publicados, no ano lectivo 2006/2007 existiram 1424 agressões ou tentativas de agressões nas escolas, sendo a violência entre alunos a mais recorrente (1092 dos casos identificados). Quanto aos professores e funcionários, foram as vítimas em 332 dos casos."(in DN)
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