Os bravos
Olho o mundo à minha volta e sinto-me como um estranho.
Não numa terra estranha, como o John Smith do Robert A. Heinlein, mas numa terra onde pouco me revejo.
Leio as “estórias” que fazem a história do quotidiano, e pareço-me um miúdo em tamanho grande que é, como se sabe, o contrário de ser homem em tamanho “piqueno”, como era, por exemplo, o Saul, cópia quase perfeita do acordeonista Quim.
Sento-me no café do bairro e leio o jornal da casa. Não interessa qual. As primeiras páginas são sempre muito idênticas, os conteúdos com maior ou menor requinte de escrita, variam pouco.
Passo os olhos pelas gordas, dou uma leitura pelas mais magras e, de quando em vez leio tudo.
Com o tempo aprendi a ler nas entrelinhas da composição e da construção do quotidiano que todos os dias se vão vendendo.
Essa leitura foi-me ensinada em miúdo, consolidada ao longo de viagens e outras leituras, outras escritas.
É por isso que alguns pormenores, quiçá pouco importantes, me comovem ou me excitam, me adocicam ou estragam o dia.
Às vezes sinto a tentação de recontar as experiências dessas poucas linhas, escritas em espaço restrito, sobre gente sem importância.
A tentação à qual devo resistir, porque afinal o que interessa é o grande cenário onde os verdadeiros reis esgrimem as vidas nos incógnitos, os tais bravos que deveriam ser os protagonistas deste filme.
A banda sonora é óptima, Blue Gift.
(Foto: Luís Filipe Navarro)
8 Comentários:
"Às vezes sinto a tentação de recontar as experiências dessas poucas linhas, escritas em espaço restrito, sobre gente sem importância."
E eu incentivo-te a fazê-lo, porque nós somos "gente sem importância", como os que têm voz através das "Cartas ao Director", ou do "Correio do Leitor", ou do "Fórum on-line".
Sob o tema "Violadores Libertados", escreveu no último espaço acima citado, um indivíduo identificado como Artílio Cabaça:
"Este é um País de brandíssimos costumes. Tratamos muito bem toda a escumalha da sociedade. Podem vir mais assaltantes e violadores, que têm garantia de bom acolhimento."
Isto é que a "gente sem importância" sente realmente e não tem outro modo de exprimir as suas preocupações.
Pois é Peter. E tenho especial prazer em fazê-lo aqui no conversas, não com a assiduidade de outros tempos mas, espero, com a qualidade que desejamos.
Um abraço
A última frase saiu com uma "gralha". Deverá ler-se:
Isto é o que a "gente sem importância" sente realmente e não tem outro modo de exprimir as suas preocupações.
17 Setembro, 2007 22:28
Sem dúvida Ant. Uma estranha no meio de grande confusão, é o que sinto. Beijos.
“Olho o mundo à minha volta e sinto-me como um estranho”, do mesmo mal me queixo eu. Na nossa idade o supérfluo inconveniente, da conveniência de terceiros, não faz sentido, a memória exige mais rigor, o que se perdeu na poeira da actualidade.
PS Nunca pus em dúvida a tua leitura dos meus textos, não fiques incomodado, é a poeira da acualidade.
Um abraço. Augusto
è isso uma "ilha deserta" rodeada de gente por todos os lados com desejo a ser península e procura istmo...
O Conversas tem um prémio no campo.
Beijos
Peter, faz favor de ir recollher.
A confusão de ser quem se é não sendo.
Ou sendo quem se não é, sendo.
Contradição. Veja.
Vim aqui através do Klepsidra.
Gostei particularmente deste texto.
Parabéns.
Também Gosto da Música. Muito
Fique bem
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