A poesia é o próprio mundo
A poesia é o próprio mundo, o coração do mundo, uma maneira de o sentir, ela existe muito antes das palavras: existe a partir do momento em que algo nos espanta, nos deslumbra, nos encanta ou enraivece. É uma maneira de sentir que gera uma necessidade muito grande de concretização: através das palavras escritas, por exemplo; mas também através da música ou da pintura, através das expressões artísticas. Mas nestas corre-se o risco de mascarar o mundo, de o tornar artificial e falso, de o trair. A poesia concretizada já tem a sua dose de artificialidade: entre a luz e a luz escrita vai uma distância medonha.
Agora pensei na Terra a girar em torno do Sol: num momento ela é irresistivelmente atraída pelo Sol e logo a seguir gira sobre si mesma para impedir a queda, e isso gera a força centrífuga, que é o resultado de dois movimentos contraditórios mas equilibrados. Escreve-se o mundo escrevendo-o o menos possível para o salvar das palavras, como se estas fossem um mal ao qual não se consegue fugir, mas que se tenta por todos os meios que cause o menor dano possível à sua origem.
“Assim eu queria o poema:
fremente de luz, áspero de terra,
rumoroso de águas e de vento. “
(Eugénio de Andrade – “Os frutos")
«Assim eu queria» é uma expressão bonita - o imperfeito “queria”, neste contexto perfeito - porque «o poema fremente de luz, áspero de terra, rumoroso de água e de vento» é o mundo e o mundo não se escreve em absoluto, não se encontra com a poesia escrita a poesia intrínseca. Tenta-se, deseja-se, chega-se muito perto, mas não se escreve o mundo.
7 Comentários:
Adorei este teu texto! Para quem não é poeta (tu o dizes), simplesmente excelente. Beijos.
Magnífico texto Peter que escreve assim o Mundo com uma sensibilidade impar!
Belíssimo!
Beijos
Estão a exagerar, o melhor ainda é a fotografia...
A fotografia também é linda, mas o texto é o principal!! Já o reli várias vezes e está magnífico.
Estou aqui a olhar Fernando Pessoa e a recordar as tuas achegas no meu blog de astronomia.
O que tu dizes é pertinente, mas eu tenho muita coisa para dizer... e se digo logo tudo... acaba-se-me o blog.
Tenho que fazer render o peixe... como por cá se diz.
Um forte abraço, desde Lagos.
Este comentário foi removido pelo autor.
Olha Peter, a poesia está numa foto, numa expressão, num olhar, numa escrita, ah! A poesia traduz a alma, revela amores, ódios, etc...
Belo post, meu amigo!
Bom fim de semana!
Beijos
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