Ser velho
“O que mais acentua no homem o ser velho é ficarem sem préstimo as ideias que teve. Podem estar certas e isso se reconhecer. Simplesmente já não servem. São ideias antigas como os fatos que se usaram. Uma ideia é o que é, mais a harmonia de um contexto em que se integre e o interesse pela ressonância nesse contexto. São ideias possivelmente exactas como a de que a Terra é redonda, mas arrumadas, classificadas no seu desinteresse. Não despertam talvez objecções e uma ideia é funcional quando incita à controvérsia. São ideias respeitáveis talvez, mas como se respeita uma antiguidade. A certa altura um intelectual começa a ser sobrevivente e só lhe resta a decência de andar limpo e estar calado. As ideias jovens podem ser vãs, mas são ainda transaccionáveis pela força da juventude que está nelas e tem razão por ter a razão da vida. Pode mesmo não haver nelas nada de novo. Mas são usadas pelos novos e são novas outra vez. A grande luta do intelectual que envelheceu é aguentar-se vivo, mas em recato, naquilo por que foi vivo. Mas é uma luta inglória. Porque a única glória que se lhe consente é a de uma moldura para se dependurar na parede.”
(Vergílio Ferreira, ”Pensar” 195)
(Vergílio Ferreira, ”Pensar” 195)
4 Comentários:
Infelizmente, Vergílio Ferreira tem razão...
Paula
Conheci pessoalmente Vergílio Ferreira e talvez tenha lido todos, ou quase todos os seus livros.
Propositadamente publiquei este seu pensamento, com o qual não concordo, para provocar a discussão, mas o País fechou e só reabre em Setembro.
Pois é. O país fechou! Mas já podes 'discutir' comigo. Eu concordo, tu discordas...
Olá, Peter!
Nunca gostei do Vergílio Ferreira mas, depois de ler este texto, ainda menos...eh eh.
Abraço
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