quarta-feira, setembro 19

Gerações

Leio a frase inicial do artigo do meu amigo e companheiro de blogue ANT:

“Olho o mundo à minha volta e sinto-me como um estranho”

e tenho a mesma sensação.

Sinto-me desajustado e isolado, porque este não é o meu mundo, nem pode ser, pois o mundo evoluiu.
Para melhor, ou para pior? É relativo e nem sequer posso responder à pergunta porquanto o termo de comparação seria eu, ou, quando muito, a minha geração.
E onde está esta?
Sei lá! Até porque nem sequer me dou ao trabalho da procurar e daí o meu desajustamento.
Recuso integrar-me na geração a que pertenço, embora no meu inconsciente permaneçam valores e conceitos dela nos quais fui educado e que não posso apagar, nem posso esquecer, pois os mesmos continuarão lá e, mais cedo ou mais tarde virão contundir comigo.
Se fosse um indivíduo isolado, até poderia deitar tudo para trás das costas, mas integrando-me num contexto familiar, social e profissional, sou obrigado a seguir as “regras do jogo”.

Então que fazer?

Se calhar a solução é “fazer batota”:
- Dentro do contexto em que me integro, sigo as regras do jogo. Mas esse indivíduo não sou eu. Não é o meu “eu” verdadeiro que está ali. A melhor solução será falar o menos possível, medir bem as palavras, procurar parecer igual.
- Se tentasse avançar duas gerações, tal seria impossível pois era de imediato liminarmente rejeitado, ou, quando muito, considerado como uma “curiosidade”. Acresce que a impossibilidade também seria minha, por incapacidade de adaptação.
- É pois com a geração seguinte que eu mais me identifico, compreendendo-a tal como ela é. É aqui que eu me sinto mais realizado, é aqui que eu acho que sou “eu” mesmo.

Olho-a de longe, por vezes sou aceite, mas não pertenço lá.

Há vários anos, seis, sete (?) li um texto, de que não resisto a transcrever um pequeno excerto:

“Para mim a coisa mais rica que eu posso encontrar neste mundo é outro mundo interior Além disso a minha visão da vida e da idade das pessoas é muito minha. Acho que a vida é tão rápida, as pessoas que amamos são tão raras, é tão raro que nos olhem sem nos invadirem, é tão raro o respeito pelo mundo dos outros, e há tantos interiores tão desertos e estéreis, que eu habituei-me a olhar além dos corpos das pessoas. O corpo, esse traidor, como dizia Vergílio Ferreira... e é mesmo: traidor, vulnerável, precário, pequeno. Eu tento mesmo viver assim, de acordo com isto. Por natureza, acho que nem tento, fui sempre assim. Por isso não costumo catalogar as pessoas pela idade. Pessoas são mundos.”

17 Comentários:

Às 19 setembro, 2007 16:55 , Blogger Ant disse...

Caro Peter, a escrever desta maneira não nos safamos com as audiências. Ah, é verdade, temos esse pacto estranho que diz que devemos escrever apenas e só o que nos apetece...

Às tantas o meu comentário daria outro post. Vou resumir...

Sempre me movi bem com as várias gerações. Para mim as idades são experiências. Mesmo os miúdos dão-nos experiências. Assim, aos velhotes nunca os tratei como inúteis, aos miúdos nunca com paternalismos idiotas e inúteis.

Aprender, sempre, com eles e elas de todas as idades, cores, feitios, jeitos, manias.

Ups... foi grande este.

O teu texto deve respirar. Deixa-o ser lido.

 
Às 19 setembro, 2007 21:41 , Blogger Papoila disse...

Peter!
Este texto é fantástico! Impossível catalogar as pessoas pela idade... Pessoas são mundos e as que amamamos tão raras!
Saber ver para além desta cápsula efémera que é corpo!
Gostei!
Beijos

 
Às 19 setembro, 2007 23:29 , Blogger Peter disse...

"ant"

É como dizes:

"devemos escrever apenas e só o que nos apetece..."

Não somos jornalistas, nem estamos aqui para conquistar audiências.

Abraços

 
Às 19 setembro, 2007 23:49 , Blogger Peter disse...

"papoila"

Recebi um mail da "bluegift" para eu escrever o texto sobre “The Power of Schamaze Award”, ou “Blogging Community Involvement Award”, que ela depois tratava da inclusão do logotipo no blog, mas eu espero uns dias porque vou seguir o "sábio conselho" do ANT sobre este texto acima:

"O teu texto deve respirar. Deixa-o ser lido."

Deu-me prazer escrevê-lo e é gratificante ter duas pessoas que gostaram do mesmo.
Peter*

 
Às 20 setembro, 2007 00:01 , Blogger Peter disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 20 setembro, 2007 01:35 , Blogger Belzebu disse...

Cada pessoa é um mundo a respeitar. Só encarando as coisas desta forma, ficamos disponíveis para encarar a "generation gap".

Sinceramente não me identifico com qualquer geração e muito menos com a minha. Tento reter o melhor de cada uma delas e vou seguindo o meu caminho!

Aquele abraço infernal!

 
Às 20 setembro, 2007 09:12 , Blogger Peter disse...

"belzebu"

Pelo que escreves: "não me identifico com qualquer geração e muito menos com a minha", estamos portanto na mesma "onda".
Embora o teu blog tenha um carácter essencialmente crítico, enquanto que o meu é diversificado (publicamos o que nos vem à cabeça) existe, nalguns textos que publico, uma certa afinidade com o teu modo de escrever.

Que tenhas um bom fds, que se aproxima.

 
Às 20 setembro, 2007 09:30 , Blogger Paula Raposo disse...

Uma reflexão interessantíssima, Peter. Pensando eu saber o que tu pensas sobre o tema 'idade' li o teu texto num sentido só meu. Porque eu sou única. Beijos.

 
Às 20 setembro, 2007 11:15 , Blogger Peter disse...

Paula Raposo

Obrigado por me leres. Eu também leio a tua poesia, que aprecio, mas não comento pois não sou poeta e muito menos crítico.

Que passes um bom fds

 
Às 20 setembro, 2007 12:44 , Blogger Paula Raposo disse...

Em tempos recuados comentavas. E não eras poeta nem crítico...

 
Às 20 setembro, 2007 13:14 , Blogger António disse...

Caro, Peter!

Novamente em desacordo!
ah ah ah

Eu não ponho a questão em termos de gerações mas de indivíduos.
Há pessoas da minha geração com as quais não me identifico minimamente e jovens, muito jovens mesmo, com quem tenho relações muito boas.
Posso dizer que nos meus últimos anos de trabalho convivi imenso com jovens dos 20 e poucos anos aos 40.
Tive com eles uma relação óptima que, aliás, ainda perdura.
Portanto...

(deixei-te uma resposta lá no meu canto)

Abraços

 
Às 21 setembro, 2007 12:01 , Anonymous Anónimo disse...

cada vez mais somos mundos isolados. a liberdade de cada um é invadida de modo estranho e estupido. Tudo mudou num espaço de tempo tao curto.

o que fazer?
"Se calhar a solução é “fazer batota”"

não sei, será?


Belo post, Peter.
deu muito que pensar.

bj*

 
Às 21 setembro, 2007 13:22 , Blogger Manuel Veiga disse...

também me parece - "o inferno são os outros!..."

por isso um pouco de batota, até é saudável...

abraços

 
Às 21 setembro, 2007 13:33 , Blogger Marta Vinhais disse...

Também concordo e infelizmente, conheço muita gente que "rotula", "cataloga" os outros sem sequer os tentar conhecer....
Tal como Ant diz, também me "sinto uma estranha"...
Post brilhante......
Beijos e abraços
Marta

 
Às 21 setembro, 2007 16:23 , Blogger Unknown disse...

Oie Peter, um belo post. As vezes tenho essa mesma sensação. E me sinto uma estranha no ninho. Esse mundo que se diz tão evoluído, mais me parece em muitos momentos ter tido um enorme retrocesso. Principalmente em relação a violência, marginalidade, etc.
Bom fim de semana! Fique com Deus!
Beijos

 
Às 21 setembro, 2007 18:57 , Blogger Peter disse...

Lúcia

Se calhar ...

 
Às 21 setembro, 2007 19:04 , Blogger Peter disse...

Mariana

Procurei localizar o seu blog para a visitar, mas não consegui.
Obrigado pelo seu comentário, não temos outro remédio, quando se atinge "the point of no return", senão seguir em frente.

Quanto ao seu conselho:
"Fique com Deus"
e se Ele não existe?

 

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